Conectado com
VOZ DO COOP

Suínos / Peixes

Produção em escala do tambaqui e industrialização de coprodutos da tilápia podem tornar o Brasil mais competitivo na piscicultura

Pesquisador em Economia e Gestão da Inovação na Embrapa Pesca e Aquicultura, Manoel Xavier Pedroza Filho afirma que o tambaqui está ganhando cada vez mais espaço nas exportações, no entanto, é necessário que o setor se estruture para oferecer esse produto com regularidade e em escala.

Publicado em

em

Fotos: Jonathan Campos

Existe uma variedade de peixes nas águas doce e salgada que contornam o vasto território brasileiro, mas a espécie que tem sido protagonista da produção nacional é a tilápia, um dos pescados mais cultivados no país e que vem conquistando cada vez mais o mercado, o paladar e o prato de muitos brasileiros e estrangeiros. De acordo com a Associação Brasileira de Piscicultura (Peixe BR), o Brasil é o quarto maior produtor mundial de tilápia, espécie que representa 65,3% da produção nacional.

A produção aquícola no Brasil tem testemunhado um crescimento expressivo ao longo dos últimos anos. Segundo dados da Peixe BR, o país registrou 638 toneladas de peixes produzidos em 2015, número que saltou para 887 toneladas em 2023, crescimento superior a 39% no período. “O cultivo de peixes em água doce representa 86% da produção nacional, camarão possui 13% e ostras, vieiras e mexilhões contribuem com apenas 1%”, expôs o doutor em Economia, mestre em Administração e Desenvolvimento Rural, engenheiro agrônomo, professor e pesquisador em Economia e Gestão da Inovação na Embrapa Pesca e Aquicultura, Manoel Xavier Pedroza Filho, durante o Inovameat, um dos principais eventos de proteína animal do Paraná, realizado no início de abril, em Toledo, no Oeste do Paraná.

Doutor em Economia e pesquisador na Embrapa Pesca e Aquicultura, Manoel Xavier Pedroza Filho: “A maioria dos produtores no país operam de forma individual, sem estar organizada em cooperativas ou integrados a um sistema, sendo necessário que toda a cadeia adote esse modelo para alcançar maior competitividade” – Foto: Jaqueline Galvão/OP Rural

Indústria em ascensão

A piscicultura brasileira tem se destacado como uma indústria em ascensão, com um aumento significativo na produção e nas exportações nos últimos anos. Mais de 20 espécies de peixes são cultivadas no país, com a tilápia liderando esse mercado, representando 65% da produção, seguida por tambaqui, tambacu, tambatinga e carpa, juntas somam 14%. Outras espécies, como pintado, cacharam, cachapira, pintachara, surubim, pacu e patinga compõem 1% cada, enquanto 13,7% são de outros peixes.

Entre 2015 e 2023, a produção da piscicultura registrou um crescimento superior a 39%, mantendo uma média anual de 4,87%. “Esse aumento reflete o compromisso e o investimento dos produtores brasileiros no setor”, pontua Pedroza Filho.

Os principais estados produtores de piscicultura no Brasil são Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Rondônia, Santa Catarina, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia e Pernambuco. “A estrutura de governança na cadeia produtiva da piscicultura é caracterizada pelos sistemas de produção individual, verticalizado e integrado, com a predominância dos dois últimos, o que permite uma gestão mais eficiente e uma maior qualidade do produto final”, afirma.

Exportações

As exportações da piscicultura brasileira aumentaram 4% em valor, em 2023, totalizando U$S 24,7 milhões. Em toneladas, houve queda de 20% (6.815 toneladas), aponta a Embrapa Pesca e Aquicultura a partir de dados do ComexStat, do Ministério da Economia. Quando incluído os pescados nesta contagem, as exportações alcançaram 120.659 toneladas no último ano, resultando em uma receita de US$ 415 milhões.

