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Suínos / Peixes

Player global da carne de suína, Aurora Coop projeta expansão nas próximas décadas

Composta por 14 cooperativas singulares, a estrutura do segmento de suínos da cooperativa conta atualmente com 3.625 produtores rurais integrados no campo, responsáveis pelo alojamento de 300 mil matrizes produtivas. As Unidades Disseminadoras de Genes (UDGs) abrigam 1.147 machos reprodutores, que garantem o fornecimento de 1,7 milhão de doses de sêmen por ano.

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Fotos: Divulgação/Comunicação Aurora Coop

Do sonho de fundar uma cooperativa para industrializar a produção de suínos no Oeste catarinense nasceu a Aurora Coop, que após cinco décadas se tornou a cooperativa que mais produz suínos do Brasil e o terceiro maior conglomerado industrial do setor de carnes no país, atrás apenas das empresas privadas JBS e BRF.

Composta por 14 cooperativas singulares, a estrutura do segmento de suínos da cooperativa conta atualmente com 3.625 produtores rurais integrados no campo, responsáveis pelo alojamento de 300 mil matrizes produtivas. As Unidades Disseminadoras de Genes (UDGs) abrigam 1.147 machos reprodutores, que garantem o fornecimento de 1,7 milhão de doses de sêmen por ano.

Nas oito unidades industriais de suínos, localizadas em Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul, foram abatidos 7,376 milhões de suínos em 2023, um aumento de 3,2% em relação ao ano anterior. A produção de carne suína in natura evoluiu 2,9%, atingindo 705,9 mil toneladas, enquanto a industrialização de carnes suínas cresceu 6%, totalizando 428,4 mil toneladas.

A Aurora Coop se firmou como a maior exportadora de carne suína do país, respondendo por quase ¼ das exportações brasileiras do setor. São mais de 80 destinos que são comercializados os produtos da cooperativa, entre os principais estão China, Cingapura, Ásia, Américas, Japão, África, Rússia, Eurásia, Europa, Hong Kong, Coreia do Sul e Canadá. “Graças ao trabalho de um grande time em cooperação, conseguimos atender os mercados mais exigentes e agregar valor a todo o sistema. Os resultados obtidos são distribuídos de maneira equitativa entre produtores, cooperativas filiadas e a própria Aurora Coop” afirma o presidente da Aurora Coop, Neivor Canton, em entrevista exclusiva ao Jornal O Presente Rural.

O início de tudo

Presidente da Aurora Coop, Neivor Canton: “Estamos avançando cada vez mais na produção de alta performance, qualidade de carne, sanidade dos rebanhos, segurança alimentar, sustentabilidade e produção eficaz e respeito ao meio ambiente”.

A história da Aurora Coop começou em 1969 e é um exemplo claro de como a união de esforços e a cooperação podem revolucionar o setor agroindustrial. “A Aurora Coop iniciou suas atividades no setor para dar amparo industrial e agregar valor à produção de suínos dos produtores associados das cooperativas filiadas. Na época, a venda do suíno vivo representava baixos ganhos, além de expor os produtores à sazonalidade e especulação dos atravessadores. Com essa necessidade, a Aurora Coop foi fundada e iniciou seus abates na cidade catarinense de Chapecó” relembra Canton.

Na época, a produção de suínos era tradicional, com pequenas criações em ciclo completo e baixa tecnologia empregada, predominando o “suíno tipo banha”. A ampliação da produção e o crescimento gradativo dos abates ao longo dos anos marcaram o desenvolvimento da suinocultura na Aurora Coop. “Um dos principais marcos foi o melhoramento genético, que passou de suínos ‘tipo banha’ para os suínos ‘tipo carne’, resultando em maior rendimento de carcaça e produção de carne mais magra e saudável, elevando a eficiência na produção” ressalta.

Com o passar das décadas, grandes transformações foram feitas na produção. Foi implantando o sistema de integração, com produtores tendo papéis definidos. Foi organizada a produção de leitoas de genética melhorada e reprodutores machos para atender o campo. “Adotamos melhorias substanciais na nutrição: no início eram concentrados e, depois, com advento dos núcleos vitamínicos minerais, produzimos diferentes rações para as distintas fases de criação, realçando ainda mais o potencial genético dos animais e a produção precoce”, descreve.

