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Paridade de preços internacionais e preços ao produtor brasileiro

Nos últimos anos, os preços dos produtos agropecuários aumentaram devido a eventos inesperados nos mercados na década de 2020, atingindo um pico em 2022. Os preços em dólar desses produtos, como soja e café, são determinados pelo mercado internacional e influenciam os preços domésticos, ajustados pela taxa de câmbio.

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Foto: Marcos Vicentti

Nos últimos anos, os preços dos produtos agropecuários passaram por forte pressão de alta devido a vários eventos inesperados que impactaram os mercados na década de 2020. O ano de 2022 marcou um forte pico de alta nas séries desses preços, tanto em nível nacional quanto internacional.

No caso dos mercados das commodities agrícolas com forte presença no mercado mundial, ou de exportação, como soja, milho, café e açúcar, o preço em dólar é formado no mercado internacional, seguindo os fundamentos da oferta e demanda mundiais. De acordo com a Lei do Preço Único, a teoria econômica ensina que o preço de um produto homogêneo, como no caso de uma das commodities (mercadorias padronizadas), será o mesmo – após ajustes ligados aos custos logísticos –, quando cotados na mesma moeda, em diferentes regiões envolvidas no seu comércio.

Foto: Claudio Neves/Portos Paraná

Ou seja, aplica-se o conceito de Paridade de Preços Internacionais (PPI). Desse modo, no caso do Brasil, o preço externo, que é cotado em dólar norte-americano, internalizado por meio da sua multiplicação pela taxa de câmbio doméstica (em reais por dólar), tem papel determinante na formação do preço doméstico, que tem sua cotação em Real – moeda brasileira.

O coordenador científico do Cepea/Esalq-USP, Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros, salienta que a PPI opera de forma que os preços domésticos oscilam ancorados nos seus correspondentes internacionais internalizados. Assim, no curto prazo, poderá haver divergência entre o preço doméstico e o internacional internalizado em razão, por exemplo, de rigidezes operacionais de mercado (como negócio sob contratos a termo), variações de oferta e demanda não antecipadas e que necessitam de um intervalo de tempo para serem assimiladas pelos agentes de mercado e de produção.

Outro aspecto relacionado à PPI é o de que uma quebra de oferta (safra) de um produto nacional levará a altas de preços doméstico na proporção em que essa quebra provoque escassez internacional, ou seja, leve a uma oferta global inferior à demanda, forçando a uma elevação de preços em dólares. Essa alta será, então, internalizada ao mercado doméstico em consonância com a taxa interna de câmbio.

Mas, e no caso de produtos como o arroz, o feijão e as frutas? Barros argumenta que a PPI influencia os preços domésticos mesmo nos casos em que o comércio com o exterior não seja expressivo.  É suficiente que o país seja aberto ao exterior, ou seja, que haja possibilidade de haver transações com outros países, via exportação e/ou importação desses bens.  Caso o preço doméstico esteja abaixo do PPI, há incentivo para o país exportar esse bem; caso esteja acima, haverá incentivo à importação. Assim, as variações dos preços dos produtos agropecuários no mercado doméstico são afetadas tanto pelas variações dos preços no mercado internacional, quanto pela variação da taxa de câmbio. Caso não esteja havendo efetivo comércio é porque o mercado interno encontra-se ajustado tendo em conta a possibilidade de importação ou exportação.

Uma medida dos preços desses produtos no Brasil é o Índice de Preço ao Produtor Agropecuário (IPPA), que é calculado pelo Cepea. Este Indicador se refere aos preços de Grupos de Produtos Agropecuários, considerando-se Grãos; Pecuária; Hortifrutícolas; Cana-de-Açúcar e Café, esses dois últimos juntos formando um único grupo. Assim, o IPPA-Cepea contempla, portanto, quatro grupos de produtos.

No caso do indicador dos preços internacionais, a avaliação do comportamento destes é feita através do indicador alimentos e bebidas do Fundo Monetário Internacional (Food&Bavarege, F&B – FMI), por considerar cesta semelhante de produtos[2].

