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Pesquisador faz profunda análise a favor do Brasil em relação a outros países produtores

José Eustáquio Vieira Filho evidencia o cenário econômico e político com foco no agronegócio nacional.

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“Quando eu era estudante de Economia, a primeira coisa que via nos manuais era que a agricultura é um modelo perfeitamente competitivo de oferta e demanda, e que o preço é dado pelo mercado. Quando estudava o desenvolvimento econômico, a agricultura era um setor marginal ao desenvolvimento econômico. Para um país para se desenvolver, tinha que desenvolver a agricultura, setor industrial e, por último, setor de serviços”, lembra José Eustáquio Vieira Filho, pesquisador no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). “Então, basicamente, víamos isso nas universidades e eu percebia que essas coisas não batiam com a realidade prática”, lembra.

Pesquisador no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, José Eustáquio Vieira Filho: “O que está por detrás do sucesso agropecuário brasileiro é conhecimento e tecnologia, nada mais do que isso” – Foto: Francieli Baumgarten

Durante o Encontro Regional Abraves, realizado em Toledo, PR, o pesquisador ministrou palestra onde falou sobre o cenário econômico e político com foco no agronegócio. “Falar em agronegócio é muito mais do que falar em um produto, da questão do clima, rezar para que tenhamos boas chuvas, e tudo mais será doado da forma divina. Na verdade, o que está por detrás do sucesso agropecuário brasileiro é conhecimento e tecnologia, nada mais do que isso”, elucida o palestrante.

“O agro é muito importante, é o agro que move a economia do país, é o agro que paga os salários, é o agro que gera desenvolvimento econômico. Independente de governo A, governo B, o agronegócio é que move a economia”, destaca o profissional. “O plano safra sempre vai existir, o setor vai continuar crescendo e as coisas vão continuar no seu ritmo tradicional. A menos que venha um determinado presidente e queira acabar com o setor, mas acredito que isso não vai acontecer, porque seria como retroceder 50 anos”, expressa Vieira Filho.

Ele sugere questionar se existe futuro viável para o agronegócio e, particularmente, para a suinocultura. “Essa questão pode ser respondida por diferentes prismas. Inovação tecnológica, a questão sanitária, a sustentabilidade ambiental, a sucessão dos negócios, entre outros fatores. Busco focar a questão da inovação tecnológica como um fator central no que foi feito no Brasil”, argumenta.

Voltando no tempo

O pesquisador falou sobre a criação e a relevância da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), na década de 1970, mas argumenta que a instituição “não construiu isso sozinha”. “A Embrapa foi central em canalizar as principais demandas que o país tinha nos anos 70 e conseguiu organizar o país. É claro, junto com o ambiente institucional ao seu redor, isso ganhou corpo e fez com que houvesse uma evolução muito grande”.

Nos anos 1970, o Brasil enfrentava políticas que priorizavam a extração de renda da agricultura para subsidiar outros setores, como ressalta Vieira Filho. Essas políticas, muitas vezes negligenciadas nas discussões contemporâneas, incluíam práticas como taxas múltiplas de câmbio, que beneficiavam certos setores em detrimento da agricultura, um dos principais setores exportadores do país na época. “É claro que, naquele período, a agricultura era pouco diversificada comparando com a agricultura que a gente conhece hoje, mas era o setor que exportava, então ele era prejudicado”, acrescenta o palestrante. Ele aponta que “as taxas prejudicavam a agricultura, mas beneficiaram a indústria. A agricultura era penalizada nesse sentido”.

Durante o período do chamado “milagre econômico” entre 1968 e 1973, o Brasil experimentou um crescimento econômico notável, mas também enfrentou desafios, como a inflação decorrente da oferta inelástica de preços. “O país estava crescendo a taxas de dois dígitos, mais do que a China, levando em conta aquele período”, salienta. “E quanto maior a demanda, se você não tem oferta, os preços explodem, vem a inflação. E inflação nenhum governo gosta”. Eustáquio destaca o papel de Affonso Celso Pastore em mostrar que, na realidade, a produção agrícola poderia reagir aos preços, desde que houvesse investimentos em inovação e tecnologia, expandindo assim a oferta produtiva. E afirma: “Flutuações no preço podem sim influenciar a oferta ou a demanda dos produtos”.

