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Parlamentos sul-americanos se unem na Argentina em defesa do agro da América do Sul
Lideranças reforçam papel estratégico do Brasil no fortalecimento do setor agropecuário para enfrentar barreiras comerciais.

A 2ª Cúpula Agro Global Sul-Americana está em andamento em Buenos Aires, Argentina, reunindo parlamentares da América do Sul para discutir os desafios e oportunidades do setor agropecuário. Na quarta-feira (23), o evento contou com painéis sobre temas como segurança alimentar, sustentabilidade, comércio global e infraestrutura para o agro. A programação segue até esta quinta-feira (24), com mais debates e a participação de representantes do Congresso Nacional Argentino.
Organizada pelo Instituto Barbechando, com apoio do Instituto Pensar Agropecuário (IPA), a Cúpula tem como foco o fortalecimento da integração entre os parlamentos do Brasil, Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai, Colômbia e Peru. O objetivo é promover uma atuação coordenada em prol do desenvolvimento sustentável e da competitividade agropecuária sul-americana.
A programação do evento contempla quatro painéis temáticos: segurança alimentar, sustentabilidade e desigualdade tecnológica; comércio global e barreiras ao agro; infraestrutura e conectividade para o campo; e o papel dos parlamentos na formulação de políticas públicas eficazes para o setor.
Durante os debates, o presidente da FPA, deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), destacou a importância da união regional para enfrentar os desafios comuns ao agro. “É a junção dos parlamentos e das entidades representativas do agro em toda a América do Sul. Estamos aqui para discutir nossas convergências, superar narrativas equivocadas e mostrar que temos soluções reais para o desenvolvimento sustentável e produtivo da região”, afirmou.
Lupion também ressaltou o papel do Brasil na liderança desse processo. “O mundo olha para o agro brasileiro com atenção. Nossa responsabilidade é gigante, e eventos como este mostram que estamos dispostos a liderar com diálogo, com base técnica e com respeito às particularidades de cada país.” Segundo ele, a Cúpula também reforça a necessidade de união para combater barreiras ideológicas e comerciais. “Temos que construir pontes com nossos vizinhos e resistir, juntos, a imposições externas que não respeitam a realidade do campo sul-americano.”
No mesmo sentido, a senadora Tereza Cristina (PP-MS), vice-presidente da FPA no Senado, ressaltou a importância do diálogo entre os países sul-americanos. “Hoje tivemos muitas falas interessantes, troca de ideias e avanços em conclusões sobre problemas convergentes da agropecuária em nosso continente. O mais importante é que estamos construindo pontes entre os parlamentos e as entidades privadas do setor produtivo, com foco na segurança alimentar, sustentabilidade e fortalecimento da nossa representatividade frente a barreiras internacionais,” disse a senadora reforçando que “a integração é fundamental para enfrentarmos os desafios geopolíticos e ambientais que afetam o agro sul-americano”, declarou.
O senador Jorge Seif (PL-SC) também celebrou a iniciativa e reforçou a importância de uma atuação conjunta. “Apesar de termos interesses específicos, há muito que nos une. Precisamos nos proteger com legislações conjuntas contra barreiras impostas por outros blocos econômicos. Nosso adversário não está aqui, entre nós. Nosso desafio está nos entraves que vêm de fora, travestidos de ambientalismo seletivo e protecionismo disfarçado de preocupação com a sustentabilidade,” disse.
Cooperação regional

