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Presidente da Asbia faz panorama das biotecnologias reprodutivas no Brasil

Liderança é um dos entusiastas do setor para melhorar a qualidade da carne e leite produzidos no Brasil, assim como ampliar os índices reprodutivos nas fazendas

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Sérgio de Brito Pietro Saud, presidente da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia), é um dos entusiastas do setor para melhorar a qualidade da carne e leite produzidos no Brasil, assim como ampliar os índices reprodutivos nas fazendas. Ele está confiante com o aumento no número de produtores que passam a usar a inseminação artificial em substituição à monta. Mas há muito espaço para crescer. De acordo com Saud, só 15% das fêmeas são prenhes por Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF). Atualmente, 68 milhões de fêmeas ainda são acasaladas com touro a pasto. O presidente da Asbia, de Uberaba, MG, faz um panorama sobre a atualidade e as tendências em biotecnologias reprodutivas no país. Boa leitura.

O Presente Rural (OP Rural) – No Brasil, o quanto se aplica de inseminação artificial, IATF e monta na pecuária?

Sérgio de Brito Pietro Saud (SS) – O uso da IATF no Brasil cresce ano a ano, na casa de dois dígitos. No ano 2017, registramos a cifra de 12 milhões de protocolos de IATF comercializados, isso equivale a aproximadamente 15% das fêmeas em idade reprodutiva. Segundo cálculos da Asbia e Cepea, o total de fêmeas em idade reprodutiva é de 80 milhões de cabeças. Ou seja, cerca de 68 milhões de fêmeas em idade reprodutiva ainda são acasaladas com touros a pasto, a maioria deles sem valor genético, o que reduz em muito a produtividade e a qualidade da carne e leite produzidos no Brasil.

OP Rural – Quais são os índices reprodutivos médios em cada uma das situações?

SS – No caso da IATF, já é comum nos depararmos com índices superiores a 60% de prenhez, no primeiro serviço. Muitas fazendas que utilizam a ressincronizacão, ou seja, que repetem a IATF naquelas fêmeas que não emprenharam no primeiro serviço, apresentam índices superiores a 85% de prenhez. Já no caso da monta natural com o uso de touros, o resultado é muito variável. A grande maioria das fazendas utiliza touros com baixíssimo valor genético e muitas vezes em quantidade inferior ao necessário para acasalar todas as vacas. Isso sem contar as inúmeras fazendas que têm em seus rebanhos touros subférteis ou inférteis, o que leva a um baixo índice de fertilidade na fazenda, resultando em muitas vacas vazias. O final dessa estória é prejuízo para o criador. Por isso, a IA é uma excelente ferramenta para melhorar a lucratividade do negócio. Com mais vacas prenhas, teremos mais bezerros e, assim, melhora a produtividade da fazenda.

OP Rural – Quem usa mais. O pecuarista de corte ou o de leite? Por que?

SS – A técnica de IATF foi rapidamente adotada pelo pecuarista de corte. O principal motivo é que o uso desta tecnologia contribui sensivelmente para a melhoria do manejo do rebanho e da fazenda, e de forma rápida, aumenta a quantidade e melhora a qualidade dos bezerros e bezerras nascidos, resultando no aumento da produtividade e lucratividade. Muitos produtores de leite, que já utilizavam a IA, com observação de cio, estão migrando para a técnica de IATF.

OP Rural – Quais as diferenças nos procedimentos da IA e da IATF?

SS – Na técnica de IA tradicional, o momento da inseminação é definido com base na observação de cio. Isto é feito por uma pessoa que tem que observar o comportamento das vacas e identificar os sinais de cio. Quando bem feito, tem bons resultados. A questão é que tudo o que depende de pessoas é passível de erros. Já na IATF, inseminação artificial em tempo fixo, como o nome sugere, a inseminação é realizada em um determinado momento. E, este momento é estabelecido através do uso de medicamentos que simulam os hormônios reprodutivos naturais da fêmea. Ao uso destes medicamentos damos o nome de protocolo de sincronização de cio. O importante é que os protocolos devem ser administrados com a orientação do médico veterinário.

