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Avicultura Entrevista Exclusiva

Pesquisadora Janice Zanella destaca avanços da Embrapa Suínos e Aves em sete anos

Nos últimos sete anos, a instituição se aproximou das indústrias e dos produtores para saber quais eram suas reais necessidades. O objetivo: criar linhas de pesquisa, gerar conhecimento científico e embasar mudanças que os setores necessitavam.

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Nos últimos sete anos a Embrapa Suínos e Aves se aproximou das indústrias e dos produtores para saber quais eram suas reais necessidades. O objetivo: criar linhas de pesquisa, gerar conhecimento científico e embasar mudanças que os setores necessitavam. Esse é um dos avanços da Embrapa Suínos e Aves, com sede em Concórdia, SC, sob a chefia da pesquisadora Janice Zanella, que deu posse a seu sucessor, o pesquisador Everton Krabe, em 1º de novembro. Confira um balanço da gestão, sob a ótica de Janice Zanella, uma das mais renomadas e respeitadas pesquisadoras de suínos e aves do mundo.

O Presente Rural – Conte um pouco de sua trajetória acadêmica e profissional.

Janice Zanella – Nasci no Sul de Minas Gerais, minha família é de agricultores, plantavam café, criavam gado de leite. Fiz o ensino médio em Minas, fiz Medicina Veterinária na universidade federal em Belo Horizonte. Qaundo estava terminando meu curso, tive a oportunidade de uma bolsa de estudos da CNPQ e vim para Concórdia (SC), para trabalhar na Embrapa. Quem me orientava na época era o Nelson Mores. Fiz um ano na patologia, depois fiquei mais um ano na virologia e depois fui trabalhar na Sadia, na BRF. Fiquei lá no laboratório. Nesse meio tempo que fiquei na BRF, consegui uma bolsa e fui para os Estados Unidos, para a Universidade de Nebrasca, no meio oeste americano, para fazer meu mestrado. Acabei ficando, fiz o PHd e iniciei o pós doutorado.

Nesse tempo abriu concurso da Embrapa, prestei, passei e voltei para o Brasil em 1998. Comecei a trabalhar na pesquisa, com virologia de suínos e aves, depois me dediquei somente a suínos. Durante esse tempo fiz vários projetos, fiz o primeiro diagnóstico de Circuvírus, o primeiro diagnóstico de Influenza, desenvolvi metodologias de diagnóstico para várias doenças virais de suínos que não estavam estabelecidos no Brasil, por exemplo para PRRS e diagnóstico da PED.

Uma das grandes contribuições que dei foi atuar junto na erradicação da doença de Algeski, isso deu um diferencial para Santa Catarina. Na época a gente apoiava o Estado livre de aftosa sem vacinação, a gente estimulou o governo do Estado para implementar barreiras.

Orientei muitos colegas em vários projetos, atuei em vários comitês, organizamos eventos técnicos e também ajudei muito como membro de vários comitês na OIE, (Peste Suína Clássica, Peste Suína Africana), desde 2011 sou membro de um grupo de especialistas no mundo para controle e monitoramento da Influenza em suínos.

Recentemente fui indicada como uma das 25 pessoas no mundo para trabalhar com uma saúde (One Health), faço parte de um grupo bem forte, de apoio à questão da saúde única, juntamente com a FAO, a OIE e a OMS. Sou a única pessoa no Brasil que está trabalhando nesse comitê.

De 2008 a 2010 fiquei no laboratório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o Laboratório Central de Diagnóstico e Pesquisa, em Iowa. Lá consegui trabalhar com várias doenças, como PRRS e Influenza. Foi justamente durante a pandemia de 2009 da Influenza. Pude trazer essas metodologias de diagnóstico mais aprimoradas para o Brasil. Todo o trabalho de monitoramento de Influenza que hoje fazemos foi graças a essa parceria com a equipe do USDA.

O Presente Rural – Como chegou até a chefia da Embrapa Suínos e Aves?

Janice Zanella – Cheguei à chefia da Embrapa porque sempre gostei de desafios, sempre gostei de trabalhar muito, sou extremamente motivada, dedicada, posso reconhecer isso. Quero estar sempre fazendo o melhor, buscando fazer diferente e encarando os desafios.

Sempre tive apoio, tanto da família como dos meus colegas, amigos próximos e lideranças do setor. Posso dizer que tenho muitos parceiros, trabalho com muita gente e sou inquieta, gosto de fazer diferente, sempre melhorando e servindo, servindo a Embrapa e servindo o setor. Tive todo esse incentivo.

