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Por uma nova pecuária brasileira

Mais do que um artigo, este é um manifesto para que uma nova Pecuária possa surgir no país, com lideranças capazes de entender seus desafios futuros e que mostre ao mundo um setor capaz de assumir seus compromissos e de demonstrar sua evolução

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O livro Carne e Osso lançado em 2015 pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne traz um relato inédito sobre as origens e a evolução da indústria da carne brasileira, a reboque da pecuária e do avanço do gado no território brasileiro.

O fato é que o Brasil foi alçado ao posto de grande produtor e maior exportador do mundo de carne bovina por condições naturais de espaço, água e insolação, por gente de coragem para empreender e avançar fronteiras, mas muito mais por inovação.

Nos primórdios de nossa indústria, a grande inovação era o charque. O sal conservava a carne e as charqueadas gaúchas abasteciam o grande mercado do Brasil Colônia com essa proteína. O Corned Beef, a carne enlatada foi outra inovação que permitiu que as multinacionais americanas e inglesas aqui instaladas no início de século passado abastecessem tropas e mercados em todo o globo.

A refrigeração foi outra inovação, que permitiu que o comércio de carne in natura ganhasse o mundo. O invencível binômio zebu-braquiária foi a inovação que fez nosso rebanho multiplicar-se e conquistar o Brasil central. Outras inovações vieram, algumas institucionais como um sistema de inspeção organizado, e outras técnicas como a mineralização do rebanho, os avanços em saúde animal, cruzamentos indústrias e inseminação artificial, confinamentos, semi confinamentos, pastejo rotacionado e a integração lavoura pecuária que mal começa a entregar valiosos frutos. Agora entramos na era da pecuária de precisão, de drones e softwares.

Mesmo o sistema agroindustrial da carne brasileiro chega a um ponto delicado de sua história. Somos os maiores exportadores do mundo, mas ainda sofremos restrições e barreiras de mercados importantes. Achamos que nossa carne é a melhor do mundo, mas, lá fora, a vendemos como commodity barata, e perdemos em imagem e percepção de qualidade para outros países produtores que exportam bem menos.

Temos indústrias de ponta convivendo lado a lado com matadouros medievais. Temos uma legislação obsoleta quando precisamos ser mais competitivos. Temos inúmeras formas de consumir carne no Brasil, e quem lança modas como hambúrguer gourmet, dry aged e outras são os gringos. Somos muito bons dentro das fábricas e fazendas, e péssimos fora delas em ambiente de negócios e infraestrutura. Temos produtores extremamente eficientes e gente que usa o boi como desculpa para ocupar terra. Indústria e produtores ainda se veem como antagonistas em disputas de preço e peso, quando deveriam trabalhar juntos para ampliar mercado.  Temos grandes ativos ambientais e um código florestal sem paralelo no mundo, e nossa carne é acusada de ser a causa do desmatamento.

Por todos esses desafios, e para se manter no topo, o Brasil precisará necessariamente continuar inovando. Inovando como? Que inovações são essas? Quais serão as tecnologias que iremos precisar para nos manter competitivos nas fazendas e nos frigoríficos? Que papel pode ter a automação nisso, a internet das coisas, a nanotecnologia, a geotecnologia? Como vai se comportar o consumidor mundial, quais as tendências de mercado? Que tipo de carne vão consumir, que atributo procuram, como deve ser o posicionamento do Brasil? Qual o impacto da carne de laboratório que bilionários investidores dizem poder tornar viável em poucos anos? Dos movimentos por direitos dos animais? Quais os desafios sanitários, seus riscos, como responde a política pública brasileira? Quais os reais impactos ambientais da pecuária? Enquanto o mundo discute se deve ou não comer carne, como o Brasil pode se inserir de forma diferenciada nessa discussão?.

Temos sim novas tecnologias surgindo e disponíveis aos produtores. Mas não é só isso. Hoje, infelizmente, dedicamos boa parte do tempo a apagar incêndios presentes, e o ambiente do país não ajuda o setor privado a pensar no longo prazo.

Precisamos pensar como cadeia produtiva inserida em um mercado global, e o setor precisa desesperadamente de fóruns qualificados para debater seu futuro e as políticas que irão definir o seu futuro. O GTPS é uma exceção, que tem trabalhado brava e valorosamente em um dos aspectos da cadeia que mais precisam ser debatidos, a sustentabilidade.