Nesse contexto, dois importantes ministros, Cirne Lima da Agricultura e Delfim Netto da Economia, reconheceram a necessidade de abordar os problemas enfrentados pela agricultura brasileira. Enquanto parte da população defendia a reforma agrária como solução, outra parte argumentava a favor do investimento em tecnologia e capital humano para promover o crescimento da agropecuária. Essa dicotomia acentuada pelo pesquisador ecoa os debates contemporâneos. “A mesma discussão vemos hoje quando separamos os grupos ideológicos. Há quem pense que a reforma agrária é uma política importante, mas na prática, o que se mostrou no Brasil foi investimento em capital humano e tecnologia”, analisa.

A criação da Embrapa, em 1973, representou um marco nesse contexto. Como frisa o palestrante, o investimento na pesquisa agro foi justificado pelo reconhecimento da importância de fornecer conhecimento atualizado aos agricultores. O estudo realizado pelo professor Guilherme Dias, que demonstrou a defasagem no diálogo entre a extensão rural e os produtores, foi fundamental para embasar essa decisão. “Delfim Netto pegou o argumento desse estudo e utilizou para justificar o investimento na pesquisa. A criação da Embrapa tinha que ser justificada”, relata o doutor em Teoria Econômica.

Concentração

Ele também aborda a questão da concentração produtiva no setor agropecuário brasileiro, destacando números que revelam uma realidade desafiadora e apontam para possíveis caminhos de desenvolvimento. Segundo Vieira Filho, “em 2006, um texto clássico do doutor Eliseu, publicado no livro do IPEA, mostrou, pela primeira vez, que havia uma grande concentração produtiva no setor agropecuário brasileiro”. Os dados do Censo de 2017 confirmaram essa concentração, revelando que “9% dos estabelecimentos mais ricos respondem por 85% da produção, enquanto 91% dos estabelecimentos mais pobres respondem pela pequena parte de 15% da produção”. Essa realidade, enfatiza o palestrante, não é exclusiva do Brasil, persistindo também em economias como a americana e europeia.

Essa concentração, segundo doutor José Eustáquio, pode ser vista como parte dos modelos de desenvolvimento econômico, onde é necessário “que você tenha concentrações em determinados ramos produtivos para que você possa ter um start de alocação de investimento, crescimento, aumento da produtividade e expansão”. No entanto, o profissional também aponta para uma oportunidade de mudança. Ele sugere que “se você incorporar 1% dos estabelecimentos mais pobres dentro dessa faixa mais dinâmica, podemos não só dobrar, como até triplicar a produção brasileira, usando os mesmos recursos, usando os mesmos insumos tecnológicos”.

Condições influenciam a tecnologia

Para ele, a compreensão desse aspecto se tornou fundamental durante seu pós-doutorado na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, onde teve a oportunidade de colaborar com o professor Albert Fischer na elaboração do livro “Agricultura e Indústria no Brasil, Inovação e Competitividade”. “Percebi que tudo o que acontecia na agricultura era, não só semelhante, como idêntico ao que eles explicavam sobre os casos bem-sucedidos de inovação tecnológica na indústria”, sublinha. A análise comparativa entre setores industriais como o de petróleo, produção de aeronaves e o agronegócio revela padrões interessantes de evolução tecnológica e adaptação às condições específicas de cada segmento. “Comparamos então, três setores industriais. Setor de petróleo, o setor de produção de aeronaves e o agronegócio”, recorda.

Ele ilustra sua argumentação com exemplos concretos. No caso da indústria de aviação, enfatiza que a evolução tecnológica está intimamente ligada ao aumento de escala das

aeronaves. “O avião, para que se tenha uma evolução tecnológica, vai ampliando de tamanho. Ao ampliar de tamanho ele aumenta o peso, ao aumentar o peso as condições tecnológicas são outras. Dependendo da capacidade que se tem de absorção das tecnologias, tem-se capacidade de produzir aeronaves maiores. É algo muito complexo”, explica o pesquisador.

Ao abordar o setor de petróleo, o doutor menciona as diferenças entre as estratégias de exploração adotadas em diferentes regiões do mundo. Enquanto em lugares como o Oriente Médio ou Estados Unidos a presença de petróleo próximo à superfície facilitou a exploração, no Brasil o cenário foi distinto. “No Brasil, isso não aconteceu. E num determinado momento, o país resolveu procurar petróleo na costa litorânea brasileira”, relata. O surgimento de experiências bem-sucedidas de exploração offshore na década de 1960 marcou o início de um período de investimentos significativos no setor. “E depois que foi descoberto na Bacia de Campos, o Brasil começou a investir muito”, acrescenta.

