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Pesquisadores da Embrapa analisam mercado do milho para safra 2021/2022
Adoção de sementes de alta tecnologia, aliada a um manejo de plantas adequado e à dedicação do produtor, permitiu colocar o Brasil entre os três primeiros produtores e exportadores de milho do globo.

As empresas de sementes de milho vêm apresentando ao longo dos anos avanços significativos em genética e biotecnologia e, consequentemente, têm aumentado a eficiência produtiva e qualitativa dos grãos, agregando assim valores a toda a cadeia do agronegócio do milho. Pode-se dizer que a escolha de uma semente com alta tecnologia embarcada define o nível técnico de uma lavoura, bem como o seu potencial produtivo.
A boa semente é capaz de mostrar para o produtor toda a trajetória da sua futura lavoura desde o momento do plantio até sua colheita. Por essa razão é comum dizer que, dependendo do nível de tecnologia de uma semente, o produtor terá uma lavoura de baixo, médio ou de alto nível tecnológico. Portanto, a adoção de sementes de alta tecnologia, aliada a um manejo de plantas adequado e à dedicação do produtor, permitiu colocar o Brasil entre os três primeiros produtores e exportadores de milho do globo.
O gasto com a semente pode chegar a até 20% do valor das despesas de custeio de uma lavoura de milho. Por essas e outras razões, como região de cultivo, condições de solo e de clima, o produtor de milho sempre deve optar por uma semente certificada de qualidade, seja ela transgênica ou não.
Ao analisar o mercado de sementes, considerando o levantamento de cultivares realizado anualmente pela Embrapa Milho e Sorgo, temos os seguintes dados: na safra passada 98 novas cultivares foram disponibilizadas no mercado. Já para a safra 2021/2022 259 cultivares estarão disponíveis, das quais algumas lançadas exclusivamente para a safra verão e inverno 2021/2022, bem como cultivares lançadas em safras anteriores, mas ainda demandadas pelo mercado em decorrência do alto nível de tecnologia e da facilidade de aquisição nas diversas regiões de cultivo.
Em relação a novos eventos, pode-se dizer que permanecem os mesmos, mas com destaque para o VT PRO 3 e o Agrisure Viptera 3, tanto na safra de 2020/2021 quanto na atual (2021/2022). Para a próxima safra deverá entrar no mercado o evento VT PRO 4, que é a nova biotecnologia para milho híbrido, que proporciona ampla proteção contra as principais pragas que podem atingir as partes aéreas e radicular das plantas. Cultivares com eventos Powercore Ultra e VT PRO 2 são bem demandados pelo mercado.
Híbridos simples
Os híbridos simples são responsáveis por mais de 50% do mercado de milho no Brasil, tanto nesta quanto em safras anteriores. Nesta safra perfazem 50,19% do mercado; os triplos, 1,93%; os duplos, 1,16%; e as variedades são 2,70% do mercado. Ainda está disponível uma inexpressiva percentagem de híbridos do tipo Top-Cross e sintéticos. Grande parte das empresas de sementes não informa qual é o tipo de híbrido lançado, o que representa 42,86% do total de cultivares em levantamento no período.
Ciclos das cultivares
Em relação aos ciclos das cultivares, o ciclo precoce continua dominando o mercado de sementes, como em outras safras, seguido dos superprecoces e semiprecoces, respectivamente. Historicamente, o híbrido de milho de ciclo precoce tem sido o mais demandado pelos produtores, tanto na primeira quanto na segunda safra, razão pela qual ser o de maior representatividade no mercado.
As diversidades de colorações das sementes de milho são resultantes do acúmulo de pigmentos derivados de duas
principais classes especializadas de metabólitos – carotenoides e antocianinas (uma classe de flavonoides).
O mercado e a indústria de processamento de milho no Brasil normalmente têm preferência pelo grão de cor alaranjada. Grande parte das cultivares atualmente desenvolvidas pelas indústrias sementeiras é de cor alaranjada, responsáveis por 35,13% do mercado, seguido pelo milho amarelo-alaranjado (com 22,39%) e, por último, o amarelo, com 12,35%.
Textura e formato dos grãos
Em relação à textura e ao formato dos grãos, o milho de textura semidura é o mais demandado pelo produtor, em razão de ser o mais procurado pela indústria de processamento dos grãos, por proporcionar maior rendimento na fabricação de alimentos derivados do cereal em geral. O milho de textura semidura representa 42,86% do mercado, seguido do semidentado, responsável por 23,55% das vendas.
Doutor Milho
Todas as cultivares de milho, que estão no mercado de sementes, recém-lançadas ou de safras anteriores, estão registradas no aplicativo Doutor Milho, que anualmente é atualizado com as novas cultivares lançadas no mercado, visando atender o produtor no cultivo das safras de verão e inverno de cada ano.
O aplicativo foi desenvolvido pela Embrapa Milho e Sorgo, com o objetivo de colocar o produtor a par das novas tecnologias embarcadas nas cultivares. Esse app traz também informações sobre características agronômicas, tolerância e resistência às principais doenças que atacam as plantas do milho, que podem ser variáveis de acordo com a região e as condições climáticas. Para uma melhor escolha da semente correta para cada região sugere-se que o produtor tenha um bom conhecimento da situação climática local e faça uso do Zarc (Zoneamento Agrícola de Risco Climático).
Comportamento do mercado
De forma geral, o mercado de sementes de milho tem mostrado comportamento semelhante safra após safra, em relação às características das cultivares em função do mercado, às condições de clima e solo, e às necessidades das indústrias, que absorvem entre 60% e 80% do produto para a fabricação de ração animal, com exigências em relação a cor e a textura dos grãos.

