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Preço recorde de grãos ajuda agricultores, mas pressiona custos de produção de pecuaristas
Demanda internacional e câmbio sopram ventos favoráveis aos produtores de grãos, mas causa dor de cabeça para pecuaristas fecharem as contas

A demanda internacional e o câmbio sopram ventos favoráveis para a produção de grãos de uma forma nunca vista no agronegócio brasileiro. De fevereiro para cá, o preço da soja praticamente dobrou, chegando a R$ 157 a saca no Paraná. No caso do milho, o aumento foi de 50% em apenas quatro meses. Em ambos os casos, as cotações chegaram a recordes com perspectivas de entrarem em 2021 em alta. Se esse cenário soa como brisa aos produtores de grãos, para as cadeias de proteína animal – que têm a soja e o milho como importantes insumos – essas perspectivas caem como um vendaval, que traz apreensão e um alerta.
O bom momento dos grãos é tão significativo que especialistas enfatizam: tudo que o agricultor brasileiro produzir terá comercialização certa e com bons preços, graças ao apetite internacional. Neste contexto, destaque para a China, que avançou sobre os produtos do agronegócio produzidos no Brasil e no Paraná. De janeiro a setembro deste ano, as exportações paranaenses do complexo soja aumentaram 74%, em volume, chegando a 9,3 milhões de toneladas e arrecadando US$ 3,2 bilhões. Os chineses abocanham, hoje, metade da oleaginosa e seus derivados produzidos no Estado.
Por outro lado, a safra atual deve ser acompanhada pelo fenômeno climático La Niña – que traz estiagem e chuvas irregulares, principalmente no período de desenvolvimento da lavoura. Essa condição pode implicar em quebra de produção, principalmente em Estados da região Sul. Essas incertezas e o risco de se ter menos grãos disponíveis já afetaram o humor do mercado, fazendo com que os contratos futuros de soja sejam negociados em patamares altos na Bolsa de Chicago (CBOT). Tudo isso leva os especialistas a vislumbrarem que os grãos vão entrar em 2021 com preços tão ou mais aquecidos que os atuais.
“A Bolsa de Chicago está bem preocupada com o plantio no Brasil e na Argentina, importantes produtores de grãos. O clima é de preços em alta até por ter essa perspectiva pessimista para a safra em âmbito global”, diz Ana Paula Kowalski, técnica do Departamento Técnico Econômico (DTE) do Sistema FAEP/SENAR-PR. “Há quem diga que a saca vai chegar a R$ 200. Eu acho um cenário exagerado. Mas se mantiver os preços de agora, isso já representa o dobro do que a gente tinha no ano passado”, acrescenta.
Além da relação oferta/demanda, a força do dólar também favorece o vento positivo para os grãos. O Boletim Focus, do Banco Central, estima que a moeda americana entre em 2021 cotada entre R$ 5,10 e R$ 5,28. É um nível menor do que temos hoje, mas ainda um patamar elevado e positivo para o produtor brasileiro – que ganha na conversão do dólar para o real. Ou seja, tem tudo para o agronegócio nacional continue mirando o mercado externo.
“Em uma economia de livre mercado, o que rege é a relação entre a oferta e a demanda. O vendedor, que é a agroindústria, vai ficar de olho em quem paga melhor. E o mercado externo está pagando muito bem”, observa Luiz Eliezer Ferreira, técnico do DTE. “Além disso, provavelmente teremos, mais uma vez, a China indo forte às compras, provocando um choque de demanda. E os compradores externos estão desesperados atrás de grãos. A procura mundial por grãos é enorme, o que joga os preços lá em cima”, ressalta.
Até em razão dessa demanda internacional, já há relatos de escassez de grãos em algumas regiões do Paraná e, por conseguinte, de preços pressionados. O presidente da Comissão Técnica de Suinocultura da FAEP, Reny Gerardi, diz que, mesmo com a saca 100% mais cara em relação ao ano passado, o produtor independente tem encontrado dificuldade para encontrar o produto, base da alimentação do plantel. “O preço do milho está uma loucura. Com a soja, é a mesma coisa. Apesar disso, em muitos armazéns, já não se acha o milho ou o farelo de soja”, diz.
Vendaval
Essas perspectivas de que a soja e o milho continuem com os preços nas alturas provocam um vendaval turbulento às cadeias de proteínas animais. Isso porque os grãos têm um peso decisivo na produção da pecuária. Segundo a Embrapa, a nutrição corresponde a 78% dos custos na suinocultura e a 72%, na avicultura. Na bovinocultura, o impacto é menor, mas também significativo: corresponde a um terço dos custos totais nas principais praças, de acordo com o projeto Campo Futuro – realizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em parceria com a FAEP.