O pesquisador salienta que, assim como na indústria aeronáutica e petrolífera, o agronegócio enfrenta desafios tecnológicos específicos à medida que amplia sua escala produtiva. “Explorar petróleo a cem metros é uma condição de temperatura e predição diferente do que explorar petróleo a dois mil metros, cinco mil metros de profundidade. É preciso novos materiais, novas tecnologias. A complexidade tecnológica é diferente. No agro é a mesma coisa”, diz.

Analisando dados dos Censos Agropecuários de 1995 e 2017, Eustáquio explora a relação entre tecnologia, escala produtiva e eficiência no setor. “Comparando os dois Censos, quanto maior eram as propriedades, maior eram os indicadores de potência”. Essa constatação evidencia a importância da escala na absorção tecnológica e no aumento da produtividade agrícola. O estudo revelou que, ao longo das décadas, a tecnologia desempenhou um papel cada vez mais significativo nos ganhos de produção. “Na década de 1990, a tecnologia já era responsável por, praticamente, 50% dos aumentos produtivos. E, no último Censo, essa participação se ampliou para algo em torno de 60,6%”, explica o pesquisador.

Uma tendência clara observada nos dados é a redução da participação do trabalho na produção agrícola, enquanto a utilização de tecnologia e insumos biotecnológicos vem ganhando espaço. “Cada vez mais uma atividade agropecuária é intensiva em tecnologia e pouco intensiva em trabalho. Intensiva em robótica, máquinas, além dos insumos biotecnológicos”, destaca Vieira. Entretanto, ele revela que “a participação do trabalho caiu de 31,3% para 19%. E a participação da terra é praticamente estável. Ressalto que o estudo não está dizendo que terra não é importante. O estudo diz que a participação da terra comparativamente a outros fatores produtivos tem uma contribuição menor”.

Efeito poupa floresta

Um dos pontos destacados pelo profissional é o “efeito poupa floresta”, um conceito que ressalta o impacto positivo da tecnologia na preservação ambiental. “Imagine que se tenha uma situação no passado, uma situação no presente e um contrafatual. Se observarmos passado e presente, há um pequeno aumento da área produtiva. Mas esse pequeno aumento em nada se compara com o que foi poupado ao longo do tempo, e essa poupança foi devido à tecnologia”, elucida.

Esses resultados têm implicações importantes para políticas públicas e estratégias de desenvolvimento agrícola. Segundo o palestrante, é fundamental que os países reconheçam o papel fundamental da inovação tecnológica no aumento da produtividade e na conservação ambiental. Em vez de simplesmente focar na distribuição de terras, investimentos em acesso e adoção de tecnologias eficientes podem ser a chave para impulsionar o crescimento sustentável do agronegócio.

O doutor José Eustáquio assegura que o “efeito poupa-floresta” representa menos fome do mundo, pois quanto mais tecnologia, menos é preciso desmatar áreas para produzir mais. Ele diz que “ao longo da década de 1990, para os dias atuais, o Brasil praticamente poupou 43% do seu território. Se compararmos com nossos principais críticos e competidores, o nosso indicador no último ano é muito maior do que, por exemplo, da Espanha, que só poupou 20,4% com a tecnologia, ou do que a França, que foi 2,4%”. Vieira conta também que descobriu, através de um estudo, em 2020, “que na Europa estava se criando um debate, uma crítica, dizendo que o estudo não podia ser feito dessa forma, porque parte de um ponto que, teoricamente, segundo os europeus, eles já são eficientes. E isso não é verdade. A verdade é que eles já desmataram tudo, não têm mais o que desmatar”, expressa.

A conta não fecha

Ao revelar que, segundo dados, dois terços do território brasileiro são preservados com matas nativas, o palestrante incita uma reflexão. “O continente europeu, por exemplo, não tem 10% de preservação. Como eles querem ditar ordem dentro do território brasileiro?”, questiona. Ele complementa que fez outro exercício, que consiste em dividir a produção por unidade de emissão. “Primeiro lugar, não acredito no que são essas emissões de CO2 equivalente na atmosfera. Pegam um monte de cientistas da Embrapa, de universidades financiadas por ONGs ou instituições internacionais, e dão um ar de cientificidade e chegam a um número de carbono. Milhões de toneladas de carbono. Supondo que essas estatísticas internacionais sejam verdadeiras. Analisei essas estatísticas para o Brasil e dividi produção por unidade e emissão, e fiz o mesmo para os nossos principais competidores. Pasmem, o Brasil foi o país que teve o melhor indicador de sustentabilidade nesse quesito” revela o pesquisador.