Notícias
Brasil lança plataforma sobre saúde dos solos e reforça liderança em agricultura sustentável
Ferramenta da Embrapa reúne mais de 56 mil análises e mostra que dois terços das áreas avaliadas no País apresentam solos saudáveis ou em recuperação.

Foi lançada na última segunda-feira (17), na Agrizone, a Casa da Agricultura Sustentável da Embrapa durante a COP 30, em Belém (PA), a Plataforma Saúde do Solo BR – Solos resilientes para sistemas agrícolas sustentáveis. A cerimônia ocorreu no Auditório 1 e marcou a apresentação oficial da tecnologia criada pela Embrapa, que reúne pela primeira vez informações sobre a saúde dos solos brasileiros em um ambiente digital e de acesso público.
Na abertura, a presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, destacou o simbolismo de apresentar a novidade dentro da Agrizone, espaço que abriga soluções de baixo carbono. “A Agrizone é o começo de uma nova jornada. Estamos mostrando para o mundo inteiro, de forma concreta, que temos tecnologia para desenvolver uma agricultura cada vez mais resiliente às mudanças climáticas”, afirmou.
Para ela, o lançamento reforça o protagonismo do Brasil como líder global em inovação sustentável para a agricultura e os sistemas alimentares.
A Plataforma disponibiliza dados de saúde do solo por estado e município e já reúne cerca de 56 mil amostras, provenientes de 1.502 municípios de todas as regiões do País. O sistema foi construído a partir da geoespacialização dos dados gerados pela BioAS – Bioanálise de Solos, explicou a pesquisadora da Embrapa Cerrados, Ieda Mendes. A ferramenta permite filtros por estado, município, ano, culturas e texturas de solo, além de comparações entre diferentes cultivos. Também gera mapas e gráficos baseados nas funções da bioanálise, como ciclagem, armazenamento e suprimento de nutrientes.
Solos mais saudáveis e produtivos
Os primeiros mapas revelam que predominam no Brasil solos saudáveis ou em processo de recuperação. “Somando solos saudáveis e solos em recuperação, vemos que 66% das áreas analisadas apresentam condições muito boas de saúde. Apenas 4% das amostras representam solos doentes”, afirmou Ieda.
Mato Grosso lidera o número de amostras (10.905), seguido por Minas Gerais (9.680), Paraná (7.607) e Goiás (6.519). O município com maior participação é Alto Taquari (MT), com 1.837 amostras.
A pesquisadora também destacou a forte relação entre saúde do solo e produtividade. No Mato Grosso, a integração dos dados da BioAS com índices do IBGE mostrou que o aumento na proporção de solos doentes está diretamente associado à queda na produção de soja. “Cada 1% de aumento em solos doentes representa uma perda média de 3,1 kg de soja por hectare”.
Em contraste, análises exclusivamente químicas não apresentaram correlação com a produtividade atual, o que indica que o limite produtivo da agricultura brasileira está cada vez mais ligado à qualidade biológica dos solos.
Ieda ressaltou ainda a participação dos produtores na construção da ferramenta. “Temos contribuições que vão do Acre ao extremo sul do Rio Grande do Sul. Ter um trabalho publicado em revistas técnicas é muito bom, mas ver uma tecnologia sendo adotada em todo o Brasil é maravilhoso”, afirmou.
A expectativa é transformar a plataforma, no futuro, em um observatório nacional da saúde dos solos, capaz de gerar relatórios detalhados por município e conectar pesquisadores, laboratórios e agricultores.
A Plataforma Saúde do Solo BR foi desenvolvida com base nos dados da BioAS, tecnologia lançada em 2020 e criada pela Embrapa Cerrados em parceria com a Embrapa Agrobiologia. O método integra indicadores biológicos (atividade enzimática), físicos (textura) e químicos (fertilidade e matéria orgânica).
O banco de dados atual resulta de uma colaboração com 33 laboratórios comerciais de análise de solo, integrantes da Rede Embrapa e usuários da tecnologia.
Notícias
Pressões ambientais externas reacendem disputa sobre limites da autorregulação no agronegócio
Advogada alerta que auditorias privadas e acordos setoriais, como a Moratória da Soja, podem impor obrigações além da lei, gerar assimetria concorrencial e tensionar princípios constitucionais.

