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Paraná lança programa para acelerar uso de biometano no transporte de cargas
Iniciativa conecta produção e demanda, busca modernizar a logística, reduzir custos operacionais e fortalecer a transição energética com combustíveis 100% renováveis.

O Governo do Paraná deu um importante passo rumo à ampliação do uso de combustíveis renováveis no transporte de cargas dentro do Estado com o lançamento do Programa de Descarbonização de Frotas Paraná. Ele aconteceu no Palácio das Araucárias nesta segunda-feira (1). O programa é fruto de um acordo de cooperação técnica entre a Secretaria de Indústria, Comércio e Serviços e a Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Paraná (Fetranspar).
O Paraná já possui potencial para consumo em escala de biometano – matriz energética 100% renovável e sustentável – no transporte. Com o programa, a ideia é ampliar as estratégias para promover uma economia de baixo carbono, fortalecer a cadeia produtiva do biogás e do biometano e modernizar o setor logístico. Esses combustíveis também podem ser economicamente mais atrativos para o consumidor, especialmente no transporte de cargas.
O Paraná possui atualmente 490 unidades produtoras de biogás, com capacidade instalada de cerca de 460 milhões de metros cúbicos por ano, mas utiliza apenas 5% desse potencial. O novo programa busca transformar essa capacidade em oportunidade para o setor de transporte, responsável pela maior parte da movimentação de mercadorias.

Foto: SEIC
Com uma frota aproximada de 300 mil caminhões emplacados, o Paraná tem um corredor logístico estratégico para o Sul e o Sudeste. “A adoção gradual do biometano pode reduzir custos operacionais, ampliar a eficiência energética e consolidar o Estado como referência nacional em mobilidade sustentável. Estamos unindo produção e demanda de forma estratégica. O Paraná já tem uma base sólida de produção de biogás e biometano, mas agora estamos criando as condições para que essa energia chegue ao transporte”, disse o secretário de Indústria, Comércio e Serviços, Marco Brasil. “É uma ação que moderniza a logística, reduz custos e fortalece o papel do Estado na transição energética. Quando um caminhão deixa de usar diesel e passa a rodar com biometano, toda a cadeia ganha: o produtor, a transportadora e o meio ambiente”, afirmou.
O Programa Descarbonização de Frotas Paraná complementa iniciativas já em andamento, como o Plano Estadual de Descarbonização, o Renova Paraná e o Comitê do Biogás, consolidando uma política integrada para eficiência energética e sustentabilidade. “Para o setor de transporte, este programa representa um divisor de águas, porque o transporte é essencial para a economia e, agora, passa a ser também protagonista na descarbonização”, ressaltou o presidente da Fetranspar, coronel Sérgio Malucelli.
O lançamento contou com a participação de empresários, sindicatos regionais de transporte e transportadoras associadas. A expectativa é que o programa gere novas oportunidades de negócio, fortaleça a economia regional e impulsione o uso de combustíveis renováveis em larga escala. “O Programa de Descarbonização de Frotas Paraná conecta produção e demanda, aproximando o biometano das transportadoras e fortalecendo toda a cadeia logística do Estado. Esse é um passo importante para reduzir custos, inovar e tornar o transporte paranaense mais sustentável e competitivo”, afirmou Rodrigo Becegato, assessor técnico da SEIC.

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Irrigação estratégica reduz pela metade emissões do trigo no Cerrado
Estudo da Embrapa identifica que repor água quando 40% da umidade do solo é consumida mantém alta produtividade e diminui drasticamente os gases de efeito estufa.