Mais tarde surgiram as grandes transformações das instalações, equipamentos mais avançados, fábricas de rações modernas, preocupação com ambiência e bem-estar animal, modernos veículos de transportes com carrocerias bem construídas para proporcionar conforto aos animais durante o transporte, seja dos leitões para recria, terminação ou mesmo para abate. “Nas plantas industriais muita coisa evoluiu e mudou para melhor, com equipamentos mais avançados, melhorando o aproveitamento da produção, proporcionando melhorias nos processos e com resultado final cada vez melhor em qualidade, produtividade, segurança alimentar e eficácia produtiva” salienta Canton.

Desafios do setor

Canton destacou que os maiores desafios enfrentados pela Aurora Coop foram, sem dúvida, a evolução da produção para atender as crescentes demandas do mercado interno e externo. Hoje, a Aurora Coop está presente em dezenas de países com rigorosas exigências de qualidade, sanidade, padrão documental e segurança. “Esse trabalho constante em busca de maior eficiência e qualidade colocou a Aurora Coop em uma posição de destaque na exportação brasileira de carne suína, fornecendo para mercados exigentes como Japão, Estados Unidos, Canadá, México, China, Singapura, entre outros” enaltece o presidente.

Ao longo dos anos, a atividade suinícola passou por transformações significativas e esta evolução contínua exigiu, e ainda exige, grandes investimentos, disposição para inovação e foco em resultados para cumprir as exigências do mercado global. “A Aurora Coop superou esses desafios e se posicionou como um exemplo de excelência e compromisso com a qualidade, contribuindo para o fortalecimento da presença brasileira no mercado internacional de carne suína” salienta Canton.

Força da cooperação

A Aurora Coop, em estreita colaboração com suas 14 cooperativas, se destaca pela robustez e eficiência no fortalecimento da produção e comercialização de suínos. Todo sistema de produção da cooperativa é formado por mais de 100 mil famílias, desde o campo até chegar ao consumidor final.

No campo as famílias cooperadas cuidam das criações, em suas diferentes fases de produção para garantir uma produção eficaz e de alta qualidade. “O cuidado, atenção, empenho e zelo de quem também é dono do negócio, pois associado de fato é dono, fazem com que os resultados sejam muito mais consistentes e sempre buscando a melhoria contínua” afirma Canton.

Para dar suporte a essa rede de produção, a Aurora Coop conta com equipes técnicas especializadas, compostas por técnicos agropecuários, médicos-veterinários, zootecnistas, agrônomos e outros profissionais. Essas equipes realizam um trabalho de extensão rural, levando tecnologia moderna, inovações e boas práticas às famílias cooperadas. “O sucesso do nosso sistema vai além da soma dos esforços individuais; é a multiplicação dos resultados graças ao alinhamento e à cooperação de todos,” ressalta o presidente.

Crescimento constante no mercado externo

A Aurora Coop vem obtendo avanços constantes no mercado externo, se consolidando como um dos principais players no cenário global. Em 2023, a cooperativa alcançou 65,5% de suas receitas no mercado interno, totalizando R$ 14,6 bilhões, enquanto o mercado externo respondeu por 34,5% das receitas, com R$ 7,5 bilhões.

Nos últimos 10 anos, a Aurora Coop experimentou um crescimento impressionante de mais de 700% em sua presença no mercado mundial. Em 2013, as exportações representavam apenas 18,6% da receita operacional bruta, contribuindo com R$ 1,055 bilhão para o caixa da empresa. Já em 2023, as vendas externas corresponderam a um terço das receitas totais.

Para atender à demanda internacional, a Aurora Coop destinou 36,3% dos volumes produzidos ao mercado externo, o que equivale a 678,5 mil toneladas. Este crescimento robusto reflete a capacidade da cooperativa de adaptar-se às exigências dos mercados globais e de manter um alto padrão de qualidade em seus produtos.