A Figura 1 mostra a evolução dos dois indicadores mensais de preços em reais nominais, IPPA-Cepea e do F&B-FMI-R$ (este sendo o F&B internalizado, ou seja, convertido em reais pela taxa média de câmbio comercial para venda – Ipeadata) nos últimos 23 anos – de 2001 a 2024. Constata-se expressiva aderência entre as duas séries de dados, um indicativo forte da vigência da PPI entre os preços aos produtores agropecuários do Brasil e a média desses preços praticados no mercado internacional internalizados (expressos em moeda nacional). Desvios moderados entre essas séries ocorrem em subperíodos. Tais desvios se devem a rigidezes no processo de ajustes nos mercados, que tendem a operar sob contratos prevendo entrega futura com fixação antecipada de preços, que dificultam ajustes a mudanças não esperadas. Os mercados, ademais, operam também sob acordos regionais que podem interferir na formação de preços de curto (e médio) prazo.

Figura 1 – Evolução mensal dos índices de preços nominais de  produtos agropecuários no mercado brasileiro (IPPA- Cepea) e internacional internalizados (F&B/R$) – Janeiro/2001 a Fevereiro/2024. Fontes: Cepea/Esalq-USP, Ipeadata, FMI. Cálculos da autora.

É revelador observar a formação do F&B/R$, resultado da multiplicação dos índices F&B/US$ e do Câmbio doméstico (R$/US$). A evolução dessas séries é apresentada na Figura 2.  Observa-se, em primeiro lugar, que no subperíodo de 2001 a 2008 houve contínua elevação de F&B/US$, que mais do que duplicou de valor, processo que ficou conhecido como “boom das commodities”.

Esse nível substancialmente alto sustentou-se até meados de 2014. Entretanto, a internalização desse preço vincula-se em igual medida ao comportamento do

Foto: Marcelo Casal Jr/Agência Brasil

câmbio doméstico. Esta taxa, após expressiva alta (desvalorização) até início de 2003 (quando duplica seu valor nominal), passa a experimentar forte valorização nominal até meados de 2008, que chegou a 60% ante setembro de 2002 e 21% ante janeiro de 2001 (início da série). Como resultado, F&B/R$ duplica de 2001 a 2003, seguindo certo declínio e relativa estabilidade durante o “boom”.

A retomada de alta de F&B/R$ (e, logo, de IPPA) ocorre a contar de 2010 por força da substancial desvalorização nominal do câmbio doméstico, de mais de 140% entre 2010 e 2015. Pode-se dizer assim que, nesse período, F&B/US$ permaneceu em elevado patamar, mas relativamente estável, devendo-se a elevação em F&B/R$ e em IPPA à forte desvalorização da moeda brasileira. Desde 2015, F&B/US$ desce cerca de 20% e assim fica até meados de 2020. O câmbio no Brasil oscila, caindo 20% ao longo de 2016 e revertendo o processo até 2018 e aí se mantendo até 2020.

No início da pandemia, observa-se, primeiro, forte alta (desvalorização de 50%) da moeda brasileira em 2020. No mercado internacional, F&B/US$ sobe em 2021, com pico em 2022. Assim, na pandemia, ambos os componentes (primeiro o câmbio e depois F&B/US$) contribuem para as altas em F&B/R$ e em IPPA. Nota-se que IPPA apresenta um overshooting em relação a F&B/R$ de meados de 2020 a início de 2023, o que Barros (2023 e 2024) associa ao Auxílio Emergencial (extremante necessário), mas que evidentemente não era antecipado pelo mercado que, portanto, não dispunha de suprimento suficiente para atender à demanda que crescia subitamente.