Os ventos só não provocaram estragos nessas cadeias produtivas, porque as carnes também se beneficiam de uma conjuntura internacional favorável. Neste ano, por exemplo, a voracidade da China também se voltou às proteínas animais. De janeiro a setembro, o volume das exportações paranaenses de produtos do complexo carnes para os chineses aumentou 35%, totalizando 236 mil toneladas e US$ 479 milhões.
No mercado interno, os preços das proteínas animais também se mantiveram aquecidos. Desde janeiro, a arroba do boi e o quilo do frango congelado subiram 44% e 27% respectivamente, segundo o Centro de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP). No caso do suíno vivo, a alta foi ainda maior: 77,6%. O mercado de lácteos no Paraná também vive um bom momento, com o preço de referência do leite chegando em setembro ao maior patamar da história. Em síntese, essa valorização generalizada compensou o que os pecuaristas e/ou empresas – no caso dos produtores integrados – desembolsaram a mais para cobrir os custos de produção.
O xis da questão é: com os grãos em alta, até quando o mercado vai ter fôlego para sustentar também os preços das proteínas animais? Para os especialistas, essa é uma pergunta difícil de ser respondida. Mas o momento é de cautela e de ficar de olho nos desdobramentos, como o poder de consumo do mercado interno.
“Nós não temos dimensão de até quando isso vai se sustentar. Não conseguimos saber até que ponto o pecuarista vai conseguir cobrir seus custos de produção com as receitas. Vai depender muito da força do mercado consumidor, que ainda está em um horizonte de pandemia”, analisa Ferreira.
“Temos que ver os efeitos do novo valor do auxílio emergencial do governo federal. Depende muito de como vão ser os ajustes de demanda interna. O cenário ainda é muito incerto. Não dá para prever se o consumo interno vai se manter no nível que tivemos até agora”, observa Ana Paula.
Avicultura: indústria absorve custos, mas pode reduzir alojamentos
Na avicultura – que opera em regime de integração, no Paraná –, as agroindústrias têm absorvido o aumento dos custos de produção. Presidente da Comissão de Avicultura da FAEP, Carlos Bonfim aponta, no entanto, que os avicultores paranaenses têm acompanhado com apreensão as altas contínuas nos preços da soja e do milho. A preocupação é de que, no médio prazo, as empresas venham a reduzir a escala de produção, o que implicaria na perda de ganho por parte do produtor.
“No sistema integrado, a empresa não repassa essa alta dos custos. O produtor não sente a volatilidade, mas a gente vê com preocupação, com medo do que possa acontecer logo ali na frente. A gente não sabe quanto tempo essas empresas aguentam”, aponta Bonfim.
Ao analisar os elementos dispostos, hoje, no tabuleiro, a técnica Mariana Assolari, do Departamento Técnico (Detec) do Sistema FAEP/SENAR-PR, que acompanha a cadeia da avicultura, aponta que as perspectivas de tendência de alta dos preços dos grãos já afetaram o setor, com tendência de que, a partir do ano que vem, as agroindústrias comecem a reduzir o alojamento de aves, de olho no comportamento do mercado.
“A avicultura é um setor muito ajustado. As empresas alojam de acordo com as projeções de demanda”, diz Mariana. “Quando há uma alteração em grãos, há um impacto direto em todas as cadeias produtoras de carne. No caso de frangos, isso é muito evidente”, completa.
Em recente entrevista ao jornal Valor Econômico, o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, confirmou que deve haver um ajuste, com a redução de alojamento. O dirigente calcula que pode, com um eventual corte na produção entre 5% e 10%, a demanda interna por grãos diminuiria em 1,4 milhão de toneladas até a metade de 2021.
Mudança na ração
Na região de Cianorte, no Noroeste do Paraná, produtores relatam um fator que pode estar relacionado à alta dos grãos. Segundo os avicultores, a qualidade da ração fornecida pela agroindústria piorou nos últimos meses. Como resultado disso, os animais têm custado a ganhar peso. A meta é de que os pintainhos cheguem ao sétimo dia de vida pesando entre 185 e 200 gramas. Entretanto, em sete dias, as aves têm chegado, em média, a 140 gramas (25% menos), de acordo com relatos compilados pela Comissão para Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração (Cadec) local, afetando os rendimentos dos avicultores.
