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Avicultura Consumo de proteína animal

Osler Desouzart afirma que frango não perde mais posição de carne mais consumida no mundo

Para o especialista, a guerra na Ucrânia vai encarecer os preços dos alimentos, mas o consumo de proteína animal, encabeçado pelo frango, só vai aumentar nas próximas décadas. Polêmico, por vezes irônico, mas sempre cirúrgico, Osler faz uma ampla reflexão sobre o setor de carnes. Confira!

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Osler Desouzart, um dos grandes palestrantes do agronegócio brasileiro - Foto: Divulgação

O Presente Rural conversou com Osler Desouzart, que palestrou sobre o cenário de carnes no mundo durante o Simpósio Brasil Sul de Avicultura, realizado em abril na cidade de Chapecó (SC). Osler é membro da Diretoria Consultiva do World Agricultural Forum, membro da equipe do The Sustainable Food Laboratory e CEO da OD Consulting. Para ele, a guerra na Ucrânia vai encarecer os preços dos alimentos, mas o consumo de proteína animal, encabeçado pelo frango, só vai aumentar nas próximas décadas. Polêmico, por vezes irônico, mas sempre cirúrgico, Osler faz uma ampla reflexão sobre o setor de carnes.

O Presente Rural – Fale sobre o atual mercado das carnes no mundo e como o senhor avalia esse cenário?

Osler Desouzart O agronegócio foi dos poucos setores que no meio dos lockdowns não deixou de fazer sua parte. Não faltou comida e as exportações da agropecuária brasileira cresceram. Além da pandemia, e a inevitável recessão econômica gerada pelos lockdowns, enfrentamos um outro tsunami – a FSA na China em agosto de 2018 – maior produtor e consumidor mundial de carne suína – de onde se expandiu para a Ásia e daí para a Europa.

A FSA na China obrigou ao sacrifício de cerca de 174 milhões de cabeças de um rebanho de 447 milhões. Isso gerou um déficit de 10 milhões de toneladas no abastecimento chinês de carnes e o país buscou diminuir o impacto através da importação de todos os tipos de carnes, incluindo o frango e a carne bovina.

O mercado mundial de carnes virou de cabeça para baixo. Como podemos observar na tabela 1, a produção de carnes, que crescia anualmente entre 6,5 e 7 milhões de toneladas, sofre queda em 2019, tem aumento pífio em 2020 e somente em 2021 ultrapassou o volume produzido em 2018.

Tabela 1 – Elaborado por ODConsulting com base em dados de FAO. 2021. Food Outlook – Biannual Report on Global Food Markets. Food Outlook, November 2021. Rome.

Verifiquem que a diminuição de produção se centra na carne de porco, com as demais carnes crescendo sendo que a de aves consolida uma liderança que não mais perderá.

Interessante observar que o comércio internacional de carnes conhece um crescimento sem precedentes e o eixo de demanda muda para a Ásia, que nos próximos 10 anos responderá por 62% do aumento da demanda por carnes.

O Presente Rural – Qual a produção e consumo da carne bovina, suína e de aves?

Osler Desouzart – A tabela 1 dá uma dimensão da produção das principais carnes no mundo, mas o mundo come vários tipos de carnes e o gráfico 1, onde verificamos quantos países produzem algum tipo de carne para consumo.

O Presente Rural – A guerra na Ucrânia pode interferir no cenário de produção e consumo de carnes no mundo?

Osler Desouzart – Mesmo que essa guerra não evolua para nível mundial, afetará os preços de uma forma impensável. Petróleo e seus derivados escalarão picos inéditos, fretes internacionais conhecerão níveis recorde, assim como alimentos. O Brasil é o 3º maior produtor mundial de alimentos, 2º maior exportador e 4º maior consumidor. Somos autossuficientes, mas somos inteiramente dependentes da importação de fertilizantes, que representam um dos principais custos de produção até na carne.

Acrescentem a isso que Rússia é o 4º produtor e 2º maior exportador mundial de trigo. E a Ucrânia o 4º maior exportador. Breve, preparem-se para pagar mais pelo pãozinho do café da manhã, pela macarronada e pela amada pizza.

A Ucrânia é considerada a “food basket” da Europa. Prestei serviços a um grupo ucraniano por 18 meses, período em que fiz umas 10 viagens àquele país. Saindo de Kiev na direção sul as terras são negras e quando se apanha um punhado e a cheira verifica a quantidade de vida que ela embute.  A áreas planas dessas terras férteis permitem duas colheitas anuais (o inverno não é tão intenso quanto o da Rússia, mas é severo).

O país tem tradição de produzir trigo, milho, girassol e outros cereais grãos susceptíveis de serem usados em alimentação humana e animal. Com uma produção 42 MM t o país é o 6º maior produtor de milho e é o 4º maior exportador.

 

 

 

 

 

 

Em resumo, preparem-se para que o milho experimente novas altas. Petróleo, fretes nacionais e internacionais, alimentos subirão a ponto de provocar uma nova recessão econômica mundial, exatamente quando o mundo saia daquela do “fique em casa, o importante é salvar vidas, assim que 65% da população estiver vacinada a pandemia cessa, etc.” Por favor não me interpretem mal. Defendo ciência e estou com muita confiança que a 29ª dose da vacina resolverá o problema.

Breve, piores momentos para o mundo e com o peso sempre sendo arcado pelos menos favorecidos. Será que os filhos do Putin tinham que armar essa excreta justamente agora?

O candidato Ciro Gomes falou que a recente visita oficial do Bolsonaro à Rússia não passava de turismo. Talvez alguém possa informar a essa excelência que o Brasil – país potência do agronegócio que ele pretende presidir – consome em média 40 milhões de toneladas de fertilizantes, dos quais 85% são importados, sendo que a Rússia foi responsável por 22% de todo o fertilizantes importados pelo Brasil.