Estrutura da Aurora Coop

Com uma força de trabalho de aproximadamente 44.336 empregados diretos, a cooperativa garante a produção de alimentos de alta qualidade e fomenta o desenvolvimento econômico e social das regiões em que atua. As 14 cooperativas agropecuárias filiadas – Cooperalfa, Caslo, Coopervil, Colacer, Copérdia, Cooperitaipu, Cooasgo, Auriverde, Cooper A1, Copercampos, Cocari, Frísia, Castrolanda e Capal – englobam juntas cerca de 85.600 famílias rurais, que são a base produtiva que alimenta a vasta operação industrial da Aurora Coop.

A cooperativa possui um parque industrial que inclui além das plantas frigoríficas de suínos, nove indústrias de processamento de aves, processando 1,6 milhão de aves diariamente, uma planta industrial de lácteos, com processamento de 1,5 milhão de litros de leite por dia, além de 10 unidades de rações e armazenamento, nove incubatórios e granjas, 27 unidades comerciais e 12 distribuidores regionais. Essa infraestrutura robusta permite à cooperativa oferecer um mix de mais de 850 itens, abrangendo produtos à base de carne, leite, massas e vegetais, que chegam tanto ao mercado interno quanto externo.

Em 2023, a Aurora Coop registrou uma receita operacional bruta de R$ 21,7 bilhões. Desse montante, o mercado interno foi responsável por 65,5% da receita operacional bruta e absorveu 63,7% da produção. O mercado externo, por sua vez, contribuiu com 34,5% das receitas, com a marca sendo comercializada para mais de 80 países, o que representa 36,6% da produção total. Os números de produção são igualmente relevantes: foram abatidas 7,3 milhões de cabeças de suínos, 320,8 milhões de cabeças de aves e processados 472,3 milhões de litros de leite ao longo do ano.

A Aurora Coop também é um exemplo de como o cooperativismo pode promover a sustentabilidade e a responsabilidade social. O modelo cooperativo permite que milhares de pequenos produtores se integrem a uma cadeia produtiva de alto valor, garantindo não apenas a viabilidade econômica, mas também a preservação das tradições rurais e a promoção do desenvolvimento sustentável. As 14 cooperativas filiadas são a base desse modelo de sucesso, garantindo que a produção seja realizada de maneira ética e sustentável, respeitando o meio ambiente e as comunidades locais.

Com uma base sólida construída ao longo de cinco décadas, a Aurora Coop continua a investir em tecnologia, inovação e expansão de suas operações, buscando sempre a excelência na produção e a satisfação de seus consumidores.

O percurso da Aurora Coop na suinocultura é um exemplo de como a inovação e o investimento contínuo podem transformar uma atividade tradicional em um modelo de eficiência e sustentabilidade. Cada etapa dessa trajetória reflete o compromisso da cooperativa com a excelência, desde as pequenas criações iniciais até a moderna e complexa cadeia produtiva atual, que não apenas sustenta milhares de famílias no campo, mas também coloca a Aurora Coop como uma gigante do setor de carnes do Brasil.

Objetivos em vista

Visando manter a posição de terceiro maior grupo agroindustrial brasileiro do segmento da proteína animal, a Aurora Coop investiu R$ 2,7 bilhões no último triênio para a modernização e ampliação das unidades fabris e a aquisição de novas plantas industriais.

O plano de investimentos da Aurora Coop permitiu inversões de R$ 1,021 bilhão em 2021, R$ 793,6 milhões em 2022 e de R$ 973,9 milhões em 2023 com a criação de cerca de cinco mil novos postos de trabalho. “Com isso, a cooperativa busca a diversificação de seu portfólio, acompanhando as tendências de consumo, consolidando-se como player global, adotando a filosofia da inovação contínua e gerando valor para cooperados, colaboradores, clientes e consumidores em uma gestão sustentável da cadeia produtiva” sustenta Canton.

Para 2024, uma ampla gama de ações estão sendo desenvolvidas, entre elas o presidente cita a ampliação do Frigorífico Aurora São Gabriel do Oeste, MS, o atendimento à rampa de crescimento de abate do Frigorífico Aurora Guatambu, SC, cuja ampliação foi concluída, a reavaliação do mix produzido em cada planta industrial com foco em otimização e maximização de resultados e a otimização das linhas do recém-adquirido Frigorífico Aurora Castro, PR. “Simultaneamente vai entrar em produção a Unidade Industrial Aurora Chapecó II para a produção de empanados, peito cozido e peito desfiado”, aponta Canton, enfatizado que essas ações sustentam um plano arrojado de crescimento no mercado interno e externo nas próximas décadas. “Estamos avançando cada vez mais na produção de alta performance, qualidade de carne, sanidade dos rebanhos, segurança alimentar, sustentabilidade e produção eficaz e respeito ao meio ambiente”.