“O avicultor precisa de condições para atingir as metas definidas pela integradora. E esse peso é definido com base em ração de boa qualidade. Se a indústria não colocar uma ração de boa qualidade, o animal não vai responder de acordo”, ressalta o presidente da Cadec de Cianorte, Dienner Santana. “Em regiões vizinhas, temos relatos de que o resultado pago já tem diminuído”, acrescenta. Ele também aponta que o índice de mortalidade dos animais aumentou consideravelmente.
Mariana Assolari destaca que a Lei de Integração prevê que o produtor – representado pela Cadec – acompanhe e valide a qualidade dos insumos – entre eles, a ração – fornecidos pelas agroindústrias, mas que ainda não foram criados mecanismos para que isso aconteça na prática. “O produtor não está envolvido neste processo, mas, em razão dos custos, é provável que a indústria tenha alterado a composição da ração, não só quantidade e qualidade dos grãos na formulação, mas também o premix, muitas vezes composto por ingredientes importados. O que as empresas tendem a fazer daqui para a frente é procurar um ponto de equilíbrio”, avalia.
Suinocultura: da euforia à preocupação
A partir de maio, o preço dos produtos da suinocultura disparou, animando os produtores paranaenses. Em outubro, o quilo do suíno vivo chegou a R$ 8,24: crescimento de mais de 100% em cinco meses. Por um lado, essa decolagem compensou a escalada dos preços de grãos. Por outro, a escassez de soja e de milho passou a dar dor de cabeça ao suinocultor, principalmente o independente – categoria em que se enquadram 40% dos produtores de suínos no Paraná.
“Os valores chegaram a preços que colocam o produtor em uma era que ele nunca viveu. Mas a euforia já passou e hoje os suinocultores estão mais preocupados, principalmente porque não se encontra grãos disponíveis e por conta da incerteza se a demanda vai segurar os preços do suíno em alta”, diz a técnica do Detec do Sistema FAEP/SENAR-PR, Nicolle Wilsek, que acompanha a cadeia da suinocultura.
Nicolle tem orientado os pecuaristas a buscarem alternativas, como triguilho, triticale centeio e sorgo, fato que vai ao encontro que uma pesquisa da Embrapa, que aponta que alguns grãos podem substituir o milho e o farelo de soja na alimentação de suínos e frangos, desde que sejam feitos ajustes nos níveis de aminoácidos, de acordo com a fase de cada animal. Entre essas opções, a Embrapa destaca o triticale e a cevada.
“O entrave é que não temos cultura de plantar esses grãos em grande escala. Mas o produtor que tiver essas opções, pode usá-los como alternativa”, ressalta Nicolle.
Paralelamente, os produtores estão de olho na indústria, na expectativa de que não haja ajustes na escala de produção. “A indústria não iniciou isso ainda. A gente não sabe se vai acontecer ou não, mas por enquanto não há indicativo”, aponta a técnica do Sistema FAEP/SENAR-PR.
Preço dos grãos mexe na dinâmica da bovinocultura
Em termos de preço, a bovinocultura de corte também vive um bom momento. Segundo o indicador Cepea, a arroba chegou ao fim de outubro a R$ 270. Técnico do DTE do Sistema FAEP/SENAR-PR, Guilherme Souza Dias avalia que a falta de grãos e os preços pressionados já afetam diretamente a atividade, principalmente porque esses fatores exercem um peso maior sobre o confinamento. Tudo isso muda a dinâmica da porteira para dentro.
“Os grãos em alta refletem sobre a diária de confinamento, que passa a ficar mais cara. A tendência é de que o produtor deixe de confinar. Isso vai gerar, como resultado, animais mais tardios”, resume. “Ou seja, esses elementos vão alterar a estratégia do pecuarista, com impactos na receita e no tempo de abate”, acrescenta.
No caso do setor de lácteos, os reflexos também são imediatos. O bovinocultor de leite investe, em média, um quilo de ração para produzir três litros do produto. Ou seja, a relação com os grãos é direta, o que fez com que os custos de produção do setor, em setembro, estivessem 65% acima dos níveis históricos, segundo o Cepea. Os preços dos lácteos no Paraná vinham acompanhando esse movimento até setembro, mas em outubro houve um recuo, o que pode sinalizar que o mercado consumidor não tenha tanto fôlego para bancar as altas sucessivas. “A tendência é que os grãos continuem pressionando ainda mais os custos de produção da cadeia. E na bovinocultura de leite, a ração é um fator determinante. Se o pecuarista dá menos ração, ele vai ter não só um prejuízo na produção, como vai provocar um impacto na vida produtiva da vaca, que não tem mais volta. O animal não volta a produzir no patamar anterior”, aponta Souza Dias. “Os preços dos grãos estão, na verdade, consumindo o que seriam os ganhos dos pecuaristas”, acrescenta.

