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Avicultura

Para novos frangos, novas dietas

O Presente Rural conversou com especialista para saber um pouco mais sobre o papel nutricional na produção do frango moderno, “sob fogo” pelas novas exigências do mercado

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As dietas têm papel fundamental na evolução do ganho de peso do frango e, especialmente, na eficiência em conversão alimentar adquirida nas últimas décadas. A ave que antes demorava 80 dias para atingir 3 quilos hoje consegue isso na metade do tempo.

A Reportagem do jornal O Presente Rural conversou com a especialista Livia Grigoletto Barcellos, gerente de Desenvolvimento para Nutrição da Safeeds, para saber um pouco mais sobre o papel nutricional na produção do frango moderno, “sob fogo” pelas novas exigências do mercado, como a redução no uso de antibióticos promotores de crescimento. “O limite não existe”, garante a profissional.

O Presente Rural (OP Rural) – Qual o papel da nutrição na evolução do peso das aves nas últimas décadas?

Livia Barcellos (LB) – A evolução da produtividade da avicultura obtida nas últimas décadas é resultado da sinergia entre a nutrição, genética, modernas técnicas de manejo, sanidade e ambiência. Todas estas áreas tiveram grandes avanços científicos e tecnológicos que, em conjunto, possibilitaram que o setor atingisse o nível de excelência atual.

Especificamente com relação à nutrição podemos ressaltar que os altos índices produtivos alcançados atualmente são obtidos quando há um adequado fornecimento e aproveitamento dos nutrientes pelas aves. Portanto, existe a necessidade de constantes atualizações dos padrões nutricionais em função do potencial genético visando a obtenção do máximo desempenho de acordo com as exigências de mercado e com os objetivos da criação.

A nutrição representa cerca de 70% dos custos de produção, tornando muito importante que estejamos atentos a índices zootécnicos como ganho de peso e conversão alimentar, que impactam diretamente na lucratividade.

OP Rural – Exemplifique a evolução da conversão alimentar nos últimos anos.

LB – Na década de 80, por exemplo, tínhamos uma conversão alimentar de 2,0 e atualmente temos conversões de 1,65 ou até mesmo abaixo disso.

OP Rural – Quanto tempo um frango da década de 80 demorava para atingir 3 quilos e quanto tempo demora hoje?

LB – Na década de 80 um frango demorava em torno de 80 dias para obter um peso de 3,0 kg. Atualmente é possível atingir esse mesmo peso entre 40 e 45 dias. As empresas podem acelerar ou retardar esse tempo de acordo com sua estratégia ou necessidade.

OP RuralO que mudou na dieta nesse tempo?

LB – Muita coisa mudou e vem mudando nas dietas dos frangos de corte nestas últimas décadas. A nutrição evoluiu muito nesse período. Algumas décadas atrás iniciou-se o uso de dietas com premixes vitamínicos-minerais. A partir daí foram e continuam sendo desenvolvidos muitos estudos sobre diversos aspectos específicos relacionados à nutrição avícola. Isto proporcionou avanços relacionados a determinação de exigências nutricionais das aves, programas de alimentação por fases, utilização do conceito de proteína ideal, melhoria da qualidade das matérias-primas, e uso de aminoácidos sintéticos, promotores de crescimento, aditivos, antimicotoxinas, dietas processadas, entre outros.

Recentemente as questões relacionadas aos resíduos ambientais gerados pela produção intensiva e a limitação da utilização dos promotores de crescimento na alimentação animal trouxeram a necessidade do desenvolvimento de dietas com novos conceitos. Assim, a nutrição está evoluindo para um novo patamar com o uso de enzimas, óleos essenciais, ácidos orgânicos, prebióticos, probióticos, entre outros.

Os nutricionistas têm o desafio de ajustar a formulação no sentido de não só explorar o máximo potencial de produção da ave, mas também buscar a melhor relação custo/benefício. O preço da ração varia em função dos custos de seus ingredientes e seus níveis de inclusão. Para atender as exigências das aves os frangos recebem diferentes rações de acordo com a idade. Um conjunto de rações fornecido a um lote de frangos é conhecido como programa de alimentação. Dependendo das características nutricionais de cada uma das rações que compõem o programa, os frangos desenvolvem-se de modo diferenciado. Essas diferenças fazem com que, em função do preço da carne do frango, um programa alimentar específico se sobressaia como o mais vantajoso em termos econômicos.

OP RuralQual o papel dos aditivos na nutrição?

LB – Aditivos são substancias, microrganismos ou fórmulas adicionadas intencionalmente, que não são comumente utilizadas como ingrediente, podendo ter ou não valor nutricional. Eles auxiliam o desempenho dos animais sadios ou atendem às suas necessidades nutricionais. Sua atuação pode se dar no sentido de melhorar as características dos produtos destinados à alimentação animal e/ou do produto final.

Os aditivos são classificados como tecnológicos, sensoriais, nutricionais ou zootécnicos. Em geral eles são utilizados com o intuito de melhorar índices zootécnicos, reduzir custos, melhorar a qualidade da dieta, economizar recursos, auxiliar na promoção da saúde ou melhorar/adicionar alguma característica do produto final.

OP Rural Hoje uma dieta pode levar até quantos ingredientes?

