Suínos
Pesquisador faz profunda análise a favor do Brasil em relação a outros países produtores
José Eustáquio Vieira Filho evidencia o cenário econômico e político com foco no agronegócio nacional.

“Quando eu era estudante de Economia, a primeira coisa que via nos manuais era que a agricultura é um modelo perfeitamente competitivo de oferta e demanda, e que o preço é dado pelo mercado. Quando estudava o desenvolvimento econômico, a agricultura era um setor marginal ao desenvolvimento econômico. Para um país para se desenvolver, tinha que desenvolver a agricultura, setor industrial e, por último, setor de serviços”, lembra José Eustáquio Vieira Filho, pesquisador no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). “Então, basicamente, víamos isso nas universidades e eu percebia que essas coisas não batiam com a realidade prática”, lembra.

Pesquisador no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, José Eustáquio Vieira Filho: “O que está por detrás do sucesso agropecuário brasileiro é conhecimento e tecnologia, nada mais do que isso” – Foto: Francieli Baumgarten
Durante o Encontro Regional Abraves, realizado em Toledo, PR, o pesquisador ministrou palestra onde falou sobre o cenário econômico e político com foco no agronegócio. “Falar em agronegócio é muito mais do que falar em um produto, da questão do clima, rezar para que tenhamos boas chuvas, e tudo mais será doado da forma divina. Na verdade, o que está por detrás do sucesso agropecuário brasileiro é conhecimento e tecnologia, nada mais do que isso”, elucida o palestrante.
“O agro é muito importante, é o agro que move a economia do país, é o agro que paga os salários, é o agro que gera desenvolvimento econômico. Independente de governo A, governo B, o agronegócio é que move a economia”, destaca o profissional. “O plano safra sempre vai existir, o setor vai continuar crescendo e as coisas vão continuar no seu ritmo tradicional. A menos que venha um determinado presidente e queira acabar com o setor, mas acredito que isso não vai acontecer, porque seria como retroceder 50 anos”, expressa Vieira Filho.
Ele sugere questionar se existe futuro viável para o agronegócio e, particularmente, para a suinocultura. “Essa questão pode ser respondida por diferentes prismas. Inovação tecnológica, a questão sanitária, a sustentabilidade ambiental, a sucessão dos negócios, entre outros fatores. Busco focar a questão da inovação tecnológica como um fator central no que foi feito no Brasil”, argumenta.
Voltando no tempo
O pesquisador falou sobre a criação e a relevância da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), na década de 1970, mas argumenta que a instituição “não construiu isso sozinha”. “A Embrapa foi central em canalizar as principais demandas que o país tinha nos anos 70 e conseguiu organizar o país. É claro, junto com o ambiente institucional ao seu redor, isso ganhou corpo e fez com que houvesse uma evolução muito grande”.
Nos anos 1970, o Brasil enfrentava políticas que priorizavam a extração de renda da agricultura para subsidiar outros setores, como ressalta Vieira Filho. Essas políticas, muitas
vezes negligenciadas nas discussões contemporâneas, incluíam práticas como taxas múltiplas de câmbio, que beneficiavam certos setores em detrimento da agricultura, um dos principais setores exportadores do país na época. “É claro que, naquele período, a agricultura era pouco diversificada comparando com a agricultura que a gente conhece hoje, mas era o setor que exportava, então ele era prejudicado”, acrescenta o palestrante. Ele aponta que “as taxas prejudicavam a agricultura, mas beneficiaram a indústria. A agricultura era penalizada nesse sentido”.
Durante o período do chamado “milagre econômico” entre 1968 e 1973, o Brasil experimentou um crescimento econômico notável, mas também enfrentou desafios, como a inflação decorrente da oferta inelástica de preços. “O país estava crescendo a taxas de dois dígitos, mais do que a China, levando em conta aquele período”, salienta. “E quanto maior a demanda, se você não tem oferta, os preços explodem, vem a inflação. E inflação nenhum governo gosta”. Eustáquio destaca o papel de Affonso Celso Pastore em mostrar que, na realidade, a produção agrícola poderia reagir aos preços, desde que houvesse investimentos em inovação e tecnologia, expandindo assim a oferta produtiva. E afirma: “Flutuações no preço podem sim influenciar a oferta ou a demanda dos produtos”.