As figuras abaixo foram gentilmente cedidas por um dos papas em termos de fertilizantes, Paulo Junior, amigo e diretor da Timac Agro, no evento MT Beef, onde apresentamos conferências.

 

Citarei o professor Delfim Netto ao dizer que à luz desses dados e fatos “até os cegos bem-intencionados” conseguem ver a importância da Rússia para o agronegócio brasileiro. Em 11 de março, enquanto trabalhava nessa resposta, o governo, quando a Ministra Tereza Agricultura (como é bom ter na pasta da Agricultura alguém do ramo) e o Ministro Paulo Guedes anunciaram o Plano Nacional de Fertilizantes.

Como podem bem ver aquela excelência, palavra mui similar a excrescência, não conseguiu ver, mesmo não sendo cego, o que deixa a hipótese de não estar bem-intencionado.

O Presente Rural – A inflação no mundo causada pela pandemia e outros fatores pode interferir no consumo de carnes no Brasil e no mundo?

Osler Desouzart – Para desespero e horror dos novos evangelistas escreverei uma blasfêmia: + renda = + carnes.  Esse afirmação é válida até que a renda do indivíduo alcance o equivalente a US$ 54 por dia, o que em geral reduz os gastos de alimentação para menos de 20% do orçamento das despesas domésticas. A partir de então o indivíduo fica susceptível a comer conceitos.

Estudo dados de 204 países e tal ocorre em pelo menos 202 desses países. Mais dinheiro no bolso representa mais produtos de origem animal na dieta, principalmente carnes. Permitam-me que eu embase essa afirmação com dois slides de uma conferência que fiz em janeiro deste ano em Atlanta, no evento La Cumbre Latinoamericana de Avicultura – IPPE, organizado pelo USPoultry.

E perdoem-me que não busque as versões em português, pois tenho vários clientes querendo me crucificar com trabalhos “para ontem”. E aos novos evangelistas que pregam que o mundo caminha para comer menos carnes, pergunto: em qual mundo? Pois no que conheço mais renda é igual a mais carne na dieta. O aumento da ingesta de calorias a nível mundial tem como vetor do crescimento os produtos de origem animal e não os de origem de vegetal.

Ilustro como exemplo do Planeta China minha afirmação e poderiam trazer uma centena de exemplos semelhantes.

Isso exposto, não poderia ser diferente com a recessão provocada pela inépcia do dilmanomics (2015 e 2016) e pelos lockdowns em 2019 e 2020. E quando começamos a ver a luz do túnel em 2021 aparecem os filhos do Putin para lançar o mundo em uma nova e grave recessão.

O Presente Rural – Qual a tendência para o consumo de carnes no mundo e qual o papel do frango nesse contexto?

Osler Desouzart – Fácil. Vai crescer e seguirá crescendo, com a carne de frango ocupando uma liderança que não perderá mais. A razão é simples – a carne de frango é a que exige menos recursos naturais para sua produção, principalmente água e terra arável.

O Presente Rural – Em relação aos produtores, quais são seus desafios atuais e quais devem ser seus desafios futuros?

Osler Desouzart – Sobreviver e melhor logrará aquele que “caçar em manada e defender-se em manada”. Numa atividade em que não dominas 65% dos teus custos (grãos) a possibilidade de sobreviver como independente é quase nula. A manada moderna são as cooperativas, as empresas integradoras e as produções sob contrato. Aprendam a aprender e tragam aliados para sua trincheira. Num mundo global não dá mais para bancar o super-herói e lutar sozinho. Teus aliados são teus fornecedores que querem teu crescimento para que também eles possam crescer, assim como tua cooperativa, a agroindústria e teu contratante.

O Presente Rural – Ainda em relação aos produtores, quais são as oportunidades para o futuro?

Osler Desouzart – Fui contratado há muitos anos por uma empresa norte-americana de investimentos. Um de seus executivos disse que as empresas de carnes tinham um lucro operacional de 3% ou (eles adoram essa abreviatura) um ebitda de 9 a 13%. Em seguida me mostrou seu telefone celular e disse que aquele segmento apresentava ebitda duas a três vezes maiores. Pediu-me então um único argumento que justificasse investir em empresas de carnes. Pedi-lhe para ver seu telefone que naturalmente devia ser um Iphone moderníssimo. Não sei qual, pois como eles lançam um a cada 11 meses não consigo distinguir um do outro. Sou um primata que usa o celular para falar no telefone, enviar SMS, ver e-mails, mas por favor não me enviem estudos para serem lidos naquela telinha liliputiana e nem que eu responda usando aquele teclado menor ainda.

Fingi examinar o telefone com atenção e em seguida perguntei: Você acha que ainda se usará celulares em 2050? E respondeu que seguramente não. E aí comentei que “em 2050 as pessoas continuariam comendo carnes”? Respondeu-me que sim. Calei-me, pois, uma coisa que aprendi é que se lograste a venda, fique em silêncio ou acabas comprando de volta.

Aos produtores digo: vocês estão no negócio certo e no país certo para esse tipo de negócio. Sobrevivam, pois de tempos em tempos ele permite que se lave a égua.

O Presente Rural – O agronegócio está cada vez mais digital, usando tecnologia para produzir mais e melhor. Nesse cenário, para onde os produtores de carne devem mirar?

Osler Desouzart – Para frente. Aquela conversa do eu sempre fiz assim já provocou o fechamento de muita gente. Adoto o socrático “Sei que não sei” e me permito inclusive complementar que sei que o que sei não é suficiente. O que determina o futuro é a capