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Suínos / Peixes

Pesquisadores obtêm gelatina da pele do tambaqui

Produção usa pele, que era descartada ou enviada para indústrias de ração. Avanço agrega valor e reduz resíduos do processamento. A gelatina de pele de tambaqui pode servir para produzir filmes, microcápsulas para remédios e espessantes de alimentos.

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Gelatina de peixe em estado de gel - Fotos: Fernanda Ramalho Procópio

Pesquisadores da Embrapa encontraram uma alternativa para substituir a gelatina convencional que é desenvolvida a partir do couro bovino e suíno. Eles obtiveram sucesso ao obter gelatina da pele do tambaqui (Colossoma macropomum), peixe nativo brasileiro de grande relevância econômica

Pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, Manuel Antônio Jacintho: “A conversão dos resíduos em produtos de valor torna a cadeia mais sustentável” – Foto: Gisele Rosso

A pele, as escamas e a cabeça, geralmente, são utilizadas para fabricação de ração para peixes. No entanto, a gelatina produzida tem aplicações alimentícias e farmacêuticas, ou seja, transforma-se em um coproduto com maior valor agregado. As propriedades observadas indicam que a gelatina de pele de tambaqui pode servir para diversas aplicações, incluindo filmes, microcápsulas para remédios, espessantes etc. A iniciativa ainda pode contribuir para a redução de resíduos.

Piscicultura em crescimento
A produção de peixes no Brasil tem crescido substancialmente, além de ter aperfeiçoado seu processamento. Pesquisas estão sendo realizadas pela Embrapa, no projeto BRS Aqua, para melhorar e ampliar a cadeia. De acordo com o Anuário da Associação Brasileira de Piscicultura (Peixe BR 2022), a produção nacional de pescado aumentou 45% desde 2014. A tilápia responde por 65% da produção. Em relação a espécies nativas, o tambaqui lidera, com mais de 30% da produção total.

O projeto Ações estruturantes e inovação para o fortalecimento das cadeias produtivas da aquicultura no Brasil (BRS Aqua) tem apoio financeiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Secretaria Nacional de Aquicultura e Pesca do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA). Trata-se de uma rede coordenada pela Embrapa Pesca e Aquicultura (TO) e dela fazem parte mais de 240 empregados de 23 unidades da empresa, além de mais de 60 parceiros, entre públicos e privados.

De acordo com o pesquisador Manuel Antônio Jacintho, da Embrapa Pecuária Sudeste, dependendo da espécie e do tipo de produto, até 50% das matérias-primas iniciais são descartadas, incluindo cabeças, carcaças, pele e escamas. “A conversão dos resíduos em produtos de valor torna a cadeia mais sustentável”, destaca Jacintho.

O pesquisador lembra que a diversidade de espécies de peixes nativos brasileiros para consumo humano é grande. Assim, há um potencial para maior exploração das propriedades tecnológicas dos resíduos da cadeia pesqueira.

O tambaqui é o peixe nativo mais produzido no Brasil. “É importante mostrar seu diferencial em relação a outros peixes. Mostrar que a gelatina da pele de tambaqui possui características tecnológicas capazes de substituir as gelatinas bovinas e suínas. A composição de aminoácidos é mais rica do que a de peixes de água fria. A força de gel (consistência) pode ser comparada a de bovinos e suínos”, explica Fernanda Ramalho Procópio, bolsista CNPq de pós-doutorado na época do estudo.

Vários fatores interferem na composição da pele do peixe, como espécie, idade, sexo e tipo de alimento. O teor de proteína pode influenciar no rendimento da extração da gelatina e na composição de aminoácidos. Além disso, o alto teor de gordura dificulta a obtenção de um produto inodoro e translúcido, importante na percepção dos consumidores.

Nesse aspecto, o tambaqui apresentou vantagem; sua pele possui maior teor de proteína (27,10 ± 0,02) e menor teor de gordura (1,17 ± 0,08) do que outras espécies. Com isso, o rendimento de extração da gelatina da pele foi de quase 60%. Os principais aminoácidos encontrados foram glicina, prolina e hidroxiprolina, responsáveis pela sua firmeza.

Gelatina de boa qualidade
A gelatina da pele do tambaqui apresentou características adequadas aos padrões do produto convencional. O rendimento de extração foi de aproximadamente 53% (com base na pele inicial seca), poder de gelificação adequado (força de Bloom média), baixa turbidez e níveis significativos de aminoácidos, que influenciam na resistência do gel.