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Tarifaço dos EUA continua a afetar 22% das exportações brasileiras
Apesar da retirada de 238 produtos da lista de sobretaxas, produtos agrícolas e industriais ainda enfrentam barreiras, mantendo parte das vendas brasileiras aos EUA sob tarifas adicionais.

O presidente em exercício e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, afirmou nesta sexta-feira (21) que 22% das exportações brasileiras para os Estados Unidos permanecem sujeitas às sobretaxas impostas pelo governo norte-americano. A declaração foi dada no Palácio do Planalto, um dia após a Casa Branca retirar 238 produtos da lista do chamado tarifaço.

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Segundo Alckmin, a nova decisão representa o maior avanço até agora nas negociações bilaterais. Ele destacou que, no início da imposição das tarifas, 36% das vendas brasileiras ao mercado norte-americano estavam submetidas a alíquotas adicionais. “Gradualmente, tivemos decisões que ampliaram as isenções. Com a retirada dos 238 produtos, reduzimos para 22% a fatia da exportação sujeita ao tarifaço”, ponderou.
A medida anunciada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, revoga a tarifa extra de 40% para uma lista de itens majoritariamente agrícolas, como café, carne bovina, banana, tomate, açaí, castanha de caju e chá. A isenção tem efeito retroativo a 13 de novembro e permitirá o reembolso de produtos já exportados.
Impacto nas exportações
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) indicam que, tomando como base os US$ 40,4 bilhões exportados pelo Brasil aos EUA em 2024:
- US$ 8,9 bilhões seguem sujeitos à tarifa adicional de 40% (ou 10% mais 40%, dependendo do produto);
- US$ 6,2 bilhões continuam enfrentando a tarifa extra de 10%;
- US$ 14,3 bilhões estão livres de sobretaxas;
- US$ 10,9 bilhões permanecem sob as tarifas horizontais da Seção 232, aplicadas a setores como siderurgia e alumínio.

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De acordo com a secretária de Comércio Exterior do MDIC, Tatiana Prazeres, a parcela das exportações brasileiras totalmente livre de tarifas adicionais aumentou 42% desde o início da crise.
Ela ponderou, no entanto, que o setor industrial continua sendo o mais afetado e exige maior atenção por parte do governo. “Para a indústria, a busca de mercados alternativos é mais complexa do que para commodities”, afirmou.
Aeronaves da Embraer, por exemplo, seguem sujeitas à tarifa de 10%.
Negociações seguem
Alckmin afirmou que a decisão dos EUA foi influenciada pelo diálogo recente entre Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante encontro na Malásia, em outubro. O governo brasileiro enviou aos EUA, em 4 de novembro, uma proposta de acordo comercial, cujo teor não foi detalhado.
O presidente em exercício reiterou que o país busca avançar nas tratativas para retirar novos produtos da lista de itens tarifados. Ele mencionou que temas tarifários e não tarifários seguem na pauta de discussão, incluindo áreas como terras raras, big techs, energia renovável e o Regime Especial de Tributação para Serviços de Data Center (Redata).
Alckmin também confirmou que Lula apresentou a Trump, além do pedido de redução tarifária, questionamentos sobre a aplicação da Lei