O crescimento das exportações em dólar e a queda em toneladas são explicados pelo crescimento das vendas de itens de maior valor agregado, como filés frescos. O aumento dos embarques de filés frescos e a queda dos peixes inteiros congelados – que possuem menor preço – representam os principais fatores responsáveis pelo aumento do valor médio por kg do produto exportado. Entre o terceiro trimestre de 2021 até o último trimestre de 2023, o preço médio da tilápia inteira exportada aumentou 21,2%, passando de US$ 3,49/kg para US$ 4,23/kg. No mesmo período, o preço médio da tilápia no mercado interno aumentou 33,4%, passando de R$ 7,29/kg para R$ 9,73/kg.

No ano passado, as exportações de peixes por espécies revelaram um panorama diversificado no mercado internacional. A tilápia continuou a liderar como a maior espécie exportada, representando 94% das exportações totais. Este peixe gerou uma receita de US$ 23 milhões, registrando um modesto crescimento de 1% entre 2022 e 2023.

Por outro lado, o tambaqui aumentou sua participação no mercado em 809%, atingindo 3% das exportações e gerando uma receita de US$ 798 mil. O bagre e os surubins também contribuíram, representando cada um 1% das vendas externas, com receitas de US$ 234 mil e US$ 224 mil, respectivamente, embora os surubins tenham registrado uma queda de 16% em comparação com 2022. As curimatás e outras espécies ainda têm um volume inferior a 1%, mas movimentaram US$ 119 mil no último ano.

Foto: Shutterstock

O Paraná manteve a posição de maior exportador brasileiro de tilápia em 2023, com US$ 18,6 milhões, representando 80% do total. Na segunda posição aparece São Paulo, com US$ 2,7 milhões (12% do total), seguido pela Bahia, com US$ 1,3 milhão (6% do total). O Paraná foi o estado exportador que apresentou o maior crescimento nas exportações de tilápia em 2023, representando um aumento de 42%. “Esses estados desempenham um papel importante na oferta global da tilápia brasileira, atendendo à crescente demanda tanto dentro quanto fora do país”, enaltece o palestrante.

Do total exportado, 60% consistiu em filés frescos, 26% de tilápia inteira congelada, 5% de filés congelados, 7% foi composto por subprodutos impróprios para alimentação humana e 2% foram de tilápia inteira fresca. “Essa diversificação na oferta de produtos de tilápia ressalta a capacidade da indústria brasileira de adaptar-se às necessidades e preferências dos consumidores internacionais, consolidando a posição do Brasil como um dos principais fornecedores globais da tilápia”, exalta o profissional.

Principais destinos

O Estados Unidos seguiu como principal destino da tilápia brasileira, importando 91% do total, em 2023, totalizando US$ 21,2 milhões e crescimento de 13%. A China foi o segundo destino, com US$ 673 mil e crescimento de 168%, seguido pelo Japão, com US$ 493 mil e crescimento de 183% em relação a 2022. Além destes, outros países também figuram entre os principais importadores da tilápia brasileira: Taiwan com 334.7 toneladas, Canadá com 189.6 toneladas, México com 107.2 toneladas, Malásia com 60.9 toneladas, Libéria com 46,3 toneladas, Ilhas Marschall com 38.9 toneladas, Paraguai com 30.7 toneladas, além de outras nações que importaram juntas 162.8 toneladas. O Brasil manteve a sétima posição no ranking dos exportadores, com uma receita de US$ 20,9 milhões, e crescimento de 12%. “Esses números destacam a diversificação dos mercados de exportação da tilápia brasileira, demonstrando a sua relevância global e a capacidade do Brasil de atender à demanda de diversos países”, frisou o pesquisador da Embrapa Pesca e Aquicultura.

Foto: Jonathan Campos

Drawback impulsiona competitividade

A tilápia foi o primeiro produto da aquicultura a ser inserido no sistema de Drawback para exportação, em meados de 2019. Conforme Pedroza Filho, essa iniciativa trouxe benefícios significativos às empresas exportadoras, permitindo a desoneração dos insumos utilizados no lote exportado, entre os quais ração, alevinos, vacinas e, mais recentemente, as embalagens para filé. “Essa medida visa reduzir os custos de produção e tornar a exportação de tilápia brasileira mais competitiva nos mercados internacionais”, expôs, evidenciando que os impactos econômicos dessa política resultaram em uma redução de cerca de 10% no custo de produção para os produtores da espécie.

