Notícias Sistema de Contas Regionais 2022
PIB cresce em 24 unidades da federação
Maiores resultados ocorreram em Roraima com 11,3%, Mato Grosso com 10,4%, Piauí com 6,2% e em Tocantins com 6 %.

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil atingiu 10,1 trilhões em 2022, com crescimento em volume de 3% na comparação com 2021. Entre as 27 unidades da federação, 24 tiveram alta no PIB, sendo Rio Grande do Sul (-2,6%), Espírito Santo (-1,7%) e Pará (-0,7%) as únicas exceções. As maiores elevações, por sua vez, ocorreram em Roraima (11,3%), Mato Grosso (10,4%), Piauí (6,2%) e Tocantins (6,0%).
As informações são do Sistema de Contas Regionais 2022, elaborado pelo IBGE em parceria com os Órgãos Estaduais de Estatística, Secretarias Estaduais de Governo e Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA). “Neste momento, o IBGE está envolvido na revisão das séries de todo o Sistema de Contas, que passará a adotar o ano de 2021 como novo ano-base. Durante este processo, o Sistema de Contas Regionais permanece divulgando suas estimativas, ainda no ano-base 2010. Quando a nova série com o ano-base 2021 for divulgada, os resultados do Sistema de Contas Regionais serão reapresentados, de forma definitiva, integrados, também, à nova série do Sistema de Contas Nacionais. Esclarecemos ainda que para esta divulgação, alguns procedimentos foram adotados como o nível de agregação de atividades econômicas e a não inclusão das tabelas do PIB pela ótica da renda”, explicou Alessandra Poça, gerente de Contas Regionais do IBGE.

Fotos: Divulgação/Arquivo OPR
Entre os três grandes grupos de atividades, a agropecuária apresentou queda em volume de 1,1%, enquanto a Indústria cresceu 1,5% e os Serviços 4,3%. “O aumento do PIB pelo segundo ano consecutivo representa a recuperação da economia brasileira, iniciada em 2021, após a queda observada em 2020, motivada sobretudo pelos efeitos da pandemia Covid-19”, destaca Alessandra.
No âmbito regional, nenhuma das cinco grandes regiões teve queda em volume em 2022. A Região Sul teve resultado tecnicamente estável, ao apresentar variação de 0,1%, enquanto as demais cresceram. “O resultado da Região Sul é explicado sobretudo pelo desempenho do Rio Grande do Sul, que teve redução de 2,6% de seu PIB em função da Agropecuária”, destaca a gerente. Já a Região Centro-Oeste registrou o maior crescimento (5,9%). Todos os seus estados cresceram acima da média, com destaque para Mato Grosso, com alta de 10,4%.
Agropecuária contribui para alta do PIB no Norte e Centro-Oeste
Entre as unidades da federação, as maiores elevações do PIB ocorreram em Roraima (11,3%), Mato Grosso (10,4%), Piauí (6,2%), Tocantins (6,0%) e Acre (6%). O desempenho da Agropecuária teve contribuição decisiva para o resultado de 2022 nestes estados, com destaque para o cultivo de soja que, embora não tenha tido desempenho positivo na média nacional, teve crescimento na Região Norte e parte do Centro-Oeste.
Em Roraima, Tocantins e Acre, além da Agropecuária, o crescimento vinculou-se aos Outros Serviços e Administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social. “A primeira atividade teve avanço significativo em volume nos três estados da Região Norte, com à continuidade do ciclo de retomada de atividades presenciais, iniciado em 2021, enquanto a segunda teve crescimento mais modesto, mas de impacto no desempenho devido ao peso significativo nas respectivas economias”, observa Alessandra.
No Mato Grosso, destacaram-se também as Indústrias de transformação, Outros Serviços e Comércio e reparação de veículos automotores e motocicletas. No Piauí, o crescimento dos Outros Serviços também foi um destaque, seguido por Eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação. “Para esta última, contribuiu a expansão da geração de energia eólica no estado”, explica a gerente.
Indústrias extrativas puxam queda do PIB no Pará e Espírito Santo
As únicas unidades da federação a registrarem queda em volume do PIB em 2022, na comparação com o ano anterior, foram Rio Grande do Sul (-2,6%), Espírito Santo (-1,7%) e
Pará (-0,7%). No Rio Grande do Sul, a redução foi motivada principalmente pela agropecuária, afetada pela estiagem prolongada, que provocou redução das produções de cereais e de soja.
Espírito Santo e Pará, por sua vez, tiveram seus desempenhos em volume justificados sobretudo pelas Indústrias extrativas, pois houve redução da extração de minério de ferro em ambos, e da extração de petróleo apenas no Espírito Santo. Houve impacto também da queda de Indústrias de transformação, que teve retração na Metalurgia, atividade relevante nos dois estados.
Em seguida aparecem Sergipe, Paraná e Santa Catarina com as menores variações em volume do PIB, com taxas de 1,3%, 1,5% e 1,8%; respectivamente. No Sergipe, o crescimento em volume foi limitado pela retração observada nas Indústrias extrativas, devido à extração de petróleo e gás, enquanto Paraná teve redução sobretudo na Agropecuária e Santa Catarina, nas Indústrias de Transformação.

