Peixes
Pesquisador aponta gargalos e soluções para otimizar a conversão alimentar dos peixes
Com a previsão de um aumento significativo na demanda por proteína animal nas próximas décadas, a aquicultura surge como uma das soluções-chave para suprir essa necessidade crescente. No entanto, esse crescimento não vem sem seus próprios desafios, especialmente no que diz respeito à produção e formulação de rações.

O engenheiro agrônomo, mestre em Aquicultura, doutor em Ciências Animais e Pastagens, e pesquisador da Embrapa Pesca e Aquicultura, Giovanni Vitti Moro compartilhou estratégias para otimizar a alimentação das tilápias durante o Inovameat, um dos principais eventos de proteína animal no Paraná, realizado em meados de abril em Toledo (PR). Sua palestra, direcionada a fabricantes de ração e piscicultores, visou fomentar uma discussão sobre a melhoria da eficiência alimentar dessa espécie, com o intuito de impulsionar a produtividade e a rentabilidade da aquicultura brasileira.

Engenheiro agrônomo, mestre em Aquicultura, doutor em Ciências Animais e Pastagens, e pesquisador da Embrapa Pesca e Aquicultura, Giovanni Vitti Moro: “Seria muito importante termos ações conjuntas de instituições de pesquisa e desenvolvimento com indústrias, para o codesenvolvimento e adoção de tecnologias que possam ser aplicadas na cadeia de produção” – Foto: Jaqueline Galvão/OP Rural
Conforme dados recentes da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), são produzidas no mundo cerca de 320 espécies de peixes. Entre as mais proeminentes em termos de volume de produção estão as carpas, tilápias, bagres e salmonídeos (trutas e salmões). “Essas espécies têm sido amplamente estudadas em todo o mundo, especialmente nas áreas de nutrição, genética e reprodução. Com as exigências nutricionais muito bem definidas, essas espécies dispõem de rações balanceadas específicas para atender as necessidades de cada uma. Essa abordagem tem levado a uma maior eficiência produtiva e a um retorno econômico mais favorável para os produtores, o que justifica a grande produção destas espécies”, analisa o especialista.
Na década de 70, a conversão alimentar da tilápia era próxima de 5, enquanto hoje varia entre 1,4 a 1,5, dependendo do sistema de produção e do manejo adotado. Essa melhoria tão significativa se deve, segundo Moro, à pesquisa que definiu as exigências nutricionais e à avaliação dos alimentos. “A conversão alimentar reflete o quanto de alimento o peixe precisa consumir para produzir um quilo de carne, em peso vivo. Quanto menor esse número, mais eficiente é a utilização do alimento pelo peixe. Quando se fornece uma alimentação balanceada que atende às necessidades específicas da espécie, os produtores conseguem melhorar cada vez mais essa conversão alimentar. Esse é o resultado demonstrado por vários estudos ao longo dos anos em todo o mundo”, expõe.
Além disso, a evolução das últimas décadas no uso de alimentos com maior digestibilidade para as espécies é bastante expressiva. Inicialmente, Moro diz que a alimentação era baseada em farinha de peixe e ingredientes de origem vegetal, contudo, se desconhecia a capacidade dos peixes de absorver e utilizar esses componentes. “Hoje já se sabe que usando alimentos mais digestíveis, com menor quantidade de antinutrientes, o produtor pode melhorar a eficiência alimentar dos peixes”, menciona.
Em termos de processamento, na década de 70, as rações predominantes eram principalmente peletizadas, as quais apresentavam menor digestibilidade. Moro expõe que a introdução das rações extrusadas representou um avanço significativo para a piscicultura, pois além de apresentar um maior teor de digestibilidade, especialmente no que diz respeito aos carboidratos, permitiam uma melhor visualização do consumo pelo peixe, facilitando o manejo alimentar e proporcionando um controle mais preciso do fornecimento de ração em comparação às rações peletizadas. “Além disso, a incorporação de premixes contendo vitaminas e minerais às rações também desempenhou um papel fundamental na melhoria da eficiência alimentar dos peixes”, frisou.
Dificuldade atuais