OP Rural – E nos resultados, quais as diferenças?

SS – As diferenças são inúmeras. Maior controle sobre o melhor momento para inseminar, facilidade de manejo, aumento significativo dos índices de prenhez, melhor controle sanitário do rebanho, entre outros. Tudo isso por um custo muito baixo.

OP Rural – Como medimos os índices reprodutivos na fazenda de corte?

SS – Primeiramente, quando se fala de um bom manejo reprodutivo na fazenda, o acompanhamento de um médico veterinário é fundamental para identificar os animais com problemas de fertilidade e definir o melhor programa reprodutivo para cada criador. De forma geral, os índices mais utilizados são: taxa de prenhez, taxa de concepção, intervalo entre partos, idade ao primeiro serviço e idade ao primeiro parto.

OP Rural – Como medimos os índices reprodutivos na fazenda leiteira?

SS – A reprodução é a atividade mais importante numa fazenda leiteira. Sem uma reprodução eficiente, a vaca não emprenha, se não emprenha, não pari, se não pari, não produz leite, se não há produção de leite, a fazenda vai para o buraco. Para obter bons índices reprodutivos, o produtor de leite precisa, antes de tudo, contar com o suporte de um técnico capacitado e manter um bom sistema de controle de todas as ocorrências no rebanho. Assim é possível identificar e corrigir eventuais problemas com a maior rapidez possível. Os índices reprodutivos mais utilizados na produção leiteira são: taxa de detecção de cio, número de dias para o primeiro serviço, taxa de concepção, taxa de prenhez, dias em aberto, dias secos e número de vacas descartadas por falhas reprodutivas.

OP Rural – Como a IA e IATF melhora os índices reprodutivos?

SS – As biotecnologias reprodutivas são as técnicas mais baratas, seguras, simples, eficientes e baratas de promover a melhoria da produtividade e lucratividade da fazenda.

OP Rural – Quais são os índices mais observados pelo melhoramento genético?

SS – Vai depender muito do perfil do rebanho e das intenções do criador, assim como do sistema de produção utilizado e da finalidade do rebanho. Por exemplo, através do melhoramento genético, pode-se aumentar a produção de leite, os índices de sólidos (proteína e gordura) na composição do leite, diminuir a ocorrência de doenças, como infecções de casco, metrites e mastites, aumentar ou diminuir a estatura do rebanho, melhorar a qualidade da carcaça e maciez da carne, com aumento do marmoreio. Ou seja, a tecnologia de melhoramento genético em bovinos está tão avançada que se pode fazer indicações de uso de determinados touros, de forma semelhante a indicação de uso de um medicamento. Basta dizer o que precisa ser melhorado, que há uma solução para isso.

OP Rural – A IA e a IATF são indicadas para qualquer fazenda, grande ou pequena?

SS – Sim. Qualquer fazenda pode e deve utilizar as biotecnologias reprodutivas, como a IA e a IATF.

OP Rural – Quanto a inseminação artificial e IATF representam no custo de produção?

SS – No caso da IA, com observação de cio, o custo se baseia apenas na aquisição da dose de sêmen. No caso da IATF, temos que considerar, além da dose de sêmen, o valor dos medicamentos e o serviço do técnico. De forma geral, o custo vai variar de 0,5% a 3% do custo de produção do bezerro ou bezerra. Ou seja, vale muito a pena inseminar.

OP Rural – Quanto elas podem oferecer a mais de retorno econômico?

SS – Em fazendas leiteiras, há o retorno imediato, com mais vacas prenhas, mais bezerros nascidos e maior produção de leite, e outro a longo prazo, que é a melhoria das fêmeas nascidas com a IA. Estas fêmeas serão vacas mais produtivas, mais longevas e que vão gerar bezerras mais saudáveis e mais produtivas, levando a fazenda a um círculo virtuoso de produtividade.