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Magnitsky, que resultou em sanções contra autoridades brasileiras.
Segundo o presidente em exercício, ainda não há reunião prevista entre os presidentes, embora Lula tenha convidado o mandatário norte-americano para visitar o Brasil.
Setores mais sensíveis
Apesar do alívio para diversos itens agrícolas, o governo avalia que os produtos industriais permanecem como o principal foco de preocupação. Parte desses segmentos, especialmente bens de maior valor agregado ou fabricados sob encomenda, têm mais dificuldade para redirecionar exportações para outros mercados.
Alckmin afirmou que seguirá empenhado em buscar novas exceções. “Continuamos otimistas. O trabalho não terminou, mas avança com menos barreiras”, declarou.
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COP30 evidencia protagonismo do cooperativismo nas soluções para clima e energia
Painéis na Green Zone e Agri Zone mostraram como cooperativas já entregam resultados em redução de emissões, bioenergia, logística sustentável e soberania alimentar, reforçando o modelo como peça-chave da transição climática justa no país.

A participação do cooperativismo brasileiro na COP30, na última quarta-feira (19), evidenciou a força do modelo e sua capacidade de integrar inovação, inclusão e sustentabilidade para responder aos maiores desafios climáticos, alimentares e energéticos do país. Painéis na Green Zone e na Agri Zone reuniram dirigentes de cooperativas, pesquisadores, técnicos e produtores para apresentar experiências concretas que mostram como a ação coletiva já transforma territórios.

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Em todos os debates, a mensagem central foi unânime: o cooperativismo não espera, entrega resultados mensuráveis na redução de emissões, no uso eficiente de recursos naturais e na geração de renda e oportunidades, posicionando-se como peça-chave para uma transição climática justa, inclusiva e territorializada.
Energia limpa, economia circular e logística sustentável
No Pavilhão do Coop, o painel Transição Energética Justa: Cooperar para Transformar, mediado por João Penna, coordenador de Relações Internacionais do Sistema OCB, reuniu três experiências que demonstram como o cooperativismo tem sido decisivo para acelerar a transição energética no Brasil e mitigar passivos ambientais de forma eficiente.
Alexandre Gatti Lages, superintendente do Sistema Ocemg, chamou atenção para o avanço das energias renováveis dentro do movimento. Ele lembrou que, segundo dados do Anuário do Cooperativismo Brasileiro, cerca de 20% das cooperativas brasileiras já produzem sua própria energia e Minas Gerais possui potencial ainda maior. Por isso, a Ocemg criou, em 2020, o Projeto Minascoop Energia, estruturado nos pilares ESG. “O Minascoop nasceu com esse propósito de fazer um trabalho diferente, doando energia para entidades que precisam”, afirmou.
A iniciativa reduz custos energéticos (Econômico), promove geração fotovoltaica limpa (Ambiental) e estimula a doação de parte da