Segundo o supervisor do Laboratório de Tecnologia da Biomassa da Embrapa Agroindústria Tropical (CE), Adriano Mattos, a temperatura de gelificação observada (16 °C) apresentou-se compatível com a da gelatina bovina comercial (17 °C). O comportamento térmico da gelatina da pele do tambaqui foi investigado por meio de calorimetria exploratória diferencial. Ele complementa que a temperatura de início de degradação, em torno de 105 °C, favorece sua aplicação potencial no desenvolvimento de novos materiais na indústria alimentícia e farmacêutica.

A força de gel (consistência) foi de 123 ± 20 gramas, o que a classifica como Bloom médio. As gelatinas comerciais são normalmente classificadas com base nos valores de Bloom alto (200-300 gramas), médio (100-200 gramas) e baixo (50-100 gramas). A cor esbranquiçada, inodora e sem turbidez está dentro dos requisitos comerciais da gelatina.

Potencial
Com Bloom médio, a gelatina da pele de tambaqui pode ser adequada para determinados produtos, para clarificar bebidas e para produção de cápsulas moles.

O maior teor de aminoácidos, em comparação com outras espécies de peixes, sugere que a pele do tambaqui também poderia servir como uma fonte valiosa de peptídeos de colágeno. Segundo Fernanda Procópio, embora esse aspecto não tenha sido o foco principal do trabalho, várias investigações demonstraram o potencial da utilização de resíduos de pesca como fonte de peptídeos bioativos. “Explorar aplicações e estratégias para a utilização de resíduos do processamento de tambaqui contribui para o desenvolvimento de uma economia circular na indústria de processamento de pescado, aumentando potencialmente a renda do produtor e reduzindo o impacto ambiental associado ao descarte de resíduos”, explica Manuel Jacintho.

As características da gelatina a tornam um material promissor para a produção de micropartículas, filmes e hidrogéis. A sequência desse trabalho já está em andamento, investigando a potencial aplicação deste material na produção de filmes como componentes de embalagens de alimentos.

Artigo

O estudo foi publicado na revista internacional Journal of aquatic food product technology (2024, vol. 33), com o título An Enhancement to Development, Characterization and Potential Application of Gelatin Extracted from Native Brazilian Fish Skin, traduzido para o Português significa Uma melhoria no desenvolvimento, caracterização e potencial de Aplicação de Gelatina Extraída de Pele de Peixe Nativo Brasileiro.

Fonte: Assessoria Embrapa Agroindústria Tropical

Suínos / Peixes

Reforço das barreiras da pele e mucosa intestinal de peixes com produtos específicos de leveduras

A preservação da saúde e do bem-estar dos peixes por meio da nutrição contribui efetivamente para preservar o desempenho biológico da produção.

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Fotos: Shutterstock

No contexto atual, há necessidade de garantir os volumes de produção e a qualidade desejados, controlando cuidadosamente os custos de produção. Manter a saúde dos peixes e minimizar o uso de antimicrobianos tornou-se um dos principais alvos em todo o setor aquícola. A prevenção por meio da nutrição graças a ingredientes funcionais tem sido reconhecida como uma abordagem valiosa. Dentre esses ingredientes funcionais, alguns produtos específicos de leveduras, como associação de frações de leveduras, podem contribuir para reforçar a robustez e a resiliência dos peixes a agressões e doenças externas e, assim, contribuir para o desempenho positivo da piscicultura.

Ao longo de todo o seu ciclo de criação, os peixes são constantemente expostos a uma série de fatores externos que ameaçam a integridade e o bom funcionamento do intestino e da mucosa da pele. Tais fatores incluem variações bruscas na qualidade e temperatura da água, crescimento de patógenos e agentes nocivos não infecciosos, bem como exposição a práticas de manejo necessárias, como superpopulação, manejo e transporte.

Estes insultos são tipicamente cumulativos, resultando em condições complexas e progressivamente agravantes ao intestino e à pele. Quando essas barreiras protetoras essenciais são comprometidas, as funções fisiológicas normais não podem ser mantidas, a imunidade é rompida, a saúde e o desempenho são comprometidos. Esses desafios ao complexo mucoso são parte dos principais desafios das exigências de metas de produção, de custo e de qualidade, que comprometem a sustentabilidade da piscicultura moderna.

Contra estas condições multifatoriais, estratégias com foco na prevenção são essenciais e devem incluir medidas que minimizem o estresse e promovam a robustez dos peixes, a resiliência aos estressores e a capacidade imunológica diante de quaisquer desafios reais. Ao surgir, medidas de intervenção que aumentam a resposta imune e a resiliência à doença, o reparo tecidual e a ingestão de alimento, ajudarão a recuperar o desempenho biológico imediato e de longo prazo.

A boa notícia é que, de acordo com publicações recentes nesta área, produtos específicos de leveduras podem participar desta estratégia global.

Nem todas as leveduras são iguais

Quando se trata de funcionalidade, nem todas as leveduras, nem produtos de levedura são equivalentes: tanto a composição genética da cepa quanto seu processo de produção podem influenciar suas propriedades e atividade in vivo. Distingue-se a levedura viva ativa usada como probióticos, de toda a levedura inativa, que pode vir sob várias formas. O extrato de levedura, que representa a fração solúvel da levedura inativa e pode ser utilizado como fonte rica em nutrientes e a parede celular da levedura, a camada externa que é a fração insolúvel da levedura inativada. A parede celular de levedura é uma fonte de mananoligossacarídeos (MOS) e β-glucanos (Figura 1).

 

A parede celular de levedura, como fonte de MOS, ajuda a aumentar a robustez do intestino e da pele por meio de vários mecanismos demonstrados, por exemplo, aumentando a maturidade intestinal, a excreção e a qualidade de muco da pele. A suplementação dietética contínua, com benefícios de parede celular de leveduras devidamente selecionadas e bem documentadas, é uma estratégia de saúde preventiva essencial para ajudar a garantir a saúde e o desempenho.

Estudo e resultados

Em recente pesquisa científica de 2023, pesquisadores avaliaram a relação entre a estrutura de distintos produtos de parede celular de leveduras e os benefícios imunes em modelo laboratorial de peixes, zebrafish (peixe paulistinha). Foram avaliados quatro produtos derivados da parede de leveduras de distintas cepas e avaliadas em alimentos de peixes em doses similares.
Além da composição da parede celular (MOS e β-glucanos), o estudo evidenciou uma relação entre certas características estruturais desta parede de levedura (p. ex. comprimento da cadeia de MOS e β-glucanos) e a interação com receptores de células do hospedeiro (Figura 2). Cada tipo de parede celular de levedura provocou uma resposta imune distinta, documentando suas propriedades específicas em relação a patologias infecciosas ou não-infecciosas.

Figura 2 – Composição bioquímica de quatro paredes celulares de leveduras PC 1, PC 2, PC 3 e PC 4 (A) e Capacidade de ligação do MOS e do β-glucano das paredes de levedura avaliadas (B).

Este novo estudo fornece uma ilustração perfeita da afirmação de que nem todas as leveduras, nem as paredes celulares de levedura, são iguais quando se trata de sua atividade biológica, abrindo caminho para a nutrição funcional de precisão na aquicultura.

Enfrentamento dos desafios no ciclo produtivo da aquicultura

O manejo da transferência e manuseio dos peixes é fundamental para o desempenho da aquicultura. Eles podem gerar estresse significativo, danos físicos e fisiológicos com impactos duradouros. Feridas físicas, tanto lesões macro quanto microscópicas, são evidentemente essenciais para minimizar, inclusive para prevenir infecções secundárias às quais os peixes manipulados são particularmente sensíveis.

Uma associação de frações de três leveduras inativas, produzidas utilizando-se de processo dedicado foi desenvolvida. Durante o desenvolvimento deste produto, combinou-se padrões microbianos de leveduras a um amplo painel de receptores imunológicos. Incluiu-se avaliações de respostas pró e anti-inflamatórias, aumentando a agilidade imunológica geral e a capacidade de resposta no intestino e da pele dos animais, sem risco de fadiga imunológica.

Em estudo publicado em 2023, outros estudiosos avaliaram que o uso deste aditivo de associação de frações de leveduras acelerou a cicatrização de feridas na pele de modelo de peixes, promoveu a resolução da inflamação, facilitando, assim, a síntese de tecido novo na base da ferida e seu fechamento, como pode ser observado na Figura 3.

