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Professor da Flórida apresenta sobre uso eficiente de nutrientes na agricultura e busca parcerias no Brasil
Promovida pelo Departamento de Estado norte-americano em articulação com o Labex-EUA da Embrapa e a Embaixada dos EUA, a visita teve como objetivo discutir possibilidades de cooperação entre instituições de ensino e pesquisa brasileiras e a Universidade da Flórida nas áreas de adaptação às mudanças climáticas e de mitigação das emissões de gases de efeito estufa (GEE).
Professor de forragicultura e pastagens da Universidade da Flórida há 10 anos, o pernambucano José Carlos Dubeux é reconhecido internacionalmente como uma autoridade em eficiência no uso de nutrientes em sistemas agrícolas, com ênfase na mitigação e adaptação às mudanças climáticas, emissões de metano da pecuária e sistemas de Integração Lavoura-Pecuária. Acompanhado pelo conselheiro agrícola da Embaixada dos Estados Unidos (EUA) em Brasília, Michael Conlon, ele visitou a Embrapa Cerrados (DF) na última quarta-feira (20), quando apresentou a palestra “Colaboração entre Brasil e EUA em pesquisa agrícola: lições do passado e construindo o futuro à frente”. Dubeux divulgou a iniciativa Fertilize 4 Life, uma parceria entre a Embrapa e instituições de pesquisa agrícola norte-americanas, e compartilhou experiências de pesquisas desenvolvidas na Flórida.
Promovida pelo Departamento de Estado norte-americano em articulação com o Labex-EUA da Embrapa e a Embaixada dos EUA, a visita teve como objetivo discutir possibilidades de cooperação entre instituições de ensino e pesquisa brasileiras e a Universidade da Flórida nas áreas de adaptação às mudanças climáticas e de mitigação das emissões de gases de efeito estufa (GEE), com o desenvolvimento de projetos e práticas agrícolas sustentáveis que sejam viáveis tanto no Brasil como nos EUA.
Michael Conlon lembrou que a guerra na Ucrânia tem levado ao aumento nos preços internacionais dos fertilizantes, e tanto o Brasil como os EUA são grandes importadores desses insumos. Nesse contexto, segundo o conselheiro agrícola, a Fertilize 4 Life deverá ser uma iniciativa transformadora.
“A ideia é nos aproximarmos da Embrapa e trabalharmos junto com os pesquisadores do USDA (United States Department of Agriculture) e da Universidade da Flórida, realizando workshops sobre a eficiência do uso dos fertilizantes. Temos quatro projetos que serão desenvolvidos nos próximos quatro anos, com investimento de US$ 1,2 milhões do governo norte-americano. A prioridade número um de trabalho da Embaixada com os pesquisadores brasileiros são as mudanças climáticas e a segurança alimentar, e isso se encaixa muito bem a essa iniciativa”, afirmou.
Ao fazer um breve histórico da transformação agrícola brasileira nos últimos 30 anos e apresentar dados evidenciando a atual pujança do setor no País, José Carlos Dubeux lembrou que Brasil e EUA, juntos, alimentam um quarto da população mundial. Ele apontou como razões do sucesso agropecuário brasileiro a disponibilidade de recursos naturais, o esforço e o compromisso político em modernizar o setor, o espírito empreendedor dos agricultores, a pesquisa realizada pela Embrapa e outras instituições, além da colaboração científica com outros países, como EUA e Japão.
Ele apresentou a linha do tempo da colaboração entre brasileiros e norte-americanos no setor agrícola, iniciada em 1862 com o Land Grant Act, nos EUA, que determinava que cada Estado deveria ter uma universidade dedicada à pesquisa em agricultura e engenharia. “Isso alavancou o sistema norte-americano de educação e pesquisa em agricultura”, comentou Dubeux. Desde então, diversos acordos de cooperação foram celebrados com o Brasil, envolvendo a criação de universidades (como a Universidade Federal de Viçosa), investimentos em projetos de pesquisa, extensão rural e infraestrutura, além do intercâmbio e da formação de estudantes, docentes e pesquisadores, ações que contribuíram para o desenvolvimento agrícola brasileiro.