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Fonte: O Presente Rural

Suínos / Peixes

Apesar dos custos de produção em queda, desafios persistem na suinocultura

Na gestão de uma granja de suínos, o controle de custos desempenha um papel extremamente importante. A médica-veterinária Nicolle Andreassa Wilsek reforça que a gestão financeira e de dados é
essencial para tomar decisões assertivas, gerenciar recursos e garantir uma maior lucratividade para o produtor.

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Fotos: Divulgação/Arquivo OPR

A suinocultura, um dos pilares da agroindústria nacional, enfrenta desafios constantes, entre os quais o custo de produção se destaca como um dos mais significativos. O setor, altamente dependente de fatores como preços de insumos, produtividade e condições de mercado, é fortemente influenciado pelas variações desses elementos. Nesse contexto, o custo de produção afeta a rentabilidade dos produtores e a competitividade do setor no mercado global.

Médica-veterinária e técnica do Departamento Técnico e Econômico do Sistema Faep/Senar-PR, Nicolle Andreassa Wilsek: “Os desafios relacionados ao custo de produção na suinocultura residem na manutenção do equilíbrio entre os gastos e as receitas” – Foto: Jaqueline Galvão/OP Rural

O último ano encerrou com os custos de produção na atividade atingindo a marca de R$ 6,20 por quilo vivo, queda de 23,16% em relação ao ano anterior, de acordo com dados da Central de Inteligência de Aves e Suínos (CIAS) da Embrapa Suínos e Aves.

Santa Catarina, líder nacional na produção de suínos e referência para os cálculos do CIAS, registrou em março uma queda de 1,42% em relação a fevereiro, com o custo de produção por quilo de suíno vivo chegando a R$ 5,61 em sistema de ciclo completo. No acumulado do ano, houve uma redução de -9,52%, fazendo com que o ICPSuíno atingisse 321,12 pontos. Essa diminuição foi impulsionada pelo custo da alimentação dos suínos, que caiu para R$ 4,09, representando 73,33% do custo total.

Composição dos custos de produção

A médica-veterinária e técnica do Departamento Técnico e Econômico do Sistema Faep/Senar-PR, Nicolle Andreassa Wilsek, explica que os custos de produção na suinocultura são compostos por quatro categorias principais: os custos variáveis, que flutuam de acordo com o nível de produção, englobam despesas diretas do produtor e têm o maior impacto nos custos, incluindo genética, produtos veterinários, mão-de-obra, alimentação, transporte, energia e combustíveis, manutenção e conservação, EPIs, seguros, equipamentos, despesas financeiras, administrativas e ambientais; os custos fixos, por outro lado, ocorrem independentemente da produção e incluem depreciação de máquinas, equipamentos e edificações, além de pagamentos de capital investido na atividade; já os custos operacionais são a soma dos custos variáveis e depreciação; enquanto o custo total é a soma dos custos variáveis e fixos, excluindo o custo operacional.

Impacto direto

O preço dos insumos tem um impacto direto no custo de produção, especialmente porque a alimentação representa uma parcela significativa dos custos no setor, variando de 60 a 70%. “O aumento dos preços do milho e da soja tem um impacto imediato no aumento do custo de produção. Esse efeito também se estende a outros tipos de insumos, como energia elétrica, produtos veterinários, EPIs, entre outros”, expõe Nicolle, que tratou sobre o tema no início de abril durante o Inovameat Toledo, que se destaca como um dos principais encontros dedicados à proteína animal no Paraná.

Gestão financeira

Na gestão de uma granja de suínos, o controle de custos desempenha um papel extremamente importante. A médica-veterinária reforça que a gestão financeira e de dados é essencial para tomar decisões assertivas, gerenciar recursos e garantir uma maior lucratividade para o produtor. “É muito importante para obter um retorno maior, para atenuar os gastos desnecessários e para conservar o patrimônio, preconizando a eficiência econômica e financeira da granja”, enfatizou.