O processo de seleção de chefias da Embrapa é muito limpo, transparente, baseado em meritocracia. Você precisa fazer um plano de trabalho, que é avaliado. É realizada uma série de entrevistas, é muito aberto, tanto que a última seleção foi toda online. Cheguei à chefia através de uma caminhada, fui galgando em vários pontos, fui atuando tecnicamente como também em termos de atuação administrativa. Sempre liderei projetos, sempre fui gestora de núcleos temáticos, como por exemplo presidente do portfólio de sanidade animal de toda a Embrapa. Então sempre busquei e tive apoio muito forte da diretoria da Embrapa. Isso também me incentivou a chegar à chefia.

O Presente Rural – Enquanto esteve à frente da Embrapa, quais as principais linhas de pesquisa?

Janice Zanella – São várias linhas de pesquisa. Nós atuamos em cinco núcleos temáticos, de sanidade de aves, sanidade de suínos, de produção de aves, produção de suínos e o núcleo temático de meio ambiente. As atividades dentro desses núcleos seguem o plano diretor da Embrapa (PDE). Dentro desse PDE a gente faz um plano de execução da unidade, que é baseada em várias contribuições nas áreas de sanidade, diagnósticos de doenças, de geração de insumos, segurança de alimentos, modernização do abate. A gente atua na sanidade, tanto em doenças de produção quanto em doenças de apoio à defesa, como Senecavírus, por causa da causa da semelhança com Aftosa; Influenza, e a gente vai começar alguns trabalhos com PSA e PSC. Fizemos trabalhos, por exemplo, para produção de vacinas. Na questão do meio ambiente, para trazer mais sustentabilidade, com reuso de água, valorização dos dejetos, a questão do biometano, entre outras. Então a gente atua em sanidade, produção e meio ambiente.

O Presente Rural – Quais os principais resultados obtidos?

Janice Zanella – Os principais resultados são o atendimento às políticas públicas, é a geração de dados, a geração de ciência, gerando dados confiáveis para embasar políticas públicas. O Brasil tem que atender várias normas, tanto internas quanto internacionais, e essas normas vão mudando, como as questões de bem estar, resíduos de microbianos nos alimentos. São vários resultados em sete anos. É um trabalho de uma grande equipe. A Embrapa busca muito as soluções. Entender a dor do cliente, que é o setor como um todo, e procurar desenvolver soluções. Uma das coisas que a gente sempre busca é gerar tecnologia através de inovações abertas, como o abatedouro móvel, que foi um resultado legal, o Nanovo, que é o recobrimento nanoestruturado de ovos, e a vacina da Pesteurella.

Em questão de políticas públicas, todo o trabalho de destinação de animais mortos, a modernização do abate para suínos e aves que está dando um impacto tremendo, tem também as nossas genéticas, como o lançamento de uma fêmea suína, a MO025C.

Tanto questão de tecnologias como pesquisa aplicada, projetos de desenvolvimento em parcerias, a gente teve alguns desafios durante a gestão. Tínhamos o campo experimental que estava abandonado, a gente reativou, levou nossas linhas puras para lá, para anteder normativas e continuar realizando experimentos lá, onde tem o núcleo de conservação. Fizemos uma manutenção tremenda nos campos experimentais, renovamos a frota de veículos, isso tudo com muito apoio.

Uma das coisa que vejo que foi legal foram as parcerias, uma das grandes conquistas foi mostrar que a Embrapa pode ajudar a comunidade não só no setor da suinocultura e avicultura. Desde maio do ano passado a gente tem ajudado o laboratório de saúde pública de Santa Catarina na realização dos testes moleculares de Covid. A gente já realizou mais de 40 mil testes. A gente tem mostrado que a Medicina Veterinária é importante para a saúde pública, importante no conceito de saúde única, que a saúde humana e animal está muito ligada. A nossa pesquisa é muito interdisciplinar. A gente pode atuar em várias frentes.

Outra coisa de grande valia foram as parcerias, tanto no Inova Pork quanto no Inova Ave, e agora no programa Inova, que reúne os dois. A gente conseguiu abrir a Embrapa. Abrimos nossos campos experimentais para parcerias, fomos atrás das principais agroindústrias oferecendo nossas equipes para atuar diretamente em projetos com a demanda deles.

Outra coisa interessante foram as emendas parlamentares. A gente teve um relacionamento bem interessante com parlamentares, acima de qualquer partido, principalmente deputados federais e senadores. Um deles que destaco é o Projeto Javali.