Região Sudeste ganha participação no PIB nacional
Em termos de participação no PIB, entre 2021 e 2022, houve aumento de 1,0 ponto percentual na Região Sudeste, de 0,3 p.p. na Região Centro-Oeste, e redução nas Regiões Sul (-0,7 p.p.), e Norte (- 0,6 p.p.). Já a Região Nordeste manteve sua participação.
Na Região Sudeste, que concentrou 53,3% do PIB nacional, Rio de Janeiro e São Paulo ganharam participação de 0,9 p.p. cada, entre 2021 e 2022. “No Rio de Janeiro, o resultado foi motivado pelas Indústrias extrativas, em que pesaram o aumento em volume e, sobretudo, preço na extração de petróleo e gás. Já em São Paulo, o avanço relativo ocorreu principalmente em Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados, Indústrias de transformação e Comércio e reparação de veículos automotores e motocicletas”, destaca a gerente.
Minas Gerais e Espírito Santo tiveram perda de participação de 0,5 e 0,3 p.p., respectivamente, devido às Indústrias extrativas, pois, além da redução em volume desta atividade nos dois estados, houve redução dos preços internacionais de minério de ferro, movimento contrário ao ocorrido com os preços do petróleo no mesmo ano.
Na Região Centro-Oeste, com 10,6% de participação total, Goiás foi quem teve o maior avanço relativo, com acréscimo de 0,2 p.p., justificado em grande medida pelo Comércio e reparação de veículos automotores e motocicletas e pelas Indústrias de transformação. Mato Grosso do Sul e Distrito Federal também ganharam participação, de 0,1 p.p. cada, com influência das Indústrias de Transformação, na primeira, e de Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados, na segunda. Mato Grosso, apesar do destaque no crescimento em volume, apresentou perda de participação de 0,1 p.p., muito em função da perda de participação do valor adicionado da atividade de Transporte, armazenagem e correio.
A região com a maior perda de participação em 2022 foi a Região Sul (-0,7 p.p.), em que contribuíram os desempenhos do Rio Grande do Sul (-0,6 p.p.), e Santa Catarina (-0,2 p.p.), enquanto o Paraná manteve sua participação. Com isso, a região totalizou 16,6% de participação no PIB do Brasil. “A redução de participação vinculou-se principalmente à agropecuária no Rio Grande do Sul e a Transporte, armazenagem e correio e Comércio e reparação de veículos automotores e motocicletas em Santa Catarina”, explica Alessandra.
A Região Norte, com perda de 0,6 p.p., ficou com 5,7% de participação. O resultado foi devido ao Pará, que apresentou redução relativa equivalente à região, em virtude do desempenho em volume e preço das Indústrias extrativas. O Amazonas teve sua participação reduzida de 1,5% para 1,4% em relação ao PIB nacional, enquanto Rondônia elevou seu peso de 0,6%, em 2021, para 0,7%, em 2022; as demais mantiveram suas participações.
Por fim, a Região Nordeste manteve sua participação de 13,8% no PIB do Brasil, com oscilações apenas no Ceará, Pernambuco e Bahia. Ceará e Pernambuco perderam 0,1 p.p., cada um, enquanto a Bahia ganhou 0,1 p.p, com acréscimo vinculado às Indústrias de Transformação, devido ao refino de petróleo e coque.
Sete estados trocaram de posição no ranking de participação relativa entre 2021 e 2022. O Rio Grande do Sul, mais uma vez caiu, da quarta para a quinta posição, trocando de posição com o Paraná, movimento observado algumas vezes ao longo da série. O Pará caiu da décima para a 12ª posição, enquanto Mato Grosso e Pernambuco avançaram uma posição cada, mesmo com perda de participação, e passaram a ocupar a décima e 11ª posições; respectivamente. Tocantins e Sergipe trocaram de posições, e passaram a ocupar a 23ª e 24ª posições respectivamente, pois, apesar de registrarem a mesma participação até a primeira decimal, houve ganho de participação de Tocantins.
Em 20 anos, São Paulo e Rio de Janeiro perdem peso na economia nacional
Entre 2002 e 2022, as Regiões Centro-Oeste e Norte registraram os maiores ganhos relativos de participação no PIB do país, com avanços de 2,0 p.p. e 1,0 p.p., respectivamente. A única região a perder participação na série foi a Sudeste (-4,1 p.p.), com a redução dos pesos das economias de São Paulo (-3,8 p.p.) e Rio de Janeiro (–0,9 p.p.). Mato Grosso teve o maior acréscimo de participação (1,2 p.p.), seguido por Santa Catarina, (0,9 p.p.) e Minas Gerais (0,7 p.p.).
De 2002 a 2022, o PIB nacional teve aumento médio de 2,2% ao ano (a.a.). Entre as grandes regiões, Norte e Centro-Oeste tiveram as maiores taxas de crescimento anual, ambas 3,2% a.a., enquanto a região Nordeste ficou próxima da média nacional, com 2,3% a.a. As regiões Sudeste e Sul registraram as menores elevações: 1,9% a.a. em ambas.
Entre os estados, Mato Grosso e Tocantins foram os maiores destaques, ambos com variação média de 4,8% a.a., seguidos por Roraima (4,5% a.a.), Piauí (3,7% a.a.) e Maranhão