LB – Não existe limites no número de ingredientes possível de ser utilizado em uma dieta. O que determina ou limita o uso de determinado ingrediente é sua composição nutricional, disponibilidade, qualidade e preço. Outros fatores não relacionados diretamente com a matéria-prima também são levados em conta para a decisão sobre sua utilização, como por exemplo as exigências nutricionais dos animais, existência de alternativas mais vantajosas, espaço físico na fábrica para armazenamento adequado do ingrediente e espaço na formulação.

As dietas para frangos de corte no Brasil são compostas basicamente por milho, farelo de soja, farinhas de origem animal (que podem ou não estar presentes), macro e microminerais, vitaminas e aditivos.

OP Rural – Explique o que são e como agem os principais ingredientes desse novo conceito em nutrição, como enzimas e óleos essenciais, levando em conta a redução de resíduos e redução no uso de promotores de crescimento que a senhora citou.

LB – As enzimas são substancias naturais envolvidas em processos biológicos que ocorrem nas células vivas. Atuam como catalizadores biológicos, aumentam a velocidade das reações químicas sem degradar-se. Quando utilizadas na nutrição, têm como função principal auxiliar na digestão, sendo que nas dietas de frangos os principais objetivos são melhorar a digestibilidade da dieta e reduzir custos, porém são diversos os benefícios que o uso destas trazem.

Os animais produzem enzimas endógenas, porém, estas muitas vezes não são suficientes para atuar sobre todo o substrato alimentar fornecido. Isto torna necessária suplementação com enzimas exógenas para que o animal aumente o aproveitamento dos nutrientes das dietas. A suplementação enzimática tem se tornado comum nas últimas décadas por proporcionar benefícios ao animal e ao meio ambiente, além de proporcionar ganhos econômicos para as empresas.

Dentre as vantagens da suplementação enzimática merecem destaque: melhora a digestibilidade de nutrientes; minimização ou eliminação de fatores antinutricionais dos alimentos; melhora do valor nutricional dos ingredientes; possibilidade de utilização de alimentos de menor qualidade nutricional; redução do substrato para o microbismo no trato gastrointestinal.

A partir da ação das enzimas obtemos a melhora da formulação das rações, uma vez que ocorre uma melhora na qualidade nutricional dos ingredientes e a redução dos erros na estimativa do conteúdo em nutrientes.  Como consequência, ocorre redução dos custos das dietas e redução do impacto ambiental gerado pelos dejetos.

As enzimas utilizadas na alimentação animal são produzidas industrialmente a partir da fermentação fúngica e bacteriana. As principais enzimas utilizadas são fitases, proteases, xilanases, glucanases, celulases, galactosidase, β mananases e amilases. A escolha das enzimas utilizadas depende do objetivo desejado pelo nutricionista e varia de acordo com a matéria-prima disponível e a fase do programa nutricional.

Fitases – O fósforo é um dos minerais mais caros, altamente exigido na dieta de não ruminantes e que participa no processo de formação dos ossos, de reações envolvendo gasto de energia e na formação dos ácidos nucléicos. A maior parte do fósforo presente nos grãos está ligada à molécula de fitato, o que o torna indisponível para absorção de animais não ruminantes. Desta forma, a utilização de uma enzima exógena (fitase) aumenta a disponibilidade de fósforo para os animais.

Carboidrases – As carboidrases atuam na degradação dos carboidratos que estão intimamente ligados ao valor nutricional dos grãos, que é limitado pelo teor de polissacarídeos não amiláceos insolúveis (celulose) e polissacarídeos não amiláceos solúveis (β–glicanos, xilanas e arabinoxilanas). Os polissacarídeos não amiláceos (PNA) estão muitas vezes associados à lignina, formando o conhecido “complexo total dietético de fibra”. As aves não apresentam enzimas endógenas apropriadas para degradar este complexo, portanto, níveis elevados de PNA aumentam a viscosidade do quimo, dificultando a digestão e absorção de proteínas, lipídeos e vitaminas lipossolúveis.

Assim, o uso de carbroidases possibilita utilizar alimentos alternativos que apresentam grande quantidade de PNA, os quais podem ser mais baratos em determinada época do ano, como o trigo, cevada, centeio, aveia e triticale. Dentro da família das enzimas caboidrases podemos encontrar xilanases, β-glucanases, pectinase, celulases, galactosidases e amilases.

Proteases – As proteases potencializam o uso de proteínas pobremente disponíveis, reduzem o efeito deletério dos fatores anti-tripisínicos presentes nos alimentos e reduzem a ação alergênica de algumas proteínas. Historicamente a proteína é um dos ingredientes mais caros da ração e nos últimos anos este custo vem se tornando ainda mais elevado com o aumento do preço do farelo de soja. Portanto, é crucial a melhora do aproveitamento da proteína pelo animal. Além disso, quando este aproveitamento é baixo, pode ocorrer condições propícias para o crescimento de bactérias indesejáveis, como, por exemplo, Clostridium sp.

Com a inclusão de proteases exógenas na dieta melhoramos a digestibilidade da proteína, complementando a ação das enzimas endógenas, através da hidrolise de certos tipos de proteínas que não são normalmente degradadas pelo animal.

Ácidos Orgânicos e Óleos Essenciais – Não há dúvidas de que promotores de crescimento são uma ferramenta importante para a avicultura, fazendo com que a busca por substâncias com esta função esteja no centro das preocupações da nutrição avícola. Atualmente existe uma tendência mundial pela restrição do uso dos antibióticos como promotores de crescimento na dieta animal, tornando o desenvolvimento de produtos alternativos a estes fundamentais para evolução da cadeia produtiva. Ácidos orgânicos e óleos essenciais possuem propriedades antimicrobianas e por isso vêm sendo cada vez mais utilizados na indústria avícola.