São muitas coisas que me veem a mente quando penso nesses últimos anos, é um trabalho de uma equipe com muitas habilidades e muita dedicação.

O Presente Rural – Como é chefiar uma equipe de pesquisadores na Embrapa Suínos e Aves?

Janice Zanella – É um desafio dia a dia, o pesquisador é treinado para ser crítico, e muitas vezes quando a gente é muito crítico, acaba se frustrando, acaba exigindo muito, e isso é normal. Nosso nível é muito lá em cima. Mas falei desde o começo, vamos ter paciência, calma, vamos nos ajudar, trabalhar junto, a gente está aqui para fazer pesquisa com qualidade e criatividade, que era nosso lema, e foi assim. A gente teve muito apoio, a coisa não parou, passamos por dificuldades, principalmente de recursos, mas a equipe se reinventou, fez o possível para inovar, buscar novas parcerias e recursos. Foi muito bom, e tem sido, a gente conseguiu pavimentar um caminho bem interessante. A nova gestão vai poder trabalhar também, dar continuidade, e fazer da forma que para eles seja mais certa e aplicada ao plano de trabalho que eles pensam em realizar.

Sempre liderei equipes, mas não uma equipe tão grande, de 213 pessoas. Foi desafiador, mas também muito recompensador.

O Presente Rural – Quais foram os maiores desafios nesses sete anos?

Janice Zanella – A gente veio de um período de vacas gordas, digamos assim. A gente teve o PAC, tivemos o PAC Embrapa, o Ciência Sem Fronteiras, havia muito investimento na pesquisa brasileira, mas com o tempo a gente foi percebendo que os recursos foram ficando mais escassos, então a gente teve uma redução enorme do nosso orçamento, investimento praticamente zero nos últimos sete anos. Investimento é o que? compra de equipamentos, fazer reforma renovação de frota. A gente tinha vários projetos, como implantação de uma mini usina de energia solar que a gente não conseguiu, por exemplo, mas nós conseguimos outras coisas, como o posto de biometano do biogás, então a gente consegue gerar biometano para abastecer um veículo na unidade. A gente sempre teve parceria com indústrias e outros parceiros então a gente conseguiu manter o trabalho andando.

Vale lembrar que tivemos uma crise política muito forte, tivemos impeachment de presidente, tivemos mudança de presidente da Embrapa, nesses últimos anos tivemos três presidentes na Embrapa, muitos ministros da Agricultura. Cada vez que muda, muda política, dá uma lentidão digamos até tudo se acertar. Outro problema que eu vejo a questão de equipe. Nós estamos mais de 10 anos sem concurso público e para entrar na Embrapa a admissão é somente por concurso público. As equipes vão diminuindo, nós tivemos um plano de demissão incentivada, quando 25 colegas se desligaram, fora outros que também se transferiram, tivemos alguns falecimentos, então isso aí vai diminuindo a equipe. Acredito que uma das grandes dificuldades é a falta de recurso e a falta de pessoas. Mas tudo isso eu digo nos aproximou de outros parceiros e vimos como somos resilientes. Mesmo com todas essas dificuldades a gente conseguiu ainda mostrar que produzimos, que estamos gerando resultados e que a Embrapa é importante para o país. Basicamente isso nos dá uma realização muito grande do trabalho que a gente faz, o reconhecimento que é que é feito tanto pelo setor como também da sociedade brasileira.

O Presente Rural – A pandemia alterou os rumos de trabalho da Embrapa Suínos e Aves?

Janice Zanella – Alterou Sim. Ela é uma dos grandes desafios, a gente não tinha visto uma pandemia dessa magnitude nos últimos 100 anos. A última pandemia assim grande desse jeito, claro que a gente teve a gripe A em 2009, mas nada parecido com que a gente tá vendo, o impacto no mundo, na economia mundial, em mortes. A gente viu que realmente aqui no Brasil a situação não foi e não é muito fácil. Tivemos perdas de colegas, isso impactou e impacta muito. Com certeza impacta a cabeça de todo mundo. Todos nós ainda ficamos com essa pergunta: o que que vai ser? A pandemia veio para ter uma mudança, como aconteceu depois da segunda grande mundial, da primeira guerra. Creio que essa foi a mudança do milênio, ela ensinou também muita coisa para a gente. Eu acho que no começo a gente ainda ficou meio sem saber o que fazer, mas nunca paramos, a gente sempre deu continuidade aos trabalhos de uma forma virtual, de forma online e revezamento na unidade. Os campos experimentais não pararam, os laboratórios não pararam, a gente aprendeu a trabalhar diferente.