Eustáquio acentua que, na produção agrícola, em 1990, um quilo de CO2 equivalente conseguia gerar 243 quilos de produtos agrícolas. Já em 2020, o mesmo quilo de CO2 equivalente conseguia produzir 748 quilos. “Então veja, nós estamos produzindo mais com a mesma emissão de carbono. Sendo assim, o Brasil, comparado aos nossos principais competidores, é o país com o melhor rendimento”, enfatiza.

Soja brasileira

O economista sublinha o impressionante crescimento da cadeia produtiva da soja no Brasil ao longo das últimas décadas. Em sua análise, revela números que ilustram a magnitude desse progresso. Em 1991, a produção nacional de soja totalizava 19,4 milhões de toneladas. Contrastando com os dados de 2022, esse número saltou para 154,6 milhões de toneladas, representando um aumento surpreendente de quase 700%. Como observa o palestrante, “a produção de soja foi multiplicada por oito ao longo desse período”.

Outro ponto de destaque é a relação entre a produção de soja e a produção total de grãos. Em 1991, os grãos atingiram 68,4 milhões de toneladas, enquanto em 2022 foram 319,8 milhões de toneladas. Vieira Filho afirma que “a produção de soja representa, praticamente, 50% da produção total de grãos”. Um aspecto importante também é o papel central da soja na cadeia produtiva agrícola. Em 2022, a produção de soja totalizou 154 milhões de toneladas, grande parte da qual é processada em farelo e óleo. O palestrante detalha que “63% da soja é exportada como excedente produtivo, enquanto 32% é consumida internamente”.

Eustáquio fala ainda sobre a questão do consumo per capita, e dá destaque ao aumento significativo ao longo dos anos. Desde 1991, o consumo per capita de soja aumentou 2,7 vezes, o de farelo 4,5 vezes, e o de óleo 2,2 vezes. Além disso, segundo o pesquisador, o consumo de carne de frango e suína também registrou aumentos substanciais, correlacionados com o crescimento das exportações. “Carne de frango, 30% exportado, o restante é consumido dentro do país, carne bovina, 27% é exportado, o restante é consumido dentro do país. Carne suína, 30% é exportado e o restante é consumido dentro do país”, aponta.

Exportações e segurança alimentar

Um ponto analítico importante levantado na palestra foi a relação entre exportações e segurança alimentar. Contrariando a noção de que as exportações comprometem a segurança alimentar interna, o profissional argumenta que “exportar não é ruim para a segurança alimentar do país”. Ele considera que políticas que visam taxar as exportações podem prejudicar o desenvolvimento econômico e que investimentos em inovação e tecnologia são fundamentais para garantir a segurança alimentar e impulsionar o crescimento da oferta.

Sobre o quadro de comércio exterior do país e a ascensão impressionante do setor agropecuário brasileiro, o pesquisador do Ipea afirma que “o Brasil é o líder em exportações líquidas de alimentos para o mundo”, ressaltando a posição de destaque que o país ocupa no cenário global. Ele explica que o Brasil figura como o terceiro maior exportador, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e Holanda, enquanto ocupa a 34ª posição em importações.

Uma das principais conquistas evidenciadas por Vieira Filho é o saldo superavitário da balança comercial brasileira, especialmente após 2015, comparado aos competidores latino-americanos. Ele salienta que “o Brasil se descola com um saldo superavitário da balança comercial global”, graças ao desempenho positivo do setor agropecuário. Sem esse saldo, o pesquisador argumenta que o país não seria capaz de contrabalançar os déficits em outras áreas da economia. O setor agropecuário desempenha um papel crucial nessa dinâmica, representando 50% das exportações totais do Brasil. Um estudo do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) citado por José Eustáquio aponta que, até 2027, a maior expansão da oferta produtiva ocorrerá principalmente no Brasil. Os principais destinos dessas exportações incluem a China (31,9%), União Europeia (16,1%) e Estados Unidos (6,6%).

O palestrante também enfatiza a diversificação do mercado brasileiro, apesar da concentração significativa na China. Ele ilustra esse ponto com o exemplo da carne suína, que saltou do 14º lugar, em 1995, para a terceira posição mundial em exportações até 2022. “O market share brasileiro, que era de 1% na década de 90, hoje representa 17% das exportações mundiais”, afirma.