Foto: Maria José Tupinambá
Moro destaca que, atualmente, alcançar uma redução de 0,1 na conversão alimentar da tilápia é uma tarefa desafiadora devido ao alto nível tecnológico já alcançado. Embora seja possível obter melhorias, não se pode esperar uma redução drástica, como de 5 para 1,5, por exemplo. “Avanços na eficiência alimentar atualmente exige um esforço mais árduo e meticuloso, mas não são impossíveis”, pondera.
Segundo o engenheiro agrônomo, a dificuldade da pesquisa em relação ao setor produtivo reside no fato de que os estudos são conduzidos em ambientes controlados, com poucas variáveis. “Ao definir exigências nutricionais nessas condições, as respostas obtidas podem não se aplicar quando validadas em campo, devido às variações ambientais presentes no ambiente produtivo. Fatores como altas densidades de estocagem e níveis de intensificação variados entre os sistemas de produção exercem uma grande influência nas respostas, tornando a validação um desafio que demanda considerável esforço e investimento”, afirma.
Além disso, Moro relata que os estudos de nutrição geralmente são realizados na fase juvenil do peixe, onde as respostas são mais rápidas e o crescimento é mais acelerado. No entanto, não se sabe se as mesmas exigências se aplicam durante a engorda ou a fase de terminação, uma vez que estudos nessa fase são escassos e complexos devido à variedade de variáveis envolvidas e ao alto custo de execução, especialmente em relação à alimentação.
Surgimento das rações extrusadas
No Brasil, as pesquisas com rações extrusadas e nutrição de peixes começaram na década de 1980, culminando no surgimento das primeiras rações extrusadas em 1987, com definições específicas para cada espécie de peixe. “Apesar da ampla biodiversidade de espécies de interesse comercial no Brasil, o foco da pesquisa foi pulverizado por décadas, com grupos distintos trabalhando com uma ou duas espécies no máximo. No entanto, nos últimos 10 anos, houve uma redução dessa dispersão, concentrando-se mais em desenvolver tecnologias específicas para cada espécie”, ressalta o pesquisador.
Rações para tilápia
Com 90% da piscicultura brasileira realizada em água doce, a tilápia é a espécie mais produzida, com os principais produtores concentrados nas regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. “Em 2023 foram produzidas 579.080 toneladas de tilápia, representando 65,3% da produção nacional de peixe. Esse volume se explica pelo emprego de tecnologias empregadas na produção, o que reduz riscos produtivos e oferece maior rentabilidade ao produtor”, menciona Moro.
Para a tilápia, o pesquisador menciona que hoje estão disponíveis rações específicas para as diferentes fases de desenvolvimento (inicial, engorda e terminação), além de linhas premium e super premium, com e sem aditivos. “Essas rações super premium contêm superdoses de vitamina C para prevenir doenças e são acompanhadas por protocolos de alimentação bem definidos e validados”, salienta o especialista, enfatizando que essa gama de rações facilita muito para o produtor, que agora pode fornecer a quantidade exata de ração diária para os peixes, resultando em uma economia significativa devido a um menor desperdício de ração.