O Presente Rural – É possível avaliar “estragos” que a pandemia tenha deixado nas pesquisas?

Janice Zanella – A gente perdeu alguns colegas, ficamos com muitas pessoas com dificuldades até psicológicas porque perderam familiares, toda essa insegurança, as pessoas um pouco mais ansiosas, com dificuldade maior de saber o que vai ser daqui para frente, mas com relação às pesquisas eu posso te dizer com toda a segurança que não atrasamos nenhuma atividade, nenhum dos projetos foi interrompido ou foi cancelado. Atrasamos no início da pandemia, mas retomamos, estamos com tudo em dia, além desse apoio que a gente deu para o Ministério da Saúde. Nós conseguimos financiar um projeto de R$ 4 milhões com Finep para estruturar nosso laboratório NB2 Plus para um laboratório nb3, ou seja a gente vai poder atuar muito proximamente ao Ministério da Agricultura e Ministério da Saúde também em apoio principalmente a pandemias e zoonoses. Esse laboratório nb3 vai ter padrão OMS (Organização Mundial de Saúde), então isso foi uma grande conquista que eu posso dizer que foi reflexo também dessa pandemia e que veio para somar.

O Presente Rural – Você foi a primeira mulher a chefiar a Embrapa Suínos e Aves, criada em 1975. Fale sobre isso.

Janice Zanella – Sou a primeira mulher a chefiar a Embrapa, com 46 anos. Realmente foi um momento desafiador, mas eu nunca deixei que isso afetasse a forma de eu trabalhar, o fato de ser mulher, sempre tenho paixão pelo que eu faço e consegui ter reconhecimento. Claro que a mulher ainda parece que ela tem que mostrar porque veio, porque parece que o pessoal não confia de cara, mas tive apoio de toda uma equipe, uma equipe fantástica trabalhando junto comigo, meus chefes adjuntos, todos os meus supervisores. Nós tivemos uma união muito grande de esforços e a gente tem certeza que a gente conseguiu trabalhar e fazer o que a gente se propôs a fazer e mais. Acredito que essa questão de gênero não afetou, acredito muito na diversidade e acredito muito na multidisciplinaridade. As equipes têm que ser formadas por diferenças porque essas diferenças enriquecem a forma de trabalho. São essas diferenças de gerações, diferenças de gênero, de formação de culturas só enriquece.

O Presente Rural – O que vai fazer depois de passar o bastão ao pesquisador Everton Krabbe?

Janice Zanella – O Everton Krabbe é um pesquisador extremamente competente, é uma pessoa extremamente dedicada à Embrapa, é um amigo querido. Vou fazer tudo que eu puder para que seja uma transição muito tranquila, muito profissional. Nesse primeiro momento vou ajudar no que ele precisar, não só ele, mas toda equipe que ele escolheu para ajudar durante esses anos que ele vai ficar à frente da unidade. Eu trabalho para a Embrapa, trabalho para o setor e eu vou continuar fazendo o que eu puder para dar esse apoio.

Vou continuar me dedicando na pesquisa. Estou já me incluindo em grupos, eu nunca parei, mas estou retomando com mais força agora. Penso em sair fazer um ano sabático ou no ano que vem ou no outro, depois que acalmar essa pandemia, para ver o que realmente a gente vai fazer, mas eu penso em atuar muito proximamente com a parte de diagnóstico rápido, geração de diagnóstico rápido para que o técnico veterinário de campo possa ter esse primeiro diagnóstico a campo, dar segurança para ele com um diagnóstico clínico e também apoio aos laboratórios parceiros nossos, como o Sedisa e os demais laboratórios para que, quando chegue lá as amostras, já chegue com direcionamento. E também a questão da defesa, a gente vê a Peste Suína Africana chegando aí nas Américas e esse diagnóstico rápido é muito importante. E vacinas. Então o que eu quero fazer é geração de dados, dados epidemiológicos. Uma coisa que eu tenho muito interesse também de trabalhar com parte de compartimentos, são áreas que eu penso em atuar fortemente, na sanidade, é essa a minha proposta agora.

O Presente Rural – Deixe uma mensagem aos colegas de Embrapa e aos profissionais do agro.