Nesse contexto, dois importantes ministros, Cirne Lima da Agricultura e Delfim Netto da Economia, reconheceram a necessidade de abordar os problemas enfrentados pela agricultura brasileira. Enquanto parte da população defendia a reforma agrária como solução, outra parte argumentava a favor do investimento em tecnologia e capital humano para promover o crescimento da agropecuária. Essa dicotomia acentuada pelo pesquisador ecoa os debates contemporâneos. “A mesma discussão vemos hoje quando separamos os grupos ideológicos. Há quem pense que a reforma agrária é uma política importante, mas na prática, o que se mostrou no Brasil foi investimento em capital humano e tecnologia”, analisa.
A criação da Embrapa, em 1973, representou um marco nesse contexto. Como frisa o palestrante, o investimento na pesquisa agro foi justificado pelo reconhecimento da importância de fornecer conhecimento atualizado aos agricultores. O estudo realizado pelo professor Guilherme Dias, que demonstrou a defasagem no diálogo entre a extensão rural e os produtores, foi fundamental para embasar essa decisão. “Delfim Netto pegou o argumento desse estudo e utilizou para justificar o investimento na pesquisa. A criação da Embrapa tinha que ser justificada”, relata o doutor em Teoria Econômica.
Concentração
Ele também aborda a questão da concentração produtiva no setor agropecuário brasileiro, destacando números que revelam uma realidade desafiadora e apontam para possíveis caminhos de desenvolvimento. Segundo Vieira Filho, “em 2006, um texto clássico do doutor Eliseu, publicado no livro do IPEA, mostrou, pela primeira vez, que havia uma grande concentração produtiva no setor agropecuário brasileiro”. Os dados do Censo de 2017 confirmaram essa concentração, revelando que “9% dos estabelecimentos mais ricos respondem por 85% da produção, enquanto 91% dos estabelecimentos mais pobres respondem pela pequena parte de 15% da produção”. Essa realidade, enfatiza o palestrante, não é exclusiva do Brasil, persistindo também em economias como a americana e europeia.
Essa concentração, segundo doutor José Eustáquio, pode ser vista como parte dos modelos de desenvolvimento econômico, onde é necessário “que você tenha concentrações em determinados ramos produtivos para que você possa ter um start de alocação de investimento, crescimento, aumento da produtividade e expansão”. No entanto, o profissional também aponta para uma oportunidade de mudança. Ele sugere que “se você incorporar 1% dos estabelecimentos mais pobres dentro dessa faixa mais dinâmica, podemos não só dobrar, como até triplicar a produção brasileira, usando os mesmos recursos, usando os mesmos insumos tecnológicos”.
Condições influenciam a tecnologia
Para ele, a compreensão desse aspecto se tornou fundamental durante seu pós-doutorado na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, onde teve a oportunidade de colaborar com o professor Albert Fischer na elaboração do livro “Agricultura e Indústria no Brasil, Inovação e Competitividade”. “Percebi que tudo o que acontecia na agricultura era, não só semelhante, como idêntico ao que eles explicavam sobre os casos bem-sucedidos de inovação tecnológica na indústria”, sublinha. A análise comparativa entre setores industriais como o de petróleo, produção de aeronaves e o agronegócio revela padrões interessantes de evolução tecnológica e adaptação às condições específicas de cada segmento. “Comparamos então, três setores industriais. Setor de petróleo, o setor de produção de aeronaves e o agronegócio”, recorda.
Ele ilustra sua argumentação com exemplos concretos. No caso da indústria de aviação, enfatiza que a evolução tecnológica está intimamente ligada ao aumento de escala das

aeronaves. “O avião, para que se tenha uma evolução tecnológica, vai ampliando de tamanho. Ao ampliar de tamanho ele aumenta o peso, ao aumentar o peso as condições tecnológicas são outras. Dependendo da capacidade que se tem de absorção das tecnologias, tem-se capacidade de produzir aeronaves maiores. É algo muito complexo”, explica o pesquisador.
Ao abordar o setor de petróleo, o doutor menciona as diferenças entre as estratégias de exploração adotadas em diferentes regiões do mundo. Enquanto em lugares como o Oriente Médio ou Estados Unidos a presença de petróleo próximo à superfície facilitou a exploração, no Brasil o cenário foi distinto. “No Brasil, isso não aconteceu. E num determinado momento, o país resolveu procurar petróleo na costa litorânea brasileira”, relata. O surgimento de experiências bem-sucedidas de exploração offshore na década de 1960 marcou o início de um período de investimentos significativos no setor. “E depois que foi descoberto na Bacia de Campos, o Brasil começou a investir muito”, acrescenta.