Outro ponto-chave abordado por José Eustáquio é a relação entre a taxa de juros e o mercado internacional. Ele constata que “é errado tentar prever o mercado olhando só a taxa Selic e esquecendo o que acontece com o resto do mundo”, enfatizando a importância de comparar a taxa de juros real com a do mercado americano. Segundo ele, essa comparação é essencial para determinar a necessidade de ajustes na taxa de juros brasileira, visando atrair capital estrangeiro e manter a competitividade econômica.

Sobre a relação entre taxa de câmbio e exportações Vieira denota que “quanto maior as exportações, mais se diminui a taxa de câmbio”, explicando como a abundância de exportações pode influenciar na valorização da moeda nacional. No entanto, ele alerta para os potenciais impactos negativos dessa valorização excessiva sobre os produtores, defendendo a necessidade de estabilidade cambial para garantir previsibilidade aos agentes econômicos.

Brasil

Quanto ao desempenho econômico do Brasil, ele observa que o país vem apresentando sinais de recuperação, com o PIB crescendo após os impactos da crise pandêmica. Ele compartilha dados do último boletim Focus, que indicam um aumento da inflação em 2024, seguido de estabilidade em 2025, bem como um pequeno crescimento do PIB no mesmo período. Além disso, prevê uma taxa de câmbio relativamente estável nos próximos anos, com a taxa de juros em torno de 9%.

O pesquisador fez uma comparação entre a situação econômica do Brasil e da Europa, e aponta as diferenças nas políticas de subsídios e práticas sustentáveis. Enquanto o Brasil é reconhecido como um exemplo de competitividade com práticas sustentáveis, Eustáquio revela que a Europa enfrenta desafios relacionados à redução de subsídios e dependência dessas políticas para a produção agrícola.

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Fonte: O Presente Rural

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Importância do diagnóstico para controle de diarreia em leitões de maternidade

Ajuda a determinar a etiologia da diarreia, que pode variar desde infecções bacterianas, virais ou parasitárias, até problemas metabólicos ou nutricionais.

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Fotos: Divulgação/Agroceres Multimix

Artigo escrito por Lucas Avelino Rezende, consultor de Serviços Técnicos de suínos na Agroceres Multimix

Uma das causas mais frequentes de morte de leitões na maternidade, sem dúvidas, é a diarreia neonatal, que pode ser causada por diversos fatores, incluindo infecções bacterianas, virais ou parasitárias, bem como problemas nutricionais ou ambientais.

Por ser multifatorial, a simples presença de patógenos entéricos nem sempre é suficiente para produzir doença clínica. Diante disso, é importante saber que é necessário haver uma interação hospedeiro-ambiente-patógeno. Diferenças em práticas específicas de manejo e ambiente, bem como características do animal e do rebanho, podem influenciar muito o risco de ocorrência da doença.

Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Alguns fatores podem contribuir para o aumento na ocorrência da diarreia pré-desmame, como: leitões de baixo peso ao nascer, baixa temperatura ambiental levando ao estresse pelo frio, higiene ruim da gaiola de parição, ingestão de leite e colostro insuficientes e o número insuficiente de tetos para a prole.

As principais causas infecciosas de diarreia em leitões na maternidade no Brasil são as Clostridioses, Colibacilose, Rotaviroses e Coccidiose. Em alguns casos, a coinfecção de dois ou mais agentes podem estar presentes e agravar o caso de diarreia.

A sobrevivência de leitões é influenciada por vários fatores, incluindo ordem de nascimento, peso ao nascer, ingestão de colostro e níveis séricos de imunoglobulina G (IgG). Esses fatores interagem de maneiras complexas para determinar a suscetibilidade do leitão a doenças e a saúde geral.

Um importante ponto para entender a dinâmica do surgimento de diarreias na maternidade é a avaliação da ingestão de colostro pelos leitões, uma vez que é essencial para a imunidade passiva dos leitões recém-nascidos, já que não há transferência de imunoglobulinas e outros componentes da imunidade materna para os leitões via transplacentária.

De modo geral, granjas com baixo peso ao nascimento ou uma grande variabilidade do tamanho dos leitões nascidos são aquelas mais desafiadas com diarreias na maternidade, porque leitões com menor peso ao nascer podem ter dificuldade em consumir colostro suficiente, resultando em níveis mais baixos de IgG e maior suscetibilidade a infecções.