Figura 2 – Indices F&B/US$ e Câmbio (R$/US$) – Janeiro/2001 a Fevereiro/2024. Fontes: FMI, Ipeadata. Cálculos da autora

Com o passar da pandemia, câmbio e F&B/US$ sofrem decréscimos (de cerca de 15%) e passam a oscilar em patamares mais baixos, de sorte que a PPI praticamente se restaura a contar de setembro de 2023, como se vê na Figura 1.

Em síntese, segundo a interpretação através da PPI, houve no corrente século a seguinte sequência: no período de 2004 a 2012, período conhecido como “boom das commodities”, os preços domésticos (IPPA-Cepea) registraram avanço inferior ao dos internacionais (medidos pelo F&B-R$) em razão do comportamento da taxa de câmbio que sofreu valorização nesse período, enquanto o indicador em dólar F&B-US$ subiu.

Foto: Divulgação/Arquivo OPR

A partir de 2011 a taxa de câmbio no Brasil passa a se desvalorizar, elevando o preço internacional internalizado. Com isso, tanto os preços no Mercado brasileiro – IPPA- Cepea, quanto o internalizado F&B-R$ passam por variações maiores do que os preços em dólar – F&B-US$.

Entre 2020 e 2022, com a pandemia, F&B-US$ cresce (no pico, em 2022, chega 52% de alta) com os desarranjos das cadeias produtivas. Mas o câmbio no Brasil alcança aumento semelhante mais rapidamente (já em meados de 2020). Mais significativo é constatar que, de 2020 a 2023, IPPA vai além de F&B-R$, chegando a ficar 30% mais alto. Ou seja, o IPPA ultrapassa F&B/R$, em razão de um acréscimo não esperado na demanda interna, que pode ser associada aos programas oficiais no âmbito da pandemia. Nesse contexto, evidentemente, o conflito devido à invasão da Ucrânia pela Rússia impulsionou F&B/US$.

De 2020 a 2023, a alta foi mais forte no mercado brasileiro, como já explicado. No entanto, já no segundo semestre de 2022, despontam uma normalização da oferta mundial e o forte crescimento da safra no Brasil (no ciclo 2022/2023), com os preços domésticos tendendo a convergir para as condições do mercado internacional, sugerindo o restabelecimento do princípio de PPI.

Fonte: Por Andréia Adami, pesquisadora da área de Macroeconomia do Cepea.

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Avanços e desafios da agricultura regenerativa tropical

Evolução das práticas regenerativas permite a melhoria no ambiente de produção com uma melhoria da qualidade do solo como principal capital do agricultor.

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O mundo desafia a agricultura a dar segurança alimentar para uma demografia ainda em crescimento, contribuir com emissões negativas para as mudanças climáticas e ainda contribuir com produção com densidade nutricional e qualidade. A agricultura brasileira pode contribuir com essa agenda de forma relevante. Atualmente, o Brasil está entre os 5 maiores produtores de alimentos e é o primeiro colocado na exportação de vários produtos agrícolas.

Fotos: Divulgação/Arquivo OPR

É considerado o mais importante produtor de grãos nos trópicos. Estima-se que a produção agropecuária no Brasil já alimenta mais de 1 bilhão de pessoas no mundo e que as projeções da OCDE-FAO indicam uma ampliação considerável da importância do Brasil no comércio agroalimentar global até 2032. Vários são os motivos que levam a essas importantes conquistas.

Podemos citar a contribuição da agricultura industrial através da “revolução verde”, por exemplo. No entanto, muitas vezes a produção de alimentos vegetais e animais, fibras e energia também estão ancoradas em custos ocultos ao meio ambiente: a biodiversidade do sistema, a qualidade do solo agrícola, a saúde das pessoas nas cidades, a saúde dos consumidores finais, o bem-estar animal e das pessoas que trabalham diretamente no campo.

Além disso, é conhecido que esse sistema de produção convencional necessita de condições ambientais estáveis para garantir boas produtividades. Ou seja, o sistema convencional é extremamente suscetível às adversidades climáticas, as quais estão se tornando cada vez mais frequentes em diferentes regiões do Brasil. As externalidades negativas do sistema convencional de produção, somadas às suas limitações adaptativas aos extremos climáticos, requerem uma transição regenerativa e novos fundamentos de produção.