A intensificação de exigências internacionais para que produtores brasileiros comprovem de forma contínua a inexistência de dano ambiental como condição para exportar commodities, especialmente a soja, reacendeu um debate jurídico sensível no país. Para a advogada especialista em Direito Agrário e do Agronegócio, Márcia de Alcântara, parte dessas exigências ultrapassa a pauta da sustentabilidade e pode entrar em choque com princípios constitucionais e da ordem econômica, sobretudo quando assumem caráter padronizado e coordenado por grandes agentes privados.
Segundo ela, quando tradings internacionais reunidas em associações que concentram parcela expressiva do mercado firmam pactos com auditorias e monitoramentos próprios, acabam impondo obrigações ambientais adicionais às previstas em lei. “Esses acordos privados transferem ao produtor o ônus de provar continuamente que não causa dano ambiental, invertendo a presunção de legalidade e de boa-fé de quem cumpre o Código Florestal e demais normas”, explica.
Márcia observa que esse tipo de exigência, quando se torna condição para o acesso ao mercado, tensiona princípios como a segurança jurídica e o devido processo. “Quando a obrigação é padronizada e coordenada por agentes dominantes, deixa de ser mera cláusula contratual e passa a se aproximar de uma restrição coletiva, com efeito de boicote”, afirma.
Moratória da Soja e coordenação setorial