Vamos ao contexto. Mudanças climáticas hoje fazem parte da agenda geopolítica global. Segundo a teoria, o homem causa mudanças climáticas ao despejar CO2 na atmosfera. Esse CO2 nos países ricos vem de energia e transportes, nos países em desenvolvimento de desmatamento e agropecuária.

Diante dessa teoria, corroborada pela grande maioria da comunidade científica, países mobilizam-se, pressionados pela sociedade, criarem acordos, compromissos e políticas relacionados ao clima.

O outro fato dado neste contexto é a relação estabelecida entre florestas e clima. Há vários anos esse elo é reforçado, por estudos, conferências, artigos que tornam a discussão de clima indissociável da discussão da preservação de florestas.

Goste-se ou não disso, esta é a realidade com a qual o setor precisa lidar.

Acordos, compromissos e políticas que surgem em grande parte dos países (e mercados) geram também acordos, compromissos e políticas no setor privado, seja em agentes financiadores e investidores, seja em compradores de produtos em cujas cadeias existe o risco do desmatamento.

Como a pecuária brasileira pode encarar esta realidade e ganhar com ela?

O primeiro ponto que nos interessa é que a pecuária evoluiu muito em produtividade no Brasil por causa de mercado. A atividade deixou de ser um efeito colateral da ocupação do território e uma poupança viva (live-stock) que garantia sobrevivência em um país de economia caótica para ser, depois do fim da inflação, uma atividade econômica que precisa dar lucro. E o aumento de eficiência veio porque o Brasil estava inserido num mercado global de carne.

Mercado é o que interessa para manter a atividade sustentável do ponto de vista econômico. O efeito positivo ao meio ambiente decorrente do aumento de eficiência, com redução de emissões e diminuição da pressão por novas áreas, demonstra que a sustentabilidade ambiental (e social) não são incompatíveis com o desenvolvimento econômico do setor.

Em segundo lugar, hoje, com a construção de cadeias globais de fornecimento, as grandes empresas multinacionais processadoras e varejistas adotam critérios para reduzir o desmatamento em suas cadeias de fornecimento de commodities, especialmente aquelas produzidas em zonas tropicais.

De certa forma não há uma régua única que diga se um produto é sustentável ou não. Existem processos de certificação disponíveis no mercado, processos de melhoria contínua acontecendo, e às vezes as próprias empresas encarregam-se de determinar o tamanho do risco que se dispõe a ter.

Quando o assunto é carne, a coisa é ainda mais complexa já que todo o mercado que depende de carne vai sempre depender em parte do Brasil. E embora esse mercado tenha compromissos de dissociar carne de desmatamento, eles não fazem ideia de por onde começar, principalmente no Brasil onde a certificação é infimamente pequena (para carne) e não existem outras alternativas viáveis que ofereçam rastreabilidade completa a transparente sobre a origem da carne, a não ser aquela oferecida pelas indústrias com compromissos públicos de controle sobre seus fornecedores diretos.

O GTPS nasceu como uma mesa redonda, cujo destino era produzir uma certificação para a carne sem desmatamento atendendo à demanda do mercado. Em um dado momento, decidiu-se mudar os rumos do GT para o conceito de melhoria contínua, uma vez que a grande maioria dos produtores ainda tinha dificuldades em atender a legislação vigente em um ambiente de baixíssima segurança jurídica.

Embora não tenha se tornado uma certificação, o GTPS tornou-se o maior fórum do país a discutir soluções para a pecuária, e criou ferramentas poderosas para o processo de melhoria contínua como o Manual de Práticas para Pecuária Sustentável e o Guia de Indicadores da Pecuária Sustentável.

Na prática, o que escutamos hoje é: Não compro carne do Brasil porque tem desmatamento.

O que o GTPS diz é: Comprem carne do Brasil porque a cadeia pecuária do Brasil está em melhoria contínua. Apoiamos a adequação legal (e por consequência o fim do desmatamento ilegal e o Código Florestal) e apoiamos o desmatamento zero desde que o produtor seja compensado por isso.

De forma análoga, na Estratégia PCI do Estado do Mato Grosso, estamos invertendo a mensagem do “Não compro produtos do Mato Grosso porque carne e soja causam desmatamento.” Para “comprem produtos do Mato Grosso porque temos compromissos para reduzir o desmatamento, implementar o Código Florestal e incluir pequenos produtores, e estamos avançando.”

