Bovinos / Grãos / Máquinas Saúde Animal
Por que as vacas merecem tanta atenção no pré e pós-parto?
Quanto melhor a vaca passar pelo período de transição, melhores resultados terá ao longo da vida
Artigo escrito por Jessica Karina Poncheki, zootecnista, mestre em Ciências Veterinárias, doutora em Zootecnia e equipe Técnica Comercial da Auster Nutrição Animal
Com certeza você já ouviu falar sobre período de transição, que compreende 21 dias antes até 21 dias depois do parto. Mas o que acontece de tão importante nesse período? Por que devemos cuidar dos animais com maior zelo?
Durante esse período, as vacas passam por diversas mudanças em seu organismo, sejam mudanças fisiológicas, hormonais e até mesmo anatômicas, para estarem aptas à nova lactação. Essas mudanças causam um estresse metabólico muito grande e o sistema imune acaba ficando comprometido. Além disso, a maioria das doenças é inter-relacionada, ou seja, é muito provável que o animal que tenha uma doença no período de transição tenha outra doença concomitante ou no período subsequente.
Grande parte das doenças que acometem as vacas leiteiras ocorrem nos primeiros 30 a 60 dias pós-parto. Essas doenças podem acontecer inclusive de maneira subclínica, sem apresentar sintomas que possam ser identificados pelo produtor, causando uma perda em produção de leite de até 30% quando comparado a animais saudáveis. Fora a perda de produção, animais que apresentam doenças no início da lactação têm mais chance de descarte involuntário e mais dificuldade em emprenhar novamente, aumentando o número de dias abertos.
Existem várias estratégias que podem ser empregadas para aumentar o sucesso do período de transição. Uma delas é usar dietas aniônicas durante os 21 dias que antecedem o parto. O objetivo da dieta aniônica é prevenir uma das principais doenças de vacas leiteiras: a hipocalcemia. O DCAD negativo estimula o paratormônio (PTH), que por sua vez aumenta a captação de cálcio dos ossos e também maior absorção de cálcio nos rins, aumentando a disponibilidade no sangue.
A forma clínica da hipocalcemia é a febre do leite, ou vaca caída, como é conhecida popularmente. De maneira geral, a febre do leite acontece em porcentagem muito baixa, cerca de 3 a 5% dos animais e assim a maioria dos produtores acaba se enganando em relação ao real problema, a hipocalcemia subclínica. Trabalhos recentes mostram que a incidência de hipocalcemia subclínica pode chegar a 70-80% dos animais, em rebanhos especializados. O baixo nível de cálcio sanguíneo está correlacionado com casos de retenção de placenta, deslocamento de abomaso, metrite e até mesmo mastite no início da lactação. O cálcio, além de ser extremamente importante para a contração muscular, é fundamental para o bom funcionamento das células de defesa do organismo.
A dieta aniônica é aquela dieta que proporciona uma diferença catiônica-aniônica (DCAD) negativa, ou seja, maior prevalência de cloro (Cl) e enxofre (S) do que sódio (Na) e potássio (K). Muitos acreditam que simplesmente incluir o sal aniônico na dieta resolve o problema, mas é preciso conferir se o DCAD realmente ficou negativo, principalmente em dietas que têm forragens com alto teor de potássio (forragens altamente adubadas, por exemplo). Importante sempre solicitar a avaliação de um nutricionista para adequar a dieta aniônica e também respeitar o período adequado de suplementação, que é 21 até no máximo 30 dias de pré-parto.
Outra doença que tem grande incidência no pós-parto e que os produtores não identificam com facilidade é a cetose. Pode chegar a 40% de incidência em rebanhos especializados. A cetose do início da lactação é resultado da incapacidade da vaca ingerir energia suficiente para suprir sua necessidade, é o que chamamos de balanço energético negativo. Apesar de ser uma doença típica das primeiras semanas pós-parto, ela pode aparecer em alguns animais mais tardiamente na lactação. Não é comum uma vaca morrer por cetose, mas o prejuízo dessa doença está relacionado à menor produção de leite, maior chance de desenvolver outras doenças e atraso reprodutivo.
Escore de condição corporal
Já está comprovado que vacas com elevado escore de condição corporal (ECC) têm maior chance de apresentar cetose. Por isso é importante sempre monitorar o ECC dos animais, seja durante a lactação e até mesmo em animais em crescimento, para que novilhas e vacas cheguem ao parto com ECC entre 3,00 e 3,50 (numa escala de 1 a 5, sendo 1 “muito magro” e 5 “muito gordo”).