Dentro deste contexto de conscientização da sociedade por alimentos com ausência de resíduo químico, com características organolépticas superiores e com maior densidade nutricional, das necessidades de mitigar os efeitos de mudança climática, de garantir a manutenção dos recursos para as gerações futuras, de atender as demandas presentes e de preservar a biodiversidade do sistema produtivo, alguns produtores têm implementado práticas agrícolas bem conhecidas pela Ciência.

A novidade é que essas soluções estão sendo adotadas em escala. Essas práticas e técnicas de manejo regenerativo (Fig. 1) são capazes de reduzir significativamente a dependência de insumos importados, a poluição do ambiente, enquanto são capazes de aumentar a eficiência e a resiliência dos sistemas produtivos, permitindo a manutenção de boas produtividades mesmo em períodos prolongados (superior a 60 dias, no caso de grãos) sem chuvas.

A evolução das práticas regenerativas permite a melhoria no ambiente de produção com uma melhoria da qualidade do solo como principal capital do agricultor. Estes também começam a prestar serviços ambientais para toda a sociedade, principalmente para as cidades, fornecendo água e alimento de qualidade, bem como mitigando os efeitos climáticos através do abatimento do carbono utilizando insumos de baixa emissão, com os manejos que privilegiam o aumento de carbono orgânico no solo, e ainda permitem o sequestro de carbono de forma permanente através do intemperismo aprimorado de minerais silicáticos, que são utilizados como condicionadores de solo, bioativação do sistema, melhoria da qualidade do solo e fontes de nutrientes.

Ao promover e valorizar a biodiversidade através da integração das áreas produtivas com as áreas naturais remanescentes, estes produtores garantem o refúgio de inimigos naturais das pragas e obtêm importantes serviços ecossistêmicos. Além de tudo, por utilizarem insumos e serviços dos seus contextos locais e regionais, compartilham a prosperidade com a sociedade, criando riqueza e oportunidades para a comunidade ao seu redor, atendendo assim aos requisitos ESG (Sustentabilidade Ambiental, Social e de Governança Corporativa – Environmental, Social and Governance, em inglês) em plenitude.

Fig. 1: A Agricultura Regenerativa Tropical é um novo modelo de produção agrícola e pecuária que busca a melhoria contínua da saúde do ecossistema produtivo e do uso eficiente de recursos finitos. Baseia-se em uma agricultura de processos, onde diferentes manejos, técnicas e práticas são integradas para obter uma gestão holística do ecossistema.

Desta forma, entende-se como Agricultura Regenerativa Tropical (ART) um conjunto de ações e boas práticas que atuam na recuperação do ecossistema produtivo de forma a deixar um saldo de impactos positivo nas características físicas e químicas do solo, na micro e na macrodiversidade do solo, na resiliência da produção, na redução de resíduos nos produtos, no sequestro de carbono e na melhoria da sociedade local e regional. Esses produtores de alimentos, fibras e energia atuam conscientemente na adoção de manejos e suas práticas que visam promover positivamente o ambiente de produção utilizando recursos e tecnologias acessíveis da forma mais eficiente possível dentro de uma agricultura de processos, em que desafios bióticos e abióticos são equacionados através de manejos realizados em caráter preventivo. Por todas essas características, a ART tem uma forte conexão com o consumidor final, o qual prioriza a regeneração e cura dos agroecossistemas, visando impactos positivos ao ambiente, à cadeia e à sociedade. Com essa missão, os produtores visam criar novas formas de relacionamento com as cadeias de fornecedores de insumos, serviços e equipamentos, bem como de fidelidade com as cadeias de valor e com os consumidores, diferenciando sua produção, seja pela forma de produzir como pela qualidade intrínseca do produto final.