Fotos: Shutterstock
Por outro lado, no caso de espécies nativas como o tambaqui, não há rações específicas disponíveis. “As rações disponíveis são geralmente generalistas, adaptadas ao hábito alimentar da espécie, com protocolos de produção e alimentação pouco definidos, resultando em um padrão de crescimento variável, o que gera uma conversão alimentar que varia entre 1,8 e 2, refletindo essa falta de especificidade nas rações e nos protocolos de alimentação”, esclarece Moro.
Qualidade das rações
Moro apresentou estudos que revelaram limitações de aminoácidos, como metionina, treonina e triptofano, nas rações para peixes. “A importância de um equilíbrio ideal desses aminoácidos é fundamental para garantir a conversão adequada de alimentos”, ressalta o mestre em Aquicultura, acrescentando: “Estes experimentos mostraram ainda que havia excesso de lisina e leucina, que, quando não utilizados pelo peixe, acabam sendo desperdiçados, servindo apenas como fonte de energia cara. O excesso de fósforo também foi observado, levando ao descarte no ambiente de cultivo, aumentando problemas como a proliferação de algas e a necessidade de mais aeradores no viveiro”, frisou, explicando que apesar do excesso, a disponibilidade de fósforo para o peixe era baixa devido ao uso predominante de ingredientes vegetais nas rações.
Outro ponto preocupante foi a presença de compostos que causaram genotoxicidade nos peixes, resultando em anormalidades nos eritrócitos, piora no desempenho e baixa digestibilidade de proteínas, metionina e energia, além de baixa disponibilidade de fósforo e zinco, e aumento da mortalidade dos peixes.
Um estudo adicional revelou que muitas rações apresentavam inconformidades com os valores declarados nos rótulos, seja em relação ao nível de proteína, fósforo ou quantidade de energia. Moro destaca que a melhoria desses aspectos das rações pode resultar em um ganho significativo de eficiência alimentar e crescimento dos peixes, desde que as rações forneçam o que está descrito no rótulo e atendam às exigências de aminoácidos. “Se conseguir melhorar todos estes aspectos da ração já conseguimos ter um ganho significativo de eficiência alimentar. Se tenho uma ração de melhor qualidade, que atenda as exigências de aminoácidos, que traz na composição o que está descrito no rótulo, vou conseguir ter um ganho de crescimento e consequentemente de eficiência alimentar”, salienta.
Desafios e oportunidades
Com a previsão de um aumento significativo na demanda por proteína animal nas próximas décadas, a aquicultura surge como uma das soluções-chave para suprir essa necessidade

crescente. No entanto, esse crescimento não vem sem seus próprios desafios, especialmente no que diz respeito à produção e formulação de rações.
De acordo com projeções de especialistas, a previsão é dobrar o uso de rações em relação ao que é produzido hoje nos próximos 30 anos. Conforme o Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações), foram produzidas 1,43 milhão de toneladas para a piscicultura em 2023, e espera-se que esse número duplique para acompanhar a expansão da atividade no país.
Além do desafio quantitativo, questões qualitativas também estão no centro das preocupações dos pesquisadores e produtores. A validação de técnicas em condições similares à realidade produtiva é essencial para garantir a eficácia e o sucesso dos métodos desenvolvidos. “A busca por formulações de ração mais eficientes para as diferentes fases do ciclo produtivo, como engorda e terminação, é uma prioridade. A ração pode representar até 80% do custo total de produção, tornando qualquer melhoria nesse aspecto fundamental para a viabilidade econômica da atividade”, justifica Moro.
A fase de engorda, em particular, é alvo de atenção devido ao seu peso significativo no consumo total de ração durante o ciclo produtivo. “Investir em pesquisas e inovações nessa área pode gerar economias substanciais e aumentar a eficiência global da produção. A introdução de suplementos como aminoácidos e enzimas exógenas, bem como o aprimoramento do aproveitamento de proteínas vegetais, emerge como uma estratégia promissora para otimizar os recursos disponíveis e reduzir os custos de produção”, expõe o especialista.
Nesse contexto, Moro diz que alternativas como as proteínas circulares mostram um potencial significativo. “Larvas de insetos, como as provenientes da mosca soldado negra se destacam pela sua capacidade de converter resíduos orgânicos em fontes valiosas de proteína, oferecendo uma solução sustentável e rica em nutrientes. Além disso, as microalgas despontam como uma fonte promissora de ingredientes para rações, especialmente para peixes marinhos, devido ao seu alto teor de ômega 3, um ácido graxo essencial para o desenvolvimento saudável desses animais”, expõe.