Foto: Marcelo Casal Jr./Agência Brasil
(3,4% a.a.). Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro mantiveram-se como as duas unidades da federação de menores aumentos médios em volume na série, com 1,4% a.a. cada.
Distrito Federal permanece com o maior PIB per capita do país
O PIB per capita do Brasil, em 2022, foi R$ 49.638,29 e o Distrito Federal manteve-se como a unidade da federação com o maior PIB per capita brasileiro, com valor de R$ 116.713,39: 2,4 vezes maior que a média nacional. Rio de Janeiro ocupou a segunda posição, com R$ 71.849,66, seguido por São Paulo, com R$ 70.470,53. O cálculo considerou a população residente dos primeiros resultados Censo Demográfico 2022.
No ranking dos 10 maiores PIB per capita, aparecem apenas unidades da federação das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Na Região Centro-Oeste, além da primeira posição ocupada pelo Distrito Federal, ao longo de toda a série, destaca-se o avanço relativo do Mato Grosso, que saiu da 11ª para a quarta posição, entre 2002 e 2022. Mato Grosso do Sul ocupou a sexta posição em 2022, avançando duas posições em relação a 2002, enquanto Goiás aparece na 10ª posição, mesma colocação ocupada no início da série; embora tenha trocado de posição ao longo do período.
Mais sobre a pesquisa
O Sistema de Contas Regionais traz dados sobre a composição e evolução do PIB de cada Unidade da Federação, calculados a partir de estatísticas sobre o valor anual da produção, consumo intermediário e valor adicionado bruto de cada atividade econômica. Permitem, ainda, estimar o valor adicionado bruto anual, por atividade, expresso em valores correntes e constantes, e o PIB, avaliado a preço de mercado, de cada Unidade da Federação.

Notícias
Brasil lança plataforma sobre saúde dos solos e reforça liderança em agricultura sustentável
Ferramenta da Embrapa reúne mais de 56 mil análises e mostra que dois terços das áreas avaliadas no País apresentam solos saudáveis ou em recuperação.

