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Preços dos alimentos: da influência do clima à segurança alimentar, um tema nada trivial

Quando se trata de alimentos e em especial de seus preços, o escopo é muito maior do que o puramente econômico, mormente numa sociedade com elevado grau de pobreza como é o caso do Brasil.

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Foto: Roberto Dziura

O ano de 2024 está apenas no início, mas os comentários e expectativas a respeito dos preços dos alimentos e de como estes podem impactar o nível geral de preços ao consumidor, medido oficialmente pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), já se avolumam. E há alguns pontos de atenção que ensejam tais perspectivas, dentre eles, a questão climática.

Fotos: Divulgação/Arquivo OPR

O fenômeno El Niño que incide sobre o clima do País desde o segundo semestre de 2023 foi classificado pela Word Meteorological Organization – WMO (2024) como um dos cinco mais fortes. Tal fenômeno climático resultou em aumento das temperaturas, e as perspectivas são que este perca a força a partir de abril, de acordo com a WMO (2024).

Para além do El Niño, as mudanças climáticas globais, oriundas do efeito estufa, que tem elevado as médias de temperatura, são uma realidade e um dos seus impactos de maior relevância é sobre a produção agrícola, que, a depender da cultura e da região, pode significar um resultado negativo na produtividade, o que influencia diretamente a elevação dos preços dos produtos agrícolas, conforme diversos trabalhos acadêmicos, como o de Dhifaoui et al. (2023), demonstram e quantificam.

Cada vez mais as condições climáticas se mostram um dos principais determinantes para a oferta agrícola, mas este é um item que está fora do domínio do produtor, o que proporciona um grande desafio, tanto para o planejamento, quanto para a manutenção de uma produtividade mínima que garanta ao produtor a continuidade de suas atividades. Pois se para o consumidor as mudanças climáticas podem gerar uma oferta menor de produtos, o que tende a se materializar em preços maiores, para o produtor, a preocupação é também com o aumento de custos, conforme mostram Grigorieva, Livenets, Stelmakh (2023), seja por conta da elevação do uso de defensivos, necessários para combater as pragas que surgem com a alta das temperaturas, da necessidade de implantar e aplicar novas técnicas, da contratação de seguros, dentre outros.

Olhando pelo lado do consumidor, em termos do nível geral de preços da economia, é de amplo conhecimento o peso que o preço dos alimentos representa. No período recente – anos de 2021 e 2022 –, a meta de inflação estipulada para o País não foi cumprida, ficando o IPCA acima do teto, e, em ambos os anos, com uma contribuição significativa do grupo alimentação e bebidas, sendo que, em 2021, tal grupo apresentou variação acumulada de 7,94%, que não foi uma das maiores, já que, em tal período, o preço dos transportes e da habitação também acumularam avanços relevantes, de respectivos 21,03% e 13,05%, conforme IBGE (2024). Já em 2022, o grupo alimentação e bebidas apresentou a segunda maior alta acumulada no ano – de 11,64% –, ficando atrás apenas do grupo vestuário, que variou 18,02% no ano (IBGE, 2024).

Em 2023, a meta de inflação foi cumprida, e o grupo que compreende os produtos alimentícios variou em um patamar bem menor se comparado aos de anos anteriores (1,03% no ano). Sendo que o subgrupo que agrega os produtos relacionados à alimentação no domicilio fechou 2023 com queda acumulada de 0,48%, o que não acontecia desde 2017, muito por conta da ampliação da oferta e também do arrefecimento dos custos dos insumos, depois das altas proporcionadas pela pandemia e pelo início do conflito entre Rússia e Ucrânia. Assim, o cumprimento da meta de inflação de 2023 se deu com forte contribuição do preço dos alimentos.

Agora, considerando-se apenas os dois primeiros meses de 2024, o grupo alimentação e bebidas acumulou alta de 2,34%, sendo que, para o mesmo período em 2023, o avanço era de 0,76%, conforme IBGE (2024). Já o subgrupo alimentação no domicílio acumula, no mesmo período, elevação de 2,93%, o que acaba por deixar um alerta a respeito de como tal conjunto de preços pode se movimentar ao longo do restante do ano, considerando que, pelo menos em parte, os números de janeiro e fevereiro refletem implicações do fenômeno El Niño.