Foto: Jefferson Christofoletti
O uso de aditivos prébióticos, probióticos, enzimas e microminerais desempenha um papel importante na otimização da saúde e do desempenho dos organismos aquáticos, no entanto, sua adoção ainda é limitada na indústria. “Hoje a maioria das rações de combate, que são as mais utilizadas durante a engorda e a terminação, não tem aditivo em sua composição”, ressaltando, ampliando: “Essa disparidade fica ainda mais evidente ao compararmos com a cadeia de produção avícola, onde praticamente todas as rações, ao longo do ciclo de produção, são enriquecidas com esses compostos. Embora algumas linhas de rações premium para peixes possam incluir certos aditivos, especialmente os prebióticos, sua presença ainda não é amplamente utilizada”.
E porque não se usam aditivos na ração para peixes?
O pesquisador explica que a falta de utilização de aditivos nas rações de peixe se deve ao aumento do custo do produto final. Segundo Moro, os produtores, geralmente, baseiam suas escolhas no preço da ração, não considerando os benefícios potenciais que os aditivos poderiam proporcionar ao desempenho dos peixes. “Esta falta de comparação entre custo e resultado contribui para a baixa adesão a esses componentes essenciais”, afirma.
No entanto, os aditivos oferecem uma série de vantagens, incluindo a melhoria da qualidade da água, a redução de problemas relacionados à sua qualidade e o aumento da absorção de nutrientes, como o fósforo, além de promover a funcionalidade do produto final. Apesar disso, sua utilização ainda é limitada na indústria de rações para peixes.
O doutor em Ciências Animais e Pastagens ressalta também o potencial dos microminerais, oligossacarídeos, ácidos orgânicos e enzimas exógenas nas rações, ressaltando os resultados promissores de experimentos. No entanto, observa-se uma falta de adoção desses elementos nas formulações de rações para peixes.
Por fim, Moro enfatiza a distância que tem a pesquisa do setor produtivo, com algumas raras exceções de iniciativas de trabalhos universitários com o setor produtivo, mas ainda é muito difícil ter trabalhos desenvolvidos que atendam as demandas do setor. “Seria muito importante termos ações conjuntas de instituições de pesquisa e desenvolvimento com indústrias, para o codesenvolvimento e adoção de tecnologias que possam ser aplicadas na cadeia de produção, visando maior ganho de resultado”, frisa.
Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor da piscicultura brasileira acesse a versão digital de Aquicultura, que pode ser lida na íntegra on-line clicando aqui. Tenha uma boa leitura!

Peixes
Carta de Belém une entidades e leva aquicultura ao centro das discussões na COP 30
Setor aquícola conquista espaço histórico na agenda principal da COP.

A Carta de Belém foi oficialmente entregue, na terça-feira (18), ao presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores, na cidade de Belém, no Pará. Na última segunda-feira (17), a Carta de Belém foi apresentada aos participantes da COP30, no Pavilhão Oceano, Blue Zone.