Em ambos os casos o que interessa é mercado e não há absolutamente nenhuma ameaça a direitos individuais de produtores em nenhum dos dois casos.

Podemos extrapolar o mesmo raciocínio para o Brasil como um todo. Não estamos exportando mais só carne. Estamos exportando carne atrelada ao cumprimento de um Código Florestal e à conservação de ativos ambientais explicitados na NDC brasileira.

Este é o momento em que nossa agenda ambiental deve transportar-se para uma agenda de comércio, investimentos e negociações internacionais, e nossos produtores devem ser os principais protagonistas dessa história, uma vez que é sobre eles que recai grande parte da responsabilidade do Código Florestal.

Mais do que nunca, os pecuaristas de verdade devem assumir seu protagonismo, diferenciar-se do joio que contamina o setor, buscar o mercado pelo bem do próprio negócio demonstrando o que têm nas mãos.

O Brasil deve vender para o mundo uma agropecuária tropical capaz de produzir como ninguém no mundo associada a um ativo como o Código Florestal que ninguém tem no mundo. É a hora de dizer ao mundo em alto e bom tom o que temos e do que somos capazes. Mas não é só falar, é mostrar, provar, com transparência e com rastreabilidade. E na pecuária, o GTPS pode ser o canal para isso.

O setor da pecuária e do agronegócio, em geral, têm pela frente uma grande luta interna a ser vencida, contra um sistema de regras falhas e obtusas que dificultam a geração de riquezas e favorecem a corrupção e o capitalismo “de compadrio”, e contra a falta de infraestrutura, insegurança jurídica, custos elevados e outros problemas. 

E tem também uma grande luta externa a ser vencida, para apoderar-se do crescimento da demanda mundial por alimentos, que demanda inovação, sustentabilidade, competitividade e um enorme esforço de negociação e marketing.

Mais do que um artigo, este é um manifesto para que uma nova Pecuária possa surgir no país, com lideranças capazes de entender seus desafios futuros e que mostre ao mundo um setor capaz de assumir seus compromissos e de demonstrar sua evolução, contribuindo com o bem comum e aproveitando uma imensa oportunidade de mercado. 

Fonte: Por Fernando Sampaio, Diretor-executivo da Estratégia do Comitê Estadual da Estratégia PCI (Produzir, Conservar e Incluir) do Governo de Mato Grosso e ex-presidente do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável / Alfapress

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Ministério da Agricultura realiza simulado de febre aftosa no Acre

Treinamento visa reforçar a cooperação e a capacidade de resposta em uma zona com status de livre de febre aftosa sem vacinação.

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OMinistério da Agricultura e Pecuária (Mapa) realizou, entre os dias 12 e 18 de setembro, no município de Cruzeiro do Sul, no Acre, o exercício simulado de febre aftosa com mais de 180 servidores da área de saúde animal, além de servidores de forças de segurança e integrantes do Servicio Nacional de Sanidad Agropecuaria e Inocuidad Alimentaria (SENASAG), da Bolívia, e do Servicio Nacional de Sanidad Agraria (SENASA), do Peru. O exercício foi realizado em conjunto com o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Acre (IDAF-AC).

Fotos: Divulgação/Mapa

Exercícios simulados permitem treinar e aferir a capacidade de ação e intervenção do serviço veterinário oficial num momento de crise e a realização desse treinamento é uma das ações previstas no Plano Estratégico do Programa Nacional de Vigilância para a Febre Aftosa (PE-PNEFA), visando a manutenção do status de área livre de febre aftosa sem vacinação e um corpo técnico preparado para atuar de forma imediata.

“O exercício simulado teve como objetivo preparar os servidores para a organização da cadeia de comando e o cumprimento dos protocolos que devem ser adotados em uma situação real de surgimento da doença, até a completa eliminação do foco e reestabelecimento da condição sanitária” explica o diretor do Departamento de Saúde Animal, Marcelo Mota.