Conclusão

A preservação da saúde e do bem-estar dos peixes por meio da nutrição contribui efetivamente para preservar o desempenho biológico da produção. Produtos específicos de parede celular de levedura têm se mostrado eficazes para aumentar a robustez dos peixes e proteger sua saúde, especialmente durante situações desafiadoras.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor da piscicultura brasileira acesse a versão digital de Aquicultura, que pode ser lida na íntegra on-line clicando aqui. Tenha uma boa leitura!

Fonte: Por François Cellier, mestre em Aquicultura e gerente Técnico e Desenvolvimento de Negócios de Aquicultura Latam na Lallemand Animal Nutrition; e Eric Leclercq, mestre em Aquicultura Sustentável, doutor em Fisiologia do Salmão Aplicada à Agricultura Industrial e gerente de P&D Global em Aquicultura na Lallemand Animal Nutrition. 
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Suínos / Peixes

Embrapa oferece nova ferramenta para estimativa de custos de produção de suínos e frangos de corte

Sua aplicação para estimativa de custos agropecuários requer o envolvimento de produtores e produtoras e profissionais da assistência técnica pública e privada e de associações de representação dos diferentes elos das cadeias produtivas.

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Foto: Divulgação/Arquivo OPR

A Embrapa Suínos e Aves disponibiliza gratuitamente, desde o dia 1º de julho, dois formulários em planilhas eletrônicas para estimativa de custos de produção de suínos e frangos de corte. Essas ferramentas foram desenvolvidas especificamente para gerar estimativas em painéis com especialistas ou grupo focal.

O painel é uma técnica qualitativa para levantamento de dados primários. O método consiste em uma reunião, liderada por uma equipe de pesquisa, com um grupo de pessoas. Sua aplicação para estimativa de custos agropecuários requer o envolvimento de produtores e produtoras e profissionais da assistência técnica pública e privada e de associações de representação dos diferentes elos das cadeias produtivas. “Os atores envolvidos na produção de suínos e frangos de corte têm demandado à Embrapa ferramentas para gerar estimativas dos custos de produção de fácil uso e que empreguem metodologias adequadas em apoio à formulação de políticas públicas e estratégias setoriais. Os formulários em planilha eletrônica para frangos de corte e suínos atendem essa demanda, permitindo organizar informações levantadas em painel de especialistas e gerar estimativas dos custos de sistemas de produção representativos a partir do levantamento de coeficientes técnicos e preços de mercado”, diz o pesquisador Marcelo Miele, da área de socioeconomia da Embrapa Suínos e Aves.

Os formulários permitem estimar os custos para seis sistemas de produção em suinocultura (suínos em ciclo completo, leitões desmamados, leitões até a fase de creche e engorda de leitões em crechários, de suínos em terminação e de suínos em desmama-terminação) e quatro sistemas de produção em avicultura de corte (aviário convencional, climatizado com pressão positiva, climatizado com pressão negativa e dark house). Também permitem estimar os custos para três diferentes regiões com diferentes sistemas de produção, bem como calcular o custo médio ponderado para as diferentes regiões e sistemas de produção caracterizados pelos participantes da reunião em painel.

As planilhas estão disponíveis no site da CIAS, a Central de Inteligência de Aves e Suínos da Embrapa, na seção “Ferramentas”, no link embrapa.br/suinos-e-aves/cias/ferramentas e são resultado de um projeto em parceria com a Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS) e associações estaduais de suinocultores, que têm apoiado com recursos financeiros, articulação institucional e equipe técnica. Também foi editado um comunicado técnico com orientações sobre o uso das planilhas eletrônicas, disponível no endereço embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1165256/planilha-eletronica-para-estimar-custos-de-suinos-e-frangos-de-corte-em-reunioes-de-painel.

O analista da Embrapa Suínos e Aves, Ari Jarbas Sandi lembra que as ferramentas propostas não substituem outras ferramentas simplificadas como o aplicativo “Custo Fácil” e a planilha “Cálculo Simplificado do Custo de Produção do Integrado de Suínos e Frangos de Corte”, que visam auxiliar produtores integrados e a assistência técnica na gestão da granja e na geração de informações para estimar o custo de produção. “Essas ferramentas continuam disponíveis para esse público, enquanto que os novos formulários são mais voltados a associações e instituições que desejam estimar custos para uma região ou estado a partir de reuniões em painel com especialistas”, diz.