Foto: Sergio Moraes/COP
Pela primeira vez na história das COPs, a produção de alimentos aquáticos entrou na agenda oficial e tantas atividades relacionadas constam da programação. E pela primeira vez, a produção de pescado está sendo debatida como uma das mais importantes soluções para a redução das emissões de gases de efeito estufa na produção de alimentos. O sistema alimentar é responsável por cerca de um terço das emissões globais de gases de efeito estufa, e grande parte destas emissões vem da produção de proteínas terrestres, que consomem muita água, energia e utilizam extensas áreas de terra.
A Carta de Belém apresenta a produção de pescado como solução climática, por ser uma atividade de baixo carbono, baixo consumo d’água, excelente conversão alimentar no caso da aquicultura (menor consumo alimento para um kg de proteína), e na Amazônia, onde está localizada a maior reserva de água doce do mundo e a proteção da floresta é uma condicionante para o equilíbrio do clima a nível mundial, se produz pescado preservando-a. A Amazônia pode transformar-se em um grande polo mundial de produção de pescado, gerando milhares de postos de trabalho, emprego e renda. Ou seja, a produção de pescado é uma atividade estratégica para a Amazônia e para o Planeta.
A Carta de Belém também apresenta uma série de propostas para o desenvolvimento da produção de pescado no Brasil: a sua Inclusão nas Políticas Públicas e no Fundo Clima como atividade de baixo carbono, investimentos em inovação, assistência técnica, infraestrutura, cooperativismo, agregação de valor, acesso ao mercado, entre outras, objetivando o desenvolvimento sustentável e inclusivo da cadeia produtiva da pesca e da aquicultura.
A Carta de Belém foi elaborada durante a realização do Internacional Fish Congres & Fish Expo Amazônia – IFC Amazônia, em Belém, em

Foto: Divulgação
abril deste ano, (o evento contou com 6.800 participantes) e foi subscrita por 23 entidades e organizações do setor de pesca e aquicultura, entre outras, como a Federação da Indústria do Estado de São Paulo – FIESP e a Confederação Nacional da Agricultura – CNA e se constituiu em referência para uma ação propositiva na COP 30. A ação conjunta com o Ministério da Pesca e com a FAO, resultaram na inclusão desta temática na programação da COP.
Posição estratégica do setor
A participação do agro e da aquicultura ganhou destaque inédito na COP 30, realizada no Brasil, conforme destacou a CEO do IFC Amazônia, Eliana Panty. Segundo ela, diferentemente de outras edições da cúpula, em que esses temas permaneciam à margem das discussões, desta vez o agro e, especialmente, a aquicultura tiveram protagonismo expressivo. “Em edições anteriores da cúpula, esses assuntos ficavam de fora e, dessa vez, o agro e a aquicultura tiveram protagonismo importante com salas de reuniões, com o Pavilhão Oceano, com vários debates sobre a produção aquícola”, afirmou.
Panty ressaltou ainda a relevância do ato final da comitiva: “E, agora, entregar essa pauta através da Carta de Belém nas mãos do presidente André Lago é uma grande oportunidade de repercutir o interesse e a preocupação, os objetivos, repercutir o real desejo do setor.”