O pesquisador salienta que, assim como na indústria aeronáutica e petrolífera, o agronegócio enfrenta desafios tecnológicos específicos à medida que amplia sua escala produtiva. “Explorar petróleo a cem metros é uma condição de temperatura e predição diferente do que explorar petróleo a dois mil metros, cinco mil metros de profundidade. É preciso novos materiais, novas tecnologias. A complexidade tecnológica é diferente. No agro é a mesma coisa”, diz.
Analisando dados dos Censos Agropecuários de 1995 e 2017, Eustáquio explora a relação entre tecnologia, escala produtiva e eficiência no setor. “Comparando os dois Censos, quanto maior eram as propriedades, maior eram os indicadores de potência”. Essa constatação evidencia a importância da escala na absorção tecnológica e no aumento da produtividade agrícola. O estudo revelou que, ao longo das décadas, a tecnologia desempenhou um papel cada vez mais significativo nos ganhos de produção. “Na década de 1990, a tecnologia já era responsável por, praticamente, 50% dos aumentos produtivos. E, no último Censo, essa participação se ampliou para algo em torno de 60,6%”, explica o pesquisador.

Uma tendência clara observada nos dados é a redução da participação do trabalho na produção agrícola, enquanto a utilização de tecnologia e insumos biotecnológicos vem ganhando espaço. “Cada vez mais uma atividade agropecuária é intensiva em tecnologia e pouco intensiva em trabalho. Intensiva em robótica, máquinas, além dos insumos biotecnológicos”, destaca Vieira. Entretanto, ele revela que “a participação do trabalho caiu de 31,3% para 19%. E a participação da terra é praticamente estável. Ressalto que o estudo não está dizendo que terra não é importante. O estudo diz que a participação da terra comparativamente a outros fatores produtivos tem uma contribuição menor”.
Efeito poupa floresta
Um dos pontos destacados pelo profissional é o “efeito poupa floresta”, um conceito que ressalta o impacto positivo da tecnologia na preservação ambiental. “Imagine que se tenha uma situação no passado, uma situação no presente e um contrafatual. Se observarmos passado e presente, há um pequeno aumento da área produtiva. Mas esse pequeno aumento em nada se compara com o que foi poupado ao longo do tempo, e essa poupança foi devido à tecnologia”, elucida.
Esses resultados têm implicações importantes para políticas públicas e estratégias de desenvolvimento agrícola. Segundo o palestrante, é fundamental que os países reconheçam o papel fundamental da inovação tecnológica no aumento da produtividade e na conservação ambiental. Em vez de simplesmente focar na distribuição de terras, investimentos em acesso e adoção de tecnologias eficientes podem ser a chave para impulsionar o crescimento sustentável do agronegócio.
O doutor José Eustáquio assegura que o “efeito poupa-floresta” representa menos fome do mundo, pois quanto mais tecnologia, menos é preciso desmatar áreas para produzir mais. Ele diz que “ao longo da década de 1990, para os dias atuais, o Brasil praticamente poupou 43% do seu território. Se compararmos com nossos principais críticos e competidores, o nosso indicador no último ano é muito maior do que, por exemplo, da Espanha, que só poupou 20,4% com a tecnologia, ou do que a França, que foi 2,4%”. Vieira conta também que descobriu, através de um estudo, em 2020, “que na Europa estava se criando um debate, uma crítica, dizendo que o estudo não podia ser feito dessa forma, porque parte de um ponto que, teoricamente, segundo os europeus, eles já são eficientes. E isso não é verdade. A verdade é que eles já desmataram tudo, não têm mais o que desmatar”, expressa.