Segundo levantamento na Plataforma Lattes estão atualmente cadastrados 2274 cientistas brasileiros com alguma formação em ciências agrárias nos EUA desde a década de 1950, sendo 369 com atuação na Embrapa, entre ativos e aposentados.
Desafios globais
Alguns desafios para a agricultura mundial foram apontados pelo professor, como a população mundial projetada de 9,7 bilhões de habitantes em 2050. O maior crescimento populacional se dará em países menos desenvolvidos, notadamente na África, cuja população deve aumentar 93% entre 2010 e 2050.
As mudanças climáticas são outro grande desafio, com a constatação de níveis atmosféricos de GEE muito acima dos observados até 1950 e o aumento das temperaturas médias globais – dos últimos 10 anos, nove foram os mais quentes da história, de acordo com dados apresentados por Dubeux. Além disso, a demanda por alimentos será 60% maior em 2050, ao mesmo tempo em que a disponibilidade de água será 40% menor que os níveis atuais.
Para alimentar quase 10 bilhões de pessoas no futuro, segundo o professor, será necessário um incremento massivo de produtividade, com redução acentuada no uso da água, menor superfície de terra, fertilizantes muito mais eficientes, novas tecnologias agrícolas e variedades mais produtivas e nutritivas.
Ele lembrou que 86% dos fertilizantes utilizados no Brasil em 2022 foram importados, o correspondente a mais de 39,2 milhões ton, enquanto a produção nacional foi de pouco mais de 6,5 milhões ton, de acordo com dados do IBGE. No ano passado, foram importados 76% do nitrogênio, 55% do fósforo e 94% do potássio utilizados nos adubos, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária. “Boa parte dos fertilizantes importados vêm de regiões com instabilidade política, e os preços tendem a aumentar. É um desafio para a agricultura brasileira”, disse.
Para Dubeux, o caminho é aumentar os níveis de eficiência de uso dos nutrientes dos atuais 50% para pelo menos 70% até 2040. Para isso, será preciso avançar na tecnologia de fertilizantes, realizar investimentos em pesquisa, utilizar produtos biológicos e biofertilizantes para atender à demanda por nutrientes e lançar mão de alternativas como os sistemas integrados e o uso de espécies leguminosas.
Fertilize 4 Life
Diante desses desafios, a Embrapa, o Agricultural Research Service (ARS) e o Foreign Agricultural Service (FAS) do United States Department of Agriculture (USDA), o Institute of Food and Agricultural Sciences (IFAS) da Universidade da Flórida e o International Fertilizer Development Center (IFDC) se reuniram para construir a iniciativa Fertilize 4 Life, que tem como objetivo geral aumentar a eficiência dos sistemas agrícolas.
Lançada em abril deste ano, durante o aniversário de 50 anos da Embrapa, a iniciativa conta com quatro projetos, todos com a participação de pesquisadores brasileiros e norte-americanos, sendo dois deles liderados por pesquisadores da Embrapa Cerrados. Já estão garantidos US$ 1,2 milhões financiados pelo USDA/FAS, mas os responsáveis buscam aumentar o valor investido para até US$ 5 milhões.
O projeto 1, “Manejo de precisão, ‘Big Data’ e inteligência artificial”, visa integrar informações existentes nas propriedades do solo e metodologias de recomendações de nutrientes; desenvolver recomendações específicas de adubação com taxa variável, com base na remoção de nutrientes e propriedades do solo; além de avaliar se as ferramentas desenvolvidas atendem às necessidades do setor produtivo.
Já o projeto 2, “Produtos biológicos, biologia do solo e saúde do solo”, vai desenvolver metodologias para avaliar a saúde do solo nos EUA e no Brasil, bem como estratégias para aumentar a eficiência de uso de fertilizantes baseada em bioprodutos. O projeto é liderado pela pesquisadora Iêda Mendes.