Entre as práticas utilizadas na ATR podemos destacar:

  • Manejo integrado da fertilidade do solo através do uso de remineralizadores, fertilizantes minerais naturais, corretivos e circularidade da matéria orgânica com o processamento adequado de insumos orgânicos, visando a eliminação de patógenos e germinação de plantas daninhas;
  • Rotação de culturas e sistema de plantio direto sobre a palha, visando aumentar a diversificação de plantas no sistema enquanto mantém, sempre que possível, o solo coberto e revolvido o mínimo possível;
  • Uso de comunidades microbianas funcionais e de microrganismos específicos que atendam às necessidades da cultura;
  • Redução e, quando possível, a eliminação de insumos que agridem a vida no solo, nas plantas e das pessoas;
  • Recuperação de pastagens degradadas;
  • Integração lavoura-pecuária-floresta;
  • Gestão integrada da paisagem.

A implementação destas práticas depende de o agricultor sair da zona de conforto e experimentar novos processos visando a redução de custos, com uso de soluções locais e regionais. Cabe ao agricultor, pecuarista, e/ou consultor identificar a lista de prioridades a serem equacionadas e determinar a melhor forma de atuar nos processos para implementar a transição. Por exemplo, muitas doenças e a presença de pragas podem ser equacionadas com uma nutrição adequada e balanceada. Como não existe uma tabela de determinação do requerimento e balanço nutricional da cultura para cada tipo de solo, o mais adequado é construir a fertilidade do solo de forma estruturante e deixar que a planta determine qual nutriente está sendo necessário em determinada fase fisiológica.

Essa fertilidade do solo pode ser construída ao longo dos anos com o manejo integrado da fertilidade do solo, o qual visa aumentar a eficiência do uso de fertilizantes solúveis através do uso de remineralizadores, fertilizantes minerais naturais e compostos orgânicos. No início da implementação deste manejo, correções pontuais através da adubação foliar podem ser necessárias ao longo do ciclo da cultura. O monitoramento semanal da lavoura se faz necessário para atender as demandas nutricionais e de correção para a supressão de pragas e doenças.

Com bom senso e políticas públicas, a adoção das práticas regenerativas devem continuar crescendo rumo à sustentabilidade da nossa agricultura. Na perspectiva de país, a ampliação da regeneração agrícola tem muitas justificativas para se transformar numa iniciativa estratégica, implementada de forma permanente e legitimada na Política Nacional Agrícola. Pois, podemos reduzir de forma significativa nossa dependência internacional de insumos fundamentais; podemos aumentar a renda dos agricultores e ativar as economias locais com a circulação de recursos da aquisição de insumos e serviços; podemos promover uma redução significativa nas contaminações e no oferecimento de produtos de melhor qualidade; podemos desempenhar uma agricultura de carbono negativo e, finalmente, podemos atender às demandas e compromissos das cadeias de valor por produtos regenerativos.

Fonte: Por Pablo Hardoim e Eduardo de Souza Martins, membros do Grupo Associado de Agricultura Sustentável
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CAR e interesse público

Com a finalidade de integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais, compondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento.

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Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

Uma situação está gerando ansiedade e impaciência no universo rural catarinense. O motivo é o imbróglio em que se tornou a implantação do Cadastro Ambiental Rural (CAR) em Santa Catarina. A inscrição do CAR é perene e obrigatória para todas as propriedades ou posses rurais do país.

Fotos: Divulgação/Arquivo OPR

Criado pela Lei nº 12.651/2012, o Cadastro Ambiental Rural (CAR) é um registro público eletrônico de âmbito nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais, compondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento.

Por decisão administrativa do Governo do Estado, a gestão do CAR foi entregue ao Instituto do Meio Ambiente (IMA), mas não evoluiu como seria necessário. Por essa razão, atendendo apelo das principais entidades do agronegócio de Santa Catarina, a Assembleia Legislativa aprovou e o governador sancionou lei que inclui a Secretaria da Agricultura e Pecuária no Sistema Estadual do Meio Ambiente – SISEMA.

