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Produtor precisa recuperar crédito e mostrar capacidade de pagamento

Após enfrentar situações adversas no campo e problemas na hora de comercializar sua produção, fatores que elevaram o nível de endividamento agrícola no Brasil, o produtor rural precisa adotar medidas que possam influenciar positivamente na sua capacidade de pagamento e recuperar crédito para manter atividades e investimentos no agronegócio.

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Foto: Divulgação

Após travar verdadeiras batalhas nos últimos tempos para fazer gestão do passivo financeiro decorrente de sucessivas frustrações de safras e oscilações no mercado, o que reduziu margens e aumentou significativamente os custos de produção, o produtor rural brasileiro precisa encontrar meios que garantam sua capacidade de pagamento, aumentem seu score de crédito, o chamado “rating bancário”, e eliminem restrições de acesso ao crédito.

No caso do rating, ele nada mais é do que a visão interna das Instituições Financeiras que avalia o risco financeiro, a capacidade de pagamento e a probabilidade de inadimplência de quem busca crédito para custeio e investimentos na atividade agropecuária, e existem normas que mudaram a sua configuração, que precisam de atenção por parte do tomador de crédito, como veremos adiante.

Em termos práticos, no atual cenário do agronegócio do Brasil, o produtor precisa adotar medidas para recuperar seu crédito, aumentar seu score e eliminar restrições no famoso SISBACEN, o Sistema Financeiro do Banco Central do Brasil (BACEN), o qual aponta as condições, favoráveis ou não, para obtenção de crédito nas Instituições Financeiras. Um rating baixo limita o acesso ao crédito que, aliás, está cada vez mais escasso, exigindo garantias robustas e com juros em alta devido a Taxa Selic se manter na faixa dos 15% ao ano.

Em outras palavras, o produtor rural brasileiro, em sua maioria, está preocupado com o “termômetro” da sua saúde financeira junto aos bancos e demais Instituições Financeiras, que passaram a adotar, também, mudanças trazidas pela Resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) n° 4966/21, em vigor desde janeiro de 2025. A Resolução 4966/21 é uma normativa que estabeleceu novas regras para serem aplicadas sobre a classificação, mensuração e reconhecimento de instrumentos financeiros. Ela exige a aplicação do Conceito de Perda Esperada (ECL), em substituição à abordagem baseada na Perda Incorrida. Ou seja, a forma de provisão das Instituições Financeiras mudou, alterando de incorrida (efetiva) para esperada (estimada).

Na prática, se antes os bancos até fechavam operações em função do negócio, agora o ponto de fechamento realmente ficou focado no cliente que busca o crédito. Caso tenha um score deteriorado, a operação somente será viabilizada se houver um prognóstico de negócios futuros que não necessariamente envolvam o crédito. Isso influencia diretamente na provisão do cliente para o pagamento dos financiamentos contraídos, em um cenário no qual, além do rating bancário para se obter o crédito, leva-se em conta a capacidade de pagamento do cliente.

Em termos de recuperação de crédito agrícola, e não necessariamente de gestão de passivo, incluindo renegociação e alongamento de dívidas, ao nosso ver, o foco do produtor rural passou a ser a recuperação de crédito, a melhora do score e da capacidade de pagamento, além da exclusão de restritivos no BACEN. É nesse contexto que medidas legais passaram a ter grande importância para o produtor rural, pois após lidar com seu endividamento, ele precisa novamente ter acesso ao crédito, em especial, ao subsidiado. Mas é aí que reside o maior problema.

Para se ter ideia da sua dimensão, o Banco do Brasil, principal instituição que oferta crédito subsidiado no País, chegou a anunciar em outubro que restringirá o crédito para produtores com problemas de dívidas, ao mesmo tempo em que novas soluções, como investimentos de terceiros e programas de renegociação, procuram mitigar a crise.

As causas disso são bem conhecidas: é a soma da queda de lucratividade, numa combinação de preços de commodities em baixa e custos de insumos em alta, impactando a margem dos produtores e os levando à inadimplência nos contratos firmados e junto aos fornecedores de insumos, algo que tem batido recordes atualmente. Por consequência, surgiram as dificuldades na recuperação de crédito e isso deverá perdurar por alguns ciclos, até se reverter.

Na esteira veio, portanto, o endurecimento no crédito rural, a negativa de novos empréstimos aos produtores rurais que entraram em RJ, Recuperação Judicial, e o alerta de riscos, impactos e caminhos para quem precisa reorganizar o fluxo de caixa e manter o crédito ativo.