Os objetivos do projeto 3, “Novos produtos, incluindo fertilizantes e bioestimulantes”, incluem a identificação das atuais limitações e o desenvolvimento de uma estrutura para novas formulações; o desenvolvimento de novas formulações organo-minerais e de protocolos de teste para novos produtos; melhorar a produtividade das culturas e reduzir o impacto ambiental de formulações organo-minerais; além da avaliação socioeconômica e ambiental dos novos produtos.
Por fim, o projeto 4. “Uso mais eficiente das fontes de nutrientes existentes”, do qual Dubeux participa, busca avaliar a reciclagem de nutrientes e a eficiência de uso de fertilizantes por culturas de cobertura e sistemas de Integração Lavoura-Pecuária (ILP) e Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF); novos acessos de leguminosas para uso como forrageiras ou plantas de cobertura; e a performance de pastagens mistas de gramíneas e leguminosas em monocultivo em sistemas ILP para aumentar a eficiência do uso de nutrientes. A liderança do projeto é do pesquisador Marcelo Ayres.
O professor acredita que o projeto 4, ao contemplar a introdução de leguminosas em sistemas de pastagens e o aumento da eficiência de uso dos nutrientes, pode contribuir para o desafio brasileiro de recuperar cerca de 40 milhões ha de pastagens degradadas.
Ele entende que o trabalho da Fertilize 4 Life será uma via de mão dupla, uma vez que os EUA têm a aprender com o Brasil, líder em agricultura tropical, e o País, por sua vez, poderá se beneficiar das tecnologias que estão sendo utilizadas na pesquisa agrícola norte-americana. “Brasil e EUA são duas superpotências não só na produção de alimentos, mas também na pesquisa agrícola. A ideia é que a gente se junte nessa parceria não apenas para reduzir a dependência da importação de fertilizantes e aumentar a eficiência de uso dos nutrientes, mas principalmente para ajudar outras regiões do mundo como a África, aplicando as lições aprendidas nesses projetos”, afirmou o professor.
O pesquisador Marcelo Ayres apontou diversas possibilidades de colaboração dos pesquisadores da Embrapa Cerrados na iniciativa. “Os projetos ainda estão em construção e têm muita relação com as linhas de trabalho de nossa Unidade. Vislumbramos grandes oportunidades”, observou.
Experiências nos EUA
Na segunda parte da apresentação, Dubeux falou sobre as pesquisas desenvolvidas por ele na estação experimental de Marianna, da Universidade da Flórida. Os primeiros trabalhos se deram na linha da intensificação sustentável de sistemas de produção pecuária, com foco nos serviços ecossistêmicos de pastagens, na integração de leguminosas forrageiras, nos sistemas de ILP e no desenvolvimento de um sistema de 365 dias de pastejo por ano – um desafio para o clima da região Norte da Flórida, que apresenta uma estação quente e outra fria, com temperaturas que podem chegar a -8°C.
Para avaliar os serviços ecossistêmicos proporcionados pela cobertura do solo fornecida pelas pastagens, ele se juntou a professores que atuam nas áreas de sensoriamento remoto, inteligência artificial e aprendizado de máquina para correlacionar a cobertura vegetal com os serviços ambientais, calibrar medidas no campo e desenvolver um sistema para mapear e avaliar serviços ambientais em áreas extensas.
Devido aos diversos benefícios do uso das leguminosas, como a fixação biológica do nitrogênio atmosférico, melhoria da ciclagem de nutrientes no solo e do desempenho animal, formação de matéria orgânica do solo e habitat para insetos polinizadores, o trabalho de Dubeux buscou integrar essas espécies em pastagens.
Ele conduziu um experimento que comparou três sistemas sob pastejo por bovinos – gramínea (Bahiagrass) com adubação nitrogenada nas estações quente e fria; gramínea sem adubação na estação quente e gramíneas (aveia e centeio) e trevos com adubação reduzida na estação fria; e gramínea com a leguminosa Arachis glabrata sem adubação na estação quente e gramíneas e trevos com adubação reduzida na estação fria.
