Suínos Artigo
Políticas e ações para o desenvolvimento da aquicultura e da pesca
Em um ano de eleições onde iremos eleger o presidente da República, governadores, deputados e senadores, é, sem dúvida, um momento privilegiado para fazer o debate em torno de estratégias e políticas para o desenvolvimento da aquicultura e pesca visando consolidar o Brasil como um grande produtor mundial de pescado, que é a nossa vocação. Políticas e ações com visão de longo prazo, estruturantes e estimuladoras de investimentos em modelos sustentáveis e competitivos e capazes de gerar milhares de oportunidades de trabalho, emprego, renda e riqueza para o país são estratégicas necessárias para o setor.
A FAO, recentemente, no Ano Internacional da Pesca Artesanal e da Aquicultura, ao publicar o documento “O Estado Atual da Pesca e Aquicultura no Mundo”, lançou uma ação de caráter estratégica chamada de “Transformação Azul: Uma Visão para Transformar Sistemas Aquáticos Alimentares”. Tal ação parte da visão de que o desafio de alimentar uma população mundial crescente sem esgotar os recursos naturais é cada vez maior e que os sistemas de alimentação aquática são cada vez mais importantes por seu potencial de fornecer alimentos que melhor atendem as necessidades alimentares nutritivas da humanidade. Destaca que 3,2 bilhões de pessoas sofrem de fome ou têm acesso severamente limitado a uma alimentação adequada. E estabelece como meta para 2050 proporcionar um aumento de 25% no consumo de alimentos aquáticos a nível global. Ou seja, um aumento de 5kg/hab/ano, o que significa perspectivas reais de mercado no longo prazo.
O pescado é hoje a proteína de origem animal mais consumida e comercializada no mundo. Segundo dados da FAO (SOFIA 2022), o consumo atual é de 20,2 kg/hab/ano e o valor em exportações é de U$$ 150 bilhões, 49% do valor total de todas as proteínas de origem animal exportadas. Da década de 1960 a 2018, enquanto a população cresceu 1,6% ao ano, o consumo de pescados cresceu 3,1%, praticamente o dobro do aumento da população, enquanto que o consumo outras carnes cresceu 2,3% ao ano. A projeção da FAO para as próximas décadas é a de que o consumo continuará crescendo em função do aumento da população, da renda, da busca por proteínas mais saudáveis e uma maior diversificação nos hábitos alimentares. Para 2030, a FAO projeta um consumo de 21,5 kg/hab/ano e a necessidade adicional de mais 28 milhões de toneladas ao ano para atender à crescente demanda.
Por outro lado, quando analisamos as tendências de crescimento da produção mundial de pescado, três conclusões ficam evidentes: A primeira é a de que nas últimas três décadas foi a aquicultura que supriu a demanda mundial por pescado, com crescimento exponencial, chegando a 82 milhões de toneladas em 2018 e sendo responsável por 51% do consumo humano. A segunda é a de que na próxima década a pesca manter-se-á nos níveis atuais de produção e a aquicultura crescerá 31%, mantendo seu papel de grande responsável pelo suprimento da demanda mundial. E a terceira é a de que o Sudeste Asiático, que atualmente produz 88% da aquicultura mundial, passará por um processo de redução do seu ritmo de crescimento em relação à década passada, em função de limites geográficos, disponibilidade de água e maior regulação ambiental, abrindo grandes oportunidades para países como o Brasil, que reúne condições naturais únicas para a atividade aquícola e com potencial de produzir acima de 20 milhões de toneladas ano, segundo a FAO.
Neste contexto, as oportunidades em termos de produção e de geração de trabalho, emprego, renda e divisas para o país são gigantescas e o mundo precisará do Brasil para o fornecimento desta proteína nas próximas décadas. O Brasil possui a maior reserva de água doce do mundo (13% do total mundial), 8.500 km de costa marítima, 4,5 milhões de km2 de zona econômica exclusiva, clima favorável, espécies nobres, matéria prima para produção de ração, a experiência de outras cadeias de carnes e um contingente de profissionais, pesquisadores e pessoas que vivem da atividade, que o colocam entre os países com as melhores condições de produção de pescados.