Os ácidos orgânicos na forma não dissociada têm a capacidade de atravessar a membrana citoplasmática das células bacterianas sem a necessidade de um transportador de membrana. Uma vez no citoplasma, os ácidos orgânicos se dissociam, liberando prótons e acidificando o meio, o que causa uma perturbação na homeostase da bactéria. O microrganismo, por sua vez, diminui todas as suas atividades não vitais, como a multiplicação, e dirige a maior parte de sua energia para reequilibrar o pH, bombeando os prótons através da membrana citoplasmática. A consequência deste processo é sua morte por exaustão.

Os ácidos orgânicos são ativos contra as bactérias apenas quando sua dissociação ocorre após atingir o citoplasma da célula bacteriana. Deste modo, é fundamental que estas substâncias estejam protegidas de forma segura até a região alvo onde se pretende reduzir a carga bacteriana patógena. Isto significa que para uma ação eficiente nas porções distais do intestino é necessário que os ácidos orgânicos sejam microencapsulados e sua liberação controlada.

A eficácia antimicrobiana dos ácidos orgânicos ocorre contra bactérias sensíveis ao pH, tais como o Clostridium perfringens, Escherichia coli e Salmonella sp..

Os óleos essenciais, por sua vez, podem apresentar propriedades antimicrobianas, antioxidantes, estimuladoras do sistema imune, antifúngicas, estimulantes de secreção enzimática, entre outras. Muitas pesquisas já foram realizadas sobre o efeito inibitório de óleos essenciais em diferentes populações bacterianas. Além do efeito deletério sobre a transcrição de proteínas na célula bacteriana, os óleos essenciais conseguem facilmente causar um distúrbio na membrana citoplasmática.

O uso associado de ácidos orgânicos e óleos essenciais produz uma ação sinérgica, não apenas aditiva. Isto ocorre porque os óleos essenciais, além de sua função primaria, atuam facilitando a entrada dos ácidos orgânicos nas células bacterianas.

O uso de associações de ácidos orgânicos associados a óleos essenciais é uma alternativa viável aos antibióticos promotores de crescimento e com excelentes resultados, pois tanto um quanto outro atua na dieta e na saúde dos animais, o que reflete na melhoria sanitária e de desempenho das aves.

Aditivos antimicotoxinas – Em todo o mundo, grande parte dos grãos apresentam-se contaminados por uma ou mais micotoxinas. Ao mesmo tempo, nem sempre é possível a realização de análises para a detecção de sua presença nos ingredientes utilizados na ração. Com a diminuição do uso de antibióticos o impacto das micotoxinas pode aumentar ainda mais, uma vez que possuem efeitos imunossupressores nas aves. Assim, a utilização de um bom adsorvente assume grande importância na manutenção da saúde e desempenho das aves.

Os aditivos antimicotoxinas são produtos que adicionados à ração adsorvem, inativam, neutralizam ou bio-transformam as micotoxinas. Atualmente existem vários aditivos antimicotoxinas presentes no mercado, porém alguns pontos devem ser levados em consideração para a escolha do mesmo: eficácia comprovada tanto in vivo como in vitro; taxa de inclusão efetiva; não interação com nutrientes; estabilidade em uma ampla faixa de pH (isto é necessário para que a micotoxina permaneça ligada ao adsorvente em todo o trato intestinal e seja excretada); alta afinidade pela micotoxina em questão, capacidade de adsorver a mesma; rapidez de ação e baixo nível de contaminantes.

Como as micotoxinas são absorvidas e metabolizadas no fígado, este órgão fica suscetível a sofrer lesões que prejudiquem seu funcionamento. Por isso, muitos aditivos antimicotoxinas, além dos ingredientes adsorventes, possuem em sua composição hepatoprotetores, que reduzem os efeitos oxidativos e melhoram a saúde do animal.

OP RuralAlém de nutrir para produzir carne, as dietas hoje protegem os animais contra desafios e ampliam sua performance. Explique mais sobre isso?

LB – Com as restrições ao uso de antibióticos promotores de crescimento nas dietas e as preocupações ambientais cada vez maiores, a primeira linha de defesa dos animais acaba se tornado a nutrição. A utilização de ingredientes livres de contaminantes, com alta digestibilidade e de qualidade acaba se tornado fundamental para uma avicultura rentável.  O uso de aditivos auxilia no alcance destes três fatores, além de auxiliar na saúde intestinal e imunidade das aves.

Então a nutrição atualmente trabalha no sentido de fornecer nutrientes para o desenvolvimento de todo o potencial do animal, melhorar seu estado de saúde e resposta imune.

OP Rural As dietas ainda podem ser melhoradas ou a nutrição chegou a seu limite?

LB – Não chegamos ao limite, o limite não existe, a ciência está em constante evolução e estamos sempre evoluindo e nos aprimorando com novas tecnologias.

OP Rural – Quais são as novas linhas de pesquisa?

LB – Um sistema gastrointestinal saudável é importante para que a digestão e a absorção de nutrientes ocorram de forma eficiente e as aves demonstrem isso em seu desempenho e na resposta imune frente aos desafios diários normais sofridos durante a criação.