Apenas como exemplo, a batata inglesa, que, no grupo das hortaliças tuberosas, é o produto mais consumido, foi um dos subitens que se destacaram na inflação de fevereiro de 2024, com alta de 6,79%, muito por conta do atraso no plantio, devido a efeitos do El Niño. Mas, conforme informações do Hortifruti/Cepea (2024), há uma expectativa de que em março a oferta aumente, por causa do clima úmido e das chuvas previstas. O que ilustra o fato de que cada produto agrícola tem as suas especificidades, bem como o clima ideal para plantio e colheita. Então, quando se trata dos preços dos alimentos de modo agregado, é sempre importante se atentar que este é um todo composto de diversas particularidades, que devem ser consideradas.

Foto: Shutterstock

Ademais, ressalta-se que a preocupação com o preço dos alimentos vai muito além da questão puramente econômica, do alcance de metas de inflação e de como isso pode refletir na política monetária do País. Preocupar-se com os preços dos alimentos, principalmente a nível dos consumidores, é se preocupar também com a segurança alimentar de uma população, o que basicamente corresponde à garantia de acesso econômico, físico, social, permanente e em quantidade suficiente a alimentos nutritivos, conforme FAO (2024). Ou seja, ao se discutir sobre os preços dos alimentos, também deve-se observar o quanto o aumento destes pode dificultar o acesso, sobretudo dos mais pobres, a uma alimentação adequada.

Dados do IBGE (2020) indicam redução de mais de 50% no consumo dos brasileiros de produtos base da alimentação, como arroz e feijão, ao longo de 16 anos e atribui essa diminuição principalmente ao aumento dos preços de tais produtos e ao crescente consumo de produtos ultraprocessados. Evidentemente, a quase estagnação que se observa na renda per capita no Brasil tem um papel forte ao restringir o poder de compra, forçando a população a procurar alternativas menos custosas para se alimentar. Estagnação essa que se dá num cenário de estabilidade do nível de pobreza ao redor de um terço da população.

Especificamente, em torno de 11% da população vive com renda per capita de até ¼ do salário mínimo; 30% vivem com menos de ½ salário mínimo. Resumindo, cerca de 60% da população brasileira vive com até um salário mínimo per capita. Esse cenário de demanda doméstica por certos produtos (como arroz e feijão, por exemplo) quase estagnada – em razão da renda muito baixa – não favorece a expansão sistemática da produção (com uso de tecnologias atualizadas e aproveitamento de economias de escala, como acontece com a produção de produtos exportáveis). Esta produção cresce, portanto, a taxas insuficientes (do ponto de vista nutricional) e fica à mercê do clima e da ocorrência de pragas e doenças nas culturas.

De qualquer maneira, quando se trata de alimentos e em especial de seus preços, o escopo é muito maior do que o puramente econômico, mormente numa sociedade com elevado grau de pobreza como é o caso do Brasil. Até chegar à mesa do consumidor são muitos os fatores que importam para a formação dos preços, alguns mais fáceis de mensurar e prever, já outros mais difíceis, como a questão climática e suas implicações.

Logo, é complexa e imprecisa qualquer previsão sobre como os preços do grande e diverso grupo de produtos relacionados à alimentação se comportarão ao longo de 2024. O que é possível de ser afirmar é a respeito da importância – num país de características estruturais como as do Brasil – de se acompanhar os indicadores de preços, com um olhar atento as especificidades de cada produto, sem perder de vista acontecimentos no cenário econômico, eventos climáticos, questões geopolíticas, dentre outros fatores que direta ou indiretamente podem influenciar os preços dos alimentos. Ou seja, não se trata de uma questão trivial.

Fonte: Por Aniela Carrara, pesquisadora da área de Macroeconomia do Cepea.

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Avanços e desafios da agricultura regenerativa tropical

Evolução das práticas regenerativas permite a melhoria no ambiente de produção com uma melhoria da qualidade do solo como principal capital do agricultor.

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Fotos: Divulgação/Arquivo Pessoal

O mundo desafia a agricultura a dar segurança alimentar para uma demografia ainda em crescimento, contribuir com emissões negativas para as mudanças climáticas e ainda contribuir com produção com densidade nutricional e qualidade. A agricultura brasileira pode contribuir com essa agenda de forma relevante. Atualmente, o Brasil está entre os 5 maiores produtores de alimentos e é o primeiro colocado na exportação de vários produtos agrícolas.