A conta não fecha
Ao revelar que, segundo dados, dois terços do território brasileiro são preservados com matas nativas, o palestrante incita uma reflexão. “O continente europeu, por exemplo, não
tem 10% de preservação. Como eles querem ditar ordem dentro do território brasileiro?”, questiona. Ele complementa que fez outro exercício, que consiste em dividir a produção por unidade de emissão. “Primeiro lugar, não acredito no que são essas emissões de CO2 equivalente na atmosfera. Pegam um monte de cientistas da Embrapa, de universidades financiadas por ONGs ou instituições internacionais, e dão um ar de cientificidade e chegam a um número de carbono. Milhões de toneladas de carbono. Supondo que essas estatísticas internacionais sejam verdadeiras. Analisei essas estatísticas para o Brasil e dividi produção por unidade e emissão, e fiz o mesmo para os nossos principais competidores. Pasmem, o Brasil foi o país que teve o melhor indicador de sustentabilidade nesse quesito” revela o pesquisador.
Eustáquio acentua que, na produção agrícola, em 1990, um quilo de CO2 equivalente conseguia gerar 243 quilos de produtos agrícolas. Já em 2020, o mesmo quilo de CO2 equivalente conseguia produzir 748 quilos. “Então veja, nós estamos produzindo mais com a mesma emissão de carbono. Sendo assim, o Brasil, comparado aos nossos principais competidores, é o país com o melhor rendimento”, enfatiza.
Soja brasileira
O economista sublinha o impressionante crescimento da cadeia produtiva da soja no Brasil ao longo das últimas décadas. Em sua análise, revela números que ilustram a magnitude desse progresso. Em 1991, a produção nacional de soja totalizava 19,4 milhões de toneladas. Contrastando com os dados de 2022, esse número saltou para 154,6 milhões de toneladas, representando um aumento surpreendente de quase 700%. Como observa o palestrante, “a produção de soja foi multiplicada por oito ao longo desse período”.
Outro ponto de destaque é a relação entre a produção de soja e a produção total de grãos. Em 1991, os grãos atingiram 68,4 milhões de toneladas, enquanto em 2022 foram 319,8 milhões de toneladas. Vieira Filho afirma que “a produção de soja representa, praticamente, 50% da produção total de grãos”. Um aspecto importante também é o papel central da soja na cadeia produtiva agrícola. Em 2022, a produção de soja totalizou 154 milhões de toneladas, grande parte da qual é processada em farelo e óleo. O palestrante detalha que “63% da soja é exportada como excedente produtivo, enquanto 32% é consumida internamente”.

Eustáquio fala ainda sobre a questão do consumo per capita, e dá destaque ao aumento significativo ao longo dos anos. Desde 1991, o consumo per capita de soja aumentou 2,7 vezes, o de farelo 4,5 vezes, e o de óleo 2,2 vezes. Além disso, segundo o pesquisador, o consumo de carne de frango e suína também registrou aumentos substanciais, correlacionados com o crescimento das exportações. “Carne de frango, 30% exportado, o restante é consumido dentro do país, carne bovina, 27% é exportado, o restante é consumido dentro do país. Carne suína, 30% é exportado e o restante é consumido dentro do país”, aponta.
Exportações e segurança alimentar
Um ponto analítico importante levantado na palestra foi a relação entre exportações e segurança alimentar. Contrariando a noção de que as exportações comprometem a segurança alimentar interna, o profissional argumenta que “exportar não é ruim para a segurança alimentar do país”. Ele considera que políticas que visam taxar as exportações podem prejudicar o desenvolvimento econômico e que investimentos em inovação e tecnologia são fundamentais para garantir a segurança alimentar e impulsionar o crescimento da oferta.
Sobre o quadro de comércio exterior do país e a ascensão impressionante do setor agropecuário brasileiro, o pesquisador do Ipea afirma que “o Brasil é o líder em exportações líquidas de alimentos para o mundo”, ressaltando a posição de destaque que o país ocupa no cenário global. Ele explica que o Brasil figura como o terceiro maior exportador, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e Holanda, enquanto ocupa a 34ª posição em importações.
Uma das principais conquistas evidenciadas por Vieira Filho é o saldo superavitário da balança comercial brasileira, especialmente após 2015, comparado aos competidores latino-americanos. Ele salienta que “o Brasil se descola com um saldo superavitário da balança comercial global”, graças ao desempenho positivo do setor agropecuário. Sem esse saldo, o pesquisador argumenta que o país não seria capaz de contrabalançar os déficits em outras áreas da economia. O setor agropecuário desempenha um papel crucial nessa dinâmica, representando 50% das exportações totais do Brasil. Um estudo do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) citado por José Eustáquio aponta que, até 2027, a maior expansão da oferta produtiva ocorrerá principalmente no Brasil. Os principais destinos dessas exportações incluem a China (31,9%), União Europeia (16,1%) e Estados Unidos (6,6%).