Nas fazendas de corte, a melhoria da qualidade dos bezerros nascidos e dos índices reprodutivos também é percebida rapidamente. Uma das grandes vantagens das técnicas de IA é a possibilidade de utilizar sêmen de touros importados e de raças que transmitem algumas características não encontradas nos touros locais. Um bom exemplo disso é o cruzamento do touro Angus com a vaca Nelore, gerando um produto com valor superior ao bezerro Nelore comum, filho de touro da fazenda. A diferença de preço obtida na venda do bezerro cruzado Angus x Nelore em relação ao bezerro Nelore comum paga todos os custos da técnica de IATF e ainda sobra um excelente lucro para o criador.

OP Rural – Quais os desafios para a inseminação artificial em bovinos no Brasil?

SS – Levar a informação sobre as vantagens das técnicas de IA e IATF para todos os criadores do país. Aquele criador que passa a conhecer e utilizar as biotecnologias reprodutivas dificilmente deixa de utilizá-las. As vantagens são muito grandes. Tem que conhecer e usar.

OP Rural – Quais as raças mais comercializadas e porquê?

SS – No leite, as principais raças são, por ordem, Holandês, Jersey, Girolando e Gir Leiteiro. No corte, o Angus e Nelore são as raças mais utilizadas, mas existem muitas outras, como Brangus, Senepol, Simental, Hereford, Braford, Caracu, Tabapuã e Charolês. A escolha da raça vai depender, na maioria das vezes, do sistema de produção da fazenda, das condições climáticas da região, da oferta de alimento e da finalidade do negócio.

OP Rural – O que se espera para o futuro da IA e IATF no Brasil?

SS – Sem dúvida, há muito espaço para crescimento do uso das técnicas de IA e IATF. Ainda, há muitas fazendas no Brasil criando gado como no século passado. Isso tem que mudar. A adoção das novas tecnologias é essencial para a sobrevivência dos produtores rurais, sejam eles agricultores ou criadores de gado. Se observarmos a (r)evolução tecnológica que a agricultura brasileira apresentou nos últimos anos, podemos entender a melhoria da produtividade, sem aumento significativo da área plantada. O mesmo vai ocorrer na pecuária de leite e de corte nos próximos anos.

Mais informações você encontra na edição de Bovinos, Grãos e Máquinas de agosto/setembro de 2018 ou online.

Fonte: O Presente Rural

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Menor oferta de matéria-prima mantém preços dos derivados em alta

Cotações médias do leite UHT e da muçarela foram de R$ 4,13/litro e R$ 28,66/kg em março, respectivas altas de 3,9% e 0,25%, em termos reais, quando comparadas às de fevereiro.

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Foto: Rubens Neiva

Impulsionados pela menor oferta no campo, os preços do negociados no atacado de São Paulo subiram pelo terceiro mês consecutivo. De acordo com pesquisas diárias do Cepea, realizadas em parceria com a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB ), as cotações médias do leite UHT e da muçarela foram de R$ 4,13/litro e R$ 28,66/kg em março, respectivas altas de 3,9% e 0,25%, em termos reais, quando comparadas às de fevereiro.

Já em relação ao mesmo período do ano passado, verificam-se desvalorizações reais de 9,37% para o UHT e de 8,53% para a muçarela (valores deflacionados pelo IPCA de março).

O leite em pó fracionado (400g), também negociado no atacado de São Paulo, teve média de R$ 28,49/kg em março, aumento de 0,99% no comparativo mensal e de 9,6% no anual, em termos reais.

A capacidade do consumidor em absorver altas ainda está fragilizada, e o momento é delicado para a indústria, que tem dificuldades em repassar a valorização da matéria-prima à ponta final.

Agentes de mercado consultados pelo Cepea relatam que as vendas nas gôndolas estão desaquecidas e que, por conta da baixa demanda, pode haver estabilidade de preços no próximo mês.

Abril

As cotações dos derivados lácteos seguiram em alta na primeira quinzena de abril no atacado paulista.

O valor médio do UHT foi de R$ 4,21/litro, aumento de 1,99% frente ao de março, e o da muçarela subiu 0,72%, passando para R$ 28,87/kg.