Quanto às estratégias para diminuir os custos de produção na suinocultura, a profissional destaca a importância de identificar os gargalos dentro da granja, isso inclui evitar desperdícios, como de ração, vazamentos de água e a presença de fêmeas improdutivas, entre vários outros fatores que devem estar no radar do produtor.

E da porteira para fora da granja, Nicolle cita a necessidade de pensar na organização industrial, que envolve adequação do peso de abate, adequação de formulações nutricionais e logística de transportes.  “Os desafios relacionados ao custo de produção na suinocultura residem na manutenção do equilíbrio entre os gastos e as receitas, o que é alcançado por meio de bons índices zootécnicos, práticas eficientes de gestão e considerações ambientais equilibradas”, evidencia.

A profissional menciona que a suinocultura se beneficia de diversas tecnologias que podem contribuir para diminuir os custos da atividade. “Nas granjas a automação ajuda a reduzir a necessidade de mão de obra, enquanto o uso de energias renováveis, como solar e biodigestor, auxilia na diminuição dos custos com energia elétrica e combustíveis”, relata, acrescentando: “E a escala de produção influência de forma direta os custos na suinocultura, por isso que quanto mais animais produzindo, mais eficiência terá a propriedade e, consequentemente, maior rentabilidade. Além de otimizar logística de transporte, alimentação e demais suprimentos”, aponta.

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Fonte: O Presente Rural
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Suínos / Peixes No Paraná

Vizinhos compartilham biodigestor para produzir energia limpa da suinocultura

Para viabilizar um sistema de produção de energia limpa, dois produtores de Itaipulândia, no Oeste, decidiram compartilhar um biodigestor e um gerador. Com isso, ambos conseguem baratear contas de luz e ainda manejar os resíduos da produção de maneira ambientalmente responsável.

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A cerca que divide as propriedades de José Valdir Genaro e Ari Facioni, em Itaipulândia, no Oeste do Paraná, é uma mera formalidade quando o assunto é sustentabilidade na suinocultura. Para viabilizar um sistema de produção de energia limpa, os produtores decidiram compartilhar um biodigestor e um gerador. Com isso, os dois conseguem baratear suas contas de luz e ainda manejar os resíduos da produção de maneira ambientalmente responsável.

Usina de BioGás – produção de energia gerada a partir, neste caso, dos dejetos de suínos -, em Itaipulândia, região Oeste do Paraná.- Fotos: Roberto Dziura Jr./AEN

O compartilhamento do sistema também permite que o investimento feito pelos produtores se pague mais rápido, com uma produção diária de energia ainda maior. O modelo também serve de exemplo para pequenos produtores, que individualmente não teriam fôlego financeiro ou volume de dejetos para manter um sistema sozinho.

A história dos produtores é tema da série de reportagens “Paraná, energia verde que renova o campo”, que mostra exemplos de adesão ao programa RenovaPR e ao Banco do Agricultor Paranaense para implantar sistemas de energias sustentáveis em suas propriedades.

“Para o meu vizinho montar o gerador, a quantidade de suínos que ele tinha não seria suficiente para a finalidade que ele tinha imaginado, então ele me convidou para fazer uma parceria, cedendo o esterco dos meus animais para aumentar a capacidade de geração de energia”, explica Ari Facioni.

Com a soma dos dejetos dos 3 mil suínos da propriedade de Genaro e de 1,8 mil da propriedade de Facioni, o gerador instalado por eles produz cerca de 75 kilowatts por hora, funcionando mais de 12 horas por dia. O volume é suficiente para dar independência energética para as duas propriedades de maneira limpa e renovável. “É algo que dá conforto para nós. É uma despesa a menos que nós temos, com perspectiva, inclusive, de render uma renda extra com a venda da energia excedente para a rede”, conta Genaro.

Sistema

A geração de energia a partir dos dejetos e resíduos orgânicos acontece em duas etapas. Na primeira, os restos de ração, fezes, urina e carcaças são depositados em um poço cavado no chão e coberto por uma lona especial, chamado de biodigestor, onde passar por reações químicas que produzem o biogás. Depois, os gases passam por um gerador que os transforma em energia.