O palestrante também enfatiza a diversificação do mercado brasileiro, apesar da concentração significativa na China. Ele ilustra esse ponto com o exemplo da carne suína, que saltou
do 14º lugar, em 1995, para a terceira posição mundial em exportações até 2022. “O market share brasileiro, que era de 1% na década de 90, hoje representa 17% das exportações mundiais”, afirma.
Outro ponto-chave abordado por José Eustáquio é a relação entre a taxa de juros e o mercado internacional. Ele constata que “é errado tentar prever o mercado olhando só a taxa Selic e esquecendo o que acontece com o resto do mundo”, enfatizando a importância de comparar a taxa de juros real com a do mercado americano. Segundo ele, essa comparação é essencial para determinar a necessidade de ajustes na taxa de juros brasileira, visando atrair capital estrangeiro e manter a competitividade econômica.
Sobre a relação entre taxa de câmbio e exportações Vieira denota que “quanto maior as exportações, mais se diminui a taxa de câmbio”, explicando como a abundância de exportações pode influenciar na valorização da moeda nacional. No entanto, ele alerta para os potenciais impactos negativos dessa valorização excessiva sobre os produtores, defendendo a necessidade de estabilidade cambial para garantir previsibilidade aos agentes econômicos.
Brasil
Quanto ao desempenho econômico do Brasil, ele observa que o país vem apresentando sinais de recuperação, com o PIB crescendo após os impactos da crise pandêmica. Ele compartilha dados do último boletim Focus, que indicam um aumento da inflação em 2024, seguido de estabilidade em 2025, bem como um pequeno crescimento do PIB no mesmo período. Além disso, prevê uma taxa de câmbio relativamente estável nos próximos anos, com a taxa de juros em torno de 9%.
O pesquisador fez uma comparação entre a situação econômica do Brasil e da Europa, e aponta as diferenças nas políticas de subsídios e práticas sustentáveis. Enquanto o Brasil é reconhecido como um exemplo de competitividade com práticas sustentáveis, Eustáquio revela que a Europa enfrenta desafios relacionados à redução de subsídios e dependência dessas políticas para a produção agrícola.
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Suínos
Produção de suínos avança e exportações seguem perto de recorde
Mercado interno reage bem ao aumento da oferta, enquanto embarques permanecem em níveis históricos e sustentam margens da suinocultura.

A produção de suínos mantém trajetória de crescimento, impulsionada por abates maiores, carcaças mais pesadas e margens favoráveis, de acordo com dados do Itaú BBA Agro. Embora o volume disponibilizado ao mercado interno esteja maior, a demanda doméstica tem respondido positivamente, garantindo firmeza nos preços mesmo diante da ampliação da oferta.
Em outubro, o preço do suíno vivo registrou leve retração, com queda de 4% na média ponderada da Região Sul e de Minas Gerais. Apesar disso, o spread da suinocultura sofreu apenas uma redução marginal e segue em patamar sólido.

Foto: Shutterstock
Dados do IBGE apontam que os abates cresceram 6,1% no terceiro trimestre de 2025 frente ao mesmo período de 2024, após altas de 2,3% e 2,6% nos trimestres anteriores. Com carcaças mais pesadas neste ano, a produção de carne suína avançou ainda mais, chegando a 8,1%, reflexo direto das boas margens, favorecidas por custos de produção controlados.
Do lado da demanda, o mercado externo tem sido um importante aliado na absorção do aumento da oferta. Em outubro, as exportações somaram 125,7 mil toneladas in natura, o segundo maior volume da história, atrás apenas do mês anterior, e 8% acima de outubro de 2024. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, o crescimento chega a 13,5%.
O preço médio em dólares recuou 1,2%, mas o impacto sobre o spread de exportação foi mínimo. O indicador segue próximo de 43%, acima da média histórica de dez anos (40%), impulsionado pela desvalorização cambial, que atenuou a queda em reais.
Mesmo com as exportações caminhando para superar o recorde histórico de 2024, a oferta interna de carne suína está maior em 2025 em função do aumento da produção. Ainda assim, o mercado doméstico tem absorvido bem esse volume adicional, mantendo os preços firmes e reforçando o bom momento do setor.