Outras informações sobre a planilha eletrônica podem ser obtidas com o Serviço de Atendimento ao Cidadão da Embrapa (SAC), também disponível pelo WhatsApp, pelo número (49) 3441-0400.

Fonte: Assessoria Embrapa Suínos e Aves
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Suínos / Peixes

Especialista dá dicas para água e outras abordagens simples que reforçam a imunidade dos suínos

A suinocultura opera como uma cadeia integrada, em que cada elo influencia o próximo. Essa compreensão é essencial para garantir que a imunidade dos suínos seja construída de forma eficaz desde o início, reduzindo assim o risco de condenações no abate.

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Foto: Divulgação/Arquivo OPR

“A imunidade é algo muito simples, não tem porquê dificultar”. É o que diz o médico-veterinário e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Luiz Felipe Caron. “Imunidade é uma palavra que remete a tanta coisa, tem a ver com diferentes situações, que costumo dividir em três momentos. São aqueles três P’s que a gente tanto trabalha, que são as pessoas, os processos e os produtos”, sintetiza.

Médico-veterinário e professor da UFPR, Luiz Felipe Caron expressa otimismo em relação à evolução na criação de suínos e incentiva investimentos em medidas simples e eficazes – Foto: Francieli Baumgarten

O tema foi abordado durante palestra de Caron no Encontro Regional da Associação Brasileira de Veterinários Especialistas em Suínos (Abraves) 2024, realizado em Toledo, no Paraná. “Acredito essencialmente que o que nos trouxe até aqui, pensando na produção de suíno agora, ou há dois, três anos atrás, não é o que vai nos levar daqui para frente, por vários motivos. E a imunidade é um eixo fundamental. Por que não é o que vai nos levar daqui para frente? Porque existem outras exigências, existem outras situações de consumidor. Existem outras pressões emergentes e reemergentes, e isso vai ter que trazer novos processos no sistema de produção, com produtos que nós não vamos mais poder usar, ou vamos ter que aprender a usar, desde que as pessoas melhorem”, pondera Caron.

Ele complementa: “Daqui pra frente a gente vai ter que se reinventar enquanto acessar essas informações e colocar elas na prática. Porque para colocar elas na prática amanhã, basta a gente respeitar o tripé que cobra da imunidade aquilo que é o ambiente que o animal vive. Aquilo que é a nutrição que o animal recebe e, finalmente, a parte simples, que são os produtos aditivos, vacinas, antibióticos, que vamos ou não usar. Tudo isso, quando misturamos, podemos entender por que o sistema imune vai ter prioridade sempre durante infecções em períodos críticos”.

O professor destaca a importância de investir na construção de barreiras físicas eficientes para fortalecer o sistema imunológico dos suínos. “Para fazer com que barreiras físicas sejam construídas da melhor forma e, depois delas, o compartimento do sistema imune possa gerar a imunidade fundamental, para que então possa se pensar em aplicar vacinas, usar essas células e, inclusive, a reprodutora transferir para a progênie, é necessário que se tenha uma escala, uma hierarquia de atenção”.

Ao abordar esses cuidados com os animais, o palestrante ressalta a importância de questionar o custo-benefício de cada medida adotada, desde a gestação até o abate. “Temos que ver como isso é passado. Não só para nós, porque trabalhamos com o produtor, com o peão, o extensionista e, também, com o diretor da empresa, com o presidente, que é quem tem que acreditar nisso. Acreditar nisso significa questionar como é que nos apropriamos do custo-benefício” relata.

Foto: Jonathan Campos

O professor acentua que, para melhorar a imunidade das doenças respiratórias é preciso responder três perguntas. “Devemos nos perguntar se isso é viável, é efetivo e tem custo-benefício. Se a resposta é sim para as três, se é viável, dá para fazer, é efetivo e se paga, é a primeira coisa”, frisa. Para Caron, a educação continuada é essencial e “faz parte da imunidade, porque são as pessoas que constroem aquilo que, lá no final, como produto, vai trazer resultado dessa construção”.