A saúde gastrointestinal das aves se refere à existência ao equilíbrio dinâmico entre a qualidade intestinal e a microbiota presente no intestino, assim como a ausência de toxinas. Um desequilíbrio neste sistema provoca enteropatias que podem comprometer o desempenho das aves. Linhas de pesquisas relacionadas à saúde intestinal devem se intensificar no intuito de continuar melhorando a digestibilidade dos nutrientes, aumentar o bem estar das aves e seu desempenho. Pesquisas no conhecimento e desenvolvimento da microbiota intestinal e na sua modulação, desenvolvimento precoce da mesma e da mucosa intestinal, estimulação da imunidade do animal para que ele responda melhor aos desafios de enfermidades e as vacinas com qualidade de resposta de proteção.

Muitas pesquisas ainda necessitam ser realizadas para melhor conhecimento da microbiota e de sua modulação.

Mais informações você encontra na edição de Aves de fevereiro/março de 2018 ou online.

Fonte: O Presente Rural

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Avicultura

Especialista aponta desafios e estratégias na nutrição para aumentar imunocompetência em frangos de corte

Estratégias de manejo alimentar, como a formulação de dietas balanceadas e enriquecidas de nutrientes específicos, uso de aditivos alimentares para promover a saúde intestinal, implementação de programas de vacinação e o monitoramento da qualidade da água de bebida são essenciais para fortalecer a imunocompetência em frangos de corte desde a fase inicial.

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Em tempos em que a produção avícola enfrenta desafios complexos, compreender como a nutrição afeta diretamente a capacidade imunológica das aves desde os estágios iniciais pode representar um diferencial significativo para os produtores. As implicações dessas descobertas não apenas podem otimizar os resultados de produção, mas também contribuir para o bem-estar e a saúde das aves, garantindo um setor avícola mais resiliente e sustentável. A imunocompetência nas fases iniciais e sua relação com a nutrição foi tratada pelo médico-veterinário e professor de Vacinologia Veterinária na Universidade Federal do Paraná, Breno Castello Branco Beirão, no 24º Simpósio Brasil Sul de Avicultura (SBSA), evento realizado em meados de abril, no Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo de Nes, em Chapecó (SC).

Médico-veterinário e professor de Vacinologia Veterinária na Universidade Federal do Paraná, Breno Castello Branco Beirão: “A qualidade da dieta da matriz afeta a transferência imune pelo ovo, ou seja, há efeitos indiretos da qualidade da dieta da matriz sobre a progênie” – Foto: Divulgação

Durante sua palestra, o profissional tratou sobre os desafios nutricionais, estratégias de manejo alimentar e os impactos na saúde e desempenho das aves, destacando a importância vital dessa abordagem para uma produção avícola resiliente e sustentável. “Uma nutrição adequada desempenha um papel fundamental na saúde e no desempenho das aves de corte, especialmente durante as fases iniciais de crescimento. Além disso, a prevenção de doenças através do fortalecimento do sistema imunológico é essencial para garantir a produtividade e a rentabilidade da produção avícola”, afirmou o docente.

A imunocompetência nos estágios iniciais da vida é um fator determinante que afeta diretamente a saúde e a produtividade das aves de corte. Beirão explica que as aves não nascem com o sistema imunológico totalmente desenvolvido, sendo que ele amadurece gradualmente nos primeiros dias de vida em contato com o ambiente. “Esse período inicial é crítico, pois as aves são mais suscetíveis a invasões por patógenos, exigindo atenção especial dos produtores para garantir sua saúde e bem-estar”, aponta.

Além disso, Beirão diz que é fundamental compreender que se o sistema imunológico for comprometido durante essa fase, seu amadurecimento pode ser prejudicado, resultando em um estado imunológico imaturo, que persistirá ao longo da vida da ave.

Em relação aos nutrientes essenciais para promover a imunocompetência em pintinhos de corte e sua influência na resistência a doenças, Beirão destaca que todos são fundamentais, no entanto, alguns se destacam por sua importância, uma vez que apresentam um impacto significativo na resposta imunológica. “A constituição proteica da dieta é considerada o principal fator, sendo indispensável para o desenvolvimento da imunidade. Sem uma quantidade adequada de proteínas na dieta, a imunidade fica comprometida. Além disso, outros nutrientes desempenham papéis essenciais, como os micronutrientes, incluindo o zinco, e as vitaminas, entre as quais a vitamina A, fundamental para a saúde das mucosas, uma barreira importante contra patógenos”, esclarece.

Importância da dieta materna

O papel da dieta materna na imunocompetência dos pintinhos de corte durante a fase de incubação e eclosão é de extrema importância. A qualidade e composição da dieta da matriz afetam diretamente o desenvolvimento do sistema imunológico dos pintinhos antes mesmo de eles eclodirem. “Vitaminas, minerais e antioxidantes presentes na dieta da matriz são transferidos para os embriões através dos ovos e desempenham um papel fundamental na formação e maturação do sistema imunológico dos pintinhos. Além disso, a qualidade da dieta da matriz afeta a transferência imune pelo ovo, ou seja, há efeitos indiretos da qualidade da dieta da matriz sobre a progênie”, ressalta.

Efeitos de dietas desequilibradas

Dietas desequilibradas ou deficientes em nutrientes essenciais podem ter impactos significativos na saúde das aves, especialmente em termos de imunidade e saúde intestinal. Embora seja verdade que na avicultura comercial os programas de alimentação sejam geralmente bem formulados para atender às necessidades nutricionais das aves, ainda existem situações em que desequilíbrios momentâneos podem ocorrer, especialmente durante períodos de estresse ou desafios imunológicos. “Um sistema imunológico enfraquecido devido à deficiência nutricional pode resultar em uma resposta imune inadequada às infecções, tornando as aves mais propensas a ficarem doentes e a experimentarem taxas mais altas de mortalidade”, expõe o médico-veterinário.

Além disso, dietas deficientes também podem afetar negativamente a saúde intestinal das aves. O intestino é um órgão crucial para a absorção de nutrientes, e qualquer perturbação em sua função pode levar a distúrbios digestivos e redução na absorção de nutrientes. Beirão diz ainda que é essencial garantir que as aves recebam uma dieta equilibrada e adequada em todos os estágios de seu ciclo de vida. “Isso não apenas vai promover a saúde e o bem-estar das aves, mas também vai contribuir para a produtividade e a rentabilidade da produção avícola”, pontua.

Estratégias de manejo alimentar

Estratégias de manejo alimentar, como a formulação de dietas balanceadas e enriquecidas de nutrientes específicos, uso de aditivos alimentares para promover a saúde intestinal, implementação de programas de vacinação e o monitoramento da qualidade da água de bebida são essenciais para fortalecer a imunocompetência em frangos de corte desde a fase inicial.

Os probióticos, por exemplo, são microrganismos benéficos que podem ajudar a restaurar e manter o equilíbrio da microbiota intestinal, contribuindo para uma melhor saúde digestiva e imunológica. Os prebióticos, por sua vez, são substâncias que estimulam o crescimento e a atividade desses probióticos no trato gastrointestinal, promovendo um ambiente intestinal saudável. Ácidos orgânicos e antioxidantes também podem desempenhar papéis importantes na redução da carga bacteriana patogênica e na proteção das células contra danos oxidativos, respectivamente, contribuindo para uma melhor saúde geral das aves.

Além disso, é essencial monitorar e garantir a qualidade da água de bebida fornecida às aves. “A água desempenha funções essenciais na fisiologia das aves e pode afetar diretamente a digestão e a absorção de nutrientes. Água contaminada ou de má qualidade pode comprometer a saúde das aves, tornando-as mais suscetíveis a doenças e prejudicando a eficácia da nutrição fornecida através da dieta”, reforça Beirão.

Desafios nutricionais

Os desafios nutricionais enfrentados durante a fase inicial de crescimento das aves de corte são diversos e podem ter impactos significativos na imunocompetência e no desempenho geral das aves. “Um dos principais desafios é garantir que as aves recebam uma dieta balanceada e de alta qualidade desde o início. Isso envolve fornecer os nutrientes essenciais necessários para um crescimento saudável, bem como evitar deficiências ou excessos que possam comprometer a saúde das aves”, salienta o especialista.

Além disso, garantir a ingestão adequada de nutrientes essenciais é fundamental para promover a imunocompetência das aves. “Deficiências de nutrientes importantes, como vitaminas, minerais e aminoácidos, podem enfraquecer o sistema imunológico das aves, tornando-as mais suscetíveis a doenças e infecções”, menciona o profissional.

Segundo Beirão, outro desafio nutricional importante é lidar com fatores ambientais que podem afetar a ingestão de alimentos e a absorção de nutrientes pelas aves. “Mudanças na temperatura ambiente, estresse térmico, qualidade do ar e outros fatores ambientais podem influenciar o comportamento alimentar das aves e sua capacidade de absorver nutrientes adequadamente”, afirma o médico-veterinário.

Esses desafios nutricionais não apenas representam obstáculos para o crescimento e o desenvolvimento saudável das aves, mas também têm um impacto direto na imunocompetência das aves, tornando-as mais suscetíveis a doenças e comprometendo seu desempenho geral. “É essencial adotar estratégias de manejo alimentar eficazes para enfrentar esses desafios e garantir a saúde e o bem-estar das aves desde as fases iniciais de crescimento. Isso inclui a formulação cuidadosa de dietas balanceadas, o uso estratégico de suplementos nutricionais, o monitoramento regular da saúde das aves e a implementação de medidas para mitigar os efeitos adversos de fatores ambientais sobre a ingestão de alimentos e a absorção de nutrientes”, evidencia.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor avícola acesse a versão digital de Avicultura de Corte e Postura clicando aqui. Boa leitura

Fonte: O Presente Rural
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Avicultura

Resultados uniformes e consistentes para uma maior eficiência econômica em granjas avícolas

A eficiência alimentar é o principal indicador de performance técnica na produção de aves e suínos. Com os preços da carne e ovos em alta, mas nem sempre compensando os aumentos dos custos com a alimentação, a taxa de conversão alimentar se torna o primeiro indicador a ser melhorado.

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A grande pressão nos preços tem forçado todas as organizações a melhorarem sua eficiência econômica de uma maneira profunda. O mundo da produção animal não está imune a essa limitação, muito pelo contrário. Tanto para a produção de carne de frango, ovos ou carne suína, os custos com a alimentação representam mais de 50% dos custos de produção no campo. Este é o motivo pelo qual é essencial focar na eficiência alimentar.

Porém, na cadeia alimentar, o campo não é a única parte envolvida. Empresas de produção e abatedouros têm suas próprias dificuldades. Ainda que, atualmente, o foco principal seja em custos com energia e mão de obra, estas empresas também têm que gerenciar as oscilações na produção. Na verdade, o número e o peso dos animais no frigorífico nunca alcançam o que foi planejado na logística. Por outro lado, a mortalidade e as variações de manejo na performance de crescimento são fontes de divergências que penalizam os frigoríficos e toda a cadeia de produção.