Desafios e oportunidades

Pedroza Filho enumera alguns desafios enfrentados pela indústria de exportação de tilápia, que incluem a necessidade de adequação às exigências sanitárias e legais estabelecidas pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e pelos países importadores, atrelado a complexidade das transações comerciais, logística, financeira e aduaneira, bem como aos padrões de qualidade e certificações exigidos pelos mercados internacionais, como as BAP, ASC, BRC e GlobalGap, além da criação de uma política nacional de biosseguridade para a piscicultura. “Cumprir esses padrões é fundamental para garantir a competitividade e a aceitação dos produtos brasileiros no exterior”, reforça, destacando que o padrão de qualidade para o corte de filé de tilápia fresco no mercado interno é shallow skinned (pele fina), enquanto para o mercado externo é deep skinned (pele espessa).

O pesquisador afirma que o tambaqui está ganhando cada vez mais espaço nas exportações, no entanto, é necessário que o setor se estruture para oferecer esse produto com regularidade e em escala. “Nas feiras em que se leva a costelinha de tambaqui esse produto tem uma boa aceitação”, enaltece.

No entanto, apesar dos desafios, existem diversas oportunidades que podem ser exploradas pelo setor. Pedroza Filho diz que a produção de subprodutos como farinha, óleo, gordura e pele, apresenta um grande potencial para agregar valor à indústria da tilápia. Além disso, abertura de novos mercados para os peixes nativos e a introdução de novos cortes da tilápia podem diversificar as opções de exportação e aumentar a presença dos produtos brasileiros mundo a fora. “Um exemplo do potencial dessas oportunidades é o crescimento expressivo na exportação de gordura e óleos de peixes, que registraram um aumento de 827% em 2023. A farinha de peixe também teve um crescimento significativo, com o preço variando acima de US$ 1,7 mil a tonelada entre fevereiro de 2023 a fevereiro de 2024, indicando uma demanda crescente por esses produtos no mercado internacional”, enfatizou, salientando: “O governo e o setor devem continuar a explorar o mercado europeu, que é vasto e ainda não foi completamente explorado, assim como focar no crescimento das exportações de peixes nativos”.

O pesquisador destaca a possibilidade de aumento das importações de tilápia, não apenas do Vietnã, que por ora segue suspensa, mas de outros países, representando um risco para o setor. Contudo, ele enfatiza que, se o país seguir as medidas sanitárias, não há impedimento para a exportação dessa tilápia para o Brasil. “O principal desafio que identifico é a necessidade de o setor se preparar e tornar-se competitivo, uma vez que, no ponto de venda, o consumidor tende a basear sua escolha no preço, independentemente da origem do produto”, avalia, apontando que o alto custo do filé de tilápia limita seu acesso a todas as camadas sociais, ressaltando a importância de adotar medidas de controle sanitário e de tornar o produto mais competitivo no mercado interno.

Como se tornar mais competitivo

O especialista diz que para tornar-se mais competitivo, o setor pode se inspirar na cadeia produtiva do Oeste do Paraná, que se destaca pelo modelo de integração e pela intensificação da atividade em viveiro escavado, alcançando uma produtividade superior a 30 quilos por metro quadrado. “Essa região é reconhecida por produzir a tilápia mais competitiva do Brasil. O desafio em outras regiões é que a maioria dos produtores opera de forma individual, sem estar organizada em cooperativas ou integrada a um sistema, sendo necessário que toda a cadeia adote esse modelo para alcançar maior competitividade”, reforça.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor da piscicultura brasileira acesse a versão digital de Aquicultura, que pode ser lida na íntegra on-line clicando aqui. Tenha uma boa leitura!

Fonte: O Presente Rural

Suínos / Peixes

Apesar dos custos de produção em queda, desafios persistem na suinocultura

Na gestão de uma granja de suínos, o controle de custos desempenha um papel extremamente importante. A médica-veterinária Nicolle Andreassa Wilsek reforça que a gestão financeira e de dados é
essencial para tomar decisões assertivas, gerenciar recursos e garantir uma maior lucratividade para o produtor.