Presidente do IFC Amazônia e ex-ministro da Pesca, Altemir Gregolin: “Pela primeira vez na história das COPs, a produção de alimentos aquáticos entrou na agenda principal” – Foto: Divulgação
Para o presidente do IFC Amazônia e ex-ministro da Pesca, Altemir Gregolin, a Carta de Belém representa um marco de união e posicionamento estratégico do setor. Ele enfatiza que o documento, subscrito por 23 entidades, consolida a defesa da tese de que a produção de pescado é de baixo carbono, possui baixas emissões de gases de efeito estufa, demanda pouco consumo de água e é estratégica tanto para a Amazônia quanto para o planeta. “Na Amazônia também se pode produzir pescado preservando a floresta”, reforçou.
Gregolin explicou que a Carta de Belém foi essencial para iniciar um movimento conjunto com a FAO e com o Ministério da Pesca para inserir a produção de alimentos aquáticos como tema da agenda principal da COP 30. “Pela primeira vez na história das COPs, a produção de alimentos aquáticos entrou na agenda principal. Temos aqui mais de 30 painéis em torno desta temática”, destacou. Ele também relatou que o documento foi apresentado no Pavilhão Oceano, na Blue Zone, e entregue ao presidente da COP, André Lago. “Ele reconheceu a importância dessa temática, conhece dados e informações de baixas emissões, portanto foi extremamente receptivo. E nós queremos agradecer as entidades nacionais que subscreveram a carta, dando aquele peso político que toda manifestação tem que ter”, concluiu.
Entidades Subscritoras da Carta de Belém
A Carta de Belém conta com o apoio e a subscrição das seguintes entidades nacionais do setor aquícola e pesqueiro: IFC Amazônia; IFC Brasil; ABIPESCA – Associação Brasileira das Indústrias de Pescado; PEIXE BR – Associação Brasileira da Piscicultura; ABRAPES – Associação Brasileira de Fomento ao Pescado; ABCC – Associação Brasileira de Criadores de Camarão; PESCA BR – Associação Nacional de Armadores e Proprietários de Embarcações Pesqueiras; CONEPE – Conselho Nacional da Pesca e Aquicultura; CNA – Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil; FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo; Rede de Pesquisa Sustentabilidade na Aquicultura; ABLA – Associação Brasileira de Lojas de Aquariofilia; CBPE – Confederação Brasileira de Pesca Esportiva; ACRIPAR – Associação de Criadores de Peixes do Estado de Rondônia; FAEPA – Federação da Agricultura do Estado do Pará; SINDIPI – Sindicato dos Armadores e das Indústrias da Pesca de Itajaí e Região; SINPESCA – Sindicato das Indústrias de Pesca, da Aquicultura e das Empresas Armadoras e Produtoras, Proprietárias de Embarcações de Pesca do Estado do Pará; PEIXE SP – Associação de Piscicultores em Águas Paulistas e da União; PEIXE MG – Associação dos Aquicultores e Empresas Especializadas do Estado de Minas Gerais; PEIXE PR – Associação Paranaense de Aquicultura; ACAQ – Associação Catarinense de Aquicultura; CEPEA – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada; CNPA – Confederação Nacional de Pescadores e Aquicultores.
Peixes
Importação de tilápia vietnamita reacende alerta do setor de aquicultura
Operação comercial liderada pela JBS traz 700 toneladas do Vietnã. Dados oficiais mostram 48 toneladas já desembarcadas em 2025 e produtores apontam risco à competitividade e à sanidade.

O recente avanço das importações de tilápia do Vietnã ao Brasil, autorizado pelo governo federal em abril deste ano e agora operacionalizado por um embarque de maior escala negociado pela JBS, reacendeu apreensões entre piscicultores e representantes do setor. A operação prevê a chegada de 700 toneladas de pescado, com o primeiro contêiner despachado em 06 de novembro e previsão de desembarque no Porto de Santos em 17 de dezembro, segundo informações sobre o acordo comercial fechado durante a Cúpula do BRICS.
Os números oficiais já registrados no sistema Comex Stat do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) mostram que o País importou 48 toneladas de filé de tilápia congelado do Vietnã em 2025: 25 toneladas em agosto (US$ 123.877) e 23 toneladas em setembro (US$ 71.419), num total de US$ 195.296.
Embora representem um volume relativamente pequeno frente ao mercado produtor doméstico, as aquisições internacionais ganham peso diante da escala industrial prevista pela operação atual.
Contexto de produção
O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de tilápia. Em 2024 a produção nacional foi registrada em cerca de 662.230 toneladas, volume que representa aproximadamente 68% da produção de peixes cultivados no país. Ainda assim, a entrada de matéria-prima importada suscita dúvidas sobre competitividade e equilíbrios de mercado.
O Brasil possui uma das legislações sanitárias mais rigorosas do mundo para a aquicultura, impondo aos produtores brasileiros padrões de biossegurança, rastreabilidade, fiscalização contínua e protocolos de inspeção animal que não são integralmente exigidos em alguns países exportadores, entre eles o Vietnã.
Preocupações com competitividade e normas
Representantes do segmento destacam que a assimetria regulatória é central nas preocupações. Enquanto a cadeia brasileira opera sob protocolos de biossegurança, rastreabilidade e fiscalização contínua que aumentam custos, parte do pescado importado pode provir de sistemas com exigências menos restritivas na origem, reduzindo preço final e, potencialmente, pressionando margens de produtores e frigoríficos nacionais.
Riscos sanitários e incerteza regulatória
Além do aspecto econômico, há receio explícito sobre riscos sanitários. A importação de tilápia estrangeira pode introduzir doenças, parasitas ou variantes de patógenos não presentes ou controlados no Brasil. A situação ficou mais sensível com a inclusão da tilápia na Lista Nacional de Espécies Exóticas Invasoras no início de novembro, medida que aumentou o debate sobre eventuais barreiras e requisitos para movimentação e manejo da espécie, embora o governo afirme que a inclusão não impede a produção comercial.
Produtores, no entanto, veem na listagem um fator de incerteza regulatória que pode resultar em maior burocracia e, consequentemente, inibir novos investimentos. Em suma, dizem, o risco é duplo: concorrência com produto importado a custos potencialmente menores e custos adicionais eventuais decorrentes de medidas administrativas vinculadas ao estatuto de espécie exótica invasora.
Peixes
Aqua Summit BR 2025 traz programação estratégica para orientar o futuro da aquicultura no Brasil
Encontro reúne lideranças, especialistas e setor produtivo para integrar ciência, mercado e políticas públicas.