Microbiota

O médico-veterinário evidencia a relevância da microbiota intestinal e respiratória na saúde e desempenho dos suínos, enfatizando também a necessidade de um ambiente propício para o desenvolvimento dessas microbiotas. “Se fala muito de microbiota hoje e todo mundo acessa e busca entender o que é a microbiota intestinal. Naturalmente, o intestino é o maior órgão do sistema imune, então como maior órgão do sistema imune, se fala muito de imunidade para desempenho, além da saúde, porque é no intestino que ocorrem as interações, é nele que ocorre a quebra de nutrientes, a digestão, a absorção e tudo que leva a desempenho”. Ressalta ainda, que a saúde também depende desse fator. “E saúde é essa relação perfeita de quem pode ganhar 5 ou 6 gramas por hora e consegue ganhar 5 ou 6 gramas por hora, e tem um relógio bem regulado em todos os seus compartimentos”, salienta Caron.

“A microbiota respiratória também tem a ver com saúde e tem a ver com desempenho. E essa é a parte legal”, amplia o profissional. O palestrante faz uma correlação entre o comportamento humano e a saúde dos animais, citando o impacto positivo do isolamento durante a pandemia na redução de surtos de doenças respiratórias na suinocultura. “Se pararmos para pensar em nós, tivemos um histórico muito recente de doença respiratória humana. A parte boa é que a gente sabe que o bem-estar, a capacidade de desempenhar qualquer coisa, depende desse equilíbrio perfeito do sistema respiratório”, acrescenta.

Cadeia integrada

A importância de construir essa imunidade desde os estágios iniciais da criação, antes mesmo que os suínos cheguem ao abatedouro, fica clara nas palavras de Caron. “Imunidade,

Fotos: Shutterstock

para mim, é construir isso antes que, lá no abatedouro, haja um preço caro sendo pago”. Para ele, é essencial compreender que o abate é apenas o último elo de uma longa cadeia de produção. Desde a gestação e creche, cada fase influencia diretamente o resultado final no abatedouro. Ele especifica ainda que, independentemente das ideias ou estratégias adotadas durante o processo, é o abatedouro que, no fim das contas, determina o que é viável. “São eles que vendem, são eles que monitoram como que isso está fazendo para, na rastreabilidade, conseguir provar para mim mesmo que, antes da gestação, antes do parto, aquilo que está acontecendo lá na leitegada, dentro do útero da porca, diz como é que foi a condenação do abate”, complementa.

O especialista enfatiza que a suinocultura opera como uma cadeia integrada, em que cada elo influencia o próximo. Essa compreensão é essencial para garantir que a imunidade dos suínos seja construída de forma eficaz desde o início, reduzindo assim o risco de condenações no abate. “O sistema de integração já nos ajuda nisso, pois entendemos o que é cadeia. Nesse sentido, entender o sistema respiratório é muito mais simples do que imaginamos, pois temos que escolher o lugar para começar”, diz.

Segundo o professor, investir na imunidade dos suínos antes do abate não é apenas uma questão de garantir a qualidade da carne, mas também de assegurar a sustentabilidade e rentabilidade de toda a cadeia produtiva. “É um compromisso com a saúde dos animais, a segurança alimentar e o sucesso a longo prazo da indústria suinícola. Nesse investimento, nessa escolha para saber onde vamos colocar a nossa reação e isso está interligado com algo muito maior, a biosseguridade, que é fundamental”, orienta.

Imunidade respiratória

Caron divide o sistema de imunidade respiratória em duas partes distintas: “do nariz para dentro e do nariz para fora. Do nariz para dentro é a parte simples, pois todo mundo sabe que basta melhorar algum tipo de situação, que aquilo começa a trazer uma reação. E do nariz para fora é tudo o que podemos fazer em termos de estrutura, de conceito e de operação. Quando se reforçam esses três pilares, a imunidade começa a melhorar, pois do nariz para fora começamos a criar um ambiente melhor, que cobrará menos dessa condição”, cita.

Um exemplo contundente destacado pelo professor é a incidência de surtos de influenza, uma preocupação constante na suinocultura. “Eu já vi, mais uma vez, surto de influenza matando 80%, situação assustadora. O México, num momento recente, nos mostrou o que aconteceu, lembrando que em 2019 houve uma presença significativa de surtos de influenza na região, mas em 2020 e 2021 esses surtos desapareceram. “Em 2021 não tinha influenza, e o que aconteceu nesse período foi a pandemia. Com a pandemia houve isolamento, visita só ocorria se fosse necessário, nada de ficar compartilhando coisas. A hora que o ser humano parou de se comportar de forma inadequada, o suíno ficou legal porque a gente começou a respeitar as barreiras.