Mais importante que o ECC ao parto, devemos nos atentar à perda de ECC no início da lactação. Podemos dizer que todas as vacas modernas vão passar por um período de balanço energético negativo e a perda de peso ocorre até por volta do dia 35-40 pós-parto. Esse processo acontece tanto em primíparas quanto multíparas. Quanto menor for a perda de peso, mais chance a vaca tem de passar pelo balanço energético negativo sem complicações maiores. Estudos mostram que animais que perdem mais de 1 ponto de ECC no início da lactação têm menos chances de sucesso reprodutivo. O ideal é que a vaca tenha uma variação de até 0,5 pontos. Ou seja, se uma vaca tem ECC 3,00 ao parto, o ECC mínimo que ela deve atingir é 2,50.
Também não é ideal que vacas cheguem muito magras ao parto, porque as reservas corporais não são suficientes para atender o período de baixa ingestão de matéria seca. A recuperação de ECC deve acontecer ao longo da lactação, fazendo com que as vacas cheguem a secagem novamente com ECC entre 3,00 e 3,50. Período seco e pré-parto não são bons momentos para corrigir ECC, sempre importante reforçar isso. Para novilhas, elevado ECC durante o desenvolvimento, além de ter maior relação com cetose, diminui o potencial produtivo do animal. Durante o desenvolvimento, caso as novilhas ganhem peso em forma de gordura, a glândula mamária terá mais proporção de tecido adiposo em relação ao tecido secretor, prejudicando a produção de leite.
Conforto
Não menos importante, vale reforçar outros pontos que comprometem o desempenho positivo do período de transição. Conforto talvez seja um dos principais. Muito importante se preocupar com estresse térmico, que afeta tanto a vaca quanto a bezerra que está dentro do útero. Caso seja possível, o ideal é separar primíparas de multíparas, tanto no pré quanto no pós-parto, para que tenham mais chances de receber uma dieta adequada para seu crescimento e tenha menor disputa hierárquica.
Conclusão
Quanto melhor a vaca passar pelo período de transição, melhor será sua produção de leite, menor será a incidência de outras doenças e maior será o sucesso reprodutivo. É tudo isso que um produtor de leite precisa para ter sucesso na sua atividade.
Outras notícias você encontra na edição de Bovinos, Grãos e Máquinas de março/abril de 2020 ou online.
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Prazo para atualização obrigatória de rebanhos começa em 1º de maio no Paraná
GTA somente será emitida após a atualização de todas as espécies animais existentes na propriedade – bovinos, búfalos, equinos, asininos, muares, suínos, ovinos, caprinos, aves, peixes e outros animais aquáticos, colmeias de abelhas e bicho da seda.
A Campanha de Atualização dos Rebanhos do Paraná de 2024 começa em 1º de maio e se estenderá até 30 de junho. A atualização é obrigatória para todos os produtores rurais com animais de produção de qualquer espécie sob sua guarda. Aqueles que não cumprirem a exigência ficarão impedidos de obter a Guia de Trânsito Animal (GTA), documento que permite a movimentação de animais entre propriedades e para abate nos frigoríficos.
A GTA somente será emitida após a atualização de todas as espécies animais existentes na propriedade (bovinos, búfalos, equinos, asininos, muares, suínos, ovinos, caprinos, aves, peixes e outros animais aquáticos, colmeias de abelhas e bicho da seda).
Os produtores podem fazer a atualização pelo aplicativo Paraná Agro (baixe aqui), pelo site da Adapar ou presencialmente em uma das Unidades Locais da Adapar, Sindicatos Rurais ou Escritório de Atendimento de seu município. A partir de 30 de junho, o produtor que não atualizar o rebanho estará sujeito a penalidades previstas na legislação, inclusive multas.
O acesso ao sistema também está disponível de forma direta por meio do link www.produtor.adapar.pr.gov.br/comprovacaorebanho. Para fazer a comprovação, o produtor deve ter o CPF cadastrado. Nos casos em que seja necessário ajustar o cadastro inicial (correção de e-mail ou outra informação), o telefone para contato é (41) 3200-5007.
Segundo a Gerência de Saúde Animal, existem 155 mil propriedades no Paraná e 192 mil explorações pecuárias, sendo que as principais espécies somam, aproximadamente, 8,6 milhões de bovinos, 7 milhões de suínos, 20 mil aviários, 240 mil equídeos, além de outros animais.
Área livre
O Paraná foi reconhecido internacionalmente como Área Livre de Febre Aftosa sem vacinação pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) em 27 de maio de 2022. Como compromisso do Estado, há a necessidade de se realizar o cadastro de todos os animais uma vez por ano, durante os meses de maio e junho.
O gerente de Saúde Animal da Adapar, Rafael Gonçalves Dias, alertou que a atualização do rebanho é importante para os próprios produtores, pois possibilita uma ação rápida nos casos de suspeita inicial de doenças nos animais. “O status de Área Livre Sem Vacinação que o Estado conquistou após muito esforço exige uma vigilância permanente, e é isso que queremos ao exigir a atualização do rebanho das propriedades rurais do Estado”, afirmou.