Publicado em

em

Fotos: Divulgação/Arquivo OPR

A suinocultura, um dos pilares da agroindústria nacional, enfrenta desafios constantes, entre os quais o custo de produção se destaca como um dos mais significativos. O setor, altamente dependente de fatores como preços de insumos, produtividade e condições de mercado, é fortemente influenciado pelas variações desses elementos. Nesse contexto, o custo de produção afeta a rentabilidade dos produtores e a competitividade do setor no mercado global.

Médica-veterinária e técnica do Departamento Técnico e Econômico do Sistema Faep/Senar-PR, Nicolle Andreassa Wilsek: “Os desafios relacionados ao custo de produção na suinocultura residem na manutenção do equilíbrio entre os gastos e as receitas” – Foto: Jaqueline Galvão/OP Rural

O último ano encerrou com os custos de produção na atividade atingindo a marca de R$ 6,20 por quilo vivo, queda de 23,16% em relação ao ano anterior, de acordo com dados da Central de Inteligência de Aves e Suínos (CIAS) da Embrapa Suínos e Aves.

Santa Catarina, líder nacional na produção de suínos e referência para os cálculos do CIAS, registrou em março uma queda de 1,42% em relação a fevereiro, com o custo de produção por quilo de suíno vivo chegando a R$ 5,61 em sistema de ciclo completo. No acumulado do ano, houve uma redução de -9,52%, fazendo com que o ICPSuíno atingisse 321,12 pontos. Essa diminuição foi impulsionada pelo custo da alimentação dos suínos, que caiu para R$ 4,09, representando 73,33% do custo total.

Composição dos custos de produção

A médica-veterinária e técnica do Departamento Técnico e Econômico do Sistema Faep/Senar-PR, Nicolle Andreassa Wilsek, explica que os custos de produção na suinocultura são compostos por quatro categorias principais: os custos variáveis, que flutuam de acordo com o nível de produção, englobam despesas diretas do produtor e têm o maior impacto nos custos, incluindo genética, produtos veterinários, mão-de-obra, alimentação, transporte, energia e combustíveis, manutenção e conservação, EPIs, seguros, equipamentos, despesas financeiras, administrativas e ambientais; os custos fixos, por outro lado, ocorrem independentemente da produção e incluem depreciação de máquinas, equipamentos e edificações, além de pagamentos de capital investido na atividade; já os custos operacionais são a soma dos custos variáveis e depreciação; enquanto o custo total é a soma dos custos variáveis e fixos, excluindo o custo operacional.

Impacto direto

O preço dos insumos tem um impacto direto no custo de produção, especialmente porque a alimentação representa uma parcela significativa dos custos no setor, variando de 60 a 70%. “O aumento dos preços do milho e da soja tem um impacto imediato no aumento do custo de produção. Esse efeito também se estende a outros tipos de insumos, como energia elétrica, produtos veterinários, EPIs, entre outros”, expõe Nicolle, que tratou sobre o tema no início de abril durante o Inovameat Toledo, que se destaca como um dos principais encontros dedicados à proteína animal no Paraná.

Gestão financeira

Na gestão de uma granja de suínos, o controle de custos desempenha um papel extremamente importante. A médica-veterinária reforça que a gestão financeira e de dados é essencial para tomar decisões assertivas, gerenciar recursos e garantir uma maior lucratividade para o produtor. “É muito importante para obter um retorno maior, para atenuar os gastos desnecessários e para conservar o patrimônio, preconizando a eficiência econômica e financeira da granja”, enfatizou.

Quanto às estratégias para diminuir os custos de produção na suinocultura, a profissional destaca a importância de identificar os gargalos dentro da granja, isso inclui evitar desperdícios, como de ração, vazamentos de água e a presença de fêmeas improdutivas, entre vários outros fatores que devem estar no radar do produtor.