Fotos: Divulgação/Arquivo OPR

É considerado o mais importante produtor de grãos nos trópicos. Estima-se que a produção agropecuária no Brasil já alimenta mais de 1 bilhão de pessoas no mundo e que as projeções da OCDE-FAO indicam uma ampliação considerável da importância do Brasil no comércio agroalimentar global até 2032. Vários são os motivos que levam a essas importantes conquistas.

Podemos citar a contribuição da agricultura industrial através da “revolução verde”, por exemplo. No entanto, muitas vezes a produção de alimentos vegetais e animais, fibras e energia também estão ancoradas em custos ocultos ao meio ambiente: a biodiversidade do sistema, a qualidade do solo agrícola, a saúde das pessoas nas cidades, a saúde dos consumidores finais, o bem-estar animal e das pessoas que trabalham diretamente no campo.

Além disso, é conhecido que esse sistema de produção convencional necessita de condições ambientais estáveis para garantir boas produtividades. Ou seja, o sistema convencional é extremamente suscetível às adversidades climáticas, as quais estão se tornando cada vez mais frequentes em diferentes regiões do Brasil. As externalidades negativas do sistema convencional de produção, somadas às suas limitações adaptativas aos extremos climáticos, requerem uma transição regenerativa e novos fundamentos de produção.

Dentro deste contexto de conscientização da sociedade por alimentos com ausência de resíduo químico, com características organolépticas superiores e com maior densidade nutricional, das necessidades de mitigar os efeitos de mudança climática, de garantir a manutenção dos recursos para as gerações futuras, de atender as demandas presentes e de preservar a biodiversidade do sistema produtivo, alguns produtores têm implementado práticas agrícolas bem conhecidas pela Ciência.

A novidade é que essas soluções estão sendo adotadas em escala. Essas práticas e técnicas de manejo regenerativo (Fig. 1) são capazes de reduzir significativamente a dependência de insumos importados, a poluição do ambiente, enquanto são capazes de aumentar a eficiência e a resiliência dos sistemas produtivos, permitindo a manutenção de boas produtividades mesmo em períodos prolongados (superior a 60 dias, no caso de grãos) sem chuvas.

A evolução das práticas regenerativas permite a melhoria no ambiente de produção com uma melhoria da qualidade do solo como principal capital do agricultor. Estes também começam a prestar serviços ambientais para toda a sociedade, principalmente para as cidades, fornecendo água e alimento de qualidade, bem como mitigando os efeitos climáticos através do abatimento do carbono utilizando insumos de baixa emissão, com os manejos que privilegiam o aumento de carbono orgânico no solo, e ainda permitem o sequestro de carbono de forma permanente através do intemperismo aprimorado de minerais silicáticos, que são utilizados como condicionadores de solo, bioativação do sistema, melhoria da qualidade do solo e fontes de nutrientes.

Ao promover e valorizar a biodiversidade através da integração das áreas produtivas com as áreas naturais remanescentes, estes produtores garantem o refúgio de inimigos naturais das pragas e obtêm importantes serviços ecossistêmicos. Além de tudo, por utilizarem insumos e serviços dos seus contextos locais e regionais, compartilham a prosperidade com a sociedade, criando riqueza e oportunidades para a comunidade ao seu redor, atendendo assim aos requisitos ESG (Sustentabilidade Ambiental, Social e de Governança Corporativa – Environmental, Social and Governance, em inglês) em plenitude.

Fig. 1: A Agricultura Regenerativa Tropical é um novo modelo de produção agrícola e pecuária que busca a melhoria contínua da saúde do ecossistema produtivo e do uso eficiente de recursos finitos. Baseia-se em uma agricultura de processos, onde diferentes manejos, técnicas e práticas são integradas para obter uma gestão holística do ecossistema.