Advogada Márcia de Alcântara: “Esses arranjos acabam por substituir o papel do Estado, criando regras opacas e sem devido processo ao produtor”
Entre os casos emblemáticos está a chamada Moratória da Soja, que proíbe a compra do grão oriundo de áreas desmatadas após 2008 na Amazônia. Para a advogada, o modelo de funcionamento da moratória se assemelha a uma forma de regulação privada, com possíveis implicações concorrenciais. “Há três pontos críticos nesse arranjo: a coordenação por associações que concentram parcela relevante do mercado; a troca de informações sensíveis e listas de exclusão que não são públicas; e a imposição de padrões mais severos do que a legislação brasileira. Esse conjunto pode configurar conduta anticoncorrencial, conforme o artigo 36 da Lei 12.529/2011”, avalia.
Ela acrescenta que cobranças financeiras ou bloqueios comerciais aplicados a produtores que não apresentem documentação adicional de regularidade ambiental podem representar penalidades privadas sem respaldo legal. O tema, segundo Márcia, já vem sendo acompanhado tanto pela autoridade antitruste quanto pelo Judiciário.
Marco jurídico recente
Nos últimos meses, a controvérsia ganhou contornos institucionais. Uma decisão liminar do ministro Flávio Dino, no Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a suspensão de processos judiciais e administrativos ligados à Moratória da Soja até o julgamento de mérito, para evitar decisões contraditórias e permitir uma análise concentrada do conflito. Paralelamente, o Cade decidiu aguardar o posicionamento do STF antes de seguir com as investigações, embora mantenha atenção sobre a troca de informações sensíveis entre empresas durante o período.
Entidades como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Aprosoja-MT defendem que a atuação concorrencial do Estado não seja paralisada. Elas argumentam que há indícios de coordenação de compra e que a suspensão integral das apurações pode esvaziar a tutela concorrencial.
Entre os principais questionamentos estão a extrapolação normativa de acordos privados, a falta de transparência nos critérios de exclusão e a substituição da regulação pública por padrões privados de alcance global. “Esses arranjos acabam por substituir o papel do Estado, criando regras opacas e sem devido processo ao produtor”, pontua Márcia.
Possíveis desfechos

Foto: Gilson Abreu
A especialista mapeia dois possíveis desfechos para o impasse. Caso o STF decida a favor dos produtores, será reforçada a soberania regulatória do Estado brasileiro, com o reconhecimento de que critérios ambientais devem ser definidos por normas públicas claras e transparentes. A decisão poderia irradiar efeitos para outras cadeias produtivas, como carne, milho e café, estabelecendo parâmetros de ESG proporcionais e auditáveis. Em sentido contrário, validar a autorregulação privada abriria espaço para padrões globais com camadas adicionais de exigência, elevando custos de conformidade e reduzindo a concorrência.
Para Márcia, o Brasil já conta com um dos arcabouços ambientais mais robustos do mundo. O Código Florestal impõe a manutenção de Reserva Legal e Áreas de Preservação Permanente, exige o Cadastro Ambiental Rural georreferenciado e conta com sistemas de monitoramento por satélite e mecanismos de compensação ambiental.
Além disso, o país dispõe de políticas estruturantes como a Política Nacional do Meio Ambiente, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) e a Política Nacional sobre Mudança do Clima. “Esse conjunto garante previsibilidade ao produtor regular e comprova que o país possui um marco ambiental sólido. Por isso, exigências externas precisam respeitar a proporcionalidade, a transparência e o devido processo. Caso contrário, correm o risco de ferir a legislação brasileira e distorcer a concorrência”, ressalta.
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Brasil e Reino Unido avançam em diálogo sobre agro de baixo carbono na COP30
Fávaro apresenta o Caminho Verde Brasil e discute novas parcerias para financiar recuperação ambiental e ampliar práticas sustentáveis no campo.

O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, se reuniu nesta quarta-feira (19) com a ministra da Natureza do Reino Unido, Mary Creagh, durante a COP30, em Belém. O encontro teve como foco a apresentação das práticas sustentáveis adotadas pelo setor agropecuário brasileiro, reconhecidas internacionalmente por aliarem produtividade e conservação ambiental.
Fávaro destacou as iniciativas do Caminho Verde Brasil, programa que visa impulsionar a recuperação ambiental e o aumento da produtividade por meio da restauração de áreas degradadas e da promoção de tecnologias sustentáveis no campo.
Segundo o ministro, a estratégia tem ampliado a competitividade do agro brasileiro, com acesso a mercados mais exigentes, ao mesmo tempo em que contribui para metas climáticas.
A agenda também incluiu discussões sobre mecanismos de financiamento voltados a ampliar projetos de sustentabilidade no setor. As autoridades avaliaram oportunidades de cooperação entre Brasil e Reino Unido para apoiar ações de recuperação ambiental, inovação e produção de baixo carbono na agricultura.