E da porteira para fora da granja, Nicolle cita a necessidade de pensar na organização industrial, que envolve adequação do peso de abate, adequação de formulações nutricionais e logística de transportes.  “Os desafios relacionados ao custo de produção na suinocultura residem na manutenção do equilíbrio entre os gastos e as receitas, o que é alcançado por meio de bons índices zootécnicos, práticas eficientes de gestão e considerações ambientais equilibradas”, evidencia.

A profissional menciona que a suinocultura se beneficia de diversas tecnologias que podem contribuir para diminuir os custos da atividade. “Nas granjas a automação ajuda a reduzir a necessidade de mão de obra, enquanto o uso de energias renováveis, como solar e biodigestor, auxilia na diminuição dos custos com energia elétrica e combustíveis”, relata, acrescentando: “E a escala de produção influência de forma direta os custos na suinocultura, por isso que quanto mais animais produzindo, mais eficiência terá a propriedade e, consequentemente, maior rentabilidade. Além de otimizar logística de transporte, alimentação e demais suprimentos”, aponta.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de suinocultura acesse a versão digital de Suínos, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
Continue Lendo

Suínos / Peixes No Paraná

Vizinhos compartilham biodigestor para produzir energia limpa da suinocultura

Para viabilizar um sistema de produção de energia limpa, dois produtores de Itaipulândia, no Oeste, decidiram compartilhar um biodigestor e um gerador. Com isso, ambos conseguem baratear contas de luz e ainda manejar os resíduos da produção de maneira ambientalmente responsável.

Publicado em

em

A cerca que divide as propriedades de José Valdir Genaro e Ari Facioni, em Itaipulândia, no Oeste do Paraná, é uma mera formalidade quando o assunto é sustentabilidade na suinocultura. Para viabilizar um sistema de produção de energia limpa, os produtores decidiram compartilhar um biodigestor e um gerador. Com isso, os dois conseguem baratear suas contas de luz e ainda manejar os resíduos da produção de maneira ambientalmente responsável.

Usina de BioGás – produção de energia gerada a partir, neste caso, dos dejetos de suínos -, em Itaipulândia, região Oeste do Paraná.- Fotos: Roberto Dziura Jr./AEN

O compartilhamento do sistema também permite que o investimento feito pelos produtores se pague mais rápido, com uma produção diária de energia ainda maior. O modelo também serve de exemplo para pequenos produtores, que individualmente não teriam fôlego financeiro ou volume de dejetos para manter um sistema sozinho.

A história dos produtores é tema da série de reportagens “Paraná, energia verde que renova o campo”, que mostra exemplos de adesão ao programa RenovaPR e ao Banco do Agricultor Paranaense para implantar sistemas de energias sustentáveis em suas propriedades.

“Para o meu vizinho montar o gerador, a quantidade de suínos que ele tinha não seria suficiente para a finalidade que ele tinha imaginado, então ele me convidou para fazer uma parceria, cedendo o esterco dos meus animais para aumentar a capacidade de geração de energia”, explica Ari Facioni.

Com a soma dos dejetos dos 3 mil suínos da propriedade de Genaro e de 1,8 mil da propriedade de Facioni, o gerador instalado por eles produz cerca de 75 kilowatts por hora, funcionando mais de 12 horas por dia. O volume é suficiente para dar independência energética para as duas propriedades de maneira limpa e renovável. “É algo que dá conforto para nós. É uma despesa a menos que nós temos, com perspectiva, inclusive, de render uma renda extra com a venda da energia excedente para a rede”, conta Genaro.

Sistema

A geração de energia a partir dos dejetos e resíduos orgânicos acontece em duas etapas. Na primeira, os restos de ração, fezes, urina e carcaças são depositados em um poço cavado no chão e coberto por uma lona especial, chamado de biodigestor, onde passar por reações químicas que produzem o biogás. Depois, os gases passam por um gerador que os transforma em energia.

Além da energia, o sistema garante o manejo adequado dos dejetos dos animais, um dos maiores passivos da suinocultura atualmente. Com os biodigestores, todos os resíduos têm uma destinação ambientalmente correta, dentro da propriedade. “Dar destino para os dejetos e as carcaças era um serviço complicado, quase insalubre, com muita mosca e mau cheiro. Hoje o material é depositado no biodigestor e o manejo é muito mais limpo e fácil”, explica Genaro.

