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Pesquisas comprovam efeitos danosos das cinzas de queimadas no solo e na água

Resultados são importantes porque, ao longo do tempo, o fogo tem sido utilizado na agricultura como estratégia para o manejo de áreas

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Darlan Brito

Cientistas concluíram que a presença das cinzas das queimadas altera a composição química do solo e, quando ocorre o escoamento superficial após uma chuva, substâncias presentes nelas atingem as águas subterrâneas e superficiais, contaminando-as. Compostos nitrogenados e potássio, especialmente, se solubilizam na água e, em altas concentrações, se tornam tóxicos às espécies aquáticas e aos organismos do solo e também afetam a qualidade da água.

Esses resultados são importantes porque, ao longo do tempo, o fogo tem sido utilizado na agricultura como estratégia para o manejo de áreas. As cinzas das queimadas são compostas por grande quantidade de nutrientes (cálcio, fósforo, magnésio, nitrogênio, entre outros) que fertilizam o solo, e, por isso, favorecem o crescimento de plantas. Além disso, o fogo é importante para a germinação das sementes de algumas espécies nativas e para ocupação da área por espécies exóticas. A presença das cinzas também tem forte influência na revegetação das áreas queimadas, mantendo, após algum tempo de recuperação, parte das espécies nativas.

Apesar desses pontos positivos, pesquisas desenvolvidas pela Embrapa Cerrados (DF) apontaram que as cinzas de queimadas provocaram na água subterrânea baixa oxigenação, aumento de pH (potencial hidrogeniônico) e presença de compostos químicos, como potássio e nitrato (nitrogênio nítrico). Os microcrustáceos e os peixes foram os mais sensíveis às mudanças no ambiente aquático e as alterações também afetaram espécies da macrofauna do solo, como os enquitreídeos (“minhoquinhas brancas”).

Efeitos tóxicos das cinzas

Durante dois anos (2010-2012), no âmbito do Projeto “Queimadas e Recursos Hídricos”, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pesquisadores da Embrapa avaliaram as transformações físico-químicas na água e os efeitos tóxicos das cinzas sobre espécies de peixes, microcrustáceos e caramujos.

A primeira consequência das cinzas nos ambientes aquáticos é a redução de oxigênio dissolvido na água em ambiente lêntico, ou seja, em água parada como em lagos, açudes, poços e reservatórios. O oxigênio dissolvido é essencial para a subsistência de peixes e outros seres aquáticos, além de auxiliar na decomposição natural da matéria orgânica.

As cinzas também provocaram aumento de pH, que influencia a qualidade da água. O potencial hidrogeniônico é uma escala que mede o nível de acidez da água. A recomendação da American Public Health Association é que o pH varie de 7 a 10, o que caracteriza uma água neutra ou alcalina. “Só por baixar o oxigênio, a cinza já afeta as espécies aquáticas, pois aquele local estará ’morto‘ por um tempo”, ressalta o pesquisador da Embrapa Eduardo Cyrino de Oliveira Filho.

Para fazer as análises, foram desenvolvidos experimentos em laboratório. As cinzas retiradas de locais de queimada foram colocadas em recipientes de água com oxigenação. A espécie mais sensível foram os microcrustáceos. Cyrino esclarece que faltaram nesses experimentos testes com algas. Assim como as plantas, as algas precisam de nutrientes para seu crescimento e, portanto, teoricamente, a população de algas deve aumentar em uma água contendo cinzas.

Dando continuidade às pesquisas, nos anos de 2013 a 2016 foi executado o “Projeto Cinzas: aspectos motivacionais de uso do fogo e efeitos sobre a água e o solo como subsídios para mitigação dessa prática na agricultura”, também financiado pelo CNPq.

Convém salientar que o uso do fogo é permitido em atividades agropastoris, quando for utilizado em processos de queima controlada, isto é, o uso do fogo em áreas com limites físicos previamente estabelecidos. Para tanto, a autorização deve ser obtida no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Ibama) ou em órgão ambiental estadual.

O objetivo do Projeto Cinzas foi integrar dados ambientais a sociais. “A integração dos dados obtidos na temática ambiental aliados aos da análise do aspecto comportamental permitirá a elaboração de instrumentos de transferência mais sólidos, contendo não só indicações técnicas, mas informações próximas da realidade que possam gerar maior impacto nas comunidades visando à mitigação do uso do fogo na agricultura”, destaca o cientista.