Além da energia, o sistema garante o manejo adequado dos dejetos dos animais, um dos maiores passivos da suinocultura atualmente. Com os biodigestores, todos os resíduos têm uma destinação ambientalmente correta, dentro da propriedade. “Dar destino para os dejetos e as carcaças era um serviço complicado, quase insalubre, com muita mosca e mau cheiro. Hoje o material é depositado no biodigestor e o manejo é muito mais limpo e fácil”, explica Genaro.

Os processos químicos do sistema também produzem um composto que pode ser devolvido à lavoura ou ao pasto da propriedade como um fertilizante rico em nutrientes. “Os resíduos voltam como um adubo tratado, de boa qualidade, que não queima a terra”, afirma o produtor Ari Facioni.

Sem este processo, o depósito destes dejetos é altamente prejudicial ao meio ambiente. Por causa disso, muitos suinocultores só conseguem aumentar suas produções ao construírem biodigestores nas suas propriedades. “Muitos agricultores não produzem mais porque isso significa dar destinação a mais dejetos. Sem este processo, os dejetos produzem muitos agentes contaminantes. Por outro lado, quando ele passa pelo biodigestor, ele se transforma em um fertilizante natural que deixa de ser agressivo ao meio ambiente”, explica o diretor ambiental da Prefeitura de Itaipulândia, Altair Ruschel.

Apoio

O investimento feito para a instalação de todo o sistema, que também conta com um triturador de carcaças, foi de cerca de R$ 800 mil e contou com o incentivo do Programa Paraná Energia Renovável (RenovaPR), do Governo do Estado.

O empréstimo para a construção do sistema foi feito a juro zero, por meio do Banco do Agricultor Paranaense, como forma de estimular a transformação energética no campo. O programa é uma iniciativa do Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento, e conta com recursos financeiros do Fundo de Desenvolvimento Econômico (FDE), administrado pela Fomento Paraná.

Ao todo, a subvenção de juros por meio do Governo do Estado para projetos deste tipo já passou de R$ 231 milhões desde 2021. Com este estímulo, já foram investidos mais de R$ 4,2 bilhões em 34 mil projetos de energia renovável em todo o Estado.

Em Itaipulândia, um programa da prefeitura da cidade em parceria com a Itaipu Binacional também oferece subsídio para a instalação dos biodigestores e fornece os geradores em consignação aos suinocultores. “Era uma vontade antiga instalar um sistema destes para gerar energia e dar a destinação para os resíduos da produção. Só assim a gente vai conseguir aumentar a nossa produção. Graças ao subsídio do RenovaPR a gente conseguiu concluir um projeto como este”, diz José Valdir Genaro.

Economia

A produção de suínos para corte é a quinta cultura agropecuária com maior Valor Bruto da Produção (VBP) do Paraná, com R$ 8,45 bilhões movimentados em 2023, de acordo com dados do Departamento de Economia Rural (Deral). Este valor representa 4,27% de toda a economia do campo paranaense.

A região Oeste do Paraná, onde fica Itaipulândia, concentra a maior parte desta produção. A cidade é a sétima maior produtora de suínos do Estado, com R$ 246 milhões em VBP a partir da suinocultura. Toledo (R$ 1,25 bilhão), Santa Helena (R$ 560 milhões), Missal (R$ 482 milhões) e Marechal Cândido Rondon (R$ 450 milhões) são as maiores produtoras do Paraná.

Na comparação com outros estados, o Paraná é o segundo maior produtor do Brasil, com 3,1 milhões de suínos abatidos no primeiro trimestre de 2024, segundo dados da Pesquisa Trimestral de Abate de Animais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Santa Catarina lidera a produção nacional, com 4,1 milhões de animais abatidos. Rio Grande do Sul (2,3 milhões) e Minas Gerais (1,4 milhão) e São Paulo (735 mil) completam a lista de cinco maiores produtores do Brasil.