O diagnóstico clínico da causa da diarreia em leitões pode ser subjetivo e propenso a erros. Fatores como estresse, condições ambientais e outros problemas de saúde subjacentes podem ser muito semelhantes aos sintomas da diarreia. Para isso, devemos desenvolver critérios de diagnóstico mais objetivos para diarreia em leitões, como: monitorar os leitões desde o nascimento, permitindo a detecção precoce da doença, incorporar testes laboratoriais (por exemplo, consistência fecal, pH e níveis de eletrólitos), realizar necropsias e exames complementares a detecção viral ou bacteriana, como histopatologia e imuno-histoquímica.

Diagnóstico

Um diagnóstico preciso ajuda a determinar a etiologia da diarreia, que pode variar desde infecções bacterianas, virais ou parasitárias, até problemas metabólicos ou nutricionais. Um dos pilares para isso é a coleta adequada de amostras. Ela permite a identificação dos agentes etiológicos, avaliação da resposta imune e a monitorização da eficácia das terapias.

A escolha do tipo de amostra dependerá do agente etiológico suspeito e dos objetivos do exame. As amostras mais comuns incluem:

  • Fezes: A coleta de fezes é o método mais simples e acessível. É importante coletar amostras frescas e representativas de diferentes animais do lote. Para suspeitas virais é importante coletar sempre de animais na fase aguda da doença, quando a eliminação viral é maior. Para casos de suspeita parasitária é importante associar o diagnostico com histopatologia, uma vez que a eliminação do Cystoisospora é intermitente.
  • Sangue: A análise do sangue permite avaliar a resposta imune, a presença de anticorpos e detectar alterações bioquímicas.
  • Conteúdo intestinal: A coleta do conteúdo intestinal é indicada para a identificação de patógenos que colonizam o intestino delgado ou grosso.
  • Tecidos: A coleta de tecidos para histopatologia é parte fundamental e complementar as análises de cultivo bacteriano e detecção viral nas fazes ou conteúdo intestinal.

A coleta de amostras deve ser realizada de forma cuidadosa para evitar a contaminação e garantir a qualidade do material. Os recipientes utilizados para a coleta das amostras devem estar limpos e esterilizados para evitar a contaminação por outros microrganismos. De modo geral, é importante que as amostras sejam bem refrigeradas e nunca congeladas, uma vez que o processo de congelamento pode inviabilizar o cultivo bacteriano.

Após a coleta das amostras, diversos métodos podem ser utilizados para o diagnóstico, dentre eles cultura que possibilita a identificação e o isolamento de bactérias, PCR que detecta a presença de DNA ou RNA de vírus, bactérias com alta especificidade, sorologia para pesquisa de anticorpos contra os agentes infecciosos, indicando uma infecção prévia ou atual e a histopatologia que permite a avaliação de lesões histológicas e a identificação de agentes infecciosos em tecidos.

A histopatologia desempenha um papel crucial no diagnóstico preciso de doenças intestinais em leitões. Através da análise microscópica de tecidos, é possível identificar lesões características de diversas doenças, auxiliando na diferenciação entre condições infecciosas, inflamatórias, neoplásicas e degenerativas.

A escolha do método de coleta de amostra e do exame laboratorial dependerá do agente etiológico suspeito, da fase da doença e dos recursos disponíveis. A correta coleta e o transporte das amostras são essenciais para garantir a qualidade dos resultados.

A interpretação correta dos resultados dos exames laboratoriais é crucial para o diagnóstico preciso e o tratamento adequado da diarreia em leitões. Ela envolve a análise dos dados obtidos, a correlação com os sinais clínicos e a consideração de outros fatores, como a idade dos animais, as condições de manejo e a história epidemiológica do plantel.

Em resumo, o diagnóstico é uma ferramenta essencial no combate à diarreia em leitões de maternidade, uma vez que permite ações direcionadas e eficazes para controlar e prevenir a doença, garantindo a saúde e o bem-estar dos animais.

As referências bibliográficas estão com o autor. Contato: marketing.nutricao@agroceres.com.

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Fonte: O Presente Rural com Lucas Avelino Rezende
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Especialista evidencia importância de os profissionais da cadeia suinícola entenderem o que é sustentabilidade

Esses profissionais são fundamentais para a gestão do custo da indústria, pois a ração representa cerca de 70% do custo de produção.