Desta forma, entende-se como Agricultura Regenerativa Tropical (ART) um conjunto de ações e boas práticas que atuam na recuperação do ecossistema produtivo de forma a deixar um saldo de impactos positivo nas características físicas e químicas do solo, na micro e na macrodiversidade do solo, na resiliência da produção, na redução de resíduos nos produtos, no sequestro de carbono e na melhoria da sociedade local e regional. Esses produtores de alimentos, fibras e energia atuam conscientemente na adoção de manejos e suas práticas que visam promover positivamente o ambiente de produção utilizando recursos e tecnologias acessíveis da forma mais eficiente possível dentro de uma agricultura de processos, em que desafios bióticos e abióticos são equacionados através de manejos realizados em caráter preventivo. Por todas essas características, a ART tem uma forte conexão com o consumidor final, o qual prioriza a regeneração e cura dos agroecossistemas, visando impactos positivos ao ambiente, à cadeia e à sociedade. Com essa missão, os produtores visam criar novas formas de relacionamento com as cadeias de fornecedores de insumos, serviços e equipamentos, bem como de fidelidade com as cadeias de valor e com os consumidores, diferenciando sua produção, seja pela forma de produzir como pela qualidade intrínseca do produto final.

Entre as práticas utilizadas na ATR podemos destacar:

  • Manejo integrado da fertilidade do solo através do uso de remineralizadores, fertilizantes minerais naturais, corretivos e circularidade da matéria orgânica com o processamento adequado de insumos orgânicos, visando a eliminação de patógenos e germinação de plantas daninhas;
  • Rotação de culturas e sistema de plantio direto sobre a palha, visando aumentar a diversificação de plantas no sistema enquanto mantém, sempre que possível, o solo coberto e revolvido o mínimo possível;
  • Uso de comunidades microbianas funcionais e de microrganismos específicos que atendam às necessidades da cultura;
  • Redução e, quando possível, a eliminação de insumos que agridem a vida no solo, nas plantas e das pessoas;
  • Recuperação de pastagens degradadas;
  • Integração lavoura-pecuária-floresta;
  • Gestão integrada da paisagem.

A implementação destas práticas depende de o agricultor sair da zona de conforto e experimentar novos processos visando a redução de custos, com uso de soluções locais e regionais. Cabe ao agricultor, pecuarista, e/ou consultor identificar a lista de prioridades a serem equacionadas e determinar a melhor forma de atuar nos processos para implementar a transição. Por exemplo, muitas doenças e a presença de pragas podem ser equacionadas com uma nutrição adequada e balanceada. Como não existe uma tabela de determinação do requerimento e balanço nutricional da cultura para cada tipo de solo, o mais adequado é construir a fertilidade do solo de forma estruturante e deixar que a planta determine qual nutriente está sendo necessário em determinada fase fisiológica.

Essa fertilidade do solo pode ser construída ao longo dos anos com o manejo integrado da fertilidade do solo, o qual visa aumentar a eficiência do uso de fertilizantes solúveis através do uso de remineralizadores, fertilizantes minerais naturais e compostos orgânicos. No início da implementação deste manejo, correções pontuais através da adubação foliar podem ser necessárias ao longo do ciclo da cultura. O monitoramento semanal da lavoura se faz necessário para atender as demandas nutricionais e de correção para a supressão de pragas e doenças.

Com bom senso e políticas públicas, a adoção das práticas regenerativas devem continuar crescendo rumo à sustentabilidade da nossa agricultura. Na perspectiva de país, a ampliação da regeneração agrícola tem muitas justificativas para se transformar numa iniciativa estratégica, implementada de forma permanente e legitimada na Política Nacional Agrícola. Pois, podemos reduzir de forma significativa nossa dependência internacional de insumos fundamentais; podemos aumentar a renda dos agricultores e ativar as economias locais com a circulação de recursos da aquisição de insumos e serviços; podemos promover uma redução significativa nas contaminações e no oferecimento de produtos de melhor qualidade; podemos desempenhar uma agricultura de carbono negativo e, finalmente, podemos atender às demandas e compromissos das cadeias de valor por produtos regenerativos.

Fonte: Por Pablo Hardoim e Eduardo de Souza Martins, membros do Grupo Associado de Agricultura Sustentável
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CAR e interesse público

Com a finalidade de integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais, compondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento.

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Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

Uma situação está gerando ansiedade e impaciência no universo rural catarinense. O motivo é o imbróglio em que se tornou a implantação do Cadastro Ambiental Rural (CAR) em Santa Catarina. A inscrição do CAR é perene e obrigatória para todas as propriedades ou posses rurais do país.