Conforme previsto no Plano de Contingência para Febre Aftosa, durante o treinamento foi instalado um Centro de Operações de Emergência Zoossanitária para que os participantes praticassem a organização e os procedimentos técnicos de biossegurança, vigilância e investigação clínica e epidemiológica, colheita e envio de amostras para diagnóstico laboratorial, eliminação de focos, limpeza e desinfecção de instalações e controle e inspeção do trânsito de veículos na região, assim como o uso de softwares para coleta e processamento de dados e gestão da informação.

As barreiras sanitárias contaram com a presença de equipes do Grupo Especial de Fronteira, da Polícia Militar, do Exército Brasileiro e da Polícia Rodoviária Federal nas principais vias terrestres e fluviais para fiscalização de trânsito na região.

Também foram exercitadas a logística de envio de amostras para análise laboratorial no Laboratório Federal de Defesa Agropecuária de Minas Gerais (LFDA/MG) e a atuação dos serviços de comunicação, assessoria de imprensa e assessoria jurídica frente a uma emergência zoossanitária.

Ainda, segundo o diretor, “o objetivo do treinamento foi a preparação para enfrentar uma eventual ocorrência de febre aftosa, mas as medidas servem para todas as doenças emergenciais, como a peste suína clássica, peste suína africana, influenza aviária, entre outras. Os protocolos sanitários são semelhantes, e o caráter de emergência é o mesmo. Os resultados foram muito bons, permitindo avaliar os procedimentos previstos e subsidiar uma nova versão do plano de contingência, incluindo as sugestões colhidas durante o simulado”.

O simulado também recebeu o apoio do Governo do Estado do Acre e do Fundo de Desenvolvimento da Pecuária do Acre (FUNDEPEC).

Fonte: Assessoria Mapa
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Impacto da estiagem na produção e nos preços dos alimentos

Alterações nas temperaturas e mudanças nos padrões de precipitação tendem a provocar alterações nos sistemas produtivos e colocar em risco o desenvolvimento de algumas culturas podendo, inclusive, no longo prazo, alterar seu zoneamento climático.

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Fotos: Divulgação/Arquivo OPR

Os eventos climáticos extremos, como alterações nas temperaturas e mudanças nos padrões de precipitação, tendem a provocar alterações nos sistemas produtivos e colocar em risco o desenvolvimento de algumas culturas podendo, inclusive, no longo prazo, alterar seu zoneamento climático.

Cenários climáticos desfavoráveis podem, no mínimo, elevar os custos de produção, eis que mesmo as culturas que suportam melhor os diferentes tipos de estresse ambiental, podem perder qualidade ou ter a sua produtividade reduzida.

Assim, está claro que as mudanças climáticas podem impactar a disponibilidade da oferta dos alimentos e provocar aumento dos seus preços – os quais, por sua vez, dependem, também e ainda, de múltiplos fatores não apenas relacionados ao clima.

A produção de leite no Brasil tem sido afetada pelas mudanças climáticas de duas maneiras distintas: em algumas regiões, pela estiagem, noutras, pelo excesso de chuvas.

A estiagem prolongada no Brasil tem causado impactos na produção de leite, onde a escassez de água afeta diretamente a disponibilidade e qualidade da pastagem e o bem-estar dos rebanhos, ocasionando a queda na produção do produto.

Durante a estiagem, muitos produtores se veem obrigados a recorrer à suplementação, o que eleva os custos de produção. Em 2024, os preços um pouco mais controlados dos grãos em comparação a anos anteriores mitigam um pouco desse impacto ao produtor.

Entretanto, ainda assim, houve elevação dos custos de produção pela necessidade de suplementação do rebanho com o uso de tecnologias de manejo mais avançadas.

Para os pequenos e médios produtores, tal situação foi de mais difícil enfrentamento, ocasionando o abandono da atividade por parte de muitos produtores. Neste quadro, os agricultores familiares foram ainda os mais atingidos, por disporem de menos estrutura e recursos, culminando na concentração da produção em produtores de maior volume diário.

Além disso, com menos chuvas, a água disponível para o consumo animal e a irrigação das pastagens diminui, afetando a saúde e a produtividade dos rebanhos. Esse cenário intensifica o estresse térmico nos animais, reduzindo ainda mais a produção de leite. A falta de infraestrutura de irrigação adequada em muitas propriedades agrava a situação.

