Peixes
Produção de tilápia volta a crescer no Espírito Santo
Tilapicultura capixaba vive um ciclo acelerado de expansão, impulsionado por tecnologia, organização dos produtores e salto na produtividade, consolidando-se como um dos pilares do agronegócio estadual.

A produção de peixes cultivados no Espírito Santo vive um momento de retomada e expansão. Após oscilações entre 2014 e 2020, a aquicultura capixaba recuperou seu ritmo e alcançou, em 2024, cerca de 7,1 mil toneladas, crescimento de 73% em relação ao menor volume registrado em 2017 (3,73 mil toneladas). O valor da produção acompanhou a evolução do setor, atingindo R$ 68,4 milhões em 2024, o que representa mais que o dobro do registrado em 2020 (R$ 26,3 milhões).
O destaque desse avanço é a tilápia, responsável por 99,46% de toda a piscicultura estadual. Em 2024, foram produzidas 7,03 mil toneladas da espécie, consolidando sua posição como carro-chefe da aquicultura capixaba. Os demais peixes, somados, representam menos de 1% da produção, demonstrando a forte especialização dos sistemas produtivos do Estado.
A liderança na produção de tilápia é concentrada em municípios com forte tradição e estrutura técnica. Linhares ocupa a primeira posição, com 3,2 mil toneladas (45,5%), seguido por Domingos Martins, com 1,4 mil toneladas (20,05%), e Marechal Floriano, com 550 toneladas (7,82%). Também se destacam Guarapari, Muniz Freire e Alegre, que vêm ampliando seus sistemas produtivos com tecnologias adaptadas às condições locais.

Foto: Jaelson Lucas
A expansão recente demonstra a capacidade de modernização do setor, com adoção de boas práticas de manejo, melhoria genética, aeradores, alimentação balanceada e controle sanitário. Além disso, a tilapicultura tem demonstrado forte alinhamento com o mercado, pois oferece produto regular, competitivo e com grande aceitação no varejo e na indústria.
Para o secretário de Estado da Agricultura, Enio Bergoli, a tilapicultura se firma como uma das atividades mais promissoras do agronegócio capixaba. “A tilápia se tornou estratégica para o desenvolvimento da aquicultura no Espírito Santo. O Estado vive um ciclo de crescimento sustentado, fruto dos investimentos em tecnologia, qualificação e organização produtiva. Esse resultado representa mais renda para as famílias rurais, diversificação econômica e segurança alimentar para a população”, destacou Bergoli.

Peixes
Rio Grande do Sul intensifica combate a fraudes em pescados com treinamento de fiscais estaduais
Capacitação promovida pelo Ministério da Agricultura e Pecuária reforça fiscalização após o estado ampliar o escopo do SIE para incluir pescados no Sistema Brasileiro de Inspeção.

A Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) do Rio Grande do Sul está reforçando o controle sanitário e a fiscalização de pescados no estado. Nesta semana, 20 fiscais estaduais agropecuários participam de um treinamento especializado em identificação de fraudes, promovido pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). A capacitação ocorre até esta sexta-feira (05), no Laboratório Federal de Defesa Agropecuária (LFDA/RS), em Porto Alegre.
O grupo é formado por 15 médicos veterinários das Supervisões Regionais e outros cinco lotados na capital. Segundo o chefe da Divisão de Inspeção de Produtos de Origem Animal da Seapi, Henrique Bueno, a formação aprimora o trabalho dos profissionais que atuam diretamente na fiscalização, especialmente após a recente ampliação das competências do Estado no setor.
Durante a 48ª Expointer, o Serviço de Inspeção Estadual (SIE-RS) recebeu certificação para incluir pescados no Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Sisbi-POA).
Com esse reconhecimento, o Rio Grande do Sul ganha autonomia para indicar estabelecimentos ao sistema federal, permitindo que produtos inspecionados no Estado circulem em todo o país. “Hoje temos duas empresas de pescado registradas no SIE-RS, localizadas em Santo Ângelo e Chapada, que já foram indicadas ao Sisbi-POA”, destaca Bueno.
Segundo ele, o treinamento amplia a segurança e a qualidade dos produtos ofertados no mercado, fortalecendo a cadeia produtiva e garantindo maior proteção ao consumidor.
Peixes
Aquicultura amazônica cresce em meio a desafios regulatórios e climáticos
Estudo da Embrapa identifica três fases de desenvolvimento entre 1988 e 2023 e aponta que avanços futuros dependem de políticas coordenadas entre União e estados e da adoção de práticas sustentáveis.

