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Por que o agro demanda habilidades em sustentabilidade?
Esse cenário reflete uma transformação de carreiras, com novas demandas para profissionais do agro.

As habilidades em sustentabilidade, conhecidas como green skills, estão em alta no agronegócio brasileiro em função de tendências globais que movimentam o mercado de trabalho e criam oportunidades de carreira. Esse movimento é impulsionado pela agenda climática, políticas ambientais, busca por competitividade e a crescente demanda de consumidores e investidores por produtos e práticas cada vez mais sustentáveis.
Os eventos da COP 29 (Baku) e da 19ª Cúpula do G20 (Rio de Janeiro), marcam mais uma etapa preparatória para o agronegócio brasileiro rumo à COP 30 (Belém, 2025). Nessa agenda internacional, o maior desafio para o agro brasileiro tem sido se consolidar como setor estratégico e que faz parte das soluções dos problemas globais agravados pelas mudanças climáticas e questões geopolíticas. Com mais da metade do território nacional coberto por vegetação nativa e como um dos grandes produtores agropecuários do mundo, o Brasil é o país com o maior potencial para atender à crescente demanda global por alimentos, fibras e energia limpa, contribuindo simultaneamente para a conservação ambiental, a segurança alimentar e a transição energética.
Tendências que estão impulsionando as habilidades em sustentabilidade no agro brasileiro
1. Integração de práticas sustentáveis nos negócios: empresas do agro estão adotando soluções sustentáveis em resposta a políticas públicas, como o RenovaBio, a Política Nacional de Biocombustíveis (PNPB), o Combustível do Futuro, Mercado de Carbono, a Bioeconomia, Programa Nacional de Bioinsumos e o Pagamento por Serviços Ambientais, dentre outras. Estas iniciativas estão conectadas a compromissos internacionais, como a Agenda 2030 da ONU, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), que são os compromissos climáticos assumidos pelos países signatários do Acordo de Paris. Regulamentações mais rigorosas também contribuem, como a implementação do Código Florestal Brasileiro, o combate ao desmatamento e a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Essas políticas e outras regulamentações têm criado uma demanda crescente por profissionais com habilidade para planejar, implementar e monitorar estratégias de sustentabilidade com resultados mensuráveis.
2. Expansão do mercado de energias renováveis: A busca por alternativas energéticas limpas e renováveis está acelerando no Brasil, com investimentos em bioenergia, como exemplo o hidrogênio verde, o etanol de segunda geração (2G), o etanol de milho, o biodiesel, o biogás, o biometano, a biomassa de resíduos agrícolas e outras tecnologias emergentes. A redução das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) é um dos focos primordiais, impulsionando a demanda por especialistas em energias renováveis e na gestão de projetos para a descarbonização. O Brasil tem uma das matrizes energéticas mais limpas do planeta e com sua abundância de recursos naturais e expertise no agronegócio, está particularmente bem posicionado para seguir expandindo sua produção de energias renováveis, que recebe investimentos desde a década de 1970. A composição da matriz energética brasileira tem 49,1% de renováveis e 50,9% de fosseis. O agronegócio brasileiro contribui significativamente para a geração de energia limpa, especialmente por meio dos derivados da cana-de-açúcar (17,5%), da biomassa proveniente de resíduos agrícolas e florestais (8,4%) e do biodiesel (5,1%), totalizando cerca de 31% da matriz energética renovável brasileira em 2023.
3. Adoção de políticas ESG (Ambiental, Social e Governança): A implementação dos critérios ESG tem ganhado importância para atrair investidores e melhorar a reputação das empresas do agro no mercado global. A integração de práticas sustentáveis é um imperativo estratégico, e empresas estão em busca de profissionais que dominem práticas de governança, gestão de impacto ambiental e responsabilidade social, bem como especialistas em rastreabilidade, certificações, relatórios e auditorias de conformidade.
4. Economia Circular e Gestão de Resíduos: O conceito de economia circular, que valoriza a reutilização e a reciclagem de materiais (como exemplo as embalagens pós-consumo), vem transformando o modo como os recursos são geridos. Essa tendência cria um aumento significativo na demanda por profissionais que possam desenvolver e gerenciar sistemas de economia circular, alinhando práticas sustentáveis aos processos produtivos e ao uso consciente de recursos.
Oportunidades de carreira em sustentabilidade

1. Consultoria em sustentabilidade: profissionais especializados são requisitados para ajudar empresas a implementar práticas mais sustentáveis, desenvolver estratégias de ESG e cumprir com regulamentações ambientais mais rigorosas, oferecendo orientação para uma transição econômica mais sustentável.
2. Engenharia ambiental, agronômica, florestal e energias renováveis: A demanda por profissionais capacitados em projetos de infraestrutura sustentável, energias limpas e soluções ambientais está crescendo. Esses profissionais desempenham papéis essenciais no desenvolvimento e operação de sistemas de eficiência energética, além de colaborarem em projetos de reflorestamento, restauração de áreas degradadas e biodiversidade.