Não houve diferença significativa no desempenho animal durante a estação fria, mas o sistema com leguminosas apresentou maiores ganhos na estação quente, indicando a possibilidade de redução da quantidade de adubo nitrogenado quando se utiliza essas espécies forrageiras. “Esta é a ideia da intensificação sustentável: produzir mais com menos recursos”, observou, acrescentando que no sistema com a leguminosa também foram observadas menores emissões de metano entérico por kg de ganho de peso dos animais e menores concentrações de nitrato no solo. Além disso, foram identificadas 18 espécies de abelhas, a maioria nativas da região, e o sistema com leguminosa foi o que contou com o maior número de indivíduos.
As fezes dos animais do experimento foram marcadas com o isótopo 13C para verificar os percentuais de alimento originados da leguminosa e das gramíneas. O estudo constatou a elevada seletividade dos bovinos pela leguminosa, o que justificaria o ganho superior em peso no sistema com a espécie forrageira. Também foi verificada a quantidade de adubo nitrogenado ciclada em excretas (fezes e urina) e na serapilheira, apontando eficiência bem superior das pastagens mistas de gramíneas e leguminosas (80% de nitrogênio retornado) em relação às pastagens adubadas (apenas 40% do nitrogênio retornado).
Dubeux e equipe desenvolveram o sistema de 365 dias de pastejo, utilizando o pastejo diferido (reserva de massa seca no pasto) de limpograss (Hemarthria altissima) por 60 dias (agosto a outubro) e uma área com forrageiras de clima frio e clima quente, com suplementação. O pastejo é feito de outubro a janeiro. Segundo o professor, o sistema utiliza pouca quantidade de insumo, entre fertilizantes, máquinas, sementes.
Na área de sistemas de ILP, os estudos surgiram como uma oportunidade, pois tanto na Flórida como na Geórgia e no Alabama houve a especialização em cultivos agrícolas como algodão, amendoim e milho na estação quente, totalizando cerca de 1,6 milhões ha, mas somente em 5% dessa área são cultivadas plantas de cobertura na estação fria (outubro a abril), o que leva a problemas de erosão e lixiviação de nutrientes. “Daí a possibilidade de integrar essas áreas com a pecuária. De outubro a abril é a época em que se pode produzir forragem de melhor qualidade e ter ganhos de 1kg/dia a pasto”, disse.
As pesquisas buscaram responder a perguntas relacionadas à resistência dos produtores da Flórida em adotar sistemas de integração: é possível pastejar culturas de cobertura sem afetar negativamente a produtividade da cultura agrícola? O pastejo compacta o solo? a intensidade de pastejo na cultura de cobertura afeta a cultura agrícola? qual a importância dos resíduos acima e abaixo na terminação da cultura de cobertura? a cultura de cobertura e o manejo do pastejo afetam a lixiviação de nitratos?
Segundo Dubeux, não houve alteração na produtividade do algodão em rotação com plantas de cobertura pastejadas; no caso do amendoim, a produtividade até aumentou. “São dados importantes porque mudam a percepção da ILP na região”, comentou. Além disso, o cultivo de plantas de cobertura no sistema reduziu a compactação do solo em relação aos monocultivos de algodão e amendoim, e o pastejo não afetou a compactação.
Ao comparar diferentes intensidades de pastejo (leve, moderado e superpastejo), o professor mostrou que o pastejo leve resultou em maior produção de biomassa e de massa de raízes da cultura de cobertura. E após quatro anos de plantio, as plantas de cobertura e o manejo do pastejo diminuíram a lixiviação de nitratos, um sério problema na região. Outra constatação do estudo foi que o resíduo das culturas de cobertura abaixo do solo (raízes) foi mais importante que o resíduo acima do solo, pois promoveu o desaparecimento de maior quantidade de nitrogênio.
A pesquisa tem utilizado ureia marcada com isótopo 15N nas culturas de cobertura para compreender por que o pastejo dos animais diminui a lixiviação de nitrato. As excretas dos animais marcadas com 15N são coletadas, verificando-se o nitrogênio recuperado, e aplicadas no solo para avaliar a dinâmica do nitrogênio nas forragens, no solo e nos gases (amônia e óxido nitroso).