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Na suinocultura, a sustentabilidade se tornou um dos principais desafios enfrentados pelos profissionais do setor. O médico-veterinário José Francisco Miranda, especialista em Qualidade de Alimentos, destaca que a compreensão desse conceito é fundamental para que zootecnistas e veterinários contribuam efetivamente para a produção sustentável de suínos. “É preciso entender que a sustentabilidade não é custo, mas investimento”, afirma.

Ele ressalta que, ao longo dos últimos 15 anos, a discussão sobre práticas sustentáveis ​​esteve frequentemente atrelada a um aumento nos custos, envolvendo ações como o plantio de árvores e a adequação da dieta dos animais. “Essas práticas eram vistas como um custo, o profissional precisa desmistificar essa visão. Na verdade, boas práticas de produção estão intimamente ligadas a resultados positivos”, explica.

Para Miranda, a eficiência na conversão alimentar é um exemplo claro de como sustentabilidade e produtividade caminham juntas. “Não existe produção com alta conversão alimentar que não seja sustentável. Os números de emissões são baixos quando a eficiência é alta”, ressalta.

Um ponto destacado pelo especialista é o papel dos zootecnistas e nutricionistas na cadeia produtiva. “Esses profissionais são fundamentais para a gestão do custo da indústria, pois a ração representa cerca de 70% do custo de produção. E cada vez mais eles terão um papel significativo na implantação da sustentabilidade dentro das empresas”, afirma.

O entendimento das análises de sustentabilidade e das tecnologias disponíveis é essencial. Miranda menciona, como exemplo, o uso de aditivos nutricionais, como a protease, que permite reduzir a quantidade de soja na ração. “Com isso, é possível diminuir a pegada de carbono em até 12%. No entanto, menos de 40% dos produtores no mundo utilizam essa tecnologia, o que revela uma falta de informação e confiança na eficácia desses produtos”, expõe.

Comunicação e conscientização

Para que as informações sobre sustentabilidade sejam disseminadas na suinocultura é fundamental que os profissionais comuniquem os benefícios dessas práticas não apenas entre si, mas também para a alta direção das empresas. “Os profissionais precisam trazer essa informação para a gestão, conscientes de que a sustentabilidade deve ser uma estratégia de crescimento, não apenas uma preocupação financeira”, destaca Miranda.

O especialista também ressalta a importância de uma colaboração entre academia, indústria e governo para facilitar a adoção de novas tecnologias. “Cada parte da cadeia produtiva deve contribuir para acelerar esse processo. É um esforço coletivo que envolve desde a produção até a comercialização”, enfatiza.

Compromisso do setor

Miranda acredita que o setor está comprometido com a adoção de práticas sustentáveis, embora reconheça a necessidade de discussão sobre o que é realmente necessário para essa transição. “As empresas entendem que a sustentabilidade traz benefícios não apenas para o planeta, mas também para sua própria lucratividade, mas é preciso acelerar a implementação destas práticas sustentáveis”, frisa,

Para se destacar neste cenário, Miranda enfatiza que os profissionais devem se aprofundar nas análises de sustentabilidade e na análise do ciclo de vida dos produtos. “Um bom profissional deve entender desde a produção do grão até o produto final que chega ao consumidor. Se ele se restringir a uma única área, pode perder de vista os benefícios que sua atuação pode trazer para toda a cadeia”, salienta.

A visão do especialista reforça que a sustentabilidade na suinocultura não é uma tendência passageira, mas uma necessidade imediata. “A adoção de práticas sustentáveis, aliada ao conhecimento técnico e científico, é fundamental para garantir um futuro mais responsável e eficiente para a indústria suinícola”, afirma.

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Fonte: O Presente Rural
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Suinocultura teve ano de recuperação, mas cenário é de cautela

Conjuntura foi apresentada ao longo de reunião da Comissão Técnica de Suinocultura da Faep. Encontro também abordou segurança do trabalho em granjas de suínos.

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Foto: Divulgação/Sistema Faep

Depois de dois anos difíceis, a suinocultura paranaense iniciou um período de recuperação em 2024. As perspectivas para o fim deste ano são positivas, mas os primeiros meses de 2025 vão exigir cautela dos produtores rurais, que devem ficar de olho em alguns pontos críticos. O cenário foi apresentado em reunião da Comissão Técnica (CT) de Suinocultura do Sistema Faep, realizada na última terça-feira (19). Os apontamentos foram feitos em palestra proferida por Rafael Ribeiro de Lima Filho, assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A mesma conjuntura consta do levantamento de custos de produção do Sistema Faep, que será publicado nos próximos dias.