Janice Zanella – A mensagem que trago aos meus colegas, que eu deixo para todos é primeiro continuar se dedicando, fazendo o máximo para o país, inovando, porque o nosso lema é inovação, se motivando e principalmente apoiando essa nova gestão, porque a situação não está fácil para o país. Por outro lado o agro nosso é líder mundial, nós somos líderes em várias setores. O Brasil deu muito certo na agricultura e vai continuar dando certo, a gente precisa apoiar isso tudo. E quero que meus colegas sejam felizes, procurarem trabalhar com amor, trabalhar com dedicação, acordar todo dia feliz de ter um emprego e se sentir abençoado em trabalhar no setor tão importante.

O agro é um setor fantástico, setor maravilhoso que eu adoro trabalhar junto, mas não podemos nos acomodar, os desafios estão cada dia mais próximos. A Embrapa tem um trabalho que se chama a visão 2030. O que vem na tua cabeça quando você pensa em próximos desafios? A questão da sustentabilidade. O planeta está passando por mudanças, mudanças climáticas, mudanças demográficas e mudanças sanitárias. Doenças novas vão continuar surgindo, o regime de águas, as mudanças climáticas, o calor, tudo isso vai impactar a produção de grãos, vai impactar a produção animal, a saúde humana e a saúde animal.

A globalização está cada vez maior, então essas doenças estão chegando cada vez mais rápido em vários continentes. A gente também tem que pensar que existem soluções, às vezes não são soluções fáceis, são soluções difíceis, mas por exemplo para a sustentabilidade têm várias tecnologias. Eu acho que o Brasil não pode depender de tecnologia dos outros. Por exemplo, tanto para produção de insumos fertilizantes, vacinas, o Brasil tem que ter isso. A gente viu agora como foi difícil durante a pandemia se manter, desde a construção civil até os diagnósticos moleculares a dificuldade que é de conseguir insumo. O Brasil tem que ser autossuficiente e também abrir.

Veja a China, né? A China comercializa com o mundo inteiro, importa do mundo inteiro e exporta para o mundo inteiro. O Brasil é relativamente fechado, tem que se abrir mais, investir em tecnologia. Dizem que nos próximos 30 anos a tecnologia vai avançar mais que nos últimos 200 anos. A gente vê isso nas comunicações, como evoluiu de um ano para cá.

Os desafios são grandes, mas também a gente tem que aproveitar essas oportunidades e construir o melhor, inovando, fazendo diferente, abrindo a cabeça, saindo da caixa. A ciência está aí para nos ajudar. Eu acredito que a maior conquista da humanidade realmente foi a ciência e a comunicação. Temos que aproveitar a tecnologia, trabalhar juntos, criticar também, mas também usar a criatividade para inovar. Então essa aí a mensagem que eu deixo, agradecendo todos os parceiros, principalmente os parceiros do nosso Inova, que acreditaram na gente, e que continuem nos apoiando e apoiando a Embrapa. E dizer que sempre podem contar comigo.

Avicultura

Desafios sanitários e seu controle norteiam discussões do 15º Encontro Mercolab de Avicultura

Além do reovírus, o encontro abordou temas como as consequências econômicas da bronquite infecciosa e a importância do controle de salmonella na cadeia produtiva.

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Fotos: Jaqueline Galvão/OP Rural

O 15º Encontro Mercolab de Avicultura, realizado em 10 de setembro em Cascavel (PR), reuniu mais de 300 participantes, entre profissionais da agroindústria, técnicos, fornecedores e especialistas, para debater os desafios e avanços da sanidade na cadeia avícola. Coordenado pelo médico-veterinário Alberto Back, doutor em Patobiologia Veterinária, o evento figura entre as principais plataformas de troca de conhecimento para o setor, reforçando o compromisso com a atualização técnica e trazendo à tona temas de extrema importância para a sustentabilidade e competitividade da avicultura brasileira.

Com uma programação elaborada em parceria com profissionais da cadeia produtiva, o encontro trouxe uma visão abrangente da avicultura atual, abordando desde o programa de autocontrole até o monitoramento molecular de reovírus. “Tivemos uma participação expressiva do público, o que demonstra o grande interesse pelos temas tratados. Houve muita troca de experiências e debates, engrandecendo o evento”, destacou Back.