Hoje, é possível melhorar a situação através de ações em ambas:

A resiliência da economia das propriedades através da eficiência alimentar.
A eficiência econômica através da uniformidade na produção.
A eficiência alimentar para a sustentabilidade econômica das granjas

A eficiência alimentar é o principal indicador de performance técnica na produção de aves e suínos. Com os preços da carne e ovos em alta, mas nem sempre compensando os aumentos dos custos com a alimentação, a taxa de conversão alimentar se torna o primeiro indicador a ser melhorado.

Algumas soluções técnicas com o objetivo de baixar o custo de alimentação rapidamente se mostram limitadas. A performance, ou pelo menos a taxa de consumo de ração, devem ser mantidas para continuar tirando o máximo de proveito dos altos preços da venda dos produtos. Portanto, cada vez que um novo ingrediente é adicionado ou as margens de segurança para exigências nutricionais são reduzidas, uma medida para proteger os resultados deve ser implementada. Aditivos nutricionais à base de óleos essenciais e formulados para performance têm seu papel nessa estratégia, e com baixo investimento.

Uma outra abordagem é a melhoria na produtividade da carne e ovos. Nessa situação, o alvo é reduzir a taxa de conversão alimentar para baixar os custos com a alimentação e/ou produzir mais pelo mesmo preço. Novamente, aditivos formulados com óleos essenciais são relevantes pelo seu investimento acessível e retorno elevado (Figura 1). Este exemplo de resultado consistente foi demonstrado por uma pesquisa através de uma meta-análise baseada em 25 experimentos conduzidos em granjas comerciais de sete países diferentes.

Figura 1 – Aumento na taxa de crescimento e eficiência alimentar de frangos de corte consumindo um blend de extrato de plantas. Blend de extrato de plantas = Dieta Controle + 100 ppm de extrato de plantas.

 

Por fim, o sucesso da operação atualmente reside na uniformidade dos resultados obtidos apesar da diferença entre as granjas. A combinação certa de ativos na dosagem correta se torna uma solução que proporciona resultados uniformes e consistentes em uma variedade de ambientes. Quanto mais completa e sinérgica é a composição, mais efetivo é o produto (Figura 2). Isto foi muito bem descrito em uma meta-análise baseada em artigos publicados sobre a resposta do carvacrol na performance de frangos de corte.

Figura 2 – Associação sinérgica de carvacrol e especiarias potencializam os benefícios e o uso em frangos de corte.

Uniformidade para simplificar o planejamento da produção e melhorar a eficiência econômica

Na dinâmica de organização da produção, a chave para alcançar eficiência econômica reside em um planejamento estruturado: é essencial alinhar o envio de animais para abate que correspondam em número e qualidade às demandas diárias dos frigoríficos. No entanto, a criação de frangos representa um desafio considerável para a exatidão de um planejamento matemático.

O produto capaz de fazer animais de diferentes propriedades atingirem o mesmo peso no mesmo dia ainda não está disponível. Entretanto, aves alimentadas com um blend de extratos sinérgico apresentam um ganho de peso maior e mais uniforme. As divergências de performance observadas entre um lote e outro são de fato menores, assim como as diferenças de planejamento. Simplesmente, reduzindo os atrasos em diferentes propriedades fica fácil ganhar um dia efetivo de produção que, dependendo da situação, pode ser aproveitado para um vazio sanitário mais seguro ou um aumento na produção geral: ganhar um dia de produção por ciclo equivale a um acréscimo de 2% na produção anual.

Esta é a razão pela qual uma linha de agentes naturais à base de extratos de plantas e especiarias é utilizada para aprimorar a eficiência alimentar e reforçar a uniformidade na produção, contribuindo assim para melhorias contínuas na produtividade geral:

  • Lotes mais lucrativos para os produtores: redução de conversão alimentar.
  • Lotes mais homogêneos no frigorífico: diminuição de penalizações aos produtores, melhor performance ao abate.
  • Resultados mais consistentes entre um lote e outro: otimizando o planejamento de produção.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor avícola acesse a versão digital de Avicultura de Corte e Postura clicando aqui. Boa leitura!

Fonte: Por Jean-François Gabarrou, gerente Científico Animal Care da Phodé
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Avicultura

Nutrição responde por 60% das emissões de CO₂eq da avicultura

É essencial adotar estratégias que visem reduzir as emissões na produção de ração, como o uso de ingredientes alternativos de baixo impacto ambiental, a otimização da eficiência nutricional e a implementação de tecnologias mais sustentáveis no processo de produção de alimentos para os animais.

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A busca por uma produção animal mais sustentável é uma prioridade global, impulsionada pela necessidade incessante de aumentar a eficiência produtiva ao mesmo tempo em que se reduz o impacto ambiental. Nesse cenário desafiador, o Brasil, reconhecido mundialmente pela sua potência agropecuária, enfrenta uma competição acirrada por inovações e soluções que possam elevar seus padrões de produção animal.