Estudo inédito da Embrapa Cerrados (DF) revelou que usar a água de forma estratégica na irrigação do trigo pode reduzir pela metade as emissões de gases de efeito estufa (GEEs) sem perda de produtividade. O ponto de equilíbrio entre produtividade e sustentabilidade ambiental encontrado pela pesquisa melhora o manejo do cereal em regiões tropicais em um cenário de mudanças climáticas.
Pense no solo como uma esponja gigante que guarda água para as plantas. Os cientistas descobriram que o momento perfeito para irrigar o trigo é quando essa esponja já usou 40% da água que tinha guardada.
Os pesquisadores testaram quatro estratégias de controle da irrigação, equivalentes a deixar o solo esgotar 20%, 40%, 60% e 80% da água disponível antes de irrigar novamente. O objetivo era encontrar o ponto de equilíbrio entre produtividade da lavoura, economia de água e impacto ambiental.
Os resultados da pesquisa foram divulgados no artigo Sustainable irrigation management of winter wheat and effects on soil gas emissions (N2O and CH4) and enzymatic activity in the Brazilian savannah, publicado na revista Sustainability MDPI.
O ponto de equilíbrio a 40%
Após dois anos de experimentos, a equipe da Embrapa Cerrados concluiu que o momento ideal para irrigação do trigo ocorre quando as plantas utilizaram 40% da reserva da água do solo. “Esse é o ponto ideal, com resultado favorável entre produtividade e intensidade de emissão de gases de efeito estufa, alcançando o melhor índice de Potencial de Aquecimento Global”, revela a pesquisadora Alexsandra Oliveira, uma das responsáveis pelo estudo. Esse potencial se refere às emissões de óxido nitroso (N2O) e metano (CH4).
Com a reposição da água após o uso de 40% da capacidade da água disponível (CAD) do solo, o trigo alcançou a maior produtividade – 6,8 toneladas por hectare, com o menor índice de emissão de óxido nitroso (em média, inferior a 3,0 kg por hectare), gás quase 300 vezes mais potente que o dióxido de carbono (CO₂).
Já o pico de emissão de óxido nitroso foi atingido quando a reposição de água foi feita após o uso de 60% da CAD (5,69 toneladas por hectare), resultando no maior Potencial de Aquecimento Global (PAG) —1.185,8 quilos de CO2 equivalente, (ver tabela abaixo). Em comparação, o tratamento de 40% emitiu quase metade GEEs (-41,3%), ao mesmo tempo em que registrou quase 20% a mais de produtividade.
“O que comprovamos com esse estudo é que um simples ajuste no momento da irrigação pode alterar radicalmente a emissão de gases de efeito estufa e seus efeitos sobre as mudanças climáticas”, justifica Oliveira.
A pesquisadora completa: “Quando o solo era irrigado tardiamente, com o esgotamento de 60% ou 80% da água do solo, as emissões aumentaram consideravelmente. No geral, manter uma umidade intermediária no solo, em torno de 40%, proporcionou o melhor equilíbrio entre produtividade e sustentabilidade ambiental. Essa é uma estratégia climaticamente inteligente e eficiente em relação ao uso dos recursos naturais para a produção de trigo irrigado em sistemas tropicais”.
Segundo a pesquisa, os ciclos de reumidificação do solo são promotores de emissões de gases de efeito estufa. Ou seja, deixar o solo secar demais e depois irrigá-lo, causando grandes alterações em sua umidade, estimula a ação de microrganismos produtores desses gases.
Menos emissão, mais eficiência
Os dados consolidados mostraram que é possível produzir a mesma quantidade de alimento com maior eficiência, considerando-se a relação emissão/produto. “Não se trata apenas de irrigar mais ou menos — e sim de irrigar com precisão. Esses achados mostram que é possível produzir trigo no Cerrado com alto rendimento e baixo impacto climático. Basta respeitar o limite do solo e saber o momento certo de irrigar. A agricultura tropical precisa trabalhar com precisão hídrica para ser produtiva e sustentável”, resume o pesquisador Jorge Antonini.
Portanto, manter a irrigação com o índice de uso da CAD em 40% é uma estratégia eficiente para os produtores do Cerrado: “Assim a produtividade se mantém alta, com quase 7 toneladas por hectare, e o impacto ambiental é o menor possível”, enfatiza.
Com as informações geradas pelo estudo, os produtores rurais podem aproveitar melhor a água da irrigação sem comprometer a rentabilidade da lavoura e com o mínimo impacto na condição climática do planeta.
O metano virou aliado
Outra constatação importante foi quanto ao comportamento do metano (CH₄). “Em vez de liberar esse gás, em condições ideais de irrigação, o solo do Cerrado atuou como um dreno, absorvendo metano da atmosfera, um achado em sistemas agrícolas irrigados”, ressalta Oliveira.
A explicação está nas características do solo tropical: boa drenagem, aeração e ausência de encharcamento. Essas condições favorecem a atuação de microrganismos que consomem metano, transformando um vilão climático em aliado.
O experimento nas condições do Cerrado
O experimento foi realizado entre 2022 e 2024, na área da Embrapa Cerrados, em Planaltina, Distrito Federal. As parcelas foram plantadas em sistema de plantio direto, com sucessão soja-trigo. As cultivares usadas foram as BRS 4782 RR e BRS 264, respectivamente. O trigo plantado no inverno, após a colheita da soja, é uma combinação bastante adotada pelos produtores rurais da região. “Para monitorar a umidade do solo em tempo real, foram instaladas sondas a 70 centímetros de profundidade, altura onde estão concentradas as raízes do trigo”, explica Artur Müller, também pesquisador e integrante da equipe.
Já para as emissões de gases de efeito estufa, foram usadas câmaras estáticas fechadas. Esse método é aceito pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU).
Além da produtividade e do óxido nitroso e metano, os cientistas analisaram a atividade enzimática do solo, como indicativo de sua saúde biológica. Os resultados não mostraram variações significativas em relação à atividade das enzimas, o que indica que pode não existir uma relação direta entre elas e o momento da irrigação do trigo em sucessão à soja.
Uma explicação possível, segundo Oliveira, pode ser a ausência de umidade em excesso, já que, no estudo, a irrigação apenas repôs a água até a capacidade de campo, sem excesso. Outro fator pode estar relacionado ao plantio direto, que mantém, na sucessão de cultivos, a palhada na lavoura, reduzindo a perda de umidade do solo.
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Startup paranaense desenvolve pele artificial para treinamentos cirúrgicos veterinários
Tecnologia criada pela Simulavet promete substituir o uso de cadáveres e elevar o realismo dos treinamentos em faculdades e centros veterinários do país.