O que fazer diante desse cenário de dificuldades de acesso ao crédito agrícola? A solução está em atuar justamente em três pontos: exclusão de restritivos no BACEN, rating bancário e comprometimento de renda, para devolver condição técnica de crédito ao produtor rural.

Nesse sentido, existem medidas que permitem organizar o quadro financeiro do produtor e corrigir seu histórico. Um dos objetivos é tirar o cliente da faixa crítica do BACEN e criar um histórico mais compatível com a realidade atual da operação, assim como a redução do comprometimento de renda, resultando também na redução do peso das obrigações assumidas e na liberação de margem para novas operações de custeio, investimento ou capital de giro.

Some-se a isso a elevação do rating bancário, além de se evidenciar uma capacidade de pagamento compatível com o volume da atividade, medidas que abrem espaço para limites maiores, prazos mais longos e condições mais competitivas.

Fonte: Artigo escrito por Cesar da Luz é Diretor-Presidente do Grupo Agro10 Negócios & Desenvolvimento, especialista em agribusiness.

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Seguro rural segue fragilizado e expõe produtores a riscos crescentes no campo

Insuficiência de recursos para subvenção no Plano Safra 2025/26 compromete a proteção contra perdas climáticas e ameaça a estabilidade produtiva, econômica e social da agropecuária brasileira.

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Foto: Sistema Faep

O mercado de seguro rural no Brasil atravessa um momento crítico. Ainda que o anúncio do Plano Safra 2025/2026 tenha trazido um montante expressivo de recursos para crédito rural destinados à agricultura empresarial e agricultura familiar a dotação específica para instrumentos de proteção de risco, como o seguro rural, permanece insuficiente e fragiliza uma das bases da sustentabilidade da atividade primária.

A verdade é que o risco inerente à produção agropecuária — seja no cultivo agrícola, na pecuária ou no extrativismo — exige políticas robustas de gestão de risco. Fenômenos como geadas, secas, granizo, excesso hídrico, pragas ou enfermidades generalizadas não apenas reduzem a produção: geram efeito multiplicador sobre cadeias produtivas, impactam renda, crédito e até o abastecimento alimentar nacional.

Artigo escrito por José Zeferino Pedrozo, Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (Faesc) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/SC)

O mercado de seguro rural brasileiro padece precisamente porque essas variáveis permanecem imprevisíveis e, muitas vezes, fora do alcance da tomada de decisão dos produtores.

Neste contexto, o instrumento do seguro rural ganha protagonismo. Ele não é gasto, mas investimento em resiliência. Por meio dele, impulsiona‑se a adoção de tecnologias modernas, a formalização de operações, a garantia de continuidade da atividade diante de imprevistos.

Contudo, o quadro orçamentário evidencia fragilidade. Dados recentes apontam que no orçamento federal o programa de subvenção ao prêmio do seguro rural (PSR) não recebeu o aporte necessário e, em alguns casos, houve bloqueios ou suplementações negadas.

Embora o Plano Safra tenha ampliado o volume de crédito para custeio e investimento, não houve anúncio claro de aumento proporcional para o seguro rural ou para a subvenção do prêmio que viabilize ampla adesão dos produtores. Esse desalinhamento entre necessidade e dotação compromete fortemente a segurança da atividade primária. Quando um produtor investe em plantações, em criação ou extrativismo, assume risco de mercado (preço, logística, demanda) e risco “natural” (clima, solo, pragas). Diferente de empresas urbanas cujo risco pode ser parcialmente controlado, o agricultor lida com variáveis que escapam completamente de seu controle — daí a expressão “incerteza estrutural” da atividade rural.

Sem seguro rural acessível, um evento climático severo pode levar à ruptura de ciclo produtivo, insolvência, endividamento e até saída definitiva do campo. Essa vulnerabilidade afeta desde pequenos agricultores familiares até grandes produtores, mas atinge com especial gravidade quem tem menor escala, menor acesso à tecnologia e menor margem de manobra. A cobertura de seguro, com subsídio ao prêmio, é ferramenta de inclusão e de garantia de que o produtor não será exposto sozinho ao risco máximo.

É notório que os órgãos responsáveis pela política agrícola e orçamentária precisam reforçar o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural, elevando os recursos e garantindo liberação tempestiva. Sem isso, a atividade agropecuária permanecerá vulnerável, e o Brasil perderá não apenas em produtividade, mas em estabilidade social e econômica no meio rural. É hora de tratar o seguro rural não apenas como um componente do Plano Safra, mas como pilar da política pública agropecuária.