Espécies prejudicadas pelas cinzas

Para os estudos ambientais, foi utilizada uma área nos campos experimentais da Embrapa Cerrados onde, acidentalmente, ocorreu uma queimada em 2013. Essa área foi comparada a outra, ao lado, que não sofreu ação do fogo. Nessas áreas foram realizados estudos de química da cinza, contaminação de solo e de água subterrânea.

Os pesquisadores realizaram testes laboratoriais de toxidade crônica em larvas de peixe, caramujo e larvas de vermes de solo. As espécies ficaram maior tempo expostas às cinzas para verificar os danos causados ao organismo. Em alta concentração de cinzas (a partir de 50 gramas de cinza em um litro de água), as espécies aquáticas e os organismos de solo não sobrevivem.

Na concentração de 12 gramas de cinza em um litro de água, os peixes já apresentaram redução de percentual de ovos eclodidos, comprometendo a evolução da espécie. A reprodução dos caramujos e de vermes de solo foi afetada com a presença de cinzas, existindo o risco de ao longo do tempo levar à extinção das espécies.

Compostos no solo e na água subterrânea

Durante 12 meses, os pesquisadores monitoraram o fluxo de nutrientes no solo e na água subterrânea em duas áreas.  Foi observado no solo, que os valores de cálcio, magnésio e fósforo aumentaram consideravelmente na área queimada, quando comparados aos mesmos elementos na área não queimada. O potássio não obteve grande variação, mas alcançou seu maior pico de incorporação no solo quatro meses após a queimada.

A matéria orgânica foi alta na área queimada em todo o período analisado, em função da grande quantidade de material vegetal ainda remanescente, bem como raízes queimadas. Também foi observado grande aumento nas concentrações de nitrogênio no solo logo após o evento de queimada. Entre as formas de nitrogênio, o nitrato foi aquele que mais aumentou, retornando aos níveis do solo da área não queimada após 60 dias.

A qualidade da água é determinada pela quantidade e pela qualidade dos minerais que ela contém. O aumento desses elementos pode tornar a água tóxica. Para monitorar a presença dos minerais foram construídos dois poços artesianos. Um no local em que ocorreu a queimada e outro em área paralela que não sofreu ação do fogo, usada como área controle.

A água do poço aberto em local de queimada apresentou aumento de cálcio, magnésio, nitrato e, em alguns meses, de potássio. Cyrino explicou que os valores de nitrato observados na água subterrânea podem ter sido decorrentes da lixiviação desse componente, principalmente pelo fato de o solo do Cerrado ser mais arenoso.

Os níveis de nitrato na água, como acrescenta o pesquisador, podem também ser decorrentes da alta decomposição da matéria orgânica queimada no solo, o que gerou nitrato no solo como resíduo da decomposição. Apesar do aumento da concentração de nitrato na água do poço, o valor foi abaixo do máximo permitido para uso da água subterrânea no consumo humano. De acordo com Resolução do Conama (396/2008), o limite máximo é de dez partes por milhão (ppm).

A concentração maior de potássio na água subterrânea foi verificada logo após a queimada. Nos meses seguintes, os valores sofreram redução, e, próximo de um ano após a queimada, a concentração foi praticamente semelhante à verificada na área de controle. “Essa água ficou contaminada por um tempo. Em alguns meses, a concentração de potássio passou do nível permitido para água potável. Isso significa que essa água não podia, nesse período, ser usada para consumo in natura. Para se tornar água potável, precisaria de tratamento específico”, conta o pesquisador.

Os valores de cálcio e magnésio foram maiores no período chuvoso e bem baixos no período seco. Os pesquisadores concluíram que não houve uma influência da presença de cinzas no solo sobre esses parâmetros na água subterrânea, o que indica ausência de lixiviação de cálcio e magnésio em área de queimada.

Fonte: Embrapa Cerrados

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Santa Catarina registra avanço simultâneo nas importações e exportações de milho em 2025

Volume importado sobe 31,5% e embarques aumentam 243%, refletindo demanda das cadeias produtivas e oportunidades geradas pela proximidade dos portos.