“Quando o agro fala com uma só voz no continente, mostramos força. Temos que ser mais estratégicos, mais propositivos e mais firmes nas negociações internacionais. Esta cúpula é o início de algo maior: uma diplomacia agropecuária sul-americana,” completou Seif.
Para o senador Marcos Rogério (PL-RO), o momento é propício à construção de pontes entre os países. “É hora de derrubar muros e ampliar a cooperação regional. A América do Sul tem uma capacidade produtiva extraordinária, e eventos como esse nos ajudam a construir um comércio mais forte e justo para o agronegócio”, disse.
Já o deputado Alceu Moreira (MDB-RS) defendeu que os países atuem como um bloco coeso, com uma agenda comum e embasada em dados concretos. “É fundamental que trabalhemos com a verdade dos fatos e os números da realidade, para enfrentar as barreiras comerciais e reconhecer os casos de sucesso que podem inspirar toda a região”, enfatizou.
Vozes da FPA
A deputada Coronel Fernanda (PL-MT), que coordena a Comissão de Política de Abastecimento da FPA, destacou o papel de liderança do Brasil no evento. “A união tem sido a maior força dentro do Congresso Nacional. E vamos continuar nesse trabalho porque, como eu falo, no Mato Grosso, o agro é vida, o agro é pop e é o agro que tem feito o nosso estado crescer. E da mesma forma, é o agro que tem feito o Brasil despontar mundo afora.”
O deputado Evair de Melo (PP-ES) que também participa da comitiva da FPA reforçou a importância da integração regional dos parlamentos e das frentes parlamentares agropecuárias da Colômbia, do Peru, do Chile, do Uruguai, Paraguai, Argentina e Brasil. “Falamos aqui da importância da mobilização do setor produtivo para que cada dia a mais possamos ter parlamentares comprometidos com o setor. Contamos a nossa experiência do Espírito Santo e, com certeza, com esse aprendizado, retornaremos ao Brasil e caminharemos em bloco para enfrentar esse desafio global,” destacou.
Já o senador Jaime Bagatoli (PL-RO) enfatizou os pontos em comum entre os países. “Temos desafios não só da comercialização, mas também da produção. A importância da nossa FPA e dos institutos que temos hoje no Brasil — e que já estão sendo implementados em outros países da América Latina — é enorme. Assim podemos ajudar o agronegócio não só do Brasil, mas da América Latina a se fortalecer no cenário global. Estamos juntos!,” finalizou Bagatoli.
A 2ª Cúpula AgroGlobal se consolida como o principal fórum de articulação entre o setor produtivo e os legisladores da América do Sul. Estão presentes uma comitiva de treze parlamentares da FPA, entre eles, a senadora Tereza Cristina (PP-MS), os senadores Jaime Bagattoli (PL-RO), Jorge Seif (PL-SC), Marcos Rogério (PL-RO) e Zequinha Marinho (Podemos-PA), além das deputadas federais Coronel Fernanda (PL-MT), Daniela Reinehr (PL-SC), Ana Paula Leão (PP-MG), Roberta Roma (PL-BA) e os deputados federais Evair de Melo (PP-ES) e Alceu Moreira (MDB-RS). Também participam Tania Zanella, presidente do IPA, e o vice-presidente do IPA, Sergio Luis Bortolozzo.

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Mancha-alvo pode causar até 20% de queda do potencial produtivo da soja
Doença fúngica cresce mais rápido que ferrugem e mofo-branco, amplia risco de perdas produtivas e expõe a necessidade de estratégias integradas para preservar rendimento e eficácia dos fungicidas.