Fonte: Artigo escrito por José Zeferino Pedrozo, Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (Faesc) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/SC)
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Cooperativismo e a nova agenda do desenvolvimento sustentável

Setor reúne milhões de cooperados, movimenta R$ 750 bilhões e apresenta soluções decisivas para clima, produção de alimentos e energia.

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Fotos: Shutterstock

O cooperativismo brasileiro, um movimento robusto que congrega mais de 25,8 milhões de cooperados e opera com 4,3 mil cooperativas ativas em mais de 90% dos municípios do País, é hoje um protagonista na agenda de sustentabilidade global. Durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), realizada em Belém (PA), cooperativas de diferentes setores participaram de mais de 30 painéis, com temas como bioeconomia, agricultura de baixo carbono, inclusão produtiva, entre outros.

A participação ganha peso especial justamente em 2025 – declarado pela ONU como o ‘Ano Internacional do Cooperativismo’. O modelo é destacado como uma solução global para desafios complexos que vão da segurança alimentar e transição energética ao financiamento climático, que são essenciais para a adaptação e mitigação de riscos climáticos em escala nacional.

Artigo escrito por Mauro Favero, presidente da Divisão de Agricultura Leve no Grupo Husqvarna.

O modelo de organização coletiva do cooperativismo entrega resultados concretos, alinhando eficiência econômica e sustentabilidade, com um papel fundamental em: agricultura de baixo carbono, promovendo a segurança alimentar; financiamento e valorização das comunidades; apoio à transição energética e ao desenvolvimento sustentável; incentivo à bioeconomia e ao uso eficiente dos recursos naturais; e construção de resiliência a riscos climáticos.

No agronegócio, a relevância é indiscutível: pouco mais de um quinto dos produtores rurais brasileiros estão organizados em cooperativas, mas juntos, eles são responsáveis por mais da metade da safra nacional de grãos e fibras, garantindo competitividade global. Essas organizações movimentaram R$ 438 bilhões em receita no último ano, distribuíram R$ 30 bilhões em lucro e mantêm mais de 268 mil empregos diretos.

A força do cooperativismo, no entanto, vai muito além das cifras do agro. De acordo com o Anuário do Cooperativismo Brasileiro, o setor movimenta financeiramente aproximadamente R$ 750 bilhões ao ano, com uma geração de 570 mil empregos diretos. O impacto é sentido diretamente nos territórios: municípios com cooperativas apresentam, em média, um incremento de R$ 5,1 mil no PIB por habitante, além de um acréscimo médio de 14,8 estabelecimentos comerciais por mil habitantes. Esse modelo de negócios é um indutor de desenvolvimento que contribui para a redução de famílias no Cadastro Único e entre as beneficiárias do Programa Bolsa Família, e ainda estimula o aumento de matrículas no Ensino Superior, bem como o aumento da arrecadação e de empregos formais nas regiões em que está presente.

As cooperativas promovem inclusão social, dinamizam economias locais e levam tecnologia e assistência técnica a produtores que, isoladamente, teriam mais dificuldade em acessar esses recursos. São estruturas que compartilham riscos, multiplicam oportunidades e constroem comunidades mais fortes. Em um tempo de instabilidades geopolíticas e custos crescentes de produção, as cooperativas funcionam como um escudo para seus associados, garantindo acesso a insumos, crédito, orientação técnica e melhores condições de comercialização.

A diversidade do cooperativismo agropecuário brasileiro também merece destaque. Presente em todos os elos da cadeia, ele reúne desde cooperativas voltadas ao fornecimento de insumos até aquelas que atuam na industrialização e comercialização de produtos de origem vegetal e animal. Isso permite agregar valor à produção, abrir novos mercados e reduzir a vulnerabilidade do produtor diante das oscilações de preço.

Além disso, a intercooperação, princípio que orienta a atuação conjunta entre cooperativas de diferentes ramos, potencializa resultados. Em 2024, mais de 60% das cooperativas agropecuárias realizaram negócios com cooperativas de crédito, 23% utilizaram planos de saúde de cooperativas especializadas e outras tantas recorreram a serviços de transporte e trabalho.

Nesse cenário, o mercado e as empresas têm um papel fundamental a cumprir. Ao desenvolver produtos e soluções que facilitem o trabalho no campo, melhorem a produtividade e promovam a sustentabilidade. Essa colaboração é particularmente importante na agricultura familiar, onde o acesso a tecnologias, insumos de qualidade e assistência técnica muitas vezes depende do suporte das cooperativas e da oferta responsável de companhias parceiras.