Foi lançada na última segunda-feira (17), na Agrizone, a Casa da Agricultura Sustentável da Embrapa durante a COP 30, em Belém (PA), a Plataforma Saúde do Solo BR – Solos resilientes para sistemas agrícolas sustentáveis. A cerimônia ocorreu no Auditório 1 e marcou a apresentação oficial da tecnologia criada pela Embrapa, que reúne pela primeira vez informações sobre a saúde dos solos brasileiros em um ambiente digital e de acesso público.
Na abertura, a presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, destacou o simbolismo de apresentar a novidade dentro da Agrizone, espaço que abriga soluções de baixo carbono. “A Agrizone é o começo de uma nova jornada. Estamos mostrando para o mundo inteiro, de forma concreta, que temos tecnologia para desenvolver uma agricultura cada vez mais resiliente às mudanças climáticas”, afirmou.
Para ela, o lançamento reforça o protagonismo do Brasil como líder global em inovação sustentável para a agricultura e os sistemas alimentares.
A Plataforma disponibiliza dados de saúde do solo por estado e município e já reúne cerca de 56 mil amostras, provenientes de 1.502 municípios de todas as regiões do País. O sistema foi construído a partir da geoespacialização dos dados gerados pela BioAS – Bioanálise de Solos, explicou a pesquisadora da Embrapa Cerrados, Ieda Mendes. A ferramenta permite filtros por estado, município, ano, culturas e texturas de solo, além de comparações entre diferentes cultivos. Também gera mapas e gráficos baseados nas funções da bioanálise, como ciclagem, armazenamento e suprimento de nutrientes.
Solos mais saudáveis e produtivos
Os primeiros mapas revelam que predominam no Brasil solos saudáveis ou em processo de recuperação. “Somando solos saudáveis e solos em recuperação, vemos que 66% das áreas analisadas apresentam condições muito boas de saúde. Apenas 4% das amostras representam solos doentes”, afirmou Ieda.
Mato Grosso lidera o número de amostras (10.905), seguido por Minas Gerais (9.680), Paraná (7.607) e Goiás (6.519). O município com maior participação é Alto Taquari (MT), com 1.837 amostras.
A pesquisadora também destacou a forte relação entre saúde do solo e produtividade. No Mato Grosso, a integração dos dados da BioAS com índices do IBGE mostrou que o aumento na proporção de solos doentes está diretamente associado à queda na produção de soja. “Cada 1% de aumento em solos doentes representa uma perda média de 3,1 kg de soja por hectare”.
Em contraste, análises exclusivamente químicas não apresentaram correlação com a produtividade atual, o que indica que o limite produtivo da agricultura brasileira está cada vez mais ligado à qualidade biológica dos solos.
Ieda ressaltou ainda a participação dos produtores na construção da ferramenta. “Temos contribuições que vão do Acre ao extremo sul do Rio Grande do Sul. Ter um trabalho publicado em revistas técnicas é muito bom, mas ver uma tecnologia sendo adotada em todo o Brasil é maravilhoso”, afirmou.
A expectativa é transformar a plataforma, no futuro, em um observatório nacional da saúde dos solos, capaz de gerar relatórios detalhados por município e conectar pesquisadores, laboratórios e agricultores.
A Plataforma Saúde do Solo BR foi desenvolvida com base nos dados da BioAS, tecnologia lançada em 2020 e criada pela Embrapa Cerrados em parceria com a Embrapa Agrobiologia. O método integra indicadores biológicos (atividade enzimática), físicos (textura) e químicos (fertilidade e matéria orgânica).
O banco de dados atual resulta de uma colaboração com 33 laboratórios comerciais de análise de solo, integrantes da Rede Embrapa e usuários da tecnologia.
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Pressões ambientais externas reacendem disputa sobre limites da autorregulação no agronegócio
Advogada alerta que auditorias privadas e acordos setoriais, como a Moratória da Soja, podem impor obrigações além da lei, gerar assimetria concorrencial e tensionar princípios constitucionais.

A intensificação de exigências internacionais para que produtores brasileiros comprovem de forma contínua a inexistência de dano ambiental como condição para exportar commodities, especialmente a soja, reacendeu um debate jurídico sensível no país. Para a advogada especialista em Direito Agrário e do Agronegócio, Márcia de Alcântara, parte dessas exigências ultrapassa a pauta da sustentabilidade e pode entrar em choque com princípios constitucionais e da ordem econômica, sobretudo quando assumem caráter padronizado e coordenado por grandes agentes privados.
Segundo ela, quando tradings internacionais reunidas em associações que concentram parcela expressiva do mercado firmam pactos com auditorias e monitoramentos próprios, acabam impondo obrigações ambientais adicionais às previstas em lei. “Esses acordos privados transferem ao produtor o ônus de provar continuamente que não causa dano ambiental, invertendo a presunção de legalidade e de boa-fé de quem cumpre o Código Florestal e demais normas”, explica.
Márcia observa que esse tipo de exigência, quando se torna condição para o acesso ao mercado, tensiona princípios como a segurança jurídica e o devido processo. “Quando a obrigação é padronizada e coordenada por agentes dominantes, deixa de ser mera cláusula contratual e passa a se aproximar de uma restrição coletiva, com efeito de boicote”, afirma.
Moratória da Soja e coordenação setorial