3. Gestão de ESG: Com a expansão das políticas ESG, as empresas buscam gestores capazes de integrar critérios ESG em suas operações e estratégias corporativas, promovendo uma cultura organizacional voltada para práticas sustentáveis e governança responsável.
4. Desenvolvimento de produtos e soluções mais sustentáveis: designers, pesquisadores e empreendedores são cada vez mais requisitados para criar produtos inovadores que melhorem a performance em sustentabilidade. Startups e empresas de base tecnológica digital têm se destacado na criação de soluções inovadores para melhorar a eficiência e gerar valor.
O mercado de trabalho no agronegócio está se expandindo para além das carreiras tradicionais, criando funções voltadas às demandas de sustentabilidade e ESG. Entre elas destacam-se: gestores de sustentabilidade corporativa, especialistas em energia renovável, gerentes de descarbonização, analistas de risco climático, gestores de recursos hídricos e resíduos, analistas de ciclo de vida (ACV), profissionais de bioeconomia, consultores de conformidade ambiental, cientistas de dados ambientais, gestores de cadeias de suprimentos sustentáveis, especialistas em marketing sustentável, profissionais de finanças verdes e educadores em sustentabilidade.
Essas funções exigem habilidades como visão de longo prazo, pensamento sistêmico e inovação sustentável, além de conhecimentos em economia circular, regulamentação e tecnologia.
A importância do agro na economia e no emprego

Foto: AEN
O agro desempenha um papel fundamental na economia do país, tanto na geração de riqueza quanto na criação de empregos. Em 2023, o agronegócio brasileiro representou 24% do PIB, gerou um superávit de US$ 141 bilhões na balança comercial e o número de pessoas empregadas atingiu 28,34 milhões, representando 26,8% do total de ocupações no país. Nas últimas décadas, o setor agropecuário tem registrado o maior aumento na produtividade em relação ao setor de serviços e a indústria, tendo como uma das causas o aumento da escolaridade e da qualificação profissional. Embora a agropecuária brasileira tenha demonstrado avanços notáveis em produtividade e competitividade, a escolaridade da força de trabalho ainda é baixa e os investimentos em capacitação ainda são altamente necessários. Nesse cenário, as oportunidades para profissionais mais qualificados são relativamente maiores que em outros setores.
Conclusão
As habilidades em sustentabilidade estão aumentando e se tornando indispensáveis no agronegócio brasileiro, não mais como um diferencial competitivo, mas como uma exigência crescente em diversas cadeias produtivas. Esse cenário reflete uma transformação de carreiras, com novas demandas para profissionais do agro, pois exige formações e conhecimentos multidisciplinares, contribuindo para que o agro brasileiro seja cada vez mais competitivo e preparado para enfrentar os desafios climáticos e socioambientais.

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Comunicação e Marketing como mola propulsora do consumo de carne suína no Brasil
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas.

Artigo escrito por Felipe Ceolin, médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias, com especialização em Qualidade de Alimentos, em Gestão Comercial e em Marketing, e atual diretor comercial da Agência Comunica Agro.
O mercado da carne suína vive no Brasil um momento transição. A proteína, antes limitada por barreiras culturais e mitos relacionados à saúde, vem conquistando espaço na mesa do consumidor.
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas. Estudos recentes revelam que o brasileiro passou a reconhecer características como sabor, valor nutricional e versatilidade da carne suína, demonstrando uma mudança clara no comportamento de compra e consumo. É nesse cenário que o marketing se transforma em importante aliado da cadeia produtiva.