Série de reportagens

A série de reportagens “Paraná, energia verde que renova o campo” está mostrando exemplos de produtores rurais de todo o Estado que aderiram ao programa RenovaPR para implantar sistemas de energias sustentáveis em suas propriedades. Criado em 2021, o RenovaPR apoia a instalação de unidades de geração distribuída em propriedades rurais paranaenses e, junto ao Banco do Agricultor Paranaense, permite que o produtor invista nesses sistemas com juros reduzidos. Todas as reportagens da série podem ser conferidas aqui.

Confira o vídeo

Fonte: AEN-PR
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Suínos / Peixes

Codigestão de dejetos e plantas: a nova era na produção de biogás

A expansão da produção de biogás por meio da codigestão de dejetos e culturas energéticas em áreas rurais não apenas promove avanços ambientais, mas também traz impactos sociais e econômicos significativos.

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Foto: Geraldo Bubniak

Em busca de explorar o potencial de culturas energéticas como o sorgo e o capim elefante combinados com resíduos da produção animal para a produção de biogás, pesquisadores da Embrapa Suínos e Aves, Embrapa Milho e Sorgo e da Embrapa Gado de Leite apresentaram os primeiros resultados do estudo realizado na Bioköhler Biodigestores durante o Dia de Campo sobre codigestão de culturas energéticas e resíduos da produção animal para produção de biogás, que integrou a programação do Inovameat Toledo, um dos principais eventos dedicados à proteína animal no Paraná, realizado em meados de abril na região Oeste do estado.

Doutor em Química Ambiental e pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Airton Kunz: “Todos os envolvidos na cadeia compreendem a importância desse movimento e estão comprometidos com seu sucesso, visando um futuro mais sustentável para todos” – Foto: Jaqueline Galvão/OP Rural

Liderada pelo doutor em Química Ambiental e pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Airton Kunz, a iniciativa visa avaliar a viabilidade de culturas energéticas na produção sustentável de biogás para validar essa nova abordagem. “A codigestão de resíduos da produção animal com as culturas energéticas representa uma alternativa promissora para melhorar a eficiência da produção de biogás. Essa nova abordagem envolve a mistura de vários resíduos para otimizar a produção de biogás. Ao combinar dejetos suínos, aves ou de bovinos, por exemplo, com culturas energéticas como o sorgo e o capim elefante, podemos alcançar resultados significativos em termos de produção sustentável de energia”, explicou Kunz.

Em comparação com outras formas de produção de biogás, o pesquisador ressalta os benefícios ambientais associados à codigestão de dejetos e culturas energéticas, destacando sua capacidade de conferir maior estabilidade aos processos de geração de biogás. “Isso é fundamental para a implementação bem-sucedida de novos arranjos de produção e utilização do biogás”, afirma.

Desafios técnicos e operacionais

Em relação aos desafios técnicos e operacionais associados ao uso de culturas energéticas na codigestão com dejetos, Kunz destaca a importância de compreender os arranjos produtivos específicos dessas culturas. Ele ressalta a necessidade de considerar as peculiaridades de cada cultura, incluindo seus ciclos de cultivo e colheita, assim como os processos de silagem, para garantir um suprimento consistente desse substrato para a geração de biogás.

Com o uso das culturas energéticas, o pesquisador diz que se busca não apenas melhorar a estabilidade da composição do biogás, mas também dos volumes produzidos em comparação aos processos de monodigestão, que se restringem apenas aos dejetos. “Essa abordagem objetiva aprimorar tanto a qualidade quanto a consistência do biogás gerado. Ao introduzir culturas energéticas na codigestão, espera-se minimizar as variações na composição do biogás e otimizar os volumes produzidos, proporcionando uma fonte de energia mais confiável e previsível”, expõe Kunz.

Impactos sociais e econômicos

A expansão da produção de biogás por meio da codigestão de dejetos e culturas energéticas em áreas rurais não apenas promove avanços ambientais, mas também traz impactos sociais e econômicos significativos. De acordo com Kunz, esse processo impulsiona o desenvolvimento e a criação de empregos, especialmente nas regiões onde as cadeias de produção de proteína animal, como no Sul do Brasil, estão consolidadas, com modelos de integração bem estabelecidos que geram oportunidades de trabalho. “A integração de culturas energéticas e outros resíduos nesse contexto não só diversifica as atividades econômicas, mas também contribui para a geração e agregação de renda”, salienta, frisando: “Essa abordagem não apenas fortalece os elos existentes na cadeia produtiva, mas também abre novas perspectivas para a comunidade rural, promovendo um desenvolvimento mais sustentável e equilibrado”.

Abordagem em evidência

Foto: Monalisa Pereira/Embrapa Suínos e Aves

A adoção da codigestão de dejetos e culturas energéticas para a produção de biogás está ganhando destaque em diversas partes do mundo, com a Europa liderando o caminho. Países como a Alemanha se sobressai, contando com aproximadamente 10 mil plantas de geração de biogás, muitas das quais fundamentadas no uso de culturas energéticas como substrato.

No entanto, o Brasil se diferencia ao adotar uma abordagem adaptada às suas condições tropicais. Aqui, explica o pesquisador, cultivares específicas são desenvolvidas com genética local, dedicadas à geração de biogás. “Esse foco em cultivares adaptadas garante uma eficiência ainda maior no processo de codigestão”, evidencia.

Os pesquisadores brasileiros estão empenhados no desenvolvimento de tecnologias que garantam a eficiência operacional da codigestão, dimensionando cuidadosamente os parâmetros técnicos envolvidos. Isso inclui a determinação precisa da produção de biogás por hectare, a relação ideal entre os materiais dentro dos biodigestores e a quantidade de biogás produzida. “Essa abordagem orientada para a eficiência técnica não apenas impulsiona a inovação no campo da produção de biogás, mas também facilita a adoção dessas tecnologias pelo setor produtivo. A equipe da Embrapa trabalha focada no aprimoramento contínuo desse processo, para posicionar o Brasil como um líder na produção sustentável de biogás, contribuindo desta forma para um futuro energético mais limpo e resiliente”, salienta Kunz.

Na vanguarda

O pesquisador ressalta que a equipe da Embrapa está empenhada em estabelecer arranjos completos para a codigestão de dejetos com culturas energéticas, considerando todos os parâmetros técnicos e as nuances de toda a cadeia produtiva. “Entendemos que este é um processo dinâmico, com espaço para inovação contínua. Uma das áreas-chave de foco da pesquisa é o desenvolvimento de processos de tratamento para aumentar a capacidade de geração de biogás a partir dessas culturas energéticas”, expõe.

Além disso, a Embrapa está conduzindo trabalhos de melhoramento genético de cultivares especificamente voltadas para a produção de biogás. “Este investimento em pesquisa visa otimizar ainda mais o desempenho dessas culturas em termos de produção de biogás”, constata Kunz.

O doutor em Química Ambiental reforça que uma das razões fundamentais para adotar a codigestão de culturas energéticas junto aos dejetos é a complementaridade entre esses materiais. “Enquanto os dejetos líquidos, como dos suínos, têm uma alta concentração de água, em torno de 98%, as culturas energéticas possuem uma porcentagem entre 20 a 27% de matéria seca. Ao combinar esses dois materiais, aumentamos a concentração de sólidos no biodigestor, resultando em processos mais otimizados e maior rendimento na produção de biogás”, sustenta, acrescentando: “Essa abordagem é fundamental para garantir um fornecimento estável de substrato, permitindo o estabelecimento de arranjos para diversos fins, desde a geração de energia elétrica até a produção de biometano, que nada mais é que o biogás purificado, e que está ganhando destaque como uma solução de mobilidade sustentável”.

Para o setor agropecuário, a sustentabilidade dessa operação é especialmente relevante, uam vez que contribui para a redução da dependência de combustíveis fósseis, fortalecendo a competitividade das commodities tanto no mercado nacional como internacional, ao mesmo tempo que o país avança na descarbonização das cadeias de produção animal. “Todos os envolvidos na cadeia compreendem a importância desse movimento e estão comprometidos com seu sucesso, visando um futuro mais sustentável para todos”, exalta Kunz.

A pesquisa da Embrapa representa um importante avanço no setor de energia renovável, oferecendo uma alternativa econômica e ambientalmente sustentável para a produção de biogás. Com a continuidade dos estudos e o apoio de instituições parceiras, espera-se que essa tecnologia contribua significativamente para a transição para um futuro energético mais limpo e eficiente.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de suinocultura acesse a versão digital de Suínos, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
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