Mais uma iniciativa inovadora passa a integrar a Incubadora Tecnológica (Intec) do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar): a Simulavet, startup que está desenvolvendo simuladores para treinamentos cirúrgicos veterinários. A empresa trabalha para aprimorar e nacionalizar um produto que hoje só existe no exterior, uma pele artificial capaz de reproduzir procedimentos cirúrgicos com realismo, oferecendo uma alternativa ao uso de cadáveres de animais.
Com o apoio da Intec, o Tecpar está auxiliando a Simulavet no processo de industrialização, um passo essencial para transformar um protótipo ainda artesanal em um produto capaz de atender, em escala, faculdades e centros de treinamento em todo o País.

A ideia da pele artificial surgiu durante a pesquisa de mestrado do médico-veterinário, professor universitário e fundador da Simulavet, Matheus Cruz. Ele explica que a obtenção ética de cadáveres está cada vez mais difícil, já que tutores procuram cremação e sepultamento, o que reduz a disponibilidade para fins acadêmicos. O resultado disso é a reutilização excessiva de cadáveres já em processo de decomposição, o que compromete a segurança e a qualidade do treinamento. “A putrefação altera completamente os tecidos, e isso deixa de simular um procedimento real. O objetivo dos simuladores é substituir esse cenário, garantindo segurança, padrão nas aulas e a possibilidade de remontar os modelos para repetir os treinamentos”, diz Cruz.
No início, a Simulavet não tinha foco empresarial: o objetivo era apenas criar protótipos funcionais para a ciência. Mas a parceria com o Tecpar mudou esse cenário. Com orientação técnica e apoio no desenvolvimento, a equipe passou a aperfeiçoar materiais, reduzir custos e chegar a resultados mais consistentes para lançar o produto comercialmente já no início de 2026. “Procurei a Intec com receio de que o projeto não fosse relevante o suficiente. Ser aceito pelo Tecpar foi uma validação enorme. Tudo o que vi passar por aqui cresceu e se tornou referência. Para mim, foi um divisor de águas. Eu nunca tinha tido contato com o universo do empreendedorismo, e agora consigo enxergar o futuro de forma muito mais concreta”, afirma Cruz.
O diretor-presidente do Tecpar, Eduardo Marafon, observa que o papel da incubadora tecnológica é justamente esse que o empreendedor está vendo na prática: tornar uma ideia em um produto viável, para apoiar o desenvolvimento de novos negócios no Paraná. “O Tecpar tem como missão ser um indutor de desenvolvimento social e econômico no Estado e a incubadora é um dos braços para gerar apoio a novas empresas, que, ao crescer, geram emprego e renda no Paraná”, afirma Marafon.
Apoio na prática
Neste momento, a Simulavet está desenvolvendo a logomarca, o planejamento financeiro, novas peças e melhorias nas versões já existentes. A meta é otimizar a pele artificial e avançar para outros tipos de simuladores, como modelos de entubação, acesso venoso, órgãos para castrações e simuladores de drenagem de tórax, fundamentais em situações de emergência.