O diretor-presidente da Adapar, Otamir Cesar Martins, destacou que o trabalho dos profissionais da entidade não parou após a conquista na OIE. “Agora estamos ainda mais vigilantes, cuidando com muita atenção das fronteiras e das divisas do Estado, trocando muitas informações com os Conselhos de Sanidade Agropecuária e com entidades representativas do setor, e precisamos desse auxílio dos produtores para que nos forneçam os dados e juntos consigamos manter o status do Paraná”, disse.
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2º Fórum Nacional do Leite chama atenção para diversidade da cadeia
Programa do fórum inclui palestras sobre temas importantes, como integração da produção de leite com a agricultura, comunicação eficaz, energia renovável e adoção de novas tecnologias.
O 2º Fórum Nacional do Leite, em Brasília, se torna o ponto de encontro para uma conversa crucial sobre o futuro da indústria leiteira. Entre terça 16) e quarta-feira (17), a Embrapa abre suas portas para este evento que promete não apenas debater, mas ser um catalisador de respostas para uma transformação positiva no setor leiteiro brasileiro.
Apesar dos desafios enfrentados, o setor leiteiro continua sendo uma peça fundamental da economia, presente em mais de 90% dos municípios do Brasil e empregando milhões de pessoas. O leite, um alimento indispensável desde o nascimento, representa mais do que apenas um produto, é um símbolo da história e cultura alimentar.
A Abraleite, liderando o evento, espera reunir uma variedade de vozes, desde autoridades públicas até produtores locais, para discutir questões como sustentabilidade, gestão, mercado, pesquisa, inovação e comunicação. Maria Antonieta Guazzelli, diretora de Comunicação e Marketing da Abraleite, destaca o engajamento do setor, mesmo em tempos desafiadores.
Porém, a realidade dentro do setor é diversa e complexa. A heterogeneidade reina, desde o volume de produção até o acesso a tecnologias e assistência técnica. Como Maria Antonieta observa, os produtores são verdadeiros heróis, enfrentando uma batalha diária para manter suas operações funcionando.
O programa do fórum inclui palestras sobre temas importantes, como integração da produção de leite com a agricultura, comunicação eficaz, energia renovável e adoção de novas tecnologias. Mas, além das discussões, o verdadeiro objetivo do evento é destacar a necessidade premente de uma cadeia produtiva mais estruturada e uniforme. “A mensagem principal do evento é a necessidade urgente de uma cadeia mais estruturada, com homogeneidade na qualidade, custo e estabilidade da produção de leite. Somente dessa maneira estaremos fortalecidos para elevar o produto a patamares semelhantes ao de commodities como soja e café”, destaca.
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Declaração de Rebanho 2024 começa nesta segunda-feira no Rio Grande do Sul; saiba como fazer
Desde o ano passado, a declaração pode ser feita diretamente pela internet, em módulo específico dentro do Produtor Online. Prazo encerra em 14 de junho.
A Declaração de Rebanho é uma obrigação sanitária de todos os produtores rurais gaúchos detentores de animais. “Além do atendimento à legislação vigente, os dados nos dão embasamento para que tenhamos uma radiografia da distribuição das populações animais, das faixas etárias. Com isso, podemos ser mais assertivos em nossas políticas públicas de saúde animal”, detalha a diretora do Departamento de Vigilância e Defesa Sanitária Animal da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (DDA/Seapi) do Rio Grande do Sul, Rosane Collares.
Desde o ano passado, a declaração pode ser feita diretamente pela internet, em módulo específico dentro do Produtor Online. Um tutorial ensinando a realizar o preenchimento pode ser consultado aqui. Caso prefira, o produtor também pode fazer o preenchimento nos formulários em PDF ou presencialmente nas Inspetorias ou Escritórios de Defesa Agropecuária, com auxílio dos servidores da Seapi e assinando digitalmente com sua senha do Produtor Online.
A Declaração Anual de Rebanho conta com um formulário de identificação do produtor e características gerais da propriedade. Formulários específicos devem ser preenchidos para cada tipo de espécie animal que seja criada no estabelecimento, como equinos, suínos, bovinos, aves, peixes, abelhas, entre outros.
No formulário de caracterização da propriedade, há campos como situação fundiária, atividade principal desenvolvida na propriedade e somatória das áreas totais, em hectares, com explorações pecuárias. Já os formulários específicos sobre os animais têm questões sobre finalidade da criação, tipo de exploração, classificação da propriedade, tipo de manejo, entre outros.
Em 2023, a declaração teve adesão de 84,19%, índice que se manteve condizente com a média de declarações de rebanho entregues nos anos anteriores. O prazo encerra em 14 de junho.