A primeira edição do Aqua Summit BR 2025 reúne, de 26 a 28 de novembro, no Palácio Araguaia em Palmas, no Tocantins, uma programação intensa que combina conhecimento, estratégia e inovação para impulsionar o futuro da aquicultura brasileira. O evento estratégico vai reunir lideranças, pesquisadores, empresários e representantes das cadeias de proteína animal e da aquicultura para planejar o futuro da produção de pescado no Brasil. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas pelo site www.aquasummitbr.com.br.

A abertura oficial será realizada no dia 26 de novembro, às 19 horas, com a Palestra Magna “A Força das Proteínas Brasileiras no Cenário Mundial: O que a aquicultura pode aprender com as demais proteínas”, conduzida por Celso Luiz Moretti, engenheiro agrônomo, mestre e doutor em produção vegetal, pesquisador, ex-presidente da Embrapa e atual presidente do conselho do CGIAR, reconhecido internacionalmente por sua contribuição à sustentabilidade agrícola, incluindo o Prêmio Norman Borlaug.
No dia 27 de novembro, às 09 horas, inicia-se o primeiro painel, “Lideranças e sua importância no desenvolvimento da cadeia”, destacando o papel estratégico da gestão e da articulação institucional para o fortalecimento do setor, com participação de Diones Bender Almeida, da Genomar Genetics Latin América, e João Manoel Cordeiro Alves, do Sindirações, sob moderação de Altemir Gregolin, ex-ministro da Pesca e presidente do IFC Brasil.
Em seguida, às 10h30, ocorre o segundo painel, “Avanços Normativos e Governança Setorial em Debate”, abordando as atribuições do governo e do setor produtivo para garantir competitividade e construir um ambiente regulatório moderno e eficiente. Participam Juliana Satie Becker de Carvalho Chino, do Dipoa/Mapa, e Helinton Rocha, da Câmara Setorial.
A programação da tarde começa às 14 horas com o painel “Pacote Tecnológico Integrado: A Base da Competitividade nas Cadeias de Proteína Animal”, trazendo uma visão sobre soluções inovadoras para elevar produtividade e garantir sustentabilidade, com contribuições de Gustavo Maia, da Shrimpl, e Marcos Queiroz, da MqPack, sob mediação de Everton Krabbe, da Embrapa Suínos e Aves.