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energia produzida a instituições filantrópicas (Social). “Hoje, já são 52 cooperativas participantes, com 138 usinas instaladas em 88 municípios, que juntas produzem 14 MW”, complementou.
Juliano Millnitz, diretor-executivo da Primato, cooperativa paranaense que atende mais de 11 mil cooperados e é a maior produtora de suínos do Brasil, apresentou o case Suíno Verde: Energia Limpa do Campo ao Transporte. O programa vem sendo observado por pesquisadores e autoridades por transformarum enorme passivo ambiental em combustível limpo.
A cooperativa produz, diariamente, 9,5 milhões de litros de dejetos suínos e implantou um sistema que centraliza 630 mil litros/dia para produzir biometano. No processo, o material sólido é convertido em fertilizante, enquanto o líquido gera biogás e biometano. A planta é autossuficiente em energia e o foco agora é a mobilidade sustentável. “Hoje já operamos seis caminhões totalmente movidos a biometano e a meta é que toda a cadeia de suínos seja transportada com combustível limpo, o que representará uma economia de 447 toneladas de óleo diesel por ano, equivalente a R$ 920 mil anuais”, explicou Nunes.
O terceiro case foi apresentado por Evaldo Matos, diretor da Coopmetro, que abordou um dos maiores desafios brasileiros: a dependência da matriz rodoviária, responsável por 70% do transporte nacional. A cooperativa lidera o Programa de Renovação de Frota (Pave), que democratiza o acesso de pequenos transportadores a caminhões novos, conectando cooperados, cooperativas de crédito e fabricantes.

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Os impactos ambientais são expressivos: 14% menos CO₂, 75% menos óxidos de nitrogênio e 12% mais autonomia. No campo social, o programa alcança 13,5 mil beneficiados, fortalece renda e promove inclusão, com aumento de 15% na presença feminina. “O Pave é uma contribuição concreta para uma logística mais verde, mais saudável”, afirmou Matos, destacando ainda que a operação registra zero inadimplência com os bancos parceiros.
A representante do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Melissa Pesconi, elogiou a abordagem das cooperativas, reforçando que seus resultados são exemplos para grandes empresas. Ela apresentou as coalizões setoriais de descarbonização lideradas pelo CEBDS: iniciativas multissetoriais que reúnem setor privado, governos e sociedade civil para desenvolver e implementar planos de redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) em diversos setores da economia.
Melissa destacou que “a visão técnica dos dados precisa dialogar com a prática transformadora, e as cooperativas já mostram que a transição energética deve ser guiada também por critérios sociais, econômicos e políticos”.
Amazônia reforça protagonismo comunitário
Também na Green Zone, o painel Identidade e Inclusão para a Soberania Alimentar na Agricultura Amazônica, mediado por Beatriz

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Barros Braga, secretária de Desenvolvimento Rural do Amapá, trouxe uma discussão profunda sobre como diferentes Amazônias, com culturas, ecossistemas e modos de produzir próprios, constroem caminhos para garantir segurança alimentar em meio às desigualdades estruturais.
Com mais de duas décadas de atuação, a Cooperacre levou ao painel a visão dos extrativistas. O assessor Alberto “Dande” de Oliveira Tavares descreveu a trajetória de verticalização da cooperativa, que investe em agroindústrias de castanha, borracha, frutas e óleos. “A Amazônia não é vista apenas como fornecedora de matérias-primas. A Cooperacre investiu na verticalização, garantindo renda, autonomia e permanência das famílias”, disse.
Ele reforçou a importância do reconhecimento do serviço ambiental prestado pelos extrativistas: “Essas famílias entregam muito além de alimentos. Entregam equilíbrio climático, água de qualidade, biodiversidade. O pagamento por serviços ambientais precisa chegar até elas”, complementou
Já o agricultor e gerente comercial da Camta, Emerson Tsunoda, relatou o processo de reinvenção da cooperativa, que deixou a dependência da monocultura da pimenta e adotou sistemas agroflorestais integrados (cacau, açaí, pimenta e outras culturas). A mudança ampliou mercados, diversificou renda e elevou a resiliência produtiva. Ele celebrou também que bancos passaram a financiar apenas produtores estruturados em SAFs. “Quem consome nossos produtos consome também uma história de união e reinvenção”, resumiu.

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Bioenergia e desenvolvimento regional
Na Agri Zone, o painel Desenvolvimento Regional e Transição Energética, promovido pela Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), reuniu especialistas do setor de bioenergia para discutir como a interiorização da indústria e a diversificação das matérias-primas podem impulsionar cidades e regiões inteiras.
O cooperativismo foi representado pela analista de Sustentabilidade do Sistema OCB, Laís Nara Castro. Ela apresentou dados atualizados do setor e reforçou que o movimento já é parte essencial da transição energética nacional. “Hoje, mais de 910 cooperativas já geram sua própria energia, seja para consumo interno ou para abastecer processos produtivos. Somando tudo, temos mais de 4,9 mil empreendimentos de geração distribuída espalhados pelo Brasil. É energia limpa, descentralizada e que chega na ponta, no pequeno e no médio produtor”, descreveu.
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Novas obras devem tornar mais dinâmicas as visitas ao Show Rural
Coopavel investe em ampliações, novas obras e melhorias operacionais para receber 600 empresas e até 22 mil veículos na edição de 2026, reforçando o evento como vitrine global de inovação no agronegócio.