O leite em pó, por outro lado, registrou queda de 2,04%, fechando a quinzena à média de R$ 27,91/

Colaboradores do Cepea afirmaram que os estoques estão estáveis, sem maiores produções devido às dificuldades de escoamento dos produtos

Fonte: Por Ana Paula Negri e Marina Donatti, do Cepea.
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Preço ao produtor avança, mas dificuldade em repassar altas ao consumidor preocupa

Movimento altista no preço do leite continua sendo justificado pela redução da oferta no campo.

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Foto: JM Alvarenga

O preço do leite captado em fevereiro registrou a quarta alta mensal consecutiva e chegou a R$ 2,2347/litro na “Média Brasil” do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP.

Em termos reais, houve alta de 3,8% frente a janeiro, mas queda de 21,6% em relação a fevereiro de 2023 (os valores foram deflacionados pelo IPCA). Pesquisas em andamento do Cepea apontam que o leite cru captado em março deve seguir valorizado, com a Média Brasil podendo registrar avanço em torno de 4%.

Fonte: Cepea/Esalq/USP

O movimento altista no preço do leite continua sendo justificado pela redução da oferta no campo. O Índice de Captação Leiteira (ICAP-L) do Cepea caiu 3,35% de janeiro para fevereiro, acumulando baixa de 5,2% no primeiro bimestre deste ano. Nesse contexto, laticínios e cooperativas ainda disputam fornecedores para garantir o abastecimento de matéria-prima.

A limitação da produção se explica pela combinação do clima (seca e calor) com a retração das margens dos pecuaristas no último trimestre do ano passado, que reduziram os investimentos dentro da porteira. Porém, a elevação da receita e a estabilidade dos custos neste primeiro trimestre têm contribuído para melhorar o poder de compra do pecuarista frente aos insumos mais importantes da atividade.

A pesquisa do Cepea, em parceria com a CNA, estima que a margem bruta se elevou em 30% na “média Brasil” nesse primeiro trimestre. Apesar da expectativa de alta para o preço do leite captado em março, agentes consultados pelo Cepea relatam preocupações em relação ao mercado, à medida que encontram dificuldades em realizar o repasse da valorização no campo para a venda dos lácteos.

Com a matéria-prima mais cara, os preços dos lácteos no atacado paulista seguiram avançando em março. Porém, as variações observadas na negociação das indústrias com os canais de distribuição são menores do que as registradas no campo.

Ao mesmo tempo, as importações continuam sendo pauta importante para os agentes do mercado. Os dados da Secex mostram que as compras externas de lácteos em março caíram 3,3% em relação a fevereiro – porém, esse volume ainda é 14,4% maior que o registrado no mesmo período do ano passado.

Fonte: Por Natália Grigol, do Cepea.
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Probióticos e a promoção da saúde intestinal: potencial ferramenta em rebanhos leiteiros

Os mecanismos de ação dos probióticos são frequentemente baseados em três modalidades, incluindo o antagonismo sobre microrganismos residentes da microbiota intestinal, tanto comensais quanto patógenos; modulação da imunidade inata e adquirida; inibição de toxinas produzidas por microrganismos patógenos, oriundos da alimentação ou água contaminada.

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Foto: Shutterstock

Os probióticos compreendem aditivos alimentares compostos por microrganismos vivos que beneficiam o hospedeiro através da melhora da microbiota intestinal. Quando o animal recebe uma dosagem oral efetiva, esses microrganismos são capazes de se estabelecer no trato gastrointestinal e efetivar a microbiota natural, prevenindo a proliferação de microrganismos patogênicos e melhorando o aproveitamento de nutrientes. Dentre as espécies que possuem propriedades probióticas, ressalta-se as bactérias láticas, grupo de espécies já existentes na microbiota do trato gastrointestinal e urogenital dos animais, onde o gênero Lactobacillus é um dos mais importantes na produção de produtos probióticos. Além deste, destacam-se as bactérias dos gêneros Bifidobacterium, Lactococcus, Propionibacterium e Bacillus, assim como as leveduras Saccharomyces, Pichya e Kluyveromices.