Do ponto de vista estratégico, investir na produção de pescado não é apenas importante do ponto de vista econômico, mas também sob aspectos relacionados às preocupações com a saúde e a sustentabilidade, que são muito importantes no longo prazo. O primeiro é o fato do pescado ser a proteína mais saudável entre todas as proteínas de origem animal; segundo, o processo de produção aquícola é o mais sustentável entre todas as carnes, porque é a que tem a melhor conversão alimentar, ou seja, menos alimento consumido para produzir 1 kg de proteína; terceiro, é a que tem a maior produção por hectare, e quarto, é a que gera o menor nível de emissões de gases de efeito estufa. Além do fato, de pouco concorrer por terra com outras culturas e criações, pois ocupa áreas alagadas em propriedades, reservatórios de hidrelétricas e costa marítima.
E para ilustrar a importância estratégica de investir na produção de pescado, basta considerar casos concretos de países vizinhos que investem na aquicultura como é o caso do Equador e do Chile. O Equador, um país com dimensão territorial menor que o estado do Maranhão (283.560 km2 e 331.983 km2 respectivamente), produziu em 2021, um milhão de toneladas de camarões, exportando 842 mil toneladas no valor de U$$ 5,08 bilhões. Já o Chile, que desenvolveu a indústria do salmão, em 2021, exportou 723 mil toneladas de salmão e truta em valores de U$$ 5,189 bilhões, para mais de 70 países.
Ou seja, investir na aquicultura e pesca é estratégico para o país porque oferece uma infinidade de oportunidades. O Brasil reúne as condições para se transformar em um dos maiores produtores e exportadores mundiais de pescado. Basta o setor público e privado alinharem expectativas, políticas e ações estruturantes e criar um ambiente seguro para os negócios e estímulos aos investimentos no setor.
A aquicultura cresce e a cadeia do pescado vai se consolidando
A pesca e aquicultura, cada qual com um papel relevante do ponto de vista econômico e social, vivem realidades e dinâmicas distintas. A pesca tem sua produção estagnada a mais de 20 anos, enfrenta sérios limites de estoques, restrições cada vez maiores à captura, frota com idade avançada, dificuldades de mão de obra especializada, gestão deficiente e políticas públicas insuficientes em apoio ao setor.
Este quadro tem gerado enormes dificuldades para o setor de pesca e fragilizado a indústria de processamento, que tem recorrido cada vez mais à matéria prima oriunda da aquicultura e às importações para manter em funcionamento suas plantas industriais. Além disso, esta situação também tem deixado milhares de pescadores e trabalhadores cada vez mais vulneráveis.
Já a aquicultura tem se constituído no polo dinâmico da cadeia de pescado e crescido a patamares superiores à média mundial. O destaque é para a piscicultura que, segundo o Anuário da Peixe BR, nos últimos 8 anos cresceu 45,3% na produção, passando de 578.800 toneladas em 2014 para 841 mil toneladas em 2021, sendo a tilápia a cadeia que efetivamente se consolidou, crescendo a patamares médios de 10% ao ano e sendo responsável por 63,5% da produção de peixes no Brasil. Atualmente o Brasil é o quarto maior produtor mundial de tilápia, atrás apenas da China, Indonésia e Egito.
Este crescimento na produção de tilápia foi resultado principalmente de avanços no ambiente regulatório, maior acesso ao crédito, desenvolvimento de um pacote tecnológico nas áreas de nutrição, genética, sanidade e equipamentos e da entrada de grandes players no setor como as cooperativas do Sul do Brasil, empresas já consolidadas em outras cadeias de carnes e investidores nos mais diferentes elos da cadeia produtiva. Ao mesmo tempo, os piscicultores têm profissionalizado cada vez mais sua produção com adoção de novas tecnologias, capacitação e novas práticas de manejo.
No caso dos peixes amazônicos, o processo de desenvolvimento se encontra em fase de evolução. O destaque fica por conta dos peixes redondos, especialmente o Tambaqui, além de outros em menor escala como o pintado e pirarucu, cuja produção vem crescendo, mas ainda não consolidou um pacote tecnológico e nem atingiu a maturidade da cadeia.
A produção de camarão vem retomando seu crescimento após ter enfrentado anos de dificuldades com o damping dos Estados Unidos e uma série de doenças como a NIN e a Mancha Branca. Mas tem aperfeiçoado os sistemas de produção, importado material genético, conquistado o mercado interno e retomado as exportações. É um setor que exige investimentos e que tem enorme potencial, pois é um produto de consumo universal.
A indústria, apesar das dificuldades, vem num processo crescente de investimentos, modernizando processos, aumentando a eficiência e colocando produtos cada vez com melhor qualidade no mercado nacional e internacional e tornando-se cada vez mais competitiva. E é certamente o elo da cadeia que deve merecer muita atenção, com regulação e investimentos para sua modernização e ganho de competitividade, pois é ela o fator decisivo na estratégia de colocar o Brasil como um ator relevante a nível global neste segmento produtivo.
Do ponto de vista de mercado, o consumo interno, após crescimento ao longo de vários anos, estagnou com a crise e gira em torno de 10 kg/hab/ano. De um total estimado de 100 kg/hab/ano de carne consumida pelos brasileiros, 46 kg são de frango, 27 kg de carne bovina, 17 kg de carne suína e 10 kg de pescado. Ou seja, é preciso investir no estímulo ao consumo para elevar este patamar para além dos 10% do consumo total de proteína de origem animal.
Em relação ao mercado externo, a balança comercial de pescado é deficitária, com tendência de redução do déficit. Em 2021 o Brasil importou U$$ 1,2 bilhão e exportou U$$ 395 milhões. O destaque ficou por conta das exportações de lagostas, pargos, atuns e tilápia, esta com aumento de 78%, uma demonstração do dinamismo da cadeia. Um problema pendente e urge de solução é a reabertura das exportações para o União Europeia, restrição imposta desde 2018.
Desafios, estratégias e políticas para o setor
Os desafios a serem superados na pesca e aquicultura são muito conhecidos, no caso da pesca, a gestão dos recursos pesqueiros, pesquisa e monitoramento de estoques, estatística, crédito, melhoria da legislação, investimento em infraestrutura, renovação da frota, regulação, melhoria da renda dos pescadores artesanais, etc. Na aquicultura tais problemas são de ordem regulatória, tributária, de acesso ao crédito, assistência técnica, de investimentos em ciência e tecnologia, modernização da indústria e nos temas de sanidade e biossegurança, etc.
São problemas que precisam ser enfrentados com políticas estruturantes, visão de longo prazo e a construção de um modelo de desenvolvimento sustentável do ponto de vista social, econômico e ambiental, inclusivo e competitivo no mercado interno e a nível global, visando transformar o Brasil em grande produtor mundial de pescados e gerador de trabalho, emprego e renda e vida digna para milhões de brasileiros.
O governo brasileiro deve trabalhar com a visão de que o mundo precisará cada vez mais do Brasil para a produção e oferta mundial de pescado e que a cadeia do pescado no país pode se tornar tão ou mais importante que outras cadeias de carnes. Para isso, é estratégico criar um ambiente de negócios seguro com um conjunto de políticas capazes de estimular investimentos e acelerar o processo de desenvolvimento do setor.
Nesta perspectiva, com base na experiência acumulada e no conhecimento do setor, proponho um conjunto de estratégias e ações que podem nortear as políticas a serem implementadas no país:
1. Posicionar a Aquicultura e Pesca como uma Política de Estado e ancorá-la a um Plano de Desenvolvimento de longo prazo (Horizonte de pelo menos 20 anos) com base em um modelo de desenvolvimento sustentável, construído e acordado entre o governo e o setor produtivo.
2. Recriar o Ministério da Pesca e Aquicultura dotando-o de um orçamento robusto e de estrutura com profissionais concursados e de formação multidisciplinar.
3. Investir em pesquisa e desenvolvimento tecnológico para a aquicultura através da Embrapa Pesca e Aquicultura, dotando-a de recursos financeiros, humanos e tecnológicos e criando, sob sua coordenação, um consócio nacional de instituições e entidades de pesquisa visando unificar as políticas em torno de um plano estratégico para o setor com foco em espécies de maior interesse para o Brasil e objetivos de longo prazo.
4. Criar um Instituto de Pesca com a missão de desenvolver pesquisas relacionadas aos recursos pesqueiros e monitoramento de estoques para assegurar as informações necessárias à formulação de políticas para uma gestão eficiente e o desenvolvimento sustentável da pesca. O Instituto pode absorver estruturas de pesquisa dispersas em outros órgãos que estão abandonados ou funcionando precariamente.
5. Elaborar um pacote de medidas de regulação para dar segurança jurídica ao setor e, assim, criar um ambiente que estimule investimentos. Tal pacote passa pela revisão da lei da pesca, da legislação relacionada ao licenciamento ambiental para a aquicultura e Cessão de Águas da União e de normativas relacionadas a indústria de processamento de pescado.
6. Implementar um pacote de medidas tributárias visando reduzir o peso dos tributos ao longo da cadeia da aquicultura e da pesca para dar mais competitividade ao setor, como é o caso da isenção de PIS/Cofins sobre a ração obtendo isonomia com frangos e suínos, a redução de IPI sobre a produção de máquinas e equipamentos e a redução de impostos sobre importação de máquinas e equipamentos sem similaridade nacional.
7. Elevar o volume de recursos para o crédito e melhorar as condições de acesso considerando as necessidades do setor de pesca e aquicultura. No caso da aquicultura, ajustar os níveis de carência e prazos do crédito para custeio conforme o ciclo produtivo das espécies, reduzir as taxas de juros e facilitar o acesso através da inclusão dos estoques como garantia. No caso da pesca, criar uma linha de crédito específica, de longo prazo, para investimentos na renovação da frota, além da garantia de recursos para o custeio da atividade de captura.
8. O governo deve definir, em conjunto com o setor, planos específicos para o desenvolvimento e consolidação das cadeias atualmente mais relevantes da aquicultura e que precisam de impulso para sua consolidação com políticas e ações como as cadeias da tilápia, tambaqui, camarão, piscicultura marinha e aquicultura ornamental, visando dar foco, estabelecer metas e resolver gargalos. E da mesma forma nas cadeias mais sensíveis da pesca como é o caso da lagosta, atuns, sardinha e tainha.
9. Desenvolver, em conjunto com as entidades, uma política específica para a elevação da competitividade da indústria de processamento de pescados, partindo do conceito de que a indústria é um elo estratégico para o desenvolvimento do setor e a concorrência se dá a nível global. Segundo a FAO, 78% do pescado produzido no mundo estão expostos à concorrência internacional. O Plano precisa incluir medidas de ordem regulatória, tributária e de crédito visando à modernização do parque industrial e atração de novos investimentos.
10. Implementar esforços e ações da diplomacia brasileira objetivando a reabertura das exportações brasileiras de pescado à União Europeia, interrompidas desde 2018.
11. Implementar uma política robusta de estímulo ao consumo de pescado no país, uma vez que temos mais de 210 milhões de consumidores, investindo em parceria com o setor privado, no fortalecimento da Semana do Pescado e realizando mudanças na legislação objetivando melhorar a dieta da população para uma vida mais saudável. Implementar efetivamente, em parceria com os estados, uma política de compras de pescado para alimentação escolar das mais de 40 milhões de crianças do Programa Nacional de Alimentação Escolar e ampliar as compras institucionais para órgãos como o Exército, Marinha e Aeronáutica.
12. Investir, em parceria com a APEX, entidades do setor e empresas, em ações que visem promover o pescado brasileiro no mercado internacional, estimular empresas a se habilitarem e melhorar as condições para elevar a competitividade do pescado brasileiro.
13. Criar um forte programa de apoio ao desenvolvimento do cooperativismo e do associativismo na aquicultura e pesca com instrumentos de apoio como assistência técnica, formação profissional e acesso diferenciado ao crédito, visando um modelo de produção mais inclusivo diante dos crescentes desafios do mercado.
14. Fortalecer a Câmara Setorial da Produção e Indústria de Pescado como espaço de discussão e proposição de políticas públicas para o desenvolvimento do setor e colocar em funcionamento os Comitês Permanentes de Gestão da Pesca, constituídos por representantes do governo, setor pesqueiro, instituições de pesquisa e sociedade civil, como espaços de discussão e proposição de políticas para a gestão e ordenamento da pesca.
15. Implementar um sistema moderno de estatística na aquicultura e pesca visando ter dados atualizados e seguros para servirem de base à elaboração de políticas públicas e à tomada de decisões do setor produtivo.
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Suínos
Importância do diagnóstico para controle de diarreia em leitões de maternidade
Ajuda a determinar a etiologia da diarreia, que pode variar desde infecções bacterianas, virais ou parasitárias, até problemas metabólicos ou nutricionais.
Artigo escrito por Lucas Avelino Rezende, consultor de Serviços Técnicos de suínos na Agroceres Multimix
Uma das causas mais frequentes de morte de leitões na maternidade, sem dúvidas, é a diarreia neonatal, que pode ser causada por diversos fatores, incluindo infecções bacterianas, virais ou parasitárias, bem como problemas nutricionais ou ambientais.
Por ser multifatorial, a simples presença de patógenos entéricos nem sempre é suficiente para produzir doença clínica. Diante disso, é importante saber que é necessário haver uma interação hospedeiro-ambiente-patógeno. Diferenças em práticas específicas de manejo e ambiente, bem como características do animal e do rebanho, podem influenciar muito o risco de ocorrência da doença.
Alguns fatores podem contribuir para o aumento na ocorrência da diarreia pré-desmame, como: leitões de baixo peso ao nascer, baixa temperatura ambiental levando ao estresse pelo frio, higiene ruim da gaiola de parição, ingestão de leite e colostro insuficientes e o número insuficiente de tetos para a prole.
As principais causas infecciosas de diarreia em leitões na maternidade no Brasil são as Clostridioses, Colibacilose, Rotaviroses e Coccidiose. Em alguns casos, a coinfecção de dois ou mais agentes podem estar presentes e agravar o caso de diarreia.
A sobrevivência de leitões é influenciada por vários fatores, incluindo ordem de nascimento, peso ao nascer, ingestão de colostro e níveis séricos de imunoglobulina G (IgG). Esses fatores interagem de maneiras complexas para determinar a suscetibilidade do leitão a doenças e a saúde geral.
Um importante ponto para entender a dinâmica do surgimento de diarreias na maternidade é a avaliação da ingestão de colostro pelos leitões, uma vez que é essencial para a imunidade passiva dos leitões recém-nascidos, já que não há transferência de imunoglobulinas e outros componentes da imunidade materna para os leitões via transplacentária.
De modo geral, granjas com baixo peso ao nascimento ou uma grande variabilidade do tamanho dos leitões nascidos são aquelas mais desafiadas com diarreias na maternidade, porque leitões com menor peso ao nascer podem ter dificuldade em consumir colostro suficiente, resultando em níveis mais baixos de IgG e maior suscetibilidade a infecções.
O diagnóstico clínico da causa da diarreia em leitões pode ser subjetivo e propenso a erros. Fatores como estresse, condições ambientais e outros problemas de saúde subjacentes podem ser muito semelhantes aos sintomas da diarreia. Para isso, devemos desenvolver critérios de diagnóstico mais objetivos para diarreia em leitões, como: monitorar os leitões desde o nascimento, permitindo a detecção precoce da doença, incorporar testes laboratoriais (por exemplo, consistência fecal, pH e níveis de eletrólitos), realizar necropsias e exames complementares a detecção viral ou bacteriana, como histopatologia e imuno-histoquímica.
Diagnóstico
Um diagnóstico preciso ajuda a determinar a etiologia da diarreia, que pode variar desde infecções bacterianas, virais ou parasitárias, até problemas metabólicos ou nutricionais. Um dos pilares para isso é a coleta adequada de amostras. Ela permite a identificação dos agentes etiológicos, avaliação da resposta imune e a monitorização da eficácia das terapias.
A escolha do tipo de amostra dependerá do agente etiológico suspeito e dos objetivos do exame. As amostras mais comuns incluem:
- Fezes: A coleta de fezes é o método mais simples e acessível. É importante coletar amostras frescas e representativas de diferentes animais do lote. Para suspeitas virais é importante coletar sempre de animais na fase aguda da doença, quando a eliminação viral é maior. Para casos de suspeita parasitária é importante associar o diagnostico com histopatologia, uma vez que a eliminação do Cystoisospora é intermitente.
- Sangue: A análise do sangue permite avaliar a resposta imune, a presença de anticorpos e detectar alterações bioquímicas.
- Conteúdo intestinal: A coleta do conteúdo intestinal é indicada para a identificação de patógenos que colonizam o intestino delgado ou grosso.
- Tecidos: A coleta de tecidos para histopatologia é parte fundamental e complementar as análises de cultivo bacteriano e detecção viral nas fazes ou conteúdo intestinal.
A coleta de amostras deve ser realizada de forma cuidadosa para evitar a contaminação e garantir a qualidade do material. Os recipientes utilizados para a coleta das amostras devem estar limpos e esterilizados para evitar a contaminação por outros microrganismos. De modo geral, é importante que as amostras sejam bem refrigeradas e nunca congeladas, uma vez que o processo de congelamento pode inviabilizar o cultivo bacteriano.
Após a coleta das amostras, diversos métodos podem ser utilizados para o diagnóstico, dentre eles cultura que possibilita a identificação e o isolamento de bactérias, PCR que detecta a presença de DNA ou RNA de vírus, bactérias com alta especificidade, sorologia para pesquisa de anticorpos contra os agentes infecciosos, indicando uma infecção prévia ou atual e a histopatologia que permite a avaliação de lesões histológicas e a identificação de agentes infecciosos em tecidos.
A histopatologia desempenha um papel crucial no diagnóstico preciso de doenças intestinais em leitões. Através da análise microscópica de tecidos, é possível identificar lesões características de diversas doenças, auxiliando na diferenciação entre condições infecciosas, inflamatórias, neoplásicas e degenerativas.
A escolha do método de coleta de amostra e do exame laboratorial dependerá do agente etiológico suspeito, da fase da doença e dos recursos disponíveis. A correta coleta e o transporte das amostras são essenciais para garantir a qualidade dos resultados.
A interpretação correta dos resultados dos exames laboratoriais é crucial para o diagnóstico preciso e o tratamento adequado da diarreia em leitões. Ela envolve a análise dos dados obtidos, a correlação com os sinais clínicos e a consideração de outros fatores, como a idade dos animais, as condições de manejo e a história epidemiológica do plantel.
Em resumo, o diagnóstico é uma ferramenta essencial no combate à diarreia em leitões de maternidade, uma vez que permite ações direcionadas e eficazes para controlar e prevenir a doença, garantindo a saúde e o bem-estar dos animais.
As referências bibliográficas estão com o autor. Contato: marketing.nutricao@agroceres.com.
O acesso é gratuito e a edição Suínos pode ser lida na íntegra on-line clicando aqui. Tenha uma boa leitura!
Suínos
Especialista evidencia importância de os profissionais da cadeia suinícola entenderem o que é sustentabilidade
Esses profissionais são fundamentais para a gestão do custo da indústria, pois a ração representa cerca de 70% do custo de produção.
Na suinocultura, a sustentabilidade se tornou um dos principais desafios enfrentados pelos profissionais do setor. O médico-veterinário José Francisco Miranda, especialista em Qualidade de Alimentos, destaca que a compreensão desse conceito é fundamental para que zootecnistas e veterinários contribuam efetivamente para a produção sustentável de suínos. “É preciso entender que a sustentabilidade não é custo, mas investimento”, afirma.
Ele ressalta que, ao longo dos últimos 15 anos, a discussão sobre práticas sustentáveis esteve frequentemente atrelada a um aumento nos custos, envolvendo ações como o plantio de árvores e a adequação da dieta dos animais. “Essas práticas eram vistas como um custo, o profissional precisa desmistificar essa visão. Na verdade, boas práticas de produção estão intimamente ligadas a resultados positivos”, explica.
Para Miranda, a eficiência na conversão alimentar é um exemplo claro de como sustentabilidade e produtividade caminham juntas. “Não existe produção com alta conversão alimentar que não seja sustentável. Os números de emissões são baixos quando a eficiência é alta”, ressalta.
Um ponto destacado pelo especialista é o papel dos zootecnistas e nutricionistas na cadeia produtiva. “Esses profissionais são fundamentais para a gestão do custo da indústria, pois a ração representa cerca de 70% do custo de produção. E cada vez mais eles terão um papel significativo na implantação da sustentabilidade dentro das empresas”, afirma.
O entendimento das análises de sustentabilidade e das tecnologias disponíveis é essencial. Miranda menciona, como exemplo, o uso de aditivos nutricionais, como a protease, que permite reduzir a quantidade de soja na ração. “Com isso, é possível diminuir a pegada de carbono em até 12%. No entanto, menos de 40% dos produtores no mundo utilizam essa tecnologia, o que revela uma falta de informação e confiança na eficácia desses produtos”, expõe.
Comunicação e conscientização
Para que as informações sobre sustentabilidade sejam disseminadas na suinocultura é fundamental que os profissionais comuniquem os benefícios dessas práticas não apenas entre si, mas também para a alta direção das empresas. “Os profissionais precisam trazer essa informação para a gestão, conscientes de que a sustentabilidade deve ser uma estratégia de crescimento, não apenas uma preocupação financeira”, destaca Miranda.
O especialista também ressalta a importância de uma colaboração entre academia, indústria e governo para facilitar a adoção de novas tecnologias. “Cada parte da cadeia produtiva deve contribuir para acelerar esse processo. É um esforço coletivo que envolve desde a produção até a comercialização”, enfatiza.
Compromisso do setor
Miranda acredita que o setor está comprometido com a adoção de práticas sustentáveis, embora reconheça a necessidade de discussão sobre o que é realmente necessário para essa transição. “As empresas entendem que a sustentabilidade traz benefícios não apenas para o planeta, mas também para sua própria lucratividade, mas é preciso acelerar a implementação destas práticas sustentáveis”, frisa,
Para se destacar neste cenário, Miranda enfatiza que os profissionais devem se aprofundar nas análises de sustentabilidade e na análise do ciclo de vida dos produtos. “Um bom profissional deve entender desde a produção do grão até o produto final que chega ao consumidor. Se ele se restringir a uma única área, pode perder de vista os benefícios que sua atuação pode trazer para toda a cadeia”, salienta.
A visão do especialista reforça que a sustentabilidade na suinocultura não é uma tendência passageira, mas uma necessidade imediata. “A adoção de práticas sustentáveis, aliada ao conhecimento técnico e científico, é fundamental para garantir um futuro mais responsável e eficiente para a indústria suinícola”, afirma.
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Suínos
Suinocultura teve ano de recuperação, mas cenário é de cautela
Conjuntura foi apresentada ao longo de reunião da Comissão Técnica de Suinocultura da Faep. Encontro também abordou segurança do trabalho em granjas de suínos.
Depois de dois anos difíceis, a suinocultura paranaense iniciou um período de recuperação em 2024. As perspectivas para o fim deste ano são positivas, mas os primeiros meses de 2025 vão exigir cautela dos produtores rurais, que devem ficar de olho em alguns pontos críticos. O cenário foi apresentado em reunião da Comissão Técnica (CT) de Suinocultura do Sistema Faep, realizada na última terça-feira (19). Os apontamentos foram feitos em palestra proferida por Rafael Ribeiro de Lima Filho, assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A mesma conjuntura consta do levantamento de custos de produção do Sistema Faep, que será publicado nos próximos dias.
O setor começou a se recuperar já em janeiro deste ano, com a retomada dos preços. Até novembro, o preço do suíno vivo no Paraná acumulou aumento de 54,4%, com a valorização se acentuando a partir de março. No atacado, o preço da carcaça especial também seguiu esse movimento. A recomposição ajudou o produtor a se refazer de um período em que a atividade trabalhou no vermelho.