Foto: Shutterstock
Reposicionar para crescer
Para aumentar a participação na mesa das famílias é preciso comunicar aquilo que o consumidor precisava ouvir:
— que é uma carne segura,
— rica em nutrientes,
— competitiva em preço,
— e extremamente versátil na culinária.
Campanhas educativas, conteúdos informativos e a presença mais forte nas mídias sociais têm ajudado a construir essa nova imagem. Quando o consumidor entende o produto, ele compra com mais confiança – e essa confiança só existe quando existe uma comunicação clara e alinhada as suas expectativas.
O marketing não apenas divulga, ele conecta. Ao simplificar informações técnicas, aproximar o produtor do consumidor e mostrar maneiras práticas de preparo, a comunicação se torna um instrumento de transformação cultural.
Apresentar novos cortes, propor receitas, explicar processos de qualidade, destacar certificações e reforçar a rastreabilidade são estratégias que aumentam a percepção de valor e, consequentemente, estimulam o consumo.
Digital: o novo campo do agro
As redes sociais se tornaram o “supermercado digital” do consumidor moderno. Ali ele busca receitas, tira dúvidas, avalia produtos e

Foto: Divulgação/Pexels
compartilha experiências.
Indústrias, cooperativas e associações que investem em presença digital tornam-se mais competitivas e ampliam sua capacidade de influenciar preferências.
Vídeos curtos, reels com receitas simples, influenciadores culinários e campanhas segmentadas têm desempenhado papel fundamental na aproximação com o consumidor urbano, historicamente mais distante da realidade da cadeia produtiva e do campo.
Promoções e estratégias de varejo
Além do ambiente digital, o ponto de venda continua sendo o território decisivo da conversão. Embalagens mais atrativas, materiais explicativos, promoções e ações conjuntas com o varejo aumentam a visibilidade e reduzem a insegurança de quem tomando decisão na frente da gondola.
Marketing como elo da cadeia produtiva
A cadeia de carne suína brasileira é altamente tecnificada, sustentável e reconhecida, mas essa excelência precisa ser comunicada. O marketing tem o papel de unir elos – do campo ao consumidor – e transformar conhecimento técnico em mensagens simples e que engajam.
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Expandir sem desmatar: a lógica econômica que vai muito além do discurso
Recuperar áreas degradadas e investir em produtividade sustentável é hoje o caminho mais rentável e estratégico para o agro brasileiro crescer sem comprometer o meio ambiente.

Dias atrás reli um artigo do pesquisador da Embrapa e membro do Conselho Científico Agro Sustentável, Décio Luiz Gazzoni, sobre a expansão agrícola sem desmatamento. O texto, publicado em 2023, ainda é muito atual e me fez refletir novamente sobre algo que sempre defendo: a sustentabilidade não é apenas uma exigência ambiental, é uma decisão econômica inteligente.
Como economista e alguém que acompanha o agro de perto, inclusive viajando para conhecer iniciativas em diferentes países, vejo com muita clareza o que Gazzoni já apontava: a grande fronteira do crescimento brasileiro está dentro das áreas já abertas, principalmente nas pastagens degradadas.

Artigo escrito por Fábio Torquato, economista, formado em Relações Internacionais e fundador da AgroTravel – Foto: Divulgação/AgroTravel
E os números mais recentes reforçam essa visão. Estudos da Embrapa, publicados na revista internacional Land, indicam que o Brasil possui cerca de 27,7 milhões de hectares de pastagens degradadas. Isso significa que temos uma área gigantesca pronta para ser recuperada e incorporada à produção, sem a necessidade de avançar sobre novos biomas.
Além disso, durante a COP29, que aconteceu ano passado em Baku, no Azerbaijão, o Brasil lançou o Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas (PNCPD), que prevê US$ 120 bilhões em investimentos nos próximos dez anos para recuperar 40 milhões de hectares. O número do programa é maior do que o estimado pela Embrapa porque considera áreas em diferentes graus de degradação, aptas para conversão produtiva ao longo dos anos.
Do ponto de vista econômico, é um movimento que faz todo o sentido. Segundo o Broto Notícias, o custo de recuperação de uma pastagem varia de R$ 6 mil a R$ 30 mil por hectare, dependendo do nível de degradação, tipo de solo e métodos adotados. Parece caro? Talvez à primeira vista. Mas quando olhamos para o retorno — aumento de produtividade por hectare, redução de custos operacionais e acesso a mercados premium que pagam mais por produtos rastreáveis e sustentáveis — a conta fecha rapidamente.
Vi isso acontecer em fazendas que visitei em viagens técnicas com a AgroTravel ao redor do mundo.
Como bem lembra Gazzoni, o produtor brasileiro já tem tecnologia e conhecimento para fazer essa virada. O que falta, muitas vezes, é entender que sustentabilidade é investimento, e não custo. E agora, com bilhões de dólares disponíveis em crédito via BNDES, Banco do Brasil e fundos internacionais, esse argumento fica ainda mais forte.
Estamos acompanhando os trabalhos da COP30, que este ano acontece no Brasil, e o mundo inteiro está olhando para nosso país. A oportunidade está escancarada: quem se antecipar, quem enxergar a recuperação de pastagens como um ativo estratégico, vai liderar o agro brasileiro do futuro.
Sempre digo nos grupos que acompanham as viagens da AgroTravel: o futuro do agro não está em abrir novas áreas, mas em transformar cada hectare já aberto em um ativo de alta performance. O artigo de Gazzoni só reforçou o que vejo na prática. E, como economista, reafirmo: essa é a equação mais inteligente que já tivemos nas mãos.
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Meio ambiente e cooperativismo
Movimento econômico e social baseado em valores éticos e solidários, o cooperativismo reafirma, em tempos de COP 30, seu papel essencial na construção de um futuro sustentável, unindo produção, preservação e desenvolvimento coletivo.