Quando uma empresa estrutura programas de capacitação, disponibiliza equipamentos mais acessíveis ou estabelece canais de venda em conjunto com as cooperativas, ela não está apenas ampliando sua presença de mercado, mas está ajudando a transformar a realidade de pequenos produtores, que passam a produzir mais e melhor. Essa parceria virtuosa entre inovação empresarial e organização coletiva é parte essencial do caminho para garantir a resiliência do agro brasileiro e sua relevância mundial.

O setor, ao aliar eficiência econômica, compromisso social e responsabilidade ambiental, é a vitrine viva do conceito “Cooperativas constroem um mundo melhor”, tema eleito pela ONU para 2025. O Brasil, por meio do cooperativismo, projeta internacionalmente a capacidade de consolidar um modelo que concilia alta produtividade e a urgência da sustentabilidade. Celebrar o Ano Internacional das Cooperativas é reconhecer que o futuro do agro, da alimentação e da sustentabilidade do planeta passa por esse modelo de organização coletiva. O cooperativismo brasileiro não apenas constrói um mundo melhor: ele já o está transformando, todos os dias.

Fonte: Artigo escrito por Mauro Favero, presidente da Divisão de Agricultura Leve no Grupo Husqvarna.
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Comunicação e Marketing como mola propulsora do consumo de carne suína no Brasil

Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas.

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Foto: Claudio Pazetto

Artigo escrito por Felipe Ceolin, médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias, com especialização em Qualidade de Alimentos, em Gestão Comercial e em Marketing, e atual diretor comercial da Agência Comunica Agro.

O mercado da carne suína vive no Brasil um momento transição. A proteína, antes limitada por barreiras culturais e mitos relacionados à saúde, vem conquistando espaço na mesa do consumidor.

Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas. Estudos recentes revelam que o brasileiro passou a reconhecer características como sabor, valor nutricional e versatilidade da carne suína, demonstrando uma mudança clara no comportamento de compra e consumo. É nesse cenário que o marketing se transforma em importante aliado da cadeia produtiva.

Foto: Shutterstock

Reposicionar para crescer

Para aumentar a participação na mesa das famílias é preciso comunicar aquilo que o consumidor precisava ouvir:
— que é uma carne segura,
— rica em nutrientes,
— competitiva em preço,
— e extremamente versátil na culinária.

Campanhas educativas, conteúdos informativos e a presença mais forte nas mídias sociais têm ajudado a construir essa nova imagem. Quando o consumidor entende o produto, ele compra com mais confiança – e essa confiança só existe quando existe uma comunicação clara e alinhada as suas expectativas.

O marketing não apenas divulga, ele conecta. Ao simplificar informações técnicas, aproximar o produtor do consumidor e mostrar maneiras práticas de preparo, a comunicação se torna um instrumento de transformação cultural.

Apresentar novos cortes, propor receitas, explicar processos de qualidade, destacar certificações e reforçar a rastreabilidade são estratégias que aumentam a percepção de valor e, consequentemente, estimulam o consumo.

Digital: o novo campo do agro

As redes sociais se tornaram o “supermercado digital” do consumidor moderno. Ali ele busca receitas, tira dúvidas, avalia produtos e

Foto: Divulgação/Pexels

compartilha experiências.
Indústrias, cooperativas e associações que investem em presença digital tornam-se mais competitivas e ampliam sua capacidade de influenciar preferências.

Vídeos curtos, reels com receitas simples, influenciadores culinários e campanhas segmentadas têm desempenhado papel fundamental na aproximação com o consumidor urbano, historicamente mais distante da realidade da cadeia produtiva e do campo.

Promoções e estratégias de varejo

Além do ambiente digital, o ponto de venda continua sendo o território decisivo da conversão. Embalagens mais atrativas, materiais explicativos, promoções e ações conjuntas com o varejo aumentam a visibilidade e reduzem a insegurança de quem tomando decisão na frente da gondola.

Marketing como elo da cadeia produtiva

A cadeia de carne suína brasileira é altamente tecnificada, sustentável e reconhecida, mas essa excelência precisa ser comunicada. O marketing tem o papel de unir elos – do campo ao consumidor – e transformar conhecimento técnico em mensagens simples e que engajam.

Fonte: O Presente Rural com Felipe Ceolin
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