Para discutir esses desafios e as oportunidades que se avizinham, o presidente da Associação Latino-Americana de Nutrição Animal (Feedlatina), Roberto Ignacio Betancourt, autoridade reconhecida internacionalmente no campo da nutrição animal e da agricultura sustentável, participou do 24º Simpósio Brasil Sul de Avicultura (SBSA), que aconteceu entre os dias 09 e 11 de abril, no Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo de Nes, em Chapecó (SC), trazendo à tona questões como a pressão para reduzir a emissão de gases de efeito estufa, a necessidade de minimizar o desperdício de recursos naturais e o fomento à promoção de práticas agrícolas mais éticas e socialmente responsáveis. “É muito importante estarmos cientes que para crescermos temos que olhar o mercado global de proteína animal, pois o nosso consumo local já é elevado e a população brasileira cresce pouco. É preciso entender que o mercado global está mudando e agora não adianta apenas ter preço e qualidade. Estamos entrando numa nova era, na qual a sustentabilidade e as emissões de carbono podem fechar ou abrir mercados, ou mesmo até impor penalidades”, expõe Betancourt, que também atua como diretor do Departamento do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e representa o Brasil na Federação Internacional da Indústria de Alimentos para Animais.

Presidente da Feedlatina, diretor da Fiesp e representante do Brasil na Federação Internacional da Indústria de Alimentos para Animais, Roberto Ignacio Betancourt: “Apesar das dificuldades, a indústria avícola brasileira vem avançando, conseguindo aliar melhorias ambientais à eficiência econômica” – Divulgação/Feedlatina

Conforme o especialista, a recuperação de pastagens aliada às tecnologias e ganhos de eficiência trazidas pela nutrição animal deverão dar importantes contribuições para uma transformação na produção pecuária no Brasil nos próximos anos, com ganhos em termos de precocidade, lotação e qualidade da carne produzida no país. “O setor já experimenta uma mudança acelerada, impulsionado pelos avanços na geração de energia limpa, melhoramento genético, nutrição de precisão, conhecimento e manipulação da microbiota gastrointestinal, mas é preciso que a tecnologia chegue a todos, inclusive nos pequenos produtores, para que tenhamos um cenário que possa ser considerado de mudança estrutural nos indicadores de produção e produtividade. Os benefícios ambientais serão imensos e teremos o desafio de quantificá-los, incorporando o carbono sequestrado pelas boas práticas de produção na análise de ciclo de vida da carne”, anseia.

De acordo com o palestrante, entre os principais desafios que o Brasil enfrenta na busca por uma produção animal mais sustentável, em comparação com outros países, está a urgência de desvincular o desmatamento ilegal na Amazônia da produção animal. “Somos muito fiscalizados por termos a maior e mais preservada floresta tropical do planeta, o que nos torna alvos de muitas organizações ambientalistas, principalmente das ONGs que atuam na Amazônia, o que acaba influenciando a opinião pública global”, menciona.

À medida que o mundo avalia a sustentabilidade em métricas ligadas à análise do ciclo de vida, Betancourt observa que os números brasileiros são excelentes. No entanto, quando acrescidos das emissões resultantes da mudança no uso da terra ou desmatamento, o país acaba se tornando menos sustentável pela métrica de emissões de CO2 equivalente (CO₂eq). “Combater o desmatamento ilegal é de total interesse do setor produtivo, bem como dissociá-lo da produção formal de carne”, ressalta.

Pressão ambiental x bem-estar animal

Em relação a como a pressão ambiental e as preocupações com o bem-estar animal estão influenciando as práticas de produção da avicultura de corte no Brasil, o presidente da Feedlatina ressalta que o país faz um excelente trabalho na área de bem-estar animal, com o apoio de diversas entidades, institutos de pesquisa, empresas, cooperativas, produtores, governo e academia. “Esse esforço coletivo se reflete em um excelente desempenho na produtividade e sanidade dos animais, o que tem conquistado a confiança da opinião pública e dos consumidores, além de diminuir atritos”, salienta. Contudo, o profissional ressalta que é um trabalho contínuo, que demanda constante atenção e aprimoramento. “É preciso ter clareza de que essa é uma ação permanente, que envolve diálogo com o governo, parlamentares, mas também a necessidade de esclarecimentos junto à opinião pública em geral e aos consumidores em especial. Isso tudo à luz dos melhores indicadores que a academia e os institutos vêm produzindo nesta área. O desafio é grande, mas estamos provavelmente mais preparados para essa agenda do que os nossos concorrentes internacionais”, salienta.

Atualmente, a mesma pressão nacional e global que influencia o bem-estar animal está alcançando as questões ambientais. Enquanto o bem-estar animal está mais restrito a ações dentro das granjas, transporte e frigoríficos, a questão ambiental abrange toda a cadeia de produção, desde o produtor de grãos e matérias-primas para a produção de ração, passando pelo transporte, armazenagem, fontes de energia, impactos climáticos, condições das granjas, tratamento de dejetos, transporte, embalagens, entre outros aspectos. Ou seja, do campo à mesa, toda a cadeia produtiva está envolvida. “Talvez seja por isso que o desafio ambiental é ainda mais complexo, exigindo uma abordagem integrada e holística para lidar com as questões de sustentabilidade em toda a cadeia de produção”, argumenta, enfatizando: “A busca por práticas mais sustentáveis na avicultura de corte no Brasil demanda um esforço conjunto de todos os elos da cadeia, desde os produtores rurais até os consumidores finais, visando promover um sistema de produção mais equilibrado e responsável com o meio ambiente”.

60% das emissões

Betancourt evidencia que o setor mais crítico na avicultura de corte para as emissões de CO₂eq é a nutrição animal, que contribui com aproximadamente 60% das emissões. “Por isso dependemos da sustentabilidade de nossa agricultura para mitigar esses impactos. O frango recebe as emissões das rações no conceito de ciclo de vida.  É essencial adotar estratégias que visem reduzir as emissões na produção de ração, como o uso de ingredientes alternativos de baixo impacto ambiental, a otimização da eficiência nutricional e a implementação de tecnologias mais sustentáveis no processo de produção de alimentos para os animais”, pontua.