Os processos químicos do sistema também produzem um composto que pode ser devolvido à lavoura ou ao pasto da propriedade como um fertilizante rico em nutrientes. “Os resíduos voltam como um adubo tratado, de boa qualidade, que não queima a terra”, afirma o produtor Ari Facioni.

Sem este processo, o depósito destes dejetos é altamente prejudicial ao meio ambiente. Por causa disso, muitos suinocultores só conseguem aumentar suas produções ao construírem biodigestores nas suas propriedades. “Muitos agricultores não produzem mais porque isso significa dar destinação a mais dejetos. Sem este processo, os dejetos produzem muitos agentes contaminantes. Por outro lado, quando ele passa pelo biodigestor, ele se transforma em um fertilizante natural que deixa de ser agressivo ao meio ambiente”, explica o diretor ambiental da Prefeitura de Itaipulândia, Altair Ruschel.

Apoio

O investimento feito para a instalação de todo o sistema, que também conta com um triturador de carcaças, foi de cerca de R$ 800 mil e contou com o incentivo do Programa Paraná Energia Renovável (RenovaPR), do Governo do Estado.

O empréstimo para a construção do sistema foi feito a juro zero, por meio do Banco do Agricultor Paranaense, como forma de estimular a transformação energética no campo. O programa é uma iniciativa do Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento, e conta com recursos financeiros do Fundo de Desenvolvimento Econômico (FDE), administrado pela Fomento Paraná.

Ao todo, a subvenção de juros por meio do Governo do Estado para projetos deste tipo já passou de R$ 231 milhões desde 2021. Com este estímulo, já foram investidos mais de R$ 4,2 bilhões em 34 mil projetos de energia renovável em todo o Estado.

Em Itaipulândia, um programa da prefeitura da cidade em parceria com a Itaipu Binacional também oferece subsídio para a instalação dos biodigestores e fornece os geradores em consignação aos suinocultores. “Era uma vontade antiga instalar um sistema destes para gerar energia e dar a destinação para os resíduos da produção. Só assim a gente vai conseguir aumentar a nossa produção. Graças ao subsídio do RenovaPR a gente conseguiu concluir um projeto como este”, diz José Valdir Genaro.

Economia

A produção de suínos para corte é a quinta cultura agropecuária com maior Valor Bruto da Produção (VBP) do Paraná, com R$ 8,45 bilhões movimentados em 2023, de acordo com dados do Departamento de Economia Rural (Deral). Este valor representa 4,27% de toda a economia do campo paranaense.

A região Oeste do Paraná, onde fica Itaipulândia, concentra a maior parte desta produção. A cidade é a sétima maior produtora de suínos do Estado, com R$ 246 milhões em VBP a partir da suinocultura. Toledo (R$ 1,25 bilhão), Santa Helena (R$ 560 milhões), Missal (R$ 482 milhões) e Marechal Cândido Rondon (R$ 450 milhões) são as maiores produtoras do Paraná.

Na comparação com outros estados, o Paraná é o segundo maior produtor do Brasil, com 3,1 milhões de suínos abatidos no primeiro trimestre de 2024, segundo dados da Pesquisa Trimestral de Abate de Animais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Santa Catarina lidera a produção nacional, com 4,1 milhões de animais abatidos. Rio Grande do Sul (2,3 milhões) e Minas Gerais (1,4 milhão) e São Paulo (735 mil) completam a lista de cinco maiores produtores do Brasil.

Série de reportagens

A série de reportagens “Paraná, energia verde que renova o campo” está mostrando exemplos de produtores rurais de todo o Estado que aderiram ao programa RenovaPR para implantar sistemas de energias sustentáveis em suas propriedades. Criado em 2021, o RenovaPR apoia a instalação de unidades de geração distribuída em propriedades rurais paranaenses e, junto ao Banco do Agricultor Paranaense, permite que o produtor invista nesses sistemas com juros reduzidos. Todas as reportagens da série podem ser conferidas aqui.