No campo, a soja é atacada por muitas doenças fúngicas que podem causar prejuízos tanto no rendimento quanto na qualidade dos grãos. As que mais infectam a cultura apresentam uma dinâmica variada e têm o controle influenciado por diferentes condições de clima, cultivares e populações dos fungos presentes nas áreas.
Dentre as principais doenças, a mancha-alvo (Corynespora cassicola) é um ponto de atenção, pois apresenta alta severidade, problemas de resistência e a infestação no campo cresce a cada safra. “Nos últimos anos, a mancha-alvo teve aumento de 33% ao ano na área tratada no Brasil. Esse percentual de crescimento anual é maior que outras problemáticas na soja, como ferrugem, mofo-branco e antracnose, no mesmo período. Isso comprova que o manejo da cultura deve avaliar o complexo de doenças de cada região”, enfatiza o engenheiro agrônomo Fábio Lemos.
Dentre os fatores para a evolução da doença está a seleção genética de materiais altamente produtivos, porém com maior suscetibilidade a patógenos, ampla área cultivada, sistema de soja-algodão, em que a doença se desenvolve e causa danos, simultaneamente submetidas a diferentes condições climáticas, e diversidade de variações entre populações de fungos submetidas a condições diversas de pressão e seleção. “Uma vez que haja condições para a ocorrência, as perdas pela falta de um controle preventivo podem ser devastadoras à cultura, com redução de 15 a 20% do potencial produtivo, em escala variável. Por isso, é muito importante que o produtor faça o programa preventivo de controle de doenças da lavoura em associação com produtos multissítios e biológicos”, menciona o profissional.
Lemos explica que o uso frequente do mesmo fungicida promove uma maior pressão de seleção e, portanto, acarreta uma menor eficácia do manejo das doenças. “Na ausência de novos ativos, a rotação de grupos químicos e moléculas atenuam a pressão sobre as populações e conferem mais controle”, ressalta, acrescentando: “O controle das doenças no momento adequado resulta em mais vagens por planta, maior permanência das folhas, com otimização da fotossíntese e do enchimento de grãos, além do uso mais eficiente dos fungicidas. Esses fatores reduzem diretamente as perdas causadas por doenças e geram benefícios que vão além da sojicultura, ao contribuir para o manejo integrado de pragas no ambiente e produzir reflexos positivos também em outros cultivos”.
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Expansão agroindustrial faz C.Vale projetar salto de 84% na demanda por energia elétrica
Cooperativa estima que necessidade instalada chegue a 70 MW em dez anos e cobra reforço no fornecimento para sustentar novos investimentos no campo e na indústria.

Impulsionada pela ampliação da agroindustrialização e por novos projetos produtivos de seus cooperados, a C.Vale projeta um crescimento expressivo na demanda por energia elétrica na próxima década. A cooperativa estima que a carga instalada saltará de 38 para 70 megawatts (MW) até 2036, uma alta de 84%. No mesmo intervalo, o consumo anual deve avançar 79%, alcançando cerca de 429 gigawatts-hora (GWh).

Reunião realizada na última terça-feira (16), em Palotina (PR), entre dirigentes da C.Vale e da Companhia Paranaense de Energia (Copel)
O avanço do consumo energético está diretamente ligado à expansão das indústrias da cooperativa, das unidades de recebimento de grãos e, sobretudo, à intensificação da produção nas propriedades dos associados. Para viabilizar esse crescimento, a C.Vale avalia como fundamental o reforço da infraestrutura elétrica, tanto nas plantas industriais quanto no meio rural.
O tema foi tratado em reunião realizada na última terça-feira (16), em Palotina (PR), entre dirigentes da C.Vale e da Companhia Paranaense de Energia (Copel). Durante o encontro, representantes da concessionária visitaram o complexo agroindustrial da cooperativa e tiveram acesso ao Plano Decenal Energético, apresentado pelo supervisor de Gestão de Energia e Comercialização, Felipe Ferreira. O documento detalha os investimentos previstos até 2036 e os impactos esperados sobre a demanda.
Segundo a cooperativa, parte relevante desse crescimento está associada a projetos dos associados nas áreas de piscicultura, suinocultura e avicultura, atividades intensivas em energia e dependentes de fornecimento estável para manter sistemas de climatização, automação, alimentação e biossegurança.
O presidente do Conselho de Administração da C.Vale, Alfredo Lang, destacou que a sinalização da Copel em ampliar e qualificar o atendimento energético é decisiva para destravar novos investimentos. “A preocupação da Copel em nos atender nos encoraja a investir ainda mais”, afirmou.
Participaram da reunião o presidente da Copel, Daniel Slaviero, o diretor-geral da companhia, Marco Antônio Villela Abreu, diretores da C.Vale e demais representantes da concessionária. O encontro reforçou a necessidade de alinhamento entre planejamento energético e expansão do agronegócio, em um cenário de crescente demanda por proteína animal e processamento de alimentos.
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Codesul defende integração da Malha Sul diante da nova política ferroviária federal
Estados do Sul avaliam que a fragmentação da concessão compromete escala, investimentos e competitividade logística em uma região estratégica para o agro e a indústria exportadora