Poucas vezes em 38 anos de Show Rural, a Coopavel e parceiros investiram tanto em novas obras e em melhorias simultâneas no parque que abriga um dos três maiores eventos técnicos do agronegócio mundial. São inúmeros projetos em execução ao mesmo tempo, tudo para melhorar ainda mais a dinâmica e o aproveitamento das visitas de quem se desloca a Cascavel, no Oeste do Paraná, para ter acesso às inovações desenvolvidas pelas empresas do setor para que o agricultor produza mais, com menos custos e observando a lógica da sustentabilidade.

Foto: Divulgação/Coopavel

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“O que estamos fazendo, mas em uma escala maior que em outros anos, busca atender às expectativas de um produtor rural cada vez mais exigente e conectado a mudanças que, ao longo dos anos, transformaram a realidade agropecuária brasileira e mundial. O Show Rural é um evento de vanguarda, focado na inovação e na superação e os resultados do que estamos fazendo poderão ser vistos de 9 a 13 de fevereiro de 2026, durante a 38ª edição do evento”, menciona Dilvo Grolli, presidente da Coopavel, cooperativa que organiza a mostra de tecnologia.
Obras
Estão em ampliação os espaços físicos da administração do parque e do Espaço Impulso (parceria com o Itaipu Parquetec), hub do agro inaugurado há quase quatro anos e que se tornou um ambiente multiplicador de novos conhecimentos para as mais diferentes atividades rurais. Esses prédios terão as suas áreas dobradas, o mesmo acontecendo com o galpão destinado à agricultura familiar.

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A Itaipu investe cerca de R$ 1,7 milhão em uma nova estrutura, anexa à antiga, que vai permitir, a partir do ano que vem, mais que dobrar o número de agroindústrias familiares presentes no Show Rural. As duas primeiras estão com mais de 60% do cronograma de obras pronto, e o novo pavilhão está praticamente concluído.
A área pavimentada com asfalto foi ampliada em 2,5 quilômetros e, nesse trecho, a largura da via é de cinco metros. Em vias anteriormente pavimentadas, a largura está em ampliação de três para cinco metros. Novos trechos de ruas vão receber cobertura. Onze dos 15 quilômetros de vias que conectam todo o parque estarão protegidos da chuva e do sol na edição de fevereiro. Os 28 conjuntos de banheiros, masculinos e femininos, foram todos reformados, trabalho que envolveu da troca de portas até do piso.
A área do antigo estacionamento de expositores foi toda gramada e, considerando trechos próximos, permitirá aumentar em 15 mil metros quadrados o espaço destinado a expositores. “Teremos 600 empresas, como em edições anteriores, mas algumas que pediam agora terão espaços maiores para apresentar as suas novidades aos visitantes”, conforme o coordenador geral Rogério Rizzardi.
22 mil veículos
O empresário Assis Gurgacz cedeu uma área vizinha ao parque para a ampliação do novo estacionamento. Para a 38ª edição, a capacidade

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de recepção vai subir de 17 mil para 22 mil veículos. Em fevereiro passado, o estacionamento tinha capacidade para 400 ônibus, e em 2026 poderão ser recebidos e devidamente abrigados 700.
Uma nova passarela vai ligar o estacionamento ao novo portão principal do parque. A maior parte do trecho é elevada, passando sobre o antigo estacionamento. Além disso, outras duas lanchonetes serão implantadas no parque, bem como ampliado o número de estações no restaurante para que mais pessoas possam se servir simultaneamente. No Show Rural Coopavel, o acesso ao parque e o uso de vagas de estacionamento são gratuitos.