Dubeux também falou sobre um trabalho com decomposição de raízes e emissão de GEE, no qual estuda a dinâmica das raízes nas estações fria e quente e os gases das excretas dos animais e do solo. A equipe utiliza câmaras no campo e marca a serapilheira com 13C para avaliar a dinâmica da formação da matéria orgânica do solo (MOS) e como a cultura de cobertura contribui para esse processo e no suprimento de nutrientes para as culturas do algodão e do amendoim.
Além das pesquisas, o professor também atua em projetos de extensão, como o chamado Southeast Grazing Exchange, no qual pecuaristas e produtores com terras agrícolas disponíveis se cadastram para fazer parcerias em sistemas de ILP.
Ao final da apresentação, Dubeux sintetizou que a intensificação sustentável dos sistemas de produção animal frente às mudanças climáticas é essencial para se produzir mais alimentos com menos recursos. O uso de leguminosas, culturas de cobertura de sistemas de integração, como mostrados pelo professor, são exemplos de como é possível aumentar a eficiência dos sistemas de produção. Além disso, os ecossistemas de pastagens funcionais podem fornecer diversos serviços ambientais. “Num futuro próximo, o mercado vai reconhecer e valorizar alimentos produzidos de forma sustentável”, finalizou.
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Feicorte: São Paulo impulsiona mudanças no manejo pecuário com opção de marcação sem fogo
Estado promove alternativa pioneira para o bem-estar animal e a sustentabilidade na pecuária. Assunto foi tema de painel durante a Feicorte 2024
No painel “Uma nova marca do agro de São Paulo”, realizado na Feira Internacional da Cadeia Produtiva da Carne – Feicorte, em Presidente Prudente (SP), que segue até o dia 23 de novembro, a especialista em bem-estar animal, Carmen Perez, ressaltou a importância de evitar a marcação a fogo em bovinos.
Segundo ela, a questão está diretamente ligada ao bem-estar animal, especialmente no que diz respeito ao local onde é realizada a marcação da brucelose, que ocorre na face do animal, uma região com maior concentração de terminações nervosas, um ponto mais sensível. Essa ação representa um grande desafio, pois, embora seja uma exigência legal nacional, os impactos para os animais precisam ser cuidadosamente avaliados.
“O estado de São Paulo tem se destacado de forma pioneira ao oferecer aos produtores rurais a opção de decidir se desejam ou não realizar a marcação a fogo. Isso é um grande avanço”, destacou Carmen. Ela também mencionou que os animais possuem uma excelente memória, lembrando-se tanto dos manejos bem executados quanto dos malfeitos, o que pode afetar sua condição e bem-estar a longo prazo.
Além disso, a imagem da pecuária é um ponto crucial, especialmente considerando o poder da comunicação atualmente. “Organizações de proteção animal frequentemente utilizam práticas como a marcação a fogo, castração sem anestesia e mochação para criticar a cadeia produtiva. Essas questões podem impactar negativamente a percepção do setor”, alertou. Para enfrentar esses desafios, Carmen enfatizou a importância de melhorar os manejos e de considerar os riscos de acidentes nas fazendas, que muitas vezes são subestimados quando as práticas de manejo não são adequadas.
“Nos próximos anos, imagino um setor mais consciente, em que as pessoas reconheçam que os animais são seres sencientes. As equipes serão cada vez mais participativas, e a capacitação constante será essencial”, afirmou. Ela finalizou dizendo que, para promover o bem-estar animal, é fundamental investir em treinamento contínuo das equipes. “Vejo a pecuária brasileira se tornando disruptiva, com o potencial de se tornar um modelo mundial de boas práticas”, concluiu.
Fica estabelecido o botton amarelo para a identificação dos animais vacinados com a vacina B19 e o botton azul passa a identificar as fêmeas vacinadas com a vacina RB 51. Anteriormente, a identificação era feita com marcação à fogo indicando o ano corrente ou a marca em “V”, a depender da vacina utilizada.