Fotos: Divulgação/Arquivo OPR

O setor começou a se recuperar já em janeiro deste ano, com a retomada dos preços. Até novembro, o preço do suíno vivo no Paraná acumulou aumento de 54,4%, com a valorização se acentuando a partir de março. No atacado, o preço da carcaça especial também seguiu esse movimento. A recomposição ajudou o produtor a se refazer de um período em que a atividade trabalhou no vermelho.

Por outro lado, a valorização da carne suína também serve de alerta. Com o aumento de preços, os produtos da suinocultura perdem competitividade, principalmente em relação à carne de frango, que teve alta bem menor ao longo ano: o preço subiu 7,7%, entre janeiro e novembro. Com isso, a tendência é que o frango possa ganhar a preferência do consumidor, em razão dos preços mais vantajosos.

“Temos que nos atentar com a competitividade da carne suína em relação a outras proteínas. Com seus preços subindo bem menos, o frango se tornou mais competitividade. Isso é um ponto de atenção para a suinocultura, neste cenário”, assinalou Lima Filho.

Exportações

Foto: Claudio Neves

Com 381,6 mil matrizes, o Paraná mantém 18% do rebanho brasileiro de suínos. A produção nacional está em estabilidade nos últimos três anos, mas houve uma mudança no portifólio de exportações paranaenses. Com a recomposição de seus rebanhos, a China reduziu as importações de suínos. O país asiático – que chegou a ser o destino de 40% das vendas externas paranaenses em 2019 – vai fechar 2024 com a aquisição de 17% das exportações de suínos do Paraná.

Em contrapartida, os embarques para as Filipinas aumentaram e já respondem por 18% das vendas externas de carne suína do Estado. Entre os destinos crescentes, também aparece o Chile, como destino de 9% das exportações de produtos da suinocultura paranaense. Nesse cenário, o Paraná deve fechar o ano com um aumento de 9% no volume exportado em relação a 2023, atingindo 978 mil toneladas. Os preços, em compensação, estão 2,3% menores. “Apesar disso, as margens de preço começaram a melhorar no segundo semestre”, observou Lima Filho.

Perspectivas

Diante deste cenário, as perspectivas são positivas para este final de ano. O assessor técnico da CNA destaca fatores positivos, como o recebimento do 13º salário pelos trabalhadores, o período de férias e as festas de final de ano. Segundo Lima Filho, tudo isso provoca o aquecimento da economia e tende a aumentar o consumo de carne suína. “A demanda interna aquecida e as exportações em bons volumes devem manter os preços do suíno vivo e da carne sustentados no final deste ano, mantendo um momento positivo para o produtor”, observou o palestrante.

Para 2025, se espera um tímido crescimento de 1,2% no rebanho de suínos, com produção aumentando em 1,6%. As exportações devem crescer 3%, segundo as projeções. Apesar disso, por questões sazonais, os produtores podem esperar uma redução de consumo nos dois primeiros meses de 2025. “É um período em que as pessoas tendem a ter mais contas para pagar, como alguns impostos. Além disso, a maior concorrência da carne de frango pode impactar a demanda doméstica”, disse Lima Filho.

Além disso, o aumento nos preços registrados neste ano pode estimular o alojamento de suínos em 2025. Com isso, pode haver uma futura pressão nos preços nas granjas e nas indústrias. Ou seja, o produtor deve ficar de olho no possível aumento dos custos de produção, puxado principalmente pelo preço do milho, da mão de obra e da energia elétrica. “O cenário continua positivo para a exportação, mas o cenário para o ano que vem é de cautela. O produtor deve se planejar e traçar suas estratégias para essa conjuntura”, apontou o assessor da CNA.

Segurança do trabalho

Além disso, a reunião da CT de Suinocultura da FAEP também contou com uma palestra sobre segurança do trabalho em granjas de suínos. O engenheiro e segurança do trabalho e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Sandro Andrioli Bittencourt, abordou as Normas Regulamentadoras (NRs) que visam prevenir acidentes de trabalho e garantir a segurança e o bem-estar dos trabalhadores.

Entre as normativas detalhadas na apresentação estão a NR-31 (que estabelece as regras de segurança do trabalho no setor agropecuário), a NR-33 (que diz respeito aos espaços confinados, como silos, túneis e moegas) e a NR-35 (que versa sobre trabalho em altura). Em seu catálogo de cursos, o Sistema Faep dispõe de capacitações para cada uma dessas regulamentações.

Fonte: Assessoria Sistema Faep
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