Colunistas
Comunicação e Marketing como mola propulsora do consumo de carne suína no Brasil
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas.

Artigo escrito por Felipe Ceolin, médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias, com especialização em Qualidade de Alimentos, em Gestão Comercial e em Marketing, e atual diretor comercial da Agência Comunica Agro.
O mercado da carne suína vive no Brasil um momento transição. A proteína, antes limitada por barreiras culturais e mitos relacionados à saúde, vem conquistando espaço na mesa do consumidor.
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas. Estudos recentes revelam que o brasileiro passou a reconhecer características como sabor, valor nutricional e versatilidade da carne suína, demonstrando uma mudança clara no comportamento de compra e consumo. É nesse cenário que o marketing se transforma em importante aliado da cadeia produtiva.

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Reposicionar para crescer
Para aumentar a participação na mesa das famílias é preciso comunicar aquilo que o consumidor precisava ouvir:
— que é uma carne segura,
— rica em nutrientes,
— competitiva em preço,
— e extremamente versátil na culinária.
Campanhas educativas, conteúdos informativos e a presença mais forte nas mídias sociais têm ajudado a construir essa nova imagem. Quando o consumidor entende o produto, ele compra com mais confiança – e essa confiança só existe quando existe uma comunicação clara e alinhada as suas expectativas.
O marketing não apenas divulga, ele conecta. Ao simplificar informações técnicas, aproximar o produtor do consumidor e mostrar maneiras práticas de preparo, a comunicação se torna um instrumento de transformação cultural.
Apresentar novos cortes, propor receitas, explicar processos de qualidade, destacar certificações e reforçar a rastreabilidade são estratégias que aumentam a percepção de valor e, consequentemente, estimulam o consumo.
Digital: o novo campo do agro
As redes sociais se tornaram o “supermercado digital” do consumidor moderno. Ali ele busca receitas, tira dúvidas, avalia produtos e

Foto: Divulgação/Pexels
compartilha experiências.
Indústrias, cooperativas e associações que investem em presença digital tornam-se mais competitivas e ampliam sua capacidade de influenciar preferências.
Vídeos curtos, reels com receitas simples, influenciadores culinários e campanhas segmentadas têm desempenhado papel fundamental na aproximação com o consumidor urbano, historicamente mais distante da realidade da cadeia produtiva e do campo.
Promoções e estratégias de varejo
Além do ambiente digital, o ponto de venda continua sendo o território decisivo da conversão. Embalagens mais atrativas, materiais explicativos, promoções e ações conjuntas com o varejo aumentam a visibilidade e reduzem a insegurança de quem tomando decisão na frente da gondola.
Marketing como elo da cadeia produtiva
A cadeia de carne suína brasileira é altamente tecnificada, sustentável e reconhecida, mas essa excelência precisa ser comunicada. O marketing tem o papel de unir elos – do campo ao consumidor – e transformar conhecimento técnico em mensagens simples e que engajam.
Suínos Imunização inteligente
Gel comestível surge como alternativa para reduzir estresse e melhorar vacinação de suínos
Tecnologia permite imunização coletiva com menos manejo, mantém eficácia contra Salmonella e ganha espaço como estratégia para elevar bem-estar animal e eficiência produtiva.


Fotos: Divulgação/American Nutrtients
Artigo escrito por Luiza Marchiori Severo, analista de P&D na American Nutrients do Brasil e acadêmica do curso de Farmácia; e por Daiane Carvalho, médica-veterinária e coordenadora de Pesquisa e Desenvolvimento e Responsável Técnica da American Nutrients do Brasil.
A suinocultura enfrenta desafios complexos na busca por eficiência produtiva, controle sanitário, escassez de mão de obra e bem-estar animal. Doenças infecciosas, como a salmonelose, ainda figuram entre as principais preocupações sanitárias em granjas comerciais, exigindo estratégias de imunização compatíveis com práticas alinhadas a maior eficiência na aplicação e menos estresse aos animais. Nesse contexto, o debate sobre métodos alternativos de vacinação ganha cada vez mais força.