Médico-veterinário doutor em Patobiologia Veterinária e coordenador do 15º Encontro Mercolab de Avicultura, Alberto Back: “Estamos criando aves mais eficientes, mas o desenvolvimento genético pode, em parte, colaborar para o surgimento de novas dificuldades, como o aumento da incidência de reovírus”

Entre os temas em destaque, o reovírus ocupou o centro das discussões. A reovirose, doença que afeta aves gerando problemas articulares e dificuldade de locomoção, tem causado grande preocupação entre os produtores. Back explicou que a complexidade do vírus, com diversas cepas que variam em seu impacto, torna o controle um desafio constante. “Com o uso de tecnologias moleculares, conseguimos identificar as cepas que causam problemas e, com isso, desenvolver vacinas específicas para cada região ou granja, mas o controle ainda não é fácil”, evidenciou.

Além do reovírus, o encontro abordou temas como as consequências econômicas da bronquite infecciosa e a importância do controle de salmonella na cadeia produtiva. O evento também enalteceu a necessidade de atualização constante no setor avícola nacional, que, apesar de ser um dos mais avançados do mundo, enfrenta desafios crescentes com o avanço genético e as mudanças nas condições de criação. “Estamos criando aves mais eficientes, mas o desenvolvimento genético pode, em parte, colaborar para o surgimento de novas dificuldades, como o aumento da incidência de reovírus”, comentou Back.

O médico-veterinário enfatizou a importância de eventos como o Encontro para o fortalecimento da cadeia produtiva. “Esse tipo de troca de informações entre produtores, técnicos, laboratórios e fornecedores é o que nos permite estar preparados para enfrentar os desafios do setor e continuar evoluindo”, afirmou.

Avicultura nacional

O Brasil produziu em 2023 mais de 14,8 milhões de toneladas de carne de frango, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Com 5,1 milhões de toneladas comercializadas e R$ 52 bilhões faturados, o Brasil se consolida como o maior exportador dessa proteína. O Paraná é líder nacional, respondendo sozinho por 42% de tudo o que o País manda para 172 países. A produção mundial de carne de frango, no ano passado, foi de 102 milhões de toneladas.

O Brasil, que caminha para se consolidar como o maior celeiro exportador de alimentos do planeta, abastece a mesa de um bilhão de pessoas, cerca de 12% dos habitantes do planeta. E para manter essa liderança e o crescimento de cadeias tão indispensáveis para a economia nacional, com previsão de crescimento de 13% na de frango nos próximos sete anos, eventos como o Encontro MercoLab de Avicultura se tornam cada vez mais necessários.

O cenário da avicultura brasileira está em constante evolução, mas enfrenta um inimigo invisível e perigoso: o reovírus aviário (ARV). Embora já seja conhecido por décadas, este patógeno ganhou novas proporções com o surgimento de variantes virulentas, especialmente em frangos de corte, que causam doenças debilitantes como artrite viral e tenossinovite. O impacto econômico é considerável, com prejuízos causados pela queda na produtividade, aumento da mortalidade, condenações em frigoríficos e altos custos de tratamento.

O ARV é especialmente problemático por sua capacidade de se espalhar rapidamente nos ambientes de criação, tanto por transmissão horizontal (de ave para ave) quanto vertical (de reprodutoras para a progênie). Isso exige que os produtores mantenham um controle rigoroso das condições de biosseguridade nas granjas. No entanto, a resistência do vírus a desinfetantes e sua habilidade de permanecer oculto tornam o controle da doença um desafio constante.

Os programas de vacinação desempenham um papel central no controle da reovirose, mas o cenário atual impõe uma corrida contra o tempo. O ARV, como muitos outros vírus de RNA, tem uma alta taxa de mutação, o que frequentemente torna as vacinas tradicionais menos eficazes. Esse fenômeno destaca a importância de atualizar as vacinas regularmente, considerando as cepas predominantes nas regiões afetadas. Empresas de saúde animal têm investido na pesquisa e no desenvolvimento de vacinas autógenas, que são adaptadas a essas variantes locais, proporcionando maior eficácia.

No entanto, mesmo com o avanço das tecnologias de imunização, o reovírus continua sendo um desafio, pois suas manifestações clínicas são variadas e, muitas vezes, difíceis de identificar precocemente.

Para enfrentar esses desafios, a integração entre pesquisa científica, inovação em biotecnologia e a adoção de boas práticas de manejo é crucial. Além disso, a troca constante de informações entre produtores, veterinários e empresas de saúde animal é essencial para identificar rapidamente novas variantes e adaptar as estratégias de controle.