Advogada Márcia de Alcântara: “Esses arranjos acabam por substituir o papel do Estado, criando regras opacas e sem devido processo ao produtor”
Entre os casos emblemáticos está a chamada Moratória da Soja, que proíbe a compra do grão oriundo de áreas desmatadas após 2008 na Amazônia. Para a advogada, o modelo de funcionamento da moratória se assemelha a uma forma de regulação privada, com possíveis implicações concorrenciais. “Há três pontos críticos nesse arranjo: a coordenação por associações que concentram parcela relevante do mercado; a troca de informações sensíveis e listas de exclusão que não são públicas; e a imposição de padrões mais severos do que a legislação brasileira. Esse conjunto pode configurar conduta anticoncorrencial, conforme o artigo 36 da Lei 12.529/2011”, avalia.
Ela acrescenta que cobranças financeiras ou bloqueios comerciais aplicados a produtores que não apresentem documentação adicional de regularidade ambiental podem representar penalidades privadas sem respaldo legal. O tema, segundo Márcia, já vem sendo acompanhado tanto pela autoridade antitruste quanto pelo Judiciário.
Marco jurídico recente
Nos últimos meses, a controvérsia ganhou contornos institucionais. Uma decisão liminar do ministro Flávio Dino, no Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a suspensão de processos judiciais e administrativos ligados à Moratória da Soja até o julgamento de mérito, para evitar decisões contraditórias e permitir uma análise concentrada do conflito. Paralelamente, o Cade decidiu aguardar o posicionamento do STF antes de seguir com as investigações, embora mantenha atenção sobre a troca de informações sensíveis entre empresas durante o período.
Entidades como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Aprosoja-MT defendem que a atuação concorrencial do Estado não seja paralisada. Elas argumentam que há indícios de coordenação de compra e que a suspensão integral das apurações pode esvaziar a tutela concorrencial.
Entre os principais questionamentos estão a extrapolação normativa de acordos privados, a falta de transparência nos critérios de exclusão e a substituição da regulação pública por padrões privados de alcance global. “Esses arranjos acabam por substituir o papel do Estado, criando regras opacas e sem devido processo ao produtor”, pontua Márcia.
Possíveis desfechos

Foto: Gilson Abreu
A especialista mapeia dois possíveis desfechos para o impasse. Caso o STF decida a favor dos produtores, será reforçada a soberania regulatória do Estado brasileiro, com o reconhecimento de que critérios ambientais devem ser definidos por normas públicas claras e transparentes. A decisão poderia irradiar efeitos para outras cadeias produtivas, como carne, milho e café, estabelecendo parâmetros de ESG proporcionais e auditáveis. Em sentido contrário, validar a autorregulação privada abriria espaço para padrões globais com camadas adicionais de exigência, elevando custos de conformidade e reduzindo a concorrência.
Para Márcia, o Brasil já conta com um dos arcabouços ambientais mais robustos do mundo. O Código Florestal impõe a manutenção de Reserva Legal e Áreas de Preservação Permanente, exige o Cadastro Ambiental Rural georreferenciado e conta com sistemas de monitoramento por satélite e mecanismos de compensação ambiental.
Além disso, o país dispõe de políticas estruturantes como a Política Nacional do Meio Ambiente, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) e a Política Nacional sobre Mudança do Clima. “Esse conjunto garante previsibilidade ao produtor regular e comprova que o país possui um marco ambiental sólido. Por isso, exigências externas precisam respeitar a proporcionalidade, a transparência e o devido processo. Caso contrário, correm o risco de ferir a legislação brasileira e distorcer a concorrência”, ressalta.
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Brasil e Reino Unido avançam em diálogo sobre agro de baixo carbono na COP30
Fávaro apresenta o Caminho Verde Brasil e discute novas parcerias para financiar recuperação ambiental e ampliar práticas sustentáveis no campo.

O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, se reuniu nesta quarta-feira (19) com a ministra da Natureza do Reino Unido, Mary Creagh, durante a COP30, em Belém. O encontro teve como foco a apresentação das práticas sustentáveis adotadas pelo setor agropecuário brasileiro, reconhecidas internacionalmente por aliarem produtividade e conservação ambiental.
Fávaro destacou as iniciativas do Caminho Verde Brasil, programa que visa impulsionar a recuperação ambiental e o aumento da produtividade por meio da restauração de áreas degradadas e da promoção de tecnologias sustentáveis no campo.
Segundo o ministro, a estratégia tem ampliado a competitividade do agro brasileiro, com acesso a mercados mais exigentes, ao mesmo tempo em que contribui para metas climáticas.
A agenda também incluiu discussões sobre mecanismos de financiamento voltados a ampliar projetos de sustentabilidade no setor. As autoridades avaliaram oportunidades de cooperação entre Brasil e Reino Unido para apoiar ações de recuperação ambiental, inovação e produção de baixo carbono na agricultura.