Vacinas orais compostas por microrganismos vivos podem ser administradas aos suínos tanto individualmente, utilizando o método de drench, quanto coletivamente por meio da água de bebida. A aplicação coletiva via bebedouros apresenta a vantagem de reduzir significativamente o estresse dos animais e dos operadores, pois é um procedimento rápido e que demanda pouca mão de obra. Por outro lado, a administração oral individual, como o drench frequentemente empregado em leitões na maternidade, exige contenção um a um para garantir a ingestão adequada, tornando o processo mais trabalhoso e potencialmente mais estressante para os suínos.
Neste contexto, a aplicação oral de vacinas exige soluções tecnológicas que assegurem maior praticidade, estabilidade do imunógeno, homogeneidade da distribuição e, principalmente, aceitação espontânea pelos animais. É neste ponto que o conhecimento dos aspectos relacionados à fisiologia sensorial dos suínos é fundamental no desenvolvimento de produtos que possam atuar como veículos de alta atratividade para vacinas via oral, garantindo maior eficiência nos processos vacinais, bem-estar animal e praticidade.
Gel Comestível
O gel comestível é uma matriz semissólida, palatável e nutritiva, que contém componentes seguros e atrativos ao consumo dos suínos. Esse veículo possibilita a administração coletiva da vacina diretamente em comedouros auxiliares – sem a necessidade de manejo individualizado. Ao ser disponibilizado em áreas acessíveis das baias, o gel é consumido de forma espontânea pelos leitões, respeitando seu comportamento natural e reduzindo drasticamente o estresse associado ao processo de vacinação.
Em estudo conduzido em 2024 avaliou-se a eficácia da vacinação oral contra Salmonella Typhimurium por meio da aplicação através do gel, comparando-se os resultados com a administração tradicional por drench oral. Os leitões vacinados com o gel apresentaram desempenho zootécnico semelhante ao grupo que recebeu a vacina por drench. Além disso, os animais vacinados com o gel apresentaram menor incidência de lesões intestinais após o desafio com cepa virulenta do agente patogênico. Estes resultados comprovam a eficiência do processo de vacinação com a utilização do gel palatável. Da mesma forma, outros pesquisadores, ao avaliar a eficiência de acesso a um gel comercial comestível, evidenciaram que de 10 leitegadas avaliadas, 92% dos animais acessaram o gel, sendo 89% em até 6 horas. Como conclusão os autores afirmaram que o alto percentual de leitões consumidores observados neste estudo demostrou ser uma via de aplicação promissora na vacinação na suinocultura.
Além de favorecer o bem-estar animal, o gel comestível oferece benefícios operacionais significativos: economia de tempo, redução de mão de obra e maior biosseguridade, visto que que se reduz consideravelmente a necessidade de uma equipe externa de vacinadores.
Qualidade, Eficiência e Sustentabilidade
Para que a vacinação via gel comestível seja efetiva, é essencial garantir a homogeneidade da distribuição da vacina no veículo, assegurando que todos os animais recebam uma dose adequada. Ensaios realizados em laboratórios e granjas já demonstram que essa tecnologia é capaz de manter a viabilidade do imunógeno por períodos compatíveis com a recomendação de consumo de vacinas via oral após diluídas, mantendo sua eficácia mesmo em condições ambientais variáveis.
Além disso, o uso de veículos comestíveis está alinhado às boas práticas de fabricação e aos princípios de biosseguridade preconizados por legislações nacionais e internacionais. Com isso, a alternativa se mostra viável tanto técnica quanto economicamente, oferecendo à suinocultura uma ferramenta inovadora para o controle sanitário.
Considerações Finais
A adoção de métodos alternativos à vacinação tradicional representa um avanço estratégico para a suinocultura brasileira, ao aliar eficiência imunológica a práticas mais humanizadas e sustentáveis. Soluções como a vacinação oral, os dispositivos sem agulha e o uso de veículos comestíveis – como o gel – permitem reduzir significativamente o estresse animal, simplificar rotinas de manejo e minimizar riscos operacionais. Investir nessas tecnologias é essencial para fortalecer um modelo de produção alinhado aos princípios do bem-estar animal, da biosseguridade e da competitividade no mercado global.
As referências bibliográficas estão com as autoras. Contato: cq@americannutrients.com.br
Com distribuição nacional nas principais regiões produtoras do agro brasileiro, O Presente Rural – Suinocultura também está disponível em formato digital. O conteúdo completo pode ser acessado gratuitamente em PDF, na aba Edições Impressas do site.