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Foto: Cláudio Neves

As importações de milho seguem em ritmo acelerado em Santa Catarina ao longo de 2025. De janeiro a outubro, o estado comprou mais de 349,1 mil toneladas, volume 31,5% superior ao do mesmo período do ano passado, segundo dados do Boletim Agropecuário de Santa Catarina, elaborado pela Epagri/Cepa com base no Comex Stat/MDIC. Em termos de valor, o milho importado movimentou US$ 59,74 milhões, alta de 23,5% frente ao acumulado de 2024. Toda a origem é atribuída ao Paraguai, principal fornecedor externo do cereal para o mercado catarinense.

Foto: Claudio Neves

A tendência de expansão no abastecimento externo se intensificou no segundo semestre. Em outubro, Santa Catarina importou mais de 63 mil toneladas, mantendo a curva ascendente registrada desde julho, quando os volumes mensais passaram consistentemente da casa das 50 mil toneladas. A Epagri/Cepa aponta que esse movimento deve avançar até novembro, período em que a demanda das agroindústrias de aves, suínos e bovinos segue aquecida.

Os dados mensais ilustram essa escalada. De outubro de 2024 a outubro de 2025, as importações variaram de mínimas próximas a 3,4 mil toneladas (março/25) a máximas superiores a 63 mil toneladas (setembro/25). Nesse intervalo, meses como junho, julho e agosto concentraram forte entrada do cereal, acompanhados de receitas que oscilaram entre US$ 7,4 milhões e US$ 11,2 milhões.

Exportações crescem apesar do déficit interno
Em um cenário aparentemente contraditório, o estado, que possui déficit anual estimado em 6 milhões de toneladas de milho para suprir seu grande parque agroindustrial, também ampliou as exportações do grão em 2025.

Até outubro, Santa Catarina embarcou 130,1 mil toneladas, um salto de 243,9% em relação ao mesmo período de 2024. O valor exportado também chamou atenção: US$ 30,71 milhões, alta de 282,33% na comparação anual.

Foto: Claudio Neves

Segundo a Epagri/Cepa, essa movimentação ocorre majoritariamente em regiões produtoras próximas aos portos catarinenses, onde os preços de exportação tornam-se mais competitivos que os do mercado interno, especialmente quando o câmbio favorece vendas externas ou quando há descompasso logístico entre oferta e demanda regional.

Essa dinâmica reforça um traço estrutural conhecido do agro catarinense: ao mesmo tempo em que é um dos maiores consumidores de milho do país, devido ao peso das cadeias de proteína animal, Santa Catarina não alcança autossuficiência e depende do cereal de outras regiões e países para abastecimento. A exportação pontual ocorre quando há excedentes regionais temporários, oportunidades comerciais ou vantagens logísticas.

Perspectivas
Com a entrada gradual da nova safra 2025/26 no estado e no Centro-Oeste brasileiro, a tendência é que os volumes importados se acomodem a partir do fim do ano. No entanto, o comportamento do câmbio, os preços internacionais e o resultado final da produção catarinense seguirão determinando a necessidade de compras externas — e, por outro lado, a competitividade das exportações.

Para a Epagri/Cepa, o quadro de 2025 reforça tanto a importância do milho como insumo estratégico para as cadeias de proteína animal quanto a vulnerabilidade decorrente da dependência externa e interestadual do cereal. Santa Catarina continua sendo um estado que importa para abastecer seu agro e exporta quando a lógica de mercado permite, um equilíbrio dinâmico que movimenta portos, indústrias e produtores ao longo de todo o ano.

Fonte: O Presente Rural
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Brasil e Japão avançam em tratativas para ampliar comércio agro

Reunião entre Mapa e MAFF reforça pedido de auditoria japonesa para habilitar exportações de carne bovina e aprofunda cooperação técnica entre os países.

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Foto: Percio Campos/Mapa

OMinistério da Agricultura e Pecuária (Mapa), representado pelo secretário de Comércio e Relações Internacionais, Luis Rua, realizou uma reunião bilateral com o vice-ministro internacional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Florestas (MAFF), Osamu Kubota, para fortalecer a agenda comercial entre os países e aprofundar o diálogo sobre temas da relação bilateral.

