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Pesquisadores identificam novo vírus associado ao mosaico do trigo
Cientistas descobriram uma nova espécie do vírus que pode causar perdas de produtividade de 50% na lavoura

Cientistas de diversas instituições brasileiras descobriram que uma nova espécie de vírus, o Wheat stripe mosaic virus (WhSMV) está associado ao mosaico do trigo, doença capaz de causar perdas de produtividade de 50% na lavoura do cereal e que atinge vários países. A descoberta, publicada na revista Plant Pathology, é fruto do projeto “Análise da população viral e estratégias de manejo para o mosaico comum em trigo no Brasil”, que uniu esforços de universidades e empresas de pesquisa públicas e privadas.
No Brasil, a doença era atribuída somente a dois vírus: Soil-borne wheat mosaic virus (SBWMV) e Wheat spindle streak virus (WSSMV). A descoberta de um terceiro causador abre possibilidades de uso da tecnologia para a identificação da variabilidade da população viral em trigo, orientando a geração de cultivares resistentes e as práticas de manejo para redução dos impactos do mosaico.
Os efeitos negativos do mosaico na produção de trigo têm se tornado mais frequentes nas regiões tritícolas da América Latina, especialmente no sul do Brasil e no sul do Paraguai. O pesquisador Douglas Lau, da Embrapa Trigo (RS), explica que a doença pode reduzir a produtividade quando cultivares suscetíveis são semeadas em áreas com inóculo e em condições favoráveis de ambiente. As plantas infectadas pelo vírus apresentam graus variados de subdesenvolvimento, lesões nas folhas e colmos, além do reduzido desenvolvimento de espigas, limitando o potencial de rendimento da cultura.
Doença afeta outras lavouras
No Brasil, o mosaico do trigo foi previamente atribuído ao SBWMV e, posteriormente, também ao WSSMV, ambos transmitidos por Polymyxa graminis, um parasita residente no solo que coloniza as raízes de plantas. Além do trigo, também são hospedeiros o triticale, o centeio, a cevada e outras gramíneas.
Os danos à produção causados por mosaico costumam ser limitados às áreas da lavoura onde o vetor se concentra, mas sob condições ambientais favoráveis (frio e umidade), grandes áreas com cultivares suscetíveis podem ser comprometidas. O longo período de sobrevivência do vetor no solo e a ampla gama de plantas hospedeiras dificultam o controle da virose. Daí a importância de desenvolver plantas que apresentem resistência genética. Para isso, é fundamental caracterizar o nível de resistência e o dano potencial das cultivares disponíveis no mercado para auxiliar a tomada de decisão quanto ao seu emprego em áreas com histórico ou risco de mosaico comum.
Sequenciamento genético
Apesar de os primeiros registros de viroses no trigo no Brasil datarem das décadas de 1960 e 1970, quando teve início a expansão da triticultura no País, somente com o avanço da biologia molecular e do sequenciamento tem sido viável identificar corretamente os vírus.
A descoberta do WhSMV foi possível por meio de técnicas avançadas de sequenciamento (Next Generation Sequencing ou NGS). As plataformas NGS realizam o sequenciamento de milhões de pequenos fragmentos de DNA em paralelo. Análises de bioinformática são usadas para juntar esses fragmentos permitindo a montagem do genoma viral. O genoma obtido foi então comparado com genomas virais disponíveis em banco de sequências e observou-se que o vírus associado ao mosaico em trigo é 50% divergente dos patógenos já conhecidos.
De acordo com a pesquisadora Juliana Valente, mestranda da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), até então, a identificação do patógeno estava baseada na observação dos sintomas, forma de transmissão, hospedeiros e formato das partículas virais. “O uso do sequenciamento não direcionado nos permite detectar a presença de novas espécies de vírus que ainda não haviam sido caracterizados pela comunidade científica mundial”, conta.
Além das amostras coletadas na Embrapa Trigo, em Passo Fundo (RS), com sequenciamento do RNA de oito cultivares de trigo, também foram avaliadas amostras de plantas com sintomas de mosaico obtidas em outras áreas tritícolas no Rio Grande do Sul e no Paraná, que confirmam a existência do novo vírus. Outros estudos ainda serão necessários para esclarecer dúvidas sobre a origem do WhSMV, sua distribuição geográfica, sua variabilidade e como afeta a resistência das plantas.
O professor Fábio Nascimento da Silva, da pós-graduação em produção vegetal da Udesc, destaca a importância do trabalho: “A caracterização da nova espécie viral propiciou o desenvolvimento de ferramentas seguras no diagnóstico. A identificação correta dos vírus é essencial para apoiar os programas de melhoramento genético e a recomendação de medidas eficazes de manejo”. Ele destaca também a formação de recursos humanos no projeto que envolve seis estudantes de graduação e pós-graduação.
O pesquisador da empresa Biotrigo Paulo Kuhnem explica que, por ser uma doença de difícil controle, a resistência genética ao mosaico do trigo tem sido a principal estratégia utilizada. Por esse motivo, a doença é um dos focos centrais dos programas de melhoramento de trigo no Brasil.
“Sem o conhecimento do agente causal, gastamos muito tempo e espaço tentando achar locais apropriados para seleção de materiais por meio da fenotipagem das linhagens, uma vez que o uso de marcadores moleculares estrangeiros apresenta resultados inconsistentes”, afirma.
Com a descoberta do novo vírus, o cientista explica que será possível trabalhar para mapear os genes de resistência e desenvolver marcadores moleculares confiáveis para auxiliar na seleção de genótipos resistentes. “Com isso, os programas de melhoramento genético ganham eficiência e agilidade, e os produtores mais segurança para o cultivo do trigo nas regiões onde a doença ocorre”, conclui o pesquisador.
Projeto de pesquisa
A identificação do vírus é o primeiro resultado divulgado pelo projeto “Análise da população viral e estratégias de manejo para o mosaico comum em trigo no Brasil”, que iniciou em fevereiro de 2018. Além de identificar com maior precisão os diferentes vírus que causam o mosaico do trigo, o projeto também está avaliando a eficiência de estratégias genéticas, químicas e culturais no controle da doença.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Trigo Douglas Lau, o projeto foi estruturado de forma multi-institucional. O sequenciamento e a análise da variabilidade da população viral estão sendo realizados na Udesc, com apoio da Embrapa Uva e Vinho e da Embrapa Informática Agropecuária. A caracterização fenotípica, a análise da população viral e a avaliação das práticas de manejo estão sendo realizadas em rede de ensaios de campo nas regiões tritícolas do sul do Brasil, executadas pela Embrapa Trigo, Biotrigo Genética, CCGL Tecnologia, OR Melhoramento de Sementes e Fundação ABC. No total, serão quatro anos de pesquisa, com experimentos em sete municípios do Rio Grande do Sul e do Paraná.

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Plantio de milho em Santa Catarina entra na fase final com boas perspectivas
Controle fitossanitário segue ativo e produtores monitoram impacto das chuvas na germinação.

A semeadura do milho de verão em Santa Catarina entra na fase final, com 92% da área estimada já plantada, segundo os dados mais recentes do Boletim Agropecuário de Santa Catarina. Até o momento, 93% das lavouras apresentam condição considerada boa, reforçando a expectativa de um início de ciclo favorável no estado.

Foto: Divulgação/Arquivo OPR
O ritmo da safra é descrito como adequado, com bom estabelecimento das plantas e condições climáticas favoráveis, o que tem permitido avanço dentro do calendário previsto pelo zoneamento agroclimático.
O controle fitossanitário segue ativo, especialmente no monitoramento da cigarrinha-do-milho, praga que preocupa produtores nos últimos anos. Até agora, porém, a incidência registrada é baixa. No litoral catarinense, técnicos observaram falhas de germinação em algumas áreas, atribuídas ao excesso de chuvas no período de emergência das plantas.
O boletim também alerta para as chuvas intensas na região Sul, que podem exigir maior atenção no manejo de doenças e na aplicação de adubação de cobertura, etapas cruciais para o desenvolvimento das lavouras.
Apesar dos pontos de atenção, o cenário até o momento é favorável. A Epagri/Cepa mantém perspectiva positiva de produtividade, condicionada à continuidade de clima e sanidade adequados nas próximas semanas.
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Caminho Verde recebe R$ 30 bilhões e inicia recuperação de 1,3 milhão de hectares no país
Primeiro aporte do Mapa viabiliza crédito com juros reduzidos para converter áreas degradadas em produção sustentável, com meta de restaurar 40 milhões de hectares em dez anos.

O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) anunciou, na segunda-feira (17), o primeiro aporte de recursos da ordem de R$ 30 bilhões para o Programa Caminho Verde, com foco nos investimentos voltados para a conversão de áreas degradas para a produção de alimentos. O programa será financiado por bancos, com juros abaixo do mercado, entre eles o Banco do Brasil, o BNDES, o BTG, o Itaú, Caixa Econômica, entre outros. Os recursos começarão a ser acessados a partir de 2026 e conta com a parceria do Ministério do Meio Ambiente e do Ministério da Fazenda para o financiamento. A meta inicial é recuperar, com este montante, cerca de 1,3 milhão de hectares nesta primeira rodada.
A meta geral do programa é recuperar até 40 milhões de hectares de áreas degradadas em dez anos. Este foi o debate do painel “Programa Caminho Verde Brasil: avanços, desafios e oportunidades”, realizado nesta segunda-feira em um dos auditórios da AgriZone, espaço da Embrapa e parceiros, também conhecido como “Casa da Agricultura Sustentável” na COP30. O evento técnico foi organizado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), em parceria com a Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA), a Embrapa e o Banco do Brasil.
Para o assessor especial do ministro da Agricultura e Pecuária e presidente do Conselho de Administração da Embrapa, Carlos Augustin, o Caminho Verde reforça a posição estratégica do País na agenda global e destaca as práticas regenerativas como solução para garantir segurança alimentar e estabilidade climática.
“O programa cria condições para um expressivo aumento da produção de alimentos e de biocombustíveis, sem desmatamento de novas áreas, preservando matas nativas”, explica. “Dessa forma, promove simultaneamente a segurança alimentar, apoia a transição energética e conserva o meio ambiente”.
Dados do Mapa indicam que, atualmente, o Brasil possui cerca de 280 milhões de hectares destinados à agropecuária, dos quais 165 milhões são pastagens, sendo que aproximadamente 82 milhões de hectares estão em algum grau de degradação. A proposta do programa é a recuperação de até 40 milhões de hectares de pastagens de baixa produtividade ao longo dos próximos dez anos, convertendo essas áreas em terras agricultáveis de alto rendimento, sem a necessidade de desmatamento.
O recurso que será aportado no valor de R$ 30 bilhões representa o início do programa, mas o Mapa está em busca de novas parcerias. O programa Caminho Verde faz parte da carteira de financiamento do Ministério da Fazenda – O Eco Invest Brasil, parte do Novo Brasil, criado para impulsionar investimentos privados sustentáveis e atrair capital externo para projetos de longo prazo, oferecendo instrumentos de proteção contra a volatilidade do câmbio. Com mecanismos financeiros inovadores, o programa viabiliza projetos estratégicos para a indústria verde, recuperação de biomas, infraestrutura para lidar com os efeitos das mudanças do clima e de inovação tecnológica para a Transformação Ecológica. Serão R$16,5 bilhões do Tesouro e os outros R$ 16 bilhões das instituições financeiras.
Judson Valentim, pesquisador da Embrapa Acre, destacou que as áreas degradadas oferecem um potencial forte de recuperação para a produção de grãos, fibras e biocombustíveis, aumentando a capacidade brasileira de fornecimento de alimentos em um cenário global, de forma sustentável.
Na perspectiva da sustentabilidade, o Programa Caminho Verde inclui o uso de boas práticas recomendadas pela Embrapa. No caso de produção de alimentos, plantio conforme recomendação do ZARC, plantio direto, uso de bioinsumos e inoculantes, uso de sementes certificadas ou salvas legalmente, plantio de cobertura, gestão de embalagens de agroquímicos. No caso de pecuária o uso de sementes de forrageiras, divisão das pastagens e manejo do pastejo, proteção aos corpos d´água, taxa de lotação de acordo com a capacidade de suporte das pastagens e rastreabilidade. Para florestas plantadas a Embrapa sugere as seguintes recomendações: uso de bioinsumos, manejo de solos, manejo integrado de pragas, plano de combate a incêndios e proteção dos corpos d´água.