As cooperativas representam o mais elevado estágio da organização humana em torno de valores éticos, solidários e sustentáveis. Elas não existem apenas para gerar resultados econômicos, mas para promover o desenvolvimento coletivo em harmonia com o meio ambiente e com as comunidades em que atuam. Por essência e por princípios universais, o cooperativismo defende a preservação da natureza, a gestão responsável dos recursos e o equilíbrio entre produção e sustentabilidade. Esse compromisso ambiental não é um apêndice, mas uma convicção enraizada na própria identidade cooperativista.

Artigo escrito por Vanir Zanatta, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC).
Em tempos de COP 30 é essencial lembrar que, nas cooperativas, cada decisão administrativa, cada projeto de ampliação e cada investimento em unidades industriais, agrícolas, logísticas ou administrativas é precedido por uma análise criteriosa dos impactos ambientais. O crescimento não se mede apenas em números, mas também na capacidade de reduzir emissões, otimizar o uso da água, reciclar resíduos e proteger a biodiversidade. É essa consciência prática e constante que diferencia o cooperativismo das demais formas de organização econômica. Ele entende que não há prosperidade possível em um planeta degradado, nem futuro para a economia sem o equilíbrio ambiental.
As cooperativas são parceiras leais do Poder Público na implementação de políticas voltadas ao meio ambiente. Estão sempre presentes em programas de reflorestamento, saneamento básico, manejo de resíduos, recuperação de nascentes e educação ambiental. Mas sua contribuição vai além da sustentabilidade ecológica — elas também participam ativamente de ações que promovem segurança, educação, cultura e mobilidade urbana, compreendendo que a proteção ambiental é inseparável da qualidade de vida e do bem-estar social. Onde há uma cooperativa, há compromisso com o futuro coletivo.
Essas instituições agem com coerência e exemplo, estimulando a cidadania e o senso de responsabilidade em seus empregados, cooperados, clientes e comunidades. Elas ensinam, pelo exemplo, que o progresso verdadeiro não nasce da exploração desenfreada, mas da gestão equilibrada e consciente dos recursos. O cooperativismo forma cidadãos engajados, capazes de compreender que o planeta é uma herança comum e que sua preservação é um dever de todos.
A defesa do meio ambiente é, portanto, um desdobramento natural dos princípios cooperativistas — entre eles, o interesse pela comunidade, a responsabilidade social e a intercooperação. Cada árvore preservada, cada solo recuperado e cada nascente protegida são expressões concretas de uma filosofia que valoriza a vida. As cooperativas não esperam por imposições legais ou incentivos externos para agir: elas o fazem porque acreditam que sua missão é cuidar das pessoas e do mundo em que elas vivem.
O cooperativismo é, por natureza, o caminho da sustentabilidade. Ele demonstra, todos os dias, que é possível crescer produzindo, prosperar preservando e inovar sem destruir. Em tempos de mudanças climáticas e desafios globais, as cooperativas reafirmam sua vocação de construir um mundo melhor, mais justo e solidário. Elas provam, com ações e resultados, que a economia pode — e deve — caminhar de mãos dadas com o meio ambiente. Essa é a essência do cooperativismo: servir, preservar e transformar.