Confira o vídeo

Fonte: AEN-PR
Continue Lendo

Suínos / Peixes

Codigestão de dejetos e plantas: a nova era na produção de biogás

A expansão da produção de biogás por meio da codigestão de dejetos e culturas energéticas em áreas rurais não apenas promove avanços ambientais, mas também traz impactos sociais e econômicos significativos.

Publicado em

em

Foto: Geraldo Bubniak

Em busca de explorar o potencial de culturas energéticas como o sorgo e o capim elefante combinados com resíduos da produção animal para a produção de biogás, pesquisadores da Embrapa Suínos e Aves, Embrapa Milho e Sorgo e da Embrapa Gado de Leite apresentaram os primeiros resultados do estudo realizado na Bioköhler Biodigestores durante o Dia de Campo sobre codigestão de culturas energéticas e resíduos da produção animal para produção de biogás, que integrou a programação do Inovameat Toledo, um dos principais eventos dedicados à proteína animal no Paraná, realizado em meados de abril na região Oeste do estado.

Doutor em Química Ambiental e pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Airton Kunz: “Todos os envolvidos na cadeia compreendem a importância desse movimento e estão comprometidos com seu sucesso, visando um futuro mais sustentável para todos” – Foto: Jaqueline Galvão/OP Rural

Liderada pelo doutor em Química Ambiental e pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Airton Kunz, a iniciativa visa avaliar a viabilidade de culturas energéticas na produção sustentável de biogás para validar essa nova abordagem. “A codigestão de resíduos da produção animal com as culturas energéticas representa uma alternativa promissora para melhorar a eficiência da produção de biogás. Essa nova abordagem envolve a mistura de vários resíduos para otimizar a produção de biogás. Ao combinar dejetos suínos, aves ou de bovinos, por exemplo, com culturas energéticas como o sorgo e o capim elefante, podemos alcançar resultados significativos em termos de produção sustentável de energia”, explicou Kunz.

Em comparação com outras formas de produção de biogás, o pesquisador ressalta os benefícios ambientais associados à codigestão de dejetos e culturas energéticas, destacando sua capacidade de conferir maior estabilidade aos processos de geração de biogás. “Isso é fundamental para a implementação bem-sucedida de novos arranjos de produção e utilização do biogás”, afirma.

Desafios técnicos e operacionais

Em relação aos desafios técnicos e operacionais associados ao uso de culturas energéticas na codigestão com dejetos, Kunz destaca a importância de compreender os arranjos produtivos específicos dessas culturas. Ele ressalta a necessidade de considerar as peculiaridades de cada cultura, incluindo seus ciclos de cultivo e colheita, assim como os processos de silagem, para garantir um suprimento consistente desse substrato para a geração de biogás.

Com o uso das culturas energéticas, o pesquisador diz que se busca não apenas melhorar a estabilidade da composição do biogás, mas também dos volumes produzidos em comparação aos processos de monodigestão, que se restringem apenas aos dejetos. “Essa abordagem objetiva aprimorar tanto a qualidade quanto a consistência do biogás gerado. Ao introduzir culturas energéticas na codigestão, espera-se minimizar as variações na composição do biogás e otimizar os volumes produzidos, proporcionando uma fonte de energia mais confiável e previsível”, expõe Kunz.

Impactos sociais e econômicos

A expansão da produção de biogás por meio da codigestão de dejetos e culturas energéticas em áreas rurais não apenas promove avanços ambientais, mas também traz impactos sociais e econômicos significativos. De acordo com Kunz, esse processo impulsiona o desenvolvimento e a criação de empregos, especialmente nas regiões onde as cadeias de produção de proteína animal, como no Sul do Brasil, estão consolidadas, com modelos de integração bem estabelecidos que geram oportunidades de trabalho. “A integração de culturas energéticas e outros resíduos nesse contexto não só diversifica as atividades econômicas, mas também contribui para a geração e agregação de renda”, salienta, frisando: “Essa abordagem não apenas fortalece os elos existentes na cadeia produtiva, mas também abre novas perspectivas para a comunidade rural, promovendo um desenvolvimento mais sustentável e equilibrado”.