Efetivamente, a lei nº 18.973, de 11 de julho de 2024, incluiu a Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária no Sistema Estadual do Meio Ambiente, permitindo que participe da gestão do Cadastro Ambiental Rural, do Programa de Regularização Ambiental (PRA), da Certificação das Cotas de Reserva Ambiental (CRA) e nas políticas de desenvolvimento rural sustentável.

O principal resultado prático esperado dessa medida era a homologação dos 397.731 cadastros ambientais rurais existentes. Mas isso não ocorreu.

Como se sabe, a inscrição no CAR é o primeiro passo para obtenção da regularidade ambiental do imóvel, e contempla: dados do proprietário, possuidor rural ou responsável direto pelo imóvel rural; dados sobre os documentos de comprovação de propriedade e ou posse; e informações georreferenciadas do perímetro do imóvel, das áreas de interesse social e das áreas de utilidade pública, com a informação da localização dos remanescentes de vegetação nativa, das Áreas de Preservação Permanente (APP), das Áreas de Uso Restrito, das Áreas Consolidadas e das Reservas Legais.

Os proprietários rurais fizeram o CAR em um processo autodeclaratório, mas faltava – e ainda falta – a revisão e homologação desses cadastros pelo Governo do Estado, tarefa que deveria ter iniciado em 2021.

Por que é importante estar com o CAR regularizado? A inscrição no Cadastro Ambiental Rural e a homologação pelo órgão oficial estatal permitem acessar os benefícios do Programa de Regularização Ambiental (PRA) e garantem redução de juros nas operações de crédito rural para custeio e investimentos.

Aparentemente, os órgãos estatais (IMA e SAP) não se entenderam ainda – e quem sai prejudicado é o produtor/proprietário rural. Isso porque o PRA possibilita a suspensão de sanções em função de infrações jurídicas por supressão irregular de vegetação em Áreas de Preservação Permanente, Reserva Legal (RL) e uso restrito, além da regularização das áreas sem autuação por infração administrativa ou crime ambiental.

De outro lado, com o PRA, o produtor também consegue acesso facilitado ao crédito rural, contratação do seguro agrícola em condições melhores e prazo de 20 anos para recomposição do passivo ambiental. São benefícios importantes para nossos agricultores, que são verdadeiros protetores do meio ambiente.

Precisamos correr contra o tempo. Os órgãos da Administração estadual – IMA, Secretaria da Agricultura etc. – devem urgentemente criar grupos de trabalho para homologar o CAR de cada produtor/proprietário rural, levando os benefícios que a lei prevê, como jurídicos e financeiros aos produtores.

A burocracia deve estar subordinada ao interesse público. E não o contrário.

Fonte: Por José Zeferino Pedrozo, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (Faesc) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/SC)
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No agro, governança e transparência é questão de sobrevivência

Atitudes sustentáveis levam ao acesso a novas fontes de financiamento e capital, que contribuem para a prosperidade de suas atividades e podem mudar não só o futuro da empresa, mas do país.

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Fotos: Shutterstock

O agronegócio desempenha um papel fundamental na economia global, fornecendo alimentos, fibras e combustíveis que sustentam a vida moderna. No entanto, para manter e expandir suas operações e ter acesso a novas tecnologias, as empresas do setor precisam de acesso a capital e, para isso, é necessário investimento em transparência e governança.

Foto: Gisele Rosso

Óbvio que transparência e governança são componentes essenciais para qualquer empresa que deseja operar de forma sustentável e responsável. No entanto, no contexto do agronegócio esses princípios assumem uma importância ainda maior devido aos impactos ambientais e sociais significativos associados à agricultura e à pecuária.

Num primeiro momento, a transparência envolve a divulgação aberta e acessível de informações sobre as operações da empresa. Isso inclui dados sobre práticas contábeis, fiscais e trabalhistas, impactos ambientais, uso de recursos naturais e condições de trabalho. Quando as empresas do agronegócio são transparentes, elas demonstram também comprometimento com a responsabilidade social e a sustentabilidade.