Segundo Rogério Moreira de Oliveira, gerente do Creative Hub do Tecpar, a proposta é trabalhar o desenvolvimento tecnológico e o modelo de negócio simultaneamente. “A empresa busca suprir o mercado da educação veterinária com um insumo acessível para testes e simulações. Hoje todos os concorrentes são importados e isso encarece muito o ensino. Então a incubadora vem para apoiar esse negócio”, explica.
A médica veterinária Allessandra Kopf participou dos testes do primeiro protótipo ainda em 2017, quando era estudante. A experiência marcou sua formação. “Durante as aulas de técnica cirúrgica, testei o simulador desenvolvido pelo professor Matheus. A textura é muito mais próxima da pele animal, especialmente na hora de realizar suturas. Dá para trabalhar as camadas pele, musculatura, subcutâneo, de um jeito muito mais realista. Isso traz eficiência, segurança e diminui significativamente o uso de cadáveres”, conta.
Incubadora do Tecpar
Criada em 1989, a incubadora do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) é a primeira incubadora de base tecnológica do Estado. Atualmente, passam pelo processo de incubação nove empresas, dos mais variados ramos de atuação.
A Intec está com edital aberto para novos ingressos de empresas ou startups no seu programa de incubação. Estão sendo selecionadas empresas de base tecnológica que tenham propostas de produtos, serviços ou modelos de negócio inovadores. Para se candidatar a uma vaga, os participantes precisam demonstrar inovação em seu projeto, conforme critérios que serão avaliados por uma banca examinadora.
Notícias Editorial
Nutrição de precisão mantém Brasil na liderança da produção de proteínas animais
Investimento em ciência e tecnologia dentro das granjas aumenta produtividade, sustentabilidade e qualidade, consolidando o país como potência global no setor.

O Brasil consolidou-se como uma das maiores potências mundiais na produção e exportação de proteínas animais. Aves, suínos, bovinos e peixes formam um setor que, mais do que alimentar o mundo, sustenta boa parte do superávit comercial do país. Mas, por trás dos números que impressionam, há um fator menos visível e decisivo para manter essa posição de destaque: a qualidade técnica que começa na nutrição.
Em um mercado global cada vez mais competitivo, os ganhos de produtividade já não dependem apenas de genética ou escala. O diferencial está no uso inteligente da ciência e na aplicação precisa de tecnologia dentro da porteira. É nesse ponto que a nutrição assume papel central, unindo eficiência produtiva, sustentabilidade e saúde animal.

Editorial escrito por Giuliano De Luca, jornalista e editor-chefe de O Presente Rural – Foto: Jaqueline Galvão/OP Rural
A chamada nutrição de precisão permite formular dietas ajustadas ao potencial genético, às condições de cada granja e ao ambiente. Isso reduz perdas, melhora conversão alimentar e fortalece a imunidade dos plantéis. Trata-se de um investimento que gera retorno direto: menos custos sanitários, mais estabilidade produtiva e um produto final de maior qualidade para os mercados interno e externo.
A competitividade do Brasil também está ligada à capacidade de transformar ciência em resultado. Cooperativas e empresas vêm investindo em fábricas modernas, centros de pesquisa e programas de capacitação técnica. Esse movimento mantém o país à frente de concorrentes internacionais, mesmo em cenários de câmbio desfavorável ou custos elevados de grãos.
O crescimento das exportações de carne suína, a recuperação da bovinocultura e a expansão da aquicultura reforçam que a eficiência produtiva é o motor do avanço econômico. E essa eficiência, cada vez mais, nasce no cocho.
Em um mundo que discute segurança alimentar, rastreabilidade e redução de impactos ambientais, o Brasil tem a oportunidade de se posicionar como fornecedor de proteína sustentável e tecnicamente sólida.
A versão digital já está disponível no site de O Presente Rural, com acesso gratuito para leitura completa, clique aqui.