A avicultura, setor vital para a economia brasileira, precisa estar em alerta e continuar investindo em tecnologia e biosseguridade. Com uma produção de carne de frango que coloca o Brasil entre os líderes mundiais, garantir a sanidade e o bem-estar das aves é um passo fundamental para manter a competitividade no mercado global. O reovírus não é apenas um problema de saúde animal; é uma ameaça à sustentabilidade do setor avícola. A preparação, a inovação e a colaboração serão as chaves para superar esse obstáculo.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de avicultura acesse a versão digital de avicultura de corte e postura, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
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Avicultura Vem aí o Alimenta

Congresso Brasileiro de Proteína Animal e Rendering

Em junho de 2025 o Paraná sediará o primeiro evento que vai reunir os players de proteína e reciclagem animal.

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Surge um novo e disruptivo capítulo na história dos eventos de proteína animal no Brasil: o Alimenta – Congresso Brasileiro de Proteína Animal & Rendering. Marcado para junho de 2025, em Foz do Iguaçu, este evento é a evolução natural do Congresso de Avicultores e Suinocultores O Presente Rural, que cresceu ano após ano com o pilar de gerar informação útil aos produtores rurais. O Alimenta promete ser um marco significativo na integração de toda a cadeia de proteína animal e rendering ou reciclagem animal, atraindo a atenção de todos os segmentos do setor. Só o mercado de reciclagem animal movimenta em torno de R$ 100 bilhões por ano e exporta mais de US$ 115 mil por ano.

“O Alimenta 2025 foi concebido para atender às novas demandas e oportunidades do setor de proteína animal. A evolução do nosso

Selmar Marquesin, diretor do jornal O Presente Rural: “O Alimenta 2025 foi concebido para atender às novas demandas e oportunidades. Um ambiente onde produtores, profissionais e empresas possam compartilhar conhecimentos, inovações e gerar negócios”- Foto: Divulgação

evento reflete nosso compromisso em proporcionar um ambiente onde produtores, profissionais e empresas possam compartilhar conhecimentos, inovações e gerar negócios. A escolha de Foz do Iguaçu, com sua infraestrutura e localização estratégica, foi essencial para abrigar esse novo formato, que promete ser mais inclusivo e abrangente”, destaca Selmar Marquesin, diretor do jornal O Presente Rural.

O Alimenta 2025 é uma oportunidade para cooperativas, empresas integradoras, produtores rurais, médicos veterinários, zootecnistas e empresas da cadeia de insumos se reunirem em um ambiente propício ao intercâmbio de conhecimento, inovação e oportunidades de negócios. Em um ambiente inspirador, o evento promete atender às demandas crescentes de qualificação e desenvolvimento constante. “Unir em um só lugar todos os atores da produção de proteína animal no Brasil é essencial para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades do setor. O Alimenta 2025 foi criado com essa visão integrada, proporcionando um espaço onde ciência, tecnologia e negócios se encontram para contribuição à indústria de proteína animal”, afirma Eliana Panty, CEO do Alimenta.

Panty destaca que o setor de reciclagem animal, responsável pelo processamento de resíduos do abate de animais de produção, como aves, suínos, bovinos e pescado, gira milhões no mercado internacional. “São as partes dos animais abatidos que não vão para o consumo humano, seja por questões ligadas aos hábitos alimentares ou culturais da população ou, então, classificados como impróprios para consumo humano pelo sistema de inspeção oficial, como ossos, penas, sangue, escamas, vísceras, aparas de carne e gordura e partes do animal. Uma matéria prima valiosa para a indústria de rações para animais de produção e pets”.

O Alimenta 2025 se apresenta com uma programação abrangente com foco no produtor e nos gestores de granjas. Grandes empresas do setor apresentam suas últimas inovações, produtos e serviços na Exposição e Feira de Negócios, promovendo um ambiente dinâmico de networking e geração de negócios. Além disso, serão oferecidas palestras direcionadas a produtores de leite, ovos e carnes, além de sessões específicas para profissionais como médicos veterinários e zootecnistas, abordando as mais recentes novidades em pesquisa e desenvolvimento. A Mostra de Trabalhos Científicos oferecerá um espaço dedicado à apresentação de pesquisas e estudos de vanguarda da ciência e tecnologia no setor de proteína animal. As empresas parceiras também terão a oportunidade de organizar eventos adicionais, proporcionando ainda mais conteúdo relevante e oportunidades de aprendizagem.