As medidas foram publicadas no Diário Oficial do Estado, por meio da Resolução SAA nº 78/24 e das Portarias 33/24 e 34/24.
Mudanças estabelecidas
Prazos
Agora, fica estabelecido que o calendário para a vacinação será dividido em dois períodos, sendo o primeiro do dia 1º de janeiro a 30 de junho do ano corrente, enquanto o segundo período tem início no dia 1º de julho e vai até o dia 31 de dezembro.
O produtor que não vacinar seu rebanho dentro do prazo estabelecido, terá a movimentação dos bovídeos da propriedade suspensa até que a regularização seja feita junto às unidades da Defesa Agropecuária.
Desburocratização da declaração
A declaração de vacinação pelo proprietário ou responsável pelos animais não é mais necessária. A partir de agora, o médico-veterinário responsável pela imunização, ao cadastrar o atestado de vacinação no sistema informatizado de gestão de defesa animal e vegetal (GEDAVE) em um prazo máximo de quatro dias a contar da data da vacinação e dentro do período correspondente à vacinação, validará a imunização dos animais.
A exceção acontecerá quando houver casos de divergências entre o número de animais vacinados e o saldo do rebanho declarado pelo produtor no sistema GEDAVE.
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Treinamento em emergência sanitária busca proteger produção suína do estado
Ação preventiva do IMA acontecerá entre os dias 26 e 28 de novembro em Patos de Minas, um dos polos da suinocultura mineira.
Com o objetivo de proteger a produção de suínos do estado contra possíveis ameaças sanitárias, o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) realizará, de 26 a 28 deste mês, em Patos de Minas, o Treinamento em Atendimento a Suspeitas de Síndrome Hemorrágica em Suínos. A iniciativa capacitará mais de 50 médicos veterinários do serviço veterinário oficial para identificar e responder prontamente a casos de doenças como a Peste Suína Clássica (PSC) e a Peste Suína Africana (PSA). A disseminação global da PSA tem preocupado autoridades devido ao impacto devastador na produção e na economia, como evidenciado na China que teve início em 2018 e se estendeu até 2023, quando o país perdeu milhões de suínos para a doença. Em 2021, surtos recentes no Haiti e na República Dominicana aumentaram o alerta no continente americano.
A escolha de Patos de Minas como sede para o treinamento presencial reforça sua importância como polo suinícola em Minas Gerais, com cerca de 280 mil animais produzidos, equivalente a 16,3% do plantel estadual, segundo dados de 2023 da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa). A Coordenadoria Regional do IMA, em Patos de Minas, que atende cerca de 17 municípios na região, tem mais de 650 propriedades cadastradas para a criação de suínos, cuja sanidade é essencial para evitar prejuízos econômicos que afetariam tanto o mercado interno quanto as exportações mineiras.
Para contemplar a complexidade do tema, o treinamento foi estruturado em dois módulos: remoto e presencial. Na fase on-line, realizada nos dias 11 e 18 de novembro, especialistas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), da Universidade de Castilla-La Mancha, da Espanha e de empresas parceiras abordaram aspectos clínicos e epidemiológicos das doenças hemorrágicas em suínos. Já na fase presencial, em Patos de Minas, os participantes terão acesso a oficinas práticas de biossegurança, desinfecção, estudos de casos, discussões sobre cenários epidemiológicos, coleta de amostras e visitas a campo, além de simulações de ações de emergência sanitária, onde aplicarão o conhecimento adquirido.
A iniciativa do IMA conta com o apoio de cooperativas, empresas do setor suinícola, instituições de ensino, sindicato rural e a Prefeitura Municipal de Patos de Minas, além do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A defesa agropecuária em Minas Gerais depende de ações como essa, fundamentais para evitar a entrada de patógenos e manter a competitividade da produção local. Esse treinamento é parte das ações para manutenção do status de Minas Gerais como livre de febre aftosa sem vacinação.