Legislação

Apesar do Brasil possuir uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo, com instrumentos como o CAR, Código Florestal e regulamento de resíduos, além de uma matriz energética extremamente limpa, Betancourt aponta que o impacto na avicultura brasileira ainda não é totalmente positivo devido à dificuldade em transformar essas regulamentações em métricas ambientais favoráveis ao setor. “Isso se deve, principalmente, à ineficiência e a baixa participação do Brasil nas esferas globais responsáveis por estabelecer as regras desse jogo. O mundo não vai valorizar as nossas reservas florestais espontaneamente, vamos ter que brigar para colocar todo o nosso trabalho ambiental nos números globalmente aceitos”, afirma o diretor da Fiesp.

Obstáculos

O especialista reforça que a sustentabilidade caminha lado a lado com a eficiência e se traduz em ganhos de produtividade e rentabilidade, gerando benefícios para a sociedade em geral. No entanto, o principal

desafio reside na falta de conhecimento e, portanto, de valorização deste trabalho por parte do consumidor. “A regulação internacional é feita de forma a atender aos interesses locais dos grandes reguladores. O caso mais clássico é o da União Europeia, que se propõe ao papel de ‘reguladores do mundo’, mas com o discurso de elevar o patamar da sustentabilidade, impõem regras que, em grande parte dos casos, somente as tecnologias de dentro do bloco podem atender, traduzindo-se em barreiras ao comércio internacional”, frisa.

Enfático, Betancourt afirma que o principal desafio socioeconômico enfrentado pela indústria avícola do Brasil, em relação à sustentabilidade, é financeiro. “Enquanto países mais ricos, como os Estados Unidos e a Europa, podem contar com financiamento público para promover a transição ambiental, com subsídios e linhas de crédito acessíveis, o Brasil não tem situação fiscal favorável para fomentar, via financiamento público, todas as ações necessárias de transição ambiental para reduzir as emissões, uma vez que também há competição por recursos com áreas estratégicas, como saúde e educação”, analisa o especialista, acrescentando.
“O nosso desafio é estruturar mecanismos mais sofisticados de financiamento, mas, em grande parte, devem ser utilizados recursos próprios de empresas e produtores, o que pode limitar a amplitude das ações. É por isso que em conferências climáticas, países em desenvolvimento demandam a efetivação dos compromissos dos países mais ricos para fomentar a transição. O financiamento prometido pelas nações mais ricas para auxiliar nessa transição. Apesar das dificuldades, a indústria avícola brasileira vem avançando, conseguindo aliar melhorias ambientais à eficiência econômica”, garante.

Gestão de resíduos

Quanto às práticas de gestão de resíduos na produção avícola brasileira, Betancourt destaca que o setor vem evoluindo de forma significativa, com o apoio da Embrapa e outras instituições. De acordo com ele, há um histórico de sucesso na utilização de subprodutos, biodigestores, produção de biogás, biofertilizantes e na redução de resíduos. “As empresas integradoras e cooperativas agropecuárias têm desempenhado um papel fundamental na replicação dessas soluções em larga escala. Há muitos exemplos de utilização de cama de frango como substrato para a produção de biogás”, exalta, emendando: “Esses modelos de sucesso demonstram que é possível implementar práticas de gestão de resíduos mais sustentáveis na produção avícola brasileira, contribuindo não apenas para a redução do impacto ambiental, mas também para a eficiência operacional e econômica do setor”.

Sistemas de produção “mais sustentáveis”

Betancourt afirma que o principal obstáculo para a adoção de sistemas de produção mais sustentáveis, como a produção orgânica ou de aves criadas ao ar livre, na avicultura de corte brasileira é o mercado. “À medida que os custos de produção aumentam, é necessário encontrar quem esteja disposto a pagar mais para que a produção seja viável”, sintetiza.

O especialista reforça que é importante não confundir essas alternativas de criação com sustentabilidade, já que muitas vezes podem resultar em um aumento das emissões de CO2 por kg de carne produzida. “O Brasil tem a capacidade de atender a todos os anseios dos consumidores”, afirma.

Outro fator a ser considerado, observado na Europa, foi o aumento do risco de transmissão de doenças, como a Influenza aviária, para aves criadas ao ar livre. “A sanidade do plantel é um aspecto de extrema importância para a sustentabilidade do setor como um todo. Enfrentar esse desafio exige uma abordagem equilibrada, considerando não apenas os aspectos ambientais, mas também os econômicos e de saúde pública”, elenca.

União do setor

Nesta nova era de sustentabilidade, o especialista ressalta a importância da união de todos os elos da cadeia. “Ninguém será capaz de resolver todos os desafios sozinho. Para continuar crescendo no exterior, a avicultura brasileira precisa estar alinhada com a agricultura, nutrição e saúde animal, governo, logística, fontes de energia, indústria de equipamentos, educação das pessoas, centros de pesquisa, organizações trabalhistas e entidades locais e internacionais”, ressalta. “O setor que tem entidades fortes, competentes e atuantes como a ABPA, Sindirações, Sindan, leva muita vantagem. A recente presidência do Ricardo Santin no Conselho Internacional de Aves é motivo de orgulho para todos nós e mostra que estamos no caminho certo”, complementa.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor avícola acesse a versão digital de Avicultura de Corte e Postura clicando aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
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