Foto: Gustavo Porpino

Já nas regiões afetadas pelo excesso de chuvas, os efeitos foram mais agudos, em algumas situações levando à perda total ou parcial do rebanho durante enchentes, a elevadas perdas de solo e de fertilidade ou ainda, no mínimo, à necessidade de recomposição das pastagens.

Preços

De modo geral, não há previsão de aumento nos preços de produtos como milho, arroz e trigo em decorrência da estiagem. Destaca-se, ainda, que os preços do trigo e do milho estão em baixa. Sobre leite, carne, arroz, feijão, frango e ovos, o impacto nos preços deve ser mais duradouro durante o período de estiagem, especialmente no Centro-Oeste, Sudeste e Nordeste, onde as condições climáticas são mais severas.

Os preços podem começar a apresentar algum alívio somente após a retomada de chuvas regulares e de melhorias na umidade do solo, o que pode demorar alguns meses dependendo da estação e da região.

Em relação a esses produtos, estima-se que os consumidores percebam esse aumento de preços provavelmente nos próximos meses, ante a intensificação da estiagem e o consequente reflexo nos preços ao consumidor final.

Fonte: Assessoria Superintendência de Gestão da Oferta da Conab
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Oferta do leite não cresce conforme o esperado, e preços voltam a subir

O consumo, por sua vez, tem se mantido firme; e os estoques nos laticínios caíram gradativamente em agosto, até atingirem níveis abaixo do normal em setembro.

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Foto: Semagro

O preço do leite ao produtor voltou a subir devido à oferta, que não cresceu como era esperado. A pesquisa do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, mostra que, em agosto, a “Média Brasil” fechou a R$ 2,7607/litro, 1,4% acima da do mês anterior e 17,7% maior que a registrada em agosto/23, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IPCA de agosto). Apesar de o preço do leite pago ao produtor acumular avanço real de 32% desde o início de 2024, a média de janeiro a agosto deste ano (de R$ 2,53/litro) é 8,4% inferior à do mesmo período de 2023.

Até o início de agosto, os fundamentos de mercado apontavam reduções no preço do leite ao produtor neste terceiro trimestre. Por um lado, a produção de leite parecia estimulada pelo aumento da margem do produtor neste ano e, por outro, a demanda seguia condicionada aos preços baixos nas gôndolas. Fora isso, as importações, ainda em volumes elevados, pressionavam as cotações ao longo de toda a cadeia produtiva. Porém, a produção não cresceu como era esperado pelos agentes do setor.

Os dados mais recentes da Pesquisa Trimestral do Leite do IBGE, divulgados em meados de agosto, mostram que a captação de leite cru pelas indústrias de laticínios no âmbito nacional caiu 6,2% no segundo trimestre em relação ao primeiro. Comparando com o mesmo período do ano passado, o incremento foi de apenas 0,8%.

De julho para agosto, o Índice de Captação Leiteira (ICAP-L) do Cepea avançou 5% na “Média Brasil”, mas o crescimento em Minas Gerais foi de 2,8% e, em Goiás, de apenas 1,5%. Apesar do aumento da margem do produtor nos últimos meses e de certa estabilidade nos custos de produção, o estímulo à atividade foi menor do que o esperado pelos agentes do setor. E o clima extremo não ajudou a atividade.

O excesso de chuvas e enchentes no Rio Grande do Sul em maio fizeram com que a oferta crescesse pouco entre julho e agosto. A entressafra no Sudeste e no Centro-Oeste se intensificou com o calor a partir de agosto. E as queimadas em setembro fizeram esse cenário se agravar em termos nacionais. Além de comprometer o bem-estar animal, os incêndios têm prejudicado a produção de forragens para alimentação animal – o que eleva o custo de produção e limita a oferta.

Outro fator que reforçou a menor disponibilidade de lácteos entre agosto e setembro foi a diminuição das importações. Dados da Secex compilados pelo Cepea mostram que, em agosto, houve queda de 25,2% nas importações de lácteos, totalizando 187,8 milhões de litros em equivalente leite.

Como a oferta não se recuperou conforme o previsto, os estoques de lácteos nas indústrias não foram repostos como esperado. O consumo, por sua vez, tem se mantido firme; e os estoques nos laticínios caíram gradativamente em agosto, até atingirem níveis abaixo do normal em setembro. Esse contexto deve sustentar e intensificar o movimento de alta nas cotações entre setembro e outubro.

Fonte: Assessoria Cepea
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