Fotos: Divulgação/Arquivo OPR

Criado pela Lei nº 12.651/2012, o Cadastro Ambiental Rural (CAR) é um registro público eletrônico de âmbito nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais, compondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento.

Por decisão administrativa do Governo do Estado, a gestão do CAR foi entregue ao Instituto do Meio Ambiente (IMA), mas não evoluiu como seria necessário. Por essa razão, atendendo apelo das principais entidades do agronegócio de Santa Catarina, a Assembleia Legislativa aprovou e o governador sancionou lei que inclui a Secretaria da Agricultura e Pecuária no Sistema Estadual do Meio Ambiente – SISEMA.

Efetivamente, a lei nº 18.973, de 11 de julho de 2024, incluiu a Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária no Sistema Estadual do Meio Ambiente, permitindo que participe da gestão do Cadastro Ambiental Rural, do Programa de Regularização Ambiental (PRA), da Certificação das Cotas de Reserva Ambiental (CRA) e nas políticas de desenvolvimento rural sustentável.

O principal resultado prático esperado dessa medida era a homologação dos 397.731 cadastros ambientais rurais existentes. Mas isso não ocorreu.

Como se sabe, a inscrição no CAR é o primeiro passo para obtenção da regularidade ambiental do imóvel, e contempla: dados do proprietário, possuidor rural ou responsável direto pelo imóvel rural; dados sobre os documentos de comprovação de propriedade e ou posse; e informações georreferenciadas do perímetro do imóvel, das áreas de interesse social e das áreas de utilidade pública, com a informação da localização dos remanescentes de vegetação nativa, das Áreas de Preservação Permanente (APP), das Áreas de Uso Restrito, das Áreas Consolidadas e das Reservas Legais.

Os proprietários rurais fizeram o CAR em um processo autodeclaratório, mas faltava – e ainda falta – a revisão e homologação desses cadastros pelo Governo do Estado, tarefa que deveria ter iniciado em 2021.

Por que é importante estar com o CAR regularizado? A inscrição no Cadastro Ambiental Rural e a homologação pelo órgão oficial estatal permitem acessar os benefícios do Programa de Regularização Ambiental (PRA) e garantem redução de juros nas operações de crédito rural para custeio e investimentos.

Aparentemente, os órgãos estatais (IMA e SAP) não se entenderam ainda – e quem sai prejudicado é o produtor/proprietário rural. Isso porque o PRA possibilita a suspensão de sanções em função de infrações jurídicas por supressão irregular de vegetação em Áreas de Preservação Permanente, Reserva Legal (RL) e uso restrito, além da regularização das áreas sem autuação por infração administrativa ou crime ambiental.

De outro lado, com o PRA, o produtor também consegue acesso facilitado ao crédito rural, contratação do seguro agrícola em condições melhores e prazo de 20 anos para recomposição do passivo ambiental. São benefícios importantes para nossos agricultores, que são verdadeiros protetores do meio ambiente.

Precisamos correr contra o tempo. Os órgãos da Administração estadual – IMA, Secretaria da Agricultura etc. – devem urgentemente criar grupos de trabalho para homologar o CAR de cada produtor/proprietário rural, levando os benefícios que a lei prevê, como jurídicos e financeiros aos produtores.

A burocracia deve estar subordinada ao interesse público. E não o contrário.

Fonte: Por José Zeferino Pedrozo, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (Faesc) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/SC)
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No agro, governança e transparência é questão de sobrevivência

Atitudes sustentáveis levam ao acesso a novas fontes de financiamento e capital, que contribuem para a prosperidade de suas atividades e podem mudar não só o futuro da empresa, mas do país.

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O agronegócio desempenha um papel fundamental na economia global, fornecendo alimentos, fibras e combustíveis que sustentam a vida moderna. No entanto, para manter e expandir suas operações e ter acesso a novas tecnologias, as empresas do setor precisam de acesso a capital e, para isso, é necessário investimento em transparência e governança.

Foto: Gisele Rosso

Óbvio que transparência e governança são componentes essenciais para qualquer empresa que deseja operar de forma sustentável e responsável. No entanto, no contexto do agronegócio esses princípios assumem uma importância ainda maior devido aos impactos ambientais e sociais significativos associados à agricultura e à pecuária.