Abordagem em evidência

Foto: Monalisa Pereira/Embrapa Suínos e Aves

A adoção da codigestão de dejetos e culturas energéticas para a produção de biogás está ganhando destaque em diversas partes do mundo, com a Europa liderando o caminho. Países como a Alemanha se sobressai, contando com aproximadamente 10 mil plantas de geração de biogás, muitas das quais fundamentadas no uso de culturas energéticas como substrato.

No entanto, o Brasil se diferencia ao adotar uma abordagem adaptada às suas condições tropicais. Aqui, explica o pesquisador, cultivares específicas são desenvolvidas com genética local, dedicadas à geração de biogás. “Esse foco em cultivares adaptadas garante uma eficiência ainda maior no processo de codigestão”, evidencia.

Os pesquisadores brasileiros estão empenhados no desenvolvimento de tecnologias que garantam a eficiência operacional da codigestão, dimensionando cuidadosamente os parâmetros técnicos envolvidos. Isso inclui a determinação precisa da produção de biogás por hectare, a relação ideal entre os materiais dentro dos biodigestores e a quantidade de biogás produzida. “Essa abordagem orientada para a eficiência técnica não apenas impulsiona a inovação no campo da produção de biogás, mas também facilita a adoção dessas tecnologias pelo setor produtivo. A equipe da Embrapa trabalha focada no aprimoramento contínuo desse processo, para posicionar o Brasil como um líder na produção sustentável de biogás, contribuindo desta forma para um futuro energético mais limpo e resiliente”, salienta Kunz.

Na vanguarda

O pesquisador ressalta que a equipe da Embrapa está empenhada em estabelecer arranjos completos para a codigestão de dejetos com culturas energéticas, considerando todos os parâmetros técnicos e as nuances de toda a cadeia produtiva. “Entendemos que este é um processo dinâmico, com espaço para inovação contínua. Uma das áreas-chave de foco da pesquisa é o desenvolvimento de processos de tratamento para aumentar a capacidade de geração de biogás a partir dessas culturas energéticas”, expõe.

Além disso, a Embrapa está conduzindo trabalhos de melhoramento genético de cultivares especificamente voltadas para a produção de biogás. “Este investimento em pesquisa visa otimizar ainda mais o desempenho dessas culturas em termos de produção de biogás”, constata Kunz.

O doutor em Química Ambiental reforça que uma das razões fundamentais para adotar a codigestão de culturas energéticas junto aos dejetos é a complementaridade entre esses materiais. “Enquanto os dejetos líquidos, como dos suínos, têm uma alta concentração de água, em torno de 98%, as culturas energéticas possuem uma porcentagem entre 20 a 27% de matéria seca. Ao combinar esses dois materiais, aumentamos a concentração de sólidos no biodigestor, resultando em processos mais otimizados e maior rendimento na produção de biogás”, sustenta, acrescentando: “Essa abordagem é fundamental para garantir um fornecimento estável de substrato, permitindo o estabelecimento de arranjos para diversos fins, desde a geração de energia elétrica até a produção de biometano, que nada mais é que o biogás purificado, e que está ganhando destaque como uma solução de mobilidade sustentável”.

Para o setor agropecuário, a sustentabilidade dessa operação é especialmente relevante, uam vez que contribui para a redução da dependência de combustíveis fósseis, fortalecendo a competitividade das commodities tanto no mercado nacional como internacional, ao mesmo tempo que o país avança na descarbonização das cadeias de produção animal. “Todos os envolvidos na cadeia compreendem a importância desse movimento e estão comprometidos com seu sucesso, visando um futuro mais sustentável para todos”, exalta Kunz.

A pesquisa da Embrapa representa um importante avanço no setor de energia renovável, oferecendo uma alternativa econômica e ambientalmente sustentável para a produção de biogás. Com a continuidade dos estudos e o apoio de instituições parceiras, espera-se que essa tecnologia contribua significativamente para a transição para um futuro energético mais limpo e eficiente.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de suinocultura acesse a versão digital de Suínos, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
Continue Lendo
ABMRA 2024

NEWSLETTER

Assine nossa newsletter e recebas as principais notícias em seu email.