Isso não apenas atrai investidores preocupados com essas questões, mas também ajuda a construir uma reputação positiva junto aos consumidores, o que pode impulsionar as vendas e a rentabilidade a médio e curto prazos.

A governança corporativa refere-se as estruturas e processos que regem o funcionamento interno de uma empresa. No agronegócio isso inclui a gestão de riscos ambientais e sociais, a conformidade com regulamentações governamentais e regras contábeis, a gestão de cadeia ética de suprimentos e muito mais. Ter uma governança sólida não apenas minimiza o risco de crises, mas também melhora a eficiência operacional, a tomada de decisões estratégicas e, sobretudo, facilita o acesso ao capital.

Foto: Divulgação/Arquivo OPR

E, por que a governança e transparência são importantes para acessar capital mais barato? A resposta está na crescente conscientização dos investidores e das instituições financeiras sobre os riscos associados ao agronegócio. À medida que os problemas ambientais, como desmatamento e escassez de água, e as preocupações sociais, como condições de trabalho e direitos indígenas e quilombolas ganham destaque, investidores estão cada vez mais interessados em apoiar empresas que abordem essas questões de maneira responsável.

Empresas que investem em transparência e governança têm maior probabilidade de atrair investidores comprometidos com critérios ambientais, sociais e de governança (ESG). Esses investidores estão dispostos a fornecer capital a taxas mais favoráveis para empresas que demonstram um compromisso genuíno com a sustentabilidade e a responsabilidade social. Portanto, as empresas do agronegócio que adotam práticas transparentes e sólidas de governança estão bem-posicionadas para acessar capital mais barato.

Além disso, as instituições financeiras estão cada vez mais incorporando métricas ESG em suas decisões de empréstimos e investimentos. Isso significa que as empresas que não investem em transparência e governança correm o risco de serem consideradas de maior risco, o que pode resultar em custos de capital mais elevados.

Um exemplo notável é a emissão de títulos verdes, que são instrumentos de dívida usados para financiar projetos sustentáveis. Em novembro de 2023, o Tesouro Nacional fez a sua primeira emissão de títulos sustentáveis. Essa emissão foi de um novo título, denominado Global 2031 ESG, com vencimento em 18 de março de 2031. O título foi emitido no montante de US$ 2,0 bilhões, com uma taxa de retorno para o investidor de 6,50% a.a. – fato que certamente influenciará o setor privado a seguir o mesmo caminho. As empresas do agronegócio que adotam práticas transparentes e de governança podem se beneficiar ao emitir este tipo de títulos, pois a demanda por eles está em alta e as taxas de juros tendem a ser mais baixas em comparação com títulos tradicionais.

Sócio líder do escritório de Maceió da BDO,  Leonardo Gomes – Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

As empresas do agronegócio podem explorar oportunidades de financiamento de impacto, que são investimentos voltados para projetos com benefícios sociais e ambientais mensuráveis. Esses investimentos muitas vezes oferecem condições favoráveis de empréstimo ou investimento e podem ser uma fonte valiosa de capital para empresas comprometidas com a responsabilidade social e ambiental.

Fica, então, evidente a importância para as empresas do agronegócio investirem em transparência e governança. Isso não apenas as coloca em uma posição favorável para atrair investidores comprometidos com ESG, mas também as ajuda a acessar capital mais barato e a se adaptar às crescentes expectativas da sociedade em relação a responsabilidade ambiental e social.

À medida que o mundo se volta para a sustentabilidade, as empresas do agronegócio que abraçam esses princípios avançam mais rápido. É um ciclo virtuoso que garante perenidade e sucesso a longo prazo. Atitudes sustentáveis levam ao acesso a novas fontes de financiamento e capital, que contribuem para a prosperidade de suas atividades e podem mudar não só o futuro da empresa, mas do país.

Fonte: Por Leonardo Gomes, sócio líder do escritório de Maceió da BDO.
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