Ameaças sanitárias e os impactos para a economia
No Brasil, a Peste Suína Clássica está sob controle nas zonas livres da doença. No entanto, nas áreas não reconhecidas como livres, a enfermidade ainda está presente, representando um risco significativo para a suinocultura brasileira. Esta enfermidade pode levar a alta mortalidade entre os animais, além de causar abortos em fêmeas gestantes. Por ser uma enfermidade sem tratamento, a prevenção constante e a vigilância da doença são fundamentais.
A situação é ainda mais crítica no caso da Peste Suína Africana, para a qual não há vacina eficiente e cuja propagação levaria a prejuízos imensos ao setor suinícola nacional, com risco de desabastecimento no mercado interno e aumento dos preços para o consumidor final. Os animais infectados apresentam sintomas como febre alta, perda de apetite, e manchas na pele.
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Faesp quer retratação do Carrefour sobre a decisão do grupo em não comprar carne de países do Mercosul
Uma das principais marcas de varejo, por meio do CEO do Carrefour França, anunciou que suspenderá vendas de carne do Mercosul: decisão gera críticas e debate sobre sustentabilidade.
O Carrefour França anunciou que suspenderá a venda de carne proveniente de países do Mercosul, incluindo o Brasil, alegando preocupações com sustentabilidade, desmatamento e respeito aos padrões ambientais europeus. A afirmação é do CEO do Carrefour na França, Alexandre Bompard, nas redes sociais do empresário, mas destinada ao presidente do sindicato nacional dos agricultores franceses, Arnaud Rousseau.
A decisão gerou repercussão negativa no Brasil, especialmente no setor agropecuário, que considera a medida protecionista e prejudicial à imagem da carne brasileira, amplamente exportada e reconhecida pela qualidade.
Essa decisão reflete tensões maiores entre a União Europeia e o Mercosul, com debates sobre padrões de produção e sustentabilidade como pontos centrais. Para a Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), essa decisão é prejudicial ao comércio entre França e Brasil, com impactos negativos também aos consumidores do Carrefour.
Os argumentos da pauta ambiental alegada pelo Carrefour e pelos produtores de carne na França não se sustentam, uma vez que a produção da pecuária brasileira está entre as mais sustentáveis do planeta. Esta posição, vinda de uma importante marca de varejo, é um indício de que os investimentos do grupo Carrefour no Brasil devem ser vistos com ressalva, segundo o presidente da Faesp, Tirso Meirelles.
“A declaração do CEO do Carrefour França, Alexandre Bompard, demonstra não apenas uma atitude protecionista dos produtores franceses, mas um total desconhecimento da sustentabilidade do setor pecuário brasileiro. A Faesp se solidariza com os produtores e espera que esse fato isolado seja rechaçado e não influencie as exportações do país. Vale lembrar que a carne bovina é um dos principais itens de comercialização do Brasil”, disse Tirso Meirelles.
O coordenador da Comissão Técnica de Bovinocultura de Corte da Faesp, Cyro Ferreira Penna Junior, reforça esta tese. “A carne brasileira é a mais sustentável e competitiva do planeta, que atende aos padrões mais elevados de qualidade e exigências do consumidor final. Tais retaliações contra o nosso produto aparentam ser uma ação comercial orquestrada de produtores e empresas da União Europeia que não conseguem competir conosco no ‘fair play’”, diz Cyro.
Para o presidente da Faesp, cabe ao Carrefour reavaliar sua posição e, eventualmente, se retratar publicamente, uma vez que esta decisão, tomada unilateralmente e sem critérios técnicos, revela uma falta de compromisso do grupo com o Brasil, um importante mercado consumidor.
Várias outras instituições se posicionaram contra a decisão do Carrefour, e o Ministério da Agricultura (Mapa). “No que diz respeito ao Brasil, o rigoroso sistema de Defesa Agropecuária do Mapa garante ao país o posto de maior exportador de carne bovina e de aves do mundo”, diz o Mapa em comunicado. “Vale reiterar que o Brasil possui uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo e atua com transparência no setor […] O Mapa não aceitará tentativas vãs de manchar ou desmerecer a reconhecida qualidade e segurança dos produtos brasileiros e dos compromissos ambientais brasileiros”, continua a nota.
Veja aqui o vídeo do presidente.