Às 15h30, o quarto painel, “Posicionamento Mercadológico e Branding Territorial”, explora estratégias de diferenciação, construção de marca e agregação de valor nas cadeias de proteína, com Tom Prado, da REI Alimentos, e Lidia Leal da Silva Lopes, da Angus Brasil, sob moderação de Carlos Humberto Duarte de Lima e Silva, da SICs.
Encerrando o dia, o Flash Embrapa e Sepea apresentará uma sequência de pitches sobre tecnologias desenvolvidas pela Embrapa Pesca e Aquicultura, incluindo edição genética, inteligência de dados para aquicultura, programas de competitividade e soluções de reuso de água, com apresentações de Eduardo Varela, Manoel Pedrosa Filho, Renata Melon e Marccela Mataveli, além da participação de Thiago Tardivo, da Secretaria de Pesca e Aquicultura do Tocantins, destacando as condições favoráveis para investimentos no estado. “O Tocantins oferece condições ideais para o desenvolvimento da piscicultura: clima favorável, abundância de água, quatro grandes reservatórios federais, logística eficiente, incentivos fiscais e segurança jurídica para investidores. A realização da primeira edição do Aqua Summit em Palmas é uma oportunidade única para apresentar essas vantagens a investidores nacionais e internacionais, destacando o potencial do estado para impulsionar a cadeia produtiva do pescado”, destaca Tardivo.
No dia 28 de novembro, os participantes farão uma visita técnica à Embrapa Pesca e Aquicultura, onde poderão conhecer de perto pesquisas, tecnologias e estruturas que posicionam o Tocantins como referência nacional em inovação científica para o setor.
A programação do Aqua Summit BR 2025 foi concebida para integrar ciência, mercado e políticas públicas, estimulando decisões estratégicas e preparando a aquicultura brasileira para um novo ciclo de competitividade, sustentabilidade e crescimento.
Sede estratégica
A escolha de Palmas como sede é unanimemente celebrada pelas lideranças envolvidas. Para Danielle de Bem Luiz, analista e chefe da

Embrapa Pesca e Aquicultura, o Aqua Summit BR é uma oportunidade única para a cadeia do pescado refletir, aprender com o sucesso das demais cadeias de proteínas e avançar na consolidação da sua produção e na ampliação de mercados. “O evento integrará pesquisa aplicada, políticas públicas e mercado para reforçar a competitividade e o protagonismo da aquicultura brasileira”, ressalta Danielle.
Eliana Panty, diretora da Hollus Comunicação e Eventos, valoriza a realização no estado em que nasceu: “Realizar um evento no Tocantins ao lado da Embrapa e do Governo do Estado é um sonho antigo. Cresci às margens do Rio Tocantins, onde a vida sempre veio da água. Hoje, mais do que nunca, voltamos nosso olhar para essa proteína que nasce das águas. A piscicultura tem enorme potencial, mas ainda enfrenta desafios de infraestrutura, processamento, logística e mercado. Eventos como o Aqua Summit BR criam os espaços de debate necessários para transformar esse potencial em desenvolvimento real, gerando mais qualidade, mercado e consumo para o pescado brasileiro”, menciona.

Foto: Divulgação
“O Aqua Summit representa uma oportunidade estratégica para fortalecer a aquicultura tocantinense, pois aproxima produtores, pesquisadores, investidores e gestores públicos em torno de um mesmo objetivo: transformar o potencial natural do Tocantins em um setor produtivo robusto e sustentável”, afirma Roberto Sahium, secretário-executivo da Pesca e Aquicultura do Tocantins.
Citando condições que o estado possui (recursos hídricos, clima favorável e localização estratégica), Sahium lembra que é preciso avançar em conhecimento técnico, em inovação e em agregação de valor. “Eventos como o Aqua Summit permitem justamente essa troca de experiências e tecnologias, estimulando a adoção de boas práticas, o empreendedorismo e a atração de novos investimentos para o setor aquícola tocantinense”, reforça.
Com grande potencial de desenvolvimento também na aquicultura, o Tocantins tem avançado nessa área. Ainda longe de transformar em realidade todas as condições que possui para uma aquicultura sustentável nos três pilares (ambiental, econômico e social), o estado atualmente é o 17° maior produtor nacional, com 18.100 toneladas de peixes no ano passado, principalmente tambaqui.