No encontro, a delegação brasileira apresentou as principais prioridades do Brasil, incluindo temas regulatórios e iniciativas de cooperação, e reiterou o pedido para o agendamento da auditoria japonesa necessária para a abertura do mercado para exportação de carne bovina brasileira. O Mapa também destacou avanços recentes no diálogo e reforçou os pontos considerados estratégicos para ampliar o fluxo comercial e aprimorar mecanismos de parceria.

Os representantes japoneses compartilharam seus interesses e expectativas, demonstrando disposição para intensificar o diálogo técnico e buscar convergência nas agendas de interesse mútuo.

Fonte: Assessoria Mapa
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Bioinsumos colocam agro brasileiro na liderança da transição sustentável

Soluções biológicas reposicionam o agronegócio como força estratégica na agenda climática global.

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Fotos: Koppert Brasil

A sustentabilidade como a conhecemos já não é suficiente. A nova fronteira da produção agrícola tem nome e propósito: agricultura sustentável, um modelo que revitaliza o solo, amplia a biodiversidade e aumenta a captura de carbono. Em destaque nas discussões da COP30, o tema reposiciona o agronegócio como parte da solução, consolidando-se como uma das estratégias mais promissoras para recuperação de agro-ecossistemas, captura de carbono e mitigação das mudanças climáticas.

Thiago Castro, Gerente de P&D da Koppert Brasil participa de painel na AgriZone, durante a COP30: “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida”

Atualmente, a agricultura e o uso da terra correspondem a 23% das emissões globais de gases do efeito, aproximadamente. Ao migrar para práticas sustentáveis, lavouras deixam de ser fontes de emissão e tornam-se sumidouros de carbono, “reservatórios” naturais que filtram o dióxido de carbono da atmosfera. “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida. E não tem como falar em vida no solo sem falar em controle biológico”, afirma o PhD em Entomologia com ênfase em Controle Biológico, Thiago Castro.

Segudo ele, ao introduzir um inimigo natural para combater uma praga, devolvemos ao ecossistema uma peça que faltava. “Isso fortalece a teia biológica, melhora a estrutura do solo, aumenta a disponibilidade de nutrientes e reduz a necessidade de intervenções agressivas. É a própria natureza trabalhando a nosso favor”, ressalta.

As soluções biológicas para a agricultura incluem produtos à base de micro e macroorganismos e extratos vegetais, sendo biodefensivos (para controle de pragas e doenças), bioativadores (que auxiliam na nutrição e saúde das plantas) e bioestimulantes (que melhoram a disponibilidade de nutrientes no solo).

Maior mercado mundial de bioinsumos

O Brasil é protagonista nesse campo: cerca de 61% dos produtores fazem uso regular de insumos biológicos agrícolas, uma taxa quatro vezes maior que a média global. Para a safra de 2025/26, o setor projeta um crescimento de 13% na adoção dessas tecnologias.

A vespa Trichogramma galloi e o fungo Beauveria bassiana (Cepa Esalq PL 63) são exemplos de macro e microrganismos amplamente utilizados nas culturas de cana-de-açúcar, soja, milho e algodão, para o controle de lagartas e mosca-branca, respectivamente. Esses agentes atuam nas pragas sem afetar polinizadores e organismos benéficos para o ecossistema.

Os impactos do manejo biológico são mensuráveis: maior porosidade do solo, retenção de água e nutrientes, menor erosão; menor dependência de fertilizantes e inseticidas sintéticos, diminuição na resistência de pragas; equilíbrio ecológico e estabilidade produtiva.

Entre as práticas sustentáveis que já fazem parte da rotina do agro brasileiro estão o uso de inoculantes e fungos benéficos, a rotação de culturas, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e o manejo biológico de pragas e doenças. Práticas que estimulam a vida no solo e o equilíbrio natural no campo. “Os produtores que adotam manejo biológico investem em seu maior ativo que é a terra”, salienta Castro, acrescentando: “O manejo biológico não é uma tendência, é uma necessidade do planeta, e a agricultura pode e deve ser o caminho para a regeneração ambiental, para esse equilíbrio que buscamos e precisamos”.

Fonte: Assessoria Koppert Brasil
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