A Embrapa também elaborou um conjunto de indicadores métricas para aplicação no programa. Entre elas: metodologia de Bioanálise dos Solos (BioAs), metodologia de determinação de estoques de carbono no solo, metodologia de balanço de emissão de gáses, dentre outras. Além de calculadoras como o RenovaCalc, ABC+Calc, Zarc, Plataforma de Saúde do Solo, Carne Baixo Carbono, entre outras.
Para o diretor de Agronegócio do Banco do Brasil, Gilson Bittencourt, o tema da sustentabilidade é uma das suas prioridades. Ele explicou que o primeiro estímulo para que o produtor entre no programa é a expectativa efetiva de rentabilidade com a recuperação de suas áreas degradadas. “Este convencimento é o primeiro argumento para a tomada de decisão de recuperar a pastagem”, explicou. Ele acrescentou que o incentivo, via crédito e tecnologias, deve vir junto com o controle do estado brasileiro contra o desmatamento ilegal. Por fim, o acesso ao crédito será fundamental com pagamento a longo prazo. “As três ações serão determinantes para o acesso ao crédito para o Caminho Verde”.
Para ele, o Caminho Verde é uma das soluções que traz vários elementos positivos, mas para o agricultor familiar, o ideal ainda é o Pronaf. O Caminho Verde se aplicará melhor aos médios e grandes produtores rurais. Mas a grande vantagem deste financiamento é sua veiculação à uma área que usará boas práticas para a sua recuperação. “Um programa de governo com um compromisso mensurável do ponto de vista de área recuperada e o compromisso de não desmatar e um monitoramento que soma qualitativo e quantitativo”.
Saiba mais sobre o Programa Caminho Verde acessando aqui
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Brasil lidera integração inédita entre clima, natureza e uso da terra na COP30
No principal painel das três Convenções da ONU, o Mapa apresentou políticas públicas que recuperam áreas degradadas, reduzem emissões e fortalecem a produção sustentável, alinhando agendas globais.

Pela primeira vez, as três Convenções da ONU reuniram suas agendas de clima, natureza e uso da terra em um mesmo debate, e o Brasil foi protagonista. No painel realizado nesta terça-feira (18), na COP30, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) apresentou como políticas públicas já implementadas pela pasta integram essas frentes e transformam áreas degradadas em solos produtivos, resilientes e de baixa emissão.
O encontro destacou a necessidade de alinhar agendas globais de clima, natureza e uso do solo, reforçando soluções que reduzam emissões, restaurem ecossistemas e ampliem a segurança alimentar. O representante do Mapa no painel, Bruno Brasil, diretor do Departamento de Produção Sustentável da Secretaria de Desenvolvimento Rural, afirmou que há caminhos concretos capazes de entregar resultados simultaneamente para as três convenções — e o Brasil já demonstra isso com políticas públicas consolidadas.
“Eles estão falando das sinergias e das complementaridades entre os objetivos das três convenções e que existem investimentos custo-eficientes do ponto de vista do clima, da natureza, da segurança alimentar e do desenvolvimento socioeconômico. Um bom exemplo é a recuperação de áreas agrícolas degradadas com boas práticas, como vemos no Plano ABC, no ABC+ e no Caminho Verde Brasil”, afirmou.
Durante sua intervenção, Bruno reforçou que o país chega ao debate com programas robustos, ampla experiência técnica e capacidade de escalar iniciativas alinhadas ao desenvolvimento sustentável. “O Brasil já possui políticas públicas de destaque nesse sentido, como as que mencionei. E esperamos continuar trabalhando em parceria com os países anfitriões das COPs de biodiversidade, combate à desertificação e do clima no próximo ano, de forma a atrair novos investimentos”, destacou o diretor.
O painel também marcou a preparação para o lançamento da Belém Joint Statement on Action Agendas on Land, Climate and Nature, iniciativa que orientará esforços conjuntos das três convenções para restaurar terras degradadas, proteger ecossistemas, fortalecer meios de vida sustentáveis e integrar agendas globais de adaptação, biodiversidade e produção agrícola.
A sessão reuniu representantes de governos, organismos internacionais, comunidade científica, setor privado e lideranças indígenas, reforçando que o avanço na restauração de paisagens depende de cooperação, ciência, financiamento adequado e do protagonismo de produtores, comunidades rurais e povos tradicionais.