Os mecanismos de ação dos probióticos são frequentemente baseados em três modalidades, incluindo o antagonismo sobre microrganismos residentes da microbiota intestinal, tanto comensais quanto patógenos; modulação da imunidade inata e adquirida; inibição de toxinas produzidas por microrganismos patógenos, oriundos da alimentação ou água contaminada.

O antagonismo também é conhecido por exclusão competitiva, onde há competição dos sítios de ligação na mucosa intestinal, dos fatores de crescimento e nutrientes para os microrganismos, e também competição pela atividade metabólica (Figura 1). Ou seja, os microrganismos “bons” que constituem o probiótico impedem o desenvolvimento de outros microrganismos indesejáveis. Desse processo são originados produtos como o ácido lático, acético e fórmico, que ajudam a inibir o crescimento de bactérias maléficas e participam da produção de vitamina B e ácido fólico, compostos fundamentais para a vaca.

Figura 1- Mecanismos de ação das espécies probióticas que resultam na melhora da saúde intestinal.

Além disso, muitas espécies probióticas produzem bacteriocinas, substâncias compostas por peptídeos ou complexos proteicos que agem contra bactérias geneticamente semelhantes, como é o caso da nisina, bacteriocina que inibe o crescimento de bactérias patogênicas de alto risco, como Staphylococcus aureus, além de atuar na modulação ruminal. Trabalhos também mostram que o uso de probióticos melhora a digestão e absorção de nutrientes da dieta através da produção de enzimas como amilase, protease, lipase, maltase, sacarase e lactase.

Por exemplo, a amilase produz ácidos graxos de cadeia curta que são transformados em butirato, lactato e acetato, fontes de energia para a mucosa do intestino. Em um estudo, Nocek et al. (2003), observou que vacas que possuíam fonte de probiótico na dieta, entre 20 dias pré-parto até 70 dias pós-parto, aumentaram o consumo de matéria seca, a produção de leite e teor de proteína do leite, em relação ao grupo não suplementado. Estudando rebanhos da Virgínia, Estados Unidos, foi contabilizado que, de 45 rebanhos onde foi introduzido o probiótico, 31 apresentaram aumento na produção de leite. Frente a isso, fica evidente o efeito benéfico da suplementação com probióticos em dietas de vacas leiteiras. A pesquisa mostra que é possível observar, além do melhor aproveitamento da dieta e consequentemente aumento na produção leiteira, a melhora do estado geral de saúde do animal que recebe uma fonte de probiótico diariamente.

Probióticos e imunidade animal

Todo o processo descrito anteriormente auxilia na melhora da saúde do animal, uma vez que limita o desenvolvimento e proliferação de microrganismos maléficos ao hospedeiro, evitando o aparecimento de enfermidades, e também atua na digestão, oferecendo melhores condições para seu desenvolvimento.  Esses mecanismos de ação fazem parte das reações inespecíficas de defesa, ou seja, imunidade inata. Mas os probióticos também são capazes de influenciar a imunidade específica do animal.

As espécies probióticas realizam a modulação do sistema imune do hospedeiro, auxiliando no controle de infecções e inflamações. O processo de imunomodulação ocorre através da interação entre os microrganismos do probiótico e as células epiteliais e imunes do intestino do animal. Quando esses microrganismos se aderem às células intestinais, há a estimulação da produção de células de defesa, como macrófagos, monucleócitos, células dendríticas e citocinas pró-inflamatórias. Isso acontece porque componentes das paredes celulares dos microrganismos probióticos, como peptidoglicanas, ácido teicóico e lipoteicóico (LTA), reagem com as placas de Peyer presente no intestino e induzem os fatores pró-inflamatórios nas células intestinais do animal.