O professor Caron aponta ainda a importância do muco como “palavra-chave” na luta contra doenças respiratórias que afetam os animais. Ele revela que entender a dinâmica da infecção respiratória é essencial para mitigar seus impactos na produção suína. “A interação desse vírus começa a multiplicar e, a partir de então, se liberam novos vírus. Vai se soltando do muco e da traqueia, infecta o sistema e vai para outros animais. Um quadro simples que diz, se o animal não consegue reagir, o vírus ou a bactéria multiplica no sistema respiratório. E tudo que transmite via sistema respiratório tem alta morbidade”.

Importância da água

Ao explicar porque o muco é tão essencial, Caron descreve que ele é composto, principalmente, de água e atua como uma barreira protetora contra vírus e bactérias. “Se imaginarmos que um processo respiratório, seja vírus ou bactéria, vai entrar por essa porta de entrada, depois o nariz, que tem que encontrar a traqueia e o pulmão cheio de muco, o intestino não é diferente. E isso é composto de água. Muco é composto basicamente de água”, acentua.  Investir na qualidade da água é essencial para garantir a produção de muco eficaz, reduzindo assim, a suscetibilidade dos animais a infecções respiratórias. “Então, se a gente não investir na água, não tem muco de qualidade. E se não tem muco de qualidade, algumas coisas vão cobrar um preço diferente. E quanto melhor o muco, chegamos ao ponto que não há mais ação do vírus”, aponta o professor.

Ele indaga por que, apesar da simplicidade da medida, muitas pessoas negligenciam a importância da hidratação na prevenção de doenças respiratórias. “Um exemplo, sabemos quando vamos pegar gripe e dou uma dica, tome água. Beba três, quatro litros por dia, não há vírus que aguente. Não tem vírus que consiga absorver no sistema respiratório, simplesmente não tem. Eu acho tão simples e por que as pessoas não fazem isso?”.

“Para fazer o animal estar bem e ganhar peso, eu tenho que investir nesse muco”, afirma Caron, enfatizando a importância de proporcionar um ambiente propício para que os suínos assimilem os nutrientes necessários. Ele ressalta a existência de faixas de temperatura de conforto e a relação direta entre a temperatura da água e o consumo pelos animais. De acordo com Caron, a água em temperaturas elevadas pode deter o consumo, enquanto a água mais fria estimula o consumo de forma significativa, contribuindo para a saúde dos suínos e prevenindo a entrada de vírus. “Se você esfriar a água, ele começa a consumir assustadoramente. Dessa forma não tem vírus que entre. Eu garanto”.

Os primeiros investimentos sugeridos por Caron visam melhorar a ambiência e a qualidade da água na criação de suínos. Como exemplo, ele cita: cobrir a caixa d’água com sombrite, enterrar os canos e envolvê-los com fibra de vidro, além de pintar a caixa d’água de branco. Para ele, essas são medidas simples que podem fazer grande diferença no resultado final.

A água, segundo o especialista, desempenha um papel crucial no funcionamento do aparelho urinário dos suínos, agindo como uma barreira contra vírus e contribuindo para a melhoria do ambiente como um todo. “A importância da água para o aparelho urinário, e aí está um grande segredo, é criarmos barreira, o vírus não invade, se não invade, não se multiplica, se não se multiplica, não sai, se não sai, o ambiente começa a melhorar”.

Além disso, o professor Caron fala da importância de monitorar de perto o consumo de água pelos leitões nas primeiras semanas de vida, ressaltando que muitas vezes esse período inicial pode demandar um investimento significativo em termos de acesso à água.

Coisas simples

Contudo, Luiz Felipe Caron expressa otimismo em relação à evolução na criação de suínos e incentiva investimentos em medidas simples e eficazes. “Vamos investir em coisa simples, que a gente não erra. Estamos evoluindo, sem sombra de dúvida. Muitos já se posicionaram na evolução, inclusive, sabem onde é que estão. A gente está melhorando e vai melhorar cada dia mais”, concluiu o especialista.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo na suinocultura acesse a versão digital de Suínos clicando aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
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