Por outro lado, a valorização da carne suína também serve de alerta. Com o aumento de preços, os produtos da suinocultura perdem competitividade, principalmente em relação à carne de frango, que teve alta bem menor ao longo ano: o preço subiu 7,7%, entre janeiro e novembro. Com isso, a tendência é que o frango possa ganhar a preferência do consumidor, em razão dos preços mais vantajosos.
“Temos que nos atentar com a competitividade da carne suína em relação a outras proteínas. Com seus preços subindo bem menos, o frango se tornou mais competitividade. Isso é um ponto de atenção para a suinocultura, neste cenário”, assinalou Lima Filho.
Exportações
Com 381,6 mil matrizes, o Paraná mantém 18% do rebanho brasileiro de suínos. A produção nacional está em estabilidade nos últimos três anos, mas houve uma mudança no portifólio de exportações paranaenses. Com a recomposição de seus rebanhos, a China reduziu as importações de suínos. O país asiático – que chegou a ser o destino de 40% das vendas externas paranaenses em 2019 – vai fechar 2024 com a aquisição de 17% das exportações de suínos do Paraná.
Em contrapartida, os embarques para as Filipinas aumentaram e já respondem por 18% das vendas externas de carne suína do Estado. Entre os destinos crescentes, também aparece o Chile, como destino de 9% das exportações de produtos da suinocultura paranaense. Nesse cenário, o Paraná deve fechar o ano com um aumento de 9% no volume exportado em relação a 2023, atingindo 978 mil toneladas. Os preços, em compensação, estão 2,3% menores. “Apesar disso, as margens de preço começaram a melhorar no segundo semestre”, observou Lima Filho.
Perspectivas
Diante deste cenário, as perspectivas são positivas para este final de ano. O assessor técnico da CNA destaca fatores positivos, como o recebimento do 13º salário pelos trabalhadores, o período de férias e as festas de final de ano. Segundo Lima Filho, tudo isso provoca o aquecimento da economia e tende a aumentar o consumo de carne suína. “A demanda interna aquecida e as exportações em bons volumes devem manter os preços do suíno vivo e da carne sustentados no final deste ano, mantendo um momento positivo para o produtor”, observou o palestrante.
Para 2025, se espera um tímido crescimento de 1,2% no rebanho de suínos, com produção aumentando em 1,6%. As exportações devem crescer 3%, segundo as projeções. Apesar disso, por questões sazonais, os produtores podem esperar uma redução de consumo nos dois primeiros meses de 2025. “É um período em que as pessoas tendem a ter mais contas para pagar, como alguns impostos. Além disso, a maior concorrência da carne de frango pode impactar a demanda doméstica”, disse Lima Filho.
Além disso, o aumento nos preços registrados neste ano pode estimular o alojamento de suínos em 2025. Com isso, pode haver uma futura pressão nos preços nas granjas e nas indústrias. Ou seja, o produtor deve ficar de olho no possível aumento dos custos de produção, puxado principalmente pelo preço do milho, da mão de obra e da energia elétrica. “O cenário continua positivo para a exportação, mas o cenário para o ano que vem é de cautela. O produtor deve se planejar e traçar suas estratégias para essa conjuntura”, apontou o assessor da CNA.
Segurança do trabalho
Além disso, a reunião da CT de Suinocultura da FAEP também contou com uma palestra sobre segurança do trabalho em granjas de suínos. O engenheiro e segurança do trabalho e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Sandro Andrioli Bittencourt, abordou as Normas Regulamentadoras (NRs) que visam prevenir acidentes de trabalho e garantir a segurança e o bem-estar dos trabalhadores.
Entre as normativas detalhadas na apresentação estão a NR-31 (que estabelece as regras de segurança do trabalho no setor agropecuário), a NR-33 (que diz respeito aos espaços confinados, como silos, túneis e moegas) e a NR-35 (que versa sobre trabalho em altura). Em seu catálogo de cursos, o Sistema Faep dispõe de capacitações para cada uma dessas regulamentações.