Num primeiro momento, a transparência envolve a divulgação aberta e acessível de informações sobre as operações da empresa. Isso inclui dados sobre práticas contábeis, fiscais e trabalhistas, impactos ambientais, uso de recursos naturais e condições de trabalho. Quando as empresas do agronegócio são transparentes, elas demonstram também comprometimento com a responsabilidade social e a sustentabilidade.

Isso não apenas atrai investidores preocupados com essas questões, mas também ajuda a construir uma reputação positiva junto aos consumidores, o que pode impulsionar as vendas e a rentabilidade a médio e curto prazos.

A governança corporativa refere-se as estruturas e processos que regem o funcionamento interno de uma empresa. No agronegócio isso inclui a gestão de riscos ambientais e sociais, a conformidade com regulamentações governamentais e regras contábeis, a gestão de cadeia ética de suprimentos e muito mais. Ter uma governança sólida não apenas minimiza o risco de crises, mas também melhora a eficiência operacional, a tomada de decisões estratégicas e, sobretudo, facilita o acesso ao capital.

Foto: Divulgação/Arquivo OPR

E, por que a governança e transparência são importantes para acessar capital mais barato? A resposta está na crescente conscientização dos investidores e das instituições financeiras sobre os riscos associados ao agronegócio. À medida que os problemas ambientais, como desmatamento e escassez de água, e as preocupações sociais, como condições de trabalho e direitos indígenas e quilombolas ganham destaque, investidores estão cada vez mais interessados em apoiar empresas que abordem essas questões de maneira responsável.

Empresas que investem em transparência e governança têm maior probabilidade de atrair investidores comprometidos com critérios ambientais, sociais e de governança (ESG). Esses investidores estão dispostos a fornecer capital a taxas mais favoráveis para empresas que demonstram um compromisso genuíno com a sustentabilidade e a responsabilidade social. Portanto, as empresas do agronegócio que adotam práticas transparentes e sólidas de governança estão bem-posicionadas para acessar capital mais barato.

Além disso, as instituições financeiras estão cada vez mais incorporando métricas ESG em suas decisões de empréstimos e investimentos. Isso significa que as empresas que não investem em transparência e governança correm o risco de serem consideradas de maior risco, o que pode resultar em custos de capital mais elevados.

Um exemplo notável é a emissão de títulos verdes, que são instrumentos de dívida usados para financiar projetos sustentáveis. Em novembro de 2023, o Tesouro Nacional fez a sua primeira emissão de títulos sustentáveis. Essa emissão foi de um novo título, denominado Global 2031 ESG, com vencimento em 18 de março de 2031. O título foi emitido no montante de US$ 2,0 bilhões, com uma taxa de retorno para o investidor de 6,50% a.a. – fato que certamente influenciará o setor privado a seguir o mesmo caminho. As empresas do agronegócio que adotam práticas transparentes e de governança podem se beneficiar ao emitir este tipo de títulos, pois a demanda por eles está em alta e as taxas de juros tendem a ser mais baixas em comparação com títulos tradicionais.

Sócio líder do escritório de Maceió da BDO,  Leonardo Gomes – Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

As empresas do agronegócio podem explorar oportunidades de financiamento de impacto, que são investimentos voltados para projetos com benefícios sociais e ambientais mensuráveis. Esses investimentos muitas vezes oferecem condições favoráveis de empréstimo ou investimento e podem ser uma fonte valiosa de capital para empresas comprometidas com a responsabilidade social e ambiental.

Fica, então, evidente a importância para as empresas do agronegócio investirem em transparência e governança. Isso não apenas as coloca em uma posição favorável para atrair investidores comprometidos com ESG, mas também as ajuda a acessar capital mais barato e a se adaptar às crescentes expectativas da sociedade em relação a responsabilidade ambiental e social.

À medida que o mundo se volta para a sustentabilidade, as empresas do agronegócio que abraçam esses princípios avançam mais rápido. É um ciclo virtuoso que garante perenidade e sucesso a longo prazo. Atitudes sustentáveis levam ao acesso a novas fontes de financiamento e capital, que contribuem para a prosperidade de suas atividades e podem mudar não só o futuro da empresa, mas do país.

Fonte: Por Leonardo Gomes, sócio líder do escritório de Maceió da BDO.
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