Estudo recente feito pela Embrapa Pesca e Aquicultura (Palmas-TO) financiado como políticas públicas externas à aquicultura continental na Amazônia Legal impactaram o setor entre 1988 e 2023. Baseando-se em dados de produção e em legislações em diferentes níveis, os autores identificaram que esse período de 35 anos pode ser dividido em três estágios.
O artigo “Incentivando pecuárias alternativas: políticas públicas e o crescimento da aquicultura continental na Amazônia Legal (1988-2023)” foi publicado na revista Desenvolvimento e Meio Ambiente, editada pelo Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Thiago José Arruda de Oliveira é bolsista da Embrapa Pesca e Aquicultura e primeiro autor do artigo. Segundo ele, “em linhas gerais, no primeiro momento (1988-2002), a aquicultura na Amazônia Legal está distante de qualquer entendimento como prioridade nacional. Salvo iniciativas dispersas em Mato Grosso e em Rondônia, a atenção do governo federal se dirige a temas amplos, como estabilização econômica e aquisições democráticas.

Evolução da produção aquicola nos nove estados da Amazônia Legal entre 2001 e 2022 – Foto: Figura elaborada pelos autores
Na sequência, de 2003 a 2013, “após o estabelecimento das bases para um Estado de direito mais estável, abriu-se espaço para políticas que buscavam, de fato, estruturar a cadeia aquícola. As criações do Ministério da Pesca e Aquicultura e da Embrapa Pesca e Aquicultura representaram movimentos decisivos nesse sentido. O resultado se traduziu em salto produtivo expressivo, com destaque para Rondônia, que poderia aproveitar o momento e aumentar incentivos diretos à produção, como a isenção do ICMS”, emenda.
A analista de Sistemas de Informações Geográficas (SIG) da Embrapa Pesca e Aquicultura Marta Eichemberger Ummus também atuou no trabalho. Para ela, “no período final (2014-2023), as crises políticas, hídricas, econômicas e a pandemia do coronavírus reduziram significativamente o protagonismo federal, transferindo aos estados da Amazônia Legal a tarefa de sustentar o desenvolvimento do setor”. Cenário complementado por Thiago: “pesar de esforços e expectativas, os efeitos tímidos. Limitações orçamentárias, pouca capacidade de suporte institucional e um ambiente favorecem as atividades mais consolidadas, inclusive com impactos ambientais elevados, frearam avanços e limitaram a competitividade regional”.
Legislação
Ao todo, o estudo localizou 138 leis federais ou estaduais nos estados da Amazônia Legal referente à aquicultura no período. Todo esse arcabouço jurídico foi separado por origem, ano de promulgação, número de registro e outras informações importantes. Categorizadas, as leis se dividem em cinco eixos temáticos: incentivos diretos; regulamentos; meio ambiente; espécies exóticas; e outros assuntos.
No meio desse regramento legal todo e num cenário de conflitos entre diferentes instâncias governamentais, como a aquicultura continental na Amazônia Legal pode ter uma evolução consistente e principalmente justa, socialmente falando? “O cenário político brasileiro atual segue marcado por divergências e pela ausência de alinhamento mínimo entre os entes federativos. Essa configuração difere do período de maior desenvolvimento institucional vívido entre 2003 e 2013, o que reduz a perspectiva de um avanço acelerado no curto prazo”, entende Thiago.
Ele apresenta uma visão positiva: “nas próximas décadas, porém, a tendência indica movimento diferente. A pauta climática assume centralidade nas decisões globais e durante a COP30, em Belém-PA, reforçando-se a cobrança por modelos produtivos com menor pressão ambiental. Nesse contexto, a aquicultura se destaca como alternativa capaz de ampliar a segurança alimentar em sintonia com a realidade amazônica, os jurídicos sólidos e desapareçam as inseguranças regulatórias, fortalecendo assim uma evolução justa e socialmente legítima”.
Marta contextualiza o cenário: “no artigo observamos que, sempre que há ações coordenadas entre a União e os estados, a aquicultura tende a avançar. Um exemplo claro é a segunda fase (2003–2013), quando praticamente todos os estados da Amazônia Legal ampliaram sua produção. Esse crescimento coincidiu com um aumento expressivo de legislações estaduais, desencadeado por marcos federais como a criação da SEAP/PR, o Decreto Federal nº 4.895/03, a posterior criação do MPA e a CONAMA 413/09. Essas normas aplicaram programas de incentivo, concessões e políticas específicas que refletiram diretamente no aumento da produção regional”.
“Na minha avaliação, o que limita o desenvolvimento no ambiente institucional é a ausência de normativas estaduais mais aprovadas entre si e adaptadas às realidades locais, mas sem perder a coerência nacional. Esse é um desafio que não se restringe à aquicultura, mas afeta diversos setores produtivos. Para a aquicultura amazônica, vejo dois caminhos importantes: fortalecer o diálogo entre instituições federais e estaduais e, igualmente, promover mais interação entre os próprios estados”, afirma Marta.
Marta considera estratégico o papel que a Embrapa, dentro de sua competência técnico-científica, pode ter com relação à formulação e ao monitoramento de políticas públicas para o setor. “Entendo que a nossa função como empresa pública pode envolver a definição de indicadores ambientais, produtivos e socioeconômicos que permitem que as políticas sejam construídas a partir de evidências, e não apenas de orientações políticas”, explica.
“Também cabe à Embrapa recomendar sistemas de produção e manejo adequados às especificações e às características regionais, contribuir para a capacitação de gestores, formuladores de políticas, técnicos e analistas ambientais, além de monitorar os impactos das políticas renovadas. Outro papel fundamental é produzir e manter bases de dados confiáveis, como por exemplo os mapeamentos de viveiros escavados e mapas de adequabilidade que apoiem o planejamento territorial”.
Ainda como papel da empresa, Marta acredita que ela “pode desenvolver soluções tecnológicas que integrem a bioeconomia, a sustentabilidade e a inclusão social de produtores, bem como atuar em câmaras técnicas e emitir notas técnicas sobre legislações específicas, quando exigida. Em síntese, a Embrapa pode contribuir para aumentar a assertividade das políticas ao produzir diagnósticos técnicos, manter bases de dados atualizadas e garantir a supervisão institucional para políticas públicas mais consistentes”.
Peixes
Setor reage à proposta do governo de classificar tilápia como espécie exótica invasora
Entidades do agronegócio articulam mudança no prazo e pressionam Congresso para barrar efeitos da lista. Tarifaço dos EUA agrava perdas nas exportações paranaenses.