O lançamento da Política Nacional de Concessões Ferroviárias e da Carteira de Projetos 2026, anunciado pelo Ministério dos Transportes, marca um dos mais relevantes movimentos de reestruturação do modal ferroviário brasileiro nas últimas décadas. A iniciativa prevê a modernização das regras de outorga, a possibilidade de aportes públicos em concessões e a estruturação de uma carteira inédita, com oito leilões e investimentos estimados em cerca de R$ 140 bilhões, voltados à ampliação da malha, à recuperação de trechos degradados e à criação de novos corredores logísticos.

Diretor de ferrovias da Associação Comercial, Industrial, Agronegócio e Serviços de Chapecó (ACIC), Lenoir Antonio Broch – Foto: Divulgação/Acic
O diretor de ferrovias da Associação Comercial, Industrial, Agronegócio e Serviços de Chapecó (ACIC), Lenoir Antonio Broch, observa que embora o anúncio represente um avanço importante na agenda logística nacional, o Conselho de Desenvolvimento e Integração Sul (Codesul) avalia que a modelagem proposta para a Malha Sul não atende às necessidades estratégicas de integração ferroviária dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A fragmentação da malha em três concessões distintas: Corredor Paraná – Santa Catarina, Corredor Rio Grande e Corredor Mercosul é vista como um fator que compromete a coerência logística regional, reduz escala, desestimula investimentos e fragiliza a atratividade privada.
Atualmente, a concessão da Rumo Malha Sul compreende 7.223,4 quilômetros de ferrovias nos três estados, mas aproximadamente 50% desse total encontra-se fora de operação. No Rio Grande do Sul, após as cheias de 2024, a extensão efetivamente operante caiu de cerca de 1.680 km para apenas 921 km, com interrupções adicionais no transporte de líquidos devido a danos estruturais. Em Santa Catarina, dos 1.210 km de trilhos da Malha Sul, apenas 210 km permanecem em operação. Apesar de concentrar cerca de 20% da movimentação nacional de contêineres e contar com importantes terminais de grãos, apenas cerca de 6% das cargas portuárias do estado utilizam o modal ferroviário.
No Paraná, especialmente no Oeste, a limitação da infraestrutura e gargalos como o da Serra da Esperança, entre Guarapuava e Ponta Grossa, reduzem a fluidez do transporte ferroviário e comprometem o escoamento de grãos, proteínas e insumos industriais. Esse cenário evidencia um declínio progressivo da capacidade operacional da malha, com impactos diretos sobre a competitividade agroindustrial e exportadora da região Sul.

Foto: Divulgação
Broch destaca que o desafio logístico é estrutural. A dependência do transporte rodoviário, que responde por cerca de 65% do transporte doméstico no País, somada à baixa participação das ferrovias fora do segmento de minério, eleva custos, pressiona rodovias saturadas e expõe o sistema a riscos crescentes. Cadeias produtivas estratégicas, como aves, suínos, lácteos, carnes e alimentos processados, além de projetos futuros de biocombustíveis, são diretamente afetadas.
Diante desse contexto, os estados do Codesul defendem a concessão integrada da Malha Sul como única alternativa capaz de garantir escala, coerência logística e eficiência operacional. A atuação conjunta junto ao Governo Federal baseia-se em três diretrizes centrais: a solução dos passivos históricos da concessão atual, com recuperação de trechos degradados; a garantia da continuidade operacional durante a transição entre contratos; e a defesa firme da concessão em bloco, assegurando a plena integração da região à malha ferroviária nacional.
Além de medidas imediatas para recompor trechos danificados e restabelecer a conectividade logística, o Codesul propõe uma estratégia de médio e longo prazo alinhada à visão nacional de ampliação da competição, atração de novos players e inserção efetiva do Sul nos grandes corredores ferroviários de exportação. O objetivo é assegurar que a região continue contribuindo de forma decisiva para o desenvolvimento econômico do Brasil, com uma infraestrutura ferroviária contínua, moderna e competitiva.