Em 2017 foi realizado um estudo onde dois grupos de animais foram vacinados, sendo que um deles recebeu, além da vacina, suplementação com probiótico a base de Lactobacillus. Posteriormente o autor observou que o grupo dos animais tratados com o probiótico apresentou níveis superiores de anticorpos específicos e de forma mais duradoura, auxiliando no controle de infestações por carrapatos atrelados a imunização. Adicionalmente, estudiosos mostraram que o tratamento com probióticos apresentou melhores benefícios quando comparados aos tratamentos convencionais da mastite bovina, evidenciando a influência desse aditivo na resposta imunológica das vacas.

Probióticos em uma abordagem preventiva e sua implicação em bezerreiros

Cerca de 75% das mortes de bovinos leiteiros ocorre em seu primeiro mês de vida. Em função disso, muitas pesquisas são realizadas a fim de elucidar os cuidados necessários no bezerreiro, assim como controlar as enfermidades mais comuns na rotina das fazendas leiteiras. A principal enfermidade relacionada a morte de bezerras leiteiras é a diarreia, que leva o animal a óbito em razão ao severo desequilíbrio hidroeletrolítico e ácido-base. A diarreia corresponde a uma enfermidade multifatorial, porém, frequentemente é resultante da combinação de agentes infecciosos como o rotavírus, coronavírus, Escheria Coli, Salmonella spp., Clostridium perfringens e Eimeria spp., além de ser comum se deparar com infecções causadas por mais de um agente concomitantemente. Esses agentes possuem tendência em afetar os animais em determinada faixa etária (Figura 2), justamente quando esses apresentam suscetibilidade a infecção, por isso a importância da utilização de técnicas nutricionais e de manejo que proporcionem melhores condições para que as bezerras leiteiras não tenham seu desenvolvimento afetado.

Figura 2- Incidência de agentes etiológicos causadores de diarreias em bezerros de acordo com sua idade em dias.

Os probióticos contribuem para o desempenho zootécnico de bezerras leiteiras devido sua influência na permeabilidade intestinal, oferecendo maior eficiência de digestão e evitando o desenvolvimento de microrganismos patógenos. As principais bactérias probióticas associadas a prevenção de diarreia em bezerros são a Lactobacillus acidophillus e a Lactobacillus casei. Ambas são produtoras de ácido lático, ou seja, atuam diminuindo o pH intestinal e tornando o ambiente inadequado para o crescimento de algumas bactérias patogênicas, além de produzirem peptídeos que agem especificamente contra Salmonella typhimurium e acidofilina que inibe o crescimento de Escherichia coli e Salmonella panamá.

Outro microrganismo probiótico que recebe destaque quando o assunto é bezerros é a Saccharomyces boulardii, levedura que além do efeito diarreico, auxilia no desenvolvimento da flora intestinal fisiológica, na síntese de vitaminas complexo B e principalmente, realiza uma complementação enzimática, assim, aumenta a capacidade digestiva do animal jovem, impactando diretamente o seu desempenho.  Autores que utilizaram probióticos em bezerros observaram melhora do ganho de peso corporal total, sendo que os bezerros suplementados apresentaram ganho de 31,4kg, comparado a 25,4kg do grupo controle. Corroborando com esses dados, outro pesquisador mostrou que bezerros suplementados com probióticos, do nascimento aos 30 dias de idade, foram capazes de ganhar de 10 a 40% a mais de peso em relação aos animais não tratados.

Os probióticos apresentam grande potencial de uso nas fazendas leiteiras, sendo uma alternativa para restabelecer ou efetivar a saúde intestinal das vacas, aumentando o aproveitamento da dieta e potencializando sua imunidade. Além disso, é uma ótima opção para ser introduzida nos bezerreiros, uma vez que oferece melhores condições para o animal conseguir superar os desafios existentes nessa fase, influenciando seu ganho de peso e gerando bezerras maiores e mais produtivas futuramente.

As referências bibliográficas estão com a autora. Contato: luiza.carneiro@laboratorioprado.com.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de bovinocultura de leite e na produção de grãos acesse a versão digital de Bovinos, Grãos e Máquinas, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: Por Luiza de Souza Carneiro, médica-veterinária, mestra em Produção de Ruminantes e consultora Técnica Comercial no Laboratório Prado.
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