A proposta da Comissão Nacional de Biodiversidade (Conabio), vinculada ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), em classificar algumas culturas como ‘espécie exótica invasora’ tem mobilizado diversas entidades do agronegócio, como o Sistema Faep. O tema deve ser deliberado ainda em dezembro deste ano, com a possibilidade de incluir a tilápia na lista. Essa foi a principal pauta da reunião da Comissão Técnica de Aquicultura do Sistema Faep, na terça-feira (02).
Na ocasião, o coordenador de Sustentabilidade da CNA, Nelson Ananias Filho, pontuou como estão as negociações para a não inclusão de culturas como a tilápia nessa lista. Para que isso ocorra, entidades do setor têm questionado tecnicamente a inclusão dessas culturas na listagem.

Foto: Jaelson Lucas
Dessa forma, tem sido negociado com o MMA um prazo maior para essa determinação. “A tilápia é uma espécie domesticada há décadas no Brasil e uma importante atividade para a economia do Paraná e do Brasil. As políticas públicas precisam considerar os benefícios econômicos e sociais”, destaca o presidente interino do Sistema Faep, Ágide Eduardo Meneguette. “Nosso foco também é combater algumas resoluções aplicadas nessa lista, como os licenciamentos ambientais. Precisamos levar essa discussão para onde temos mais força, que é o Congresso Nacional. Trabalharemos dentro do Legislativo para discutir essas questões e buscar soluções para evitar o controle que inviabilize qualquer atividade agropecuária”, avalia o coordenador de Sustentabilidade da CNA.
O representante da CNA ainda destacou que a lista de espécies exóticas e invasoras deve contém alguns animais que ameaçam o desenvolvimento da agropecuária no país. “Essa ação, em determinada maneira, é interessante quando, por exemplo, coloca a erradicação do javali, do mexilhão dourado, do lebrão e do búfalo”, destaca.
Tarifaço

Outro tema debatido na da Comissão Técnica de Aquicultura do Sistema Faep envolve o impacto das tarifas impostas pelos Estados Unidos às exportações brasileiras de tilápia. Dados do Agrostat Brasil, plataforma do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), apontam quedas em receitas e volumes nos embarques paranaenses dessa cultura em 2025.
Na comparação com 2024, as receitas caíram 14%, saindo de US$ 29,2 milhões para R$ 25,2 milhões. Já o volume de exportações teve baixa de 5%, de 6,1 mil toneladas para 5,8 mil toneladas. “Mesmo que nacionalmente as exportações de tilápia tenham conseguido maior estabilização, o Paraná, por ter como principal destino os Estados Unidos, apresentou perdas por conta do tarifaço. Por isso, reforçamos a importância de maior celeridade para a retirada total desses embargos, que tanto prejudica o produtor paranaense”, enfatiza Meneguette.