Foz do Iguaçu

A escolha de Foz do Iguaçu como sede do Alimenta não foi por acaso. Reconhecida pela sua capacidade de receber grandes congressos do setor, a cidade conta com um aeroporto bem localizado e uma infraestrutura turística robusta, incluindo muitos hotéis para acomodar os participantes. Situada no Oeste do Paraná, um dos maiores polos de produção de proteína animal do Brasil, Foz do Iguaçu oferece o ambiente ideal para um evento dessa magnitude.

Eliana Panty, CEO do Alimenta: “Unir em um só lugar todos os atores da produção de proteína animal no Brasil é essencial para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades do setor” – Foto: Divulgação

“O evento visa promover a qualificação constante do setor através de palestras atualizadas, destacando as mais recentes inovações em pesquisa e desenvolvimento. Além disso, busca fomentar negócios por meio da exposição de fornecedores da cadeia de insumos e das indústrias que trabalham com rendering, um processo de reciclagem animal que transforma partes não aproveitadas para a alimentação humana em componentes para rações. Com esta nova abordagem, o Alimenta pretende integrar toda a cadeia produtiva, reforçando a importância da inovação e do desenvolvimento sustentável para o futuro da proteína animal no Brasil”, menciona Eliana Panty.

“Prepare-se para uma experiência única e transformadora no Alimenta – Congresso Brasileiro de Proteína Animal & Rendering. Este evento promete ser um verdadeiro progresso para o avanço da indústria de proteína animal, reunindo os principais atores do setor para compartilhar conhecimento, explorar novas oportunidades e construir um futuro mais próspero e sustentável. Nos vemos em Foz do Iguaçu, onde juntos vamos moldar o futuro da proteína animal no Brasil”, sintetiza Eliana Panty.

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Fonte: O Presente Rural
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Avicultura

Reovírus: uma corrida contra o tempo

É especialmente problemático por sua capacidade de se espalhar rapidamente nos ambientes de criação, tanto por transmissão horizontal (de ave para ave) quanto vertical (de reprodutoras para a progênie).

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Foto: Arquivo OPR

O cenário da avicultura brasileira está em constante evolução, mas enfrenta um inimigo invisível e perigoso: o reovírus aviário (ARV). Embora já seja conhecido por décadas, este patógeno ganhou novas proporções com o surgimento de variantes virulentas, especialmente em frangos de corte, que causam doenças debilitantes como artrite viral e tenossinovite. O impacto econômico é considerável, com prejuízos causados pela queda na produtividade, aumento da mortalidade, condenações em frigoríficos e altos custos de tratamento.

O ARV é especialmente problemático por sua capacidade de se espalhar rapidamente nos ambientes de criação, tanto por transmissão horizontal (de ave para ave) quanto vertical (de reprodutoras para a progênie). Isso exige que os produtores mantenham um controle rigoroso das condições de biosseguridade nas granjas. No entanto, a resistência do vírus a desinfetantes e sua habilidade de permanecer oculto tornam o controle da doença um desafio constante.

Os programas de vacinação desempenham um papel central no controle da reovirose, mas o cenário atual impõe uma corrida contra o tempo. O ARV, como muitos outros vírus de RNA, tem uma alta taxa de mutação, o que frequentemente torna as vacinas tradicionais menos eficazes. Esse fenômeno destaca a importância de atualizar as vacinas regularmente, considerando as cepas predominantes nas regiões afetadas. Empresas de saúde animal têm investido na pesquisa e no desenvolvimento de vacinas autógenas, que são adaptadas a essas variantes locais, proporcionando maior eficácia.

No entanto, mesmo com o avanço das tecnologias de imunização, o reovírus continua sendo um desafio, pois suas manifestações clínicas são variadas e, muitas vezes, difíceis de identificar precocemente.

Para enfrentar esses desafios, a integração entre pesquisa científica, inovação em biotecnologia e a adoção de boas práticas de manejo é crucial. Além disso, a troca constante de informações entre produtores, veterinários e empresas de saúde animal é essencial para identificar rapidamente novas variantes e adaptar as estratégias de controle.

A avicultura, setor vital para a economia brasileira, precisa estar em alerta e continuar investindo em tecnologia e biosseguridade. Com uma produção de carne de frango que coloca o Brasil entre os líderes mundiais, garantir a sanidade e o bem-estar das aves é um passo fundamental para manter a competitividade no mercado global. O reovírus não é apenas um problema de saúde animal; é uma ameaça à sustentabilidade do setor avícola. A preparação, a inovação e a colaboração serão as chaves para superar esse obstáculo.

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Fonte: Por Giuliano De Luca, jornalista e editor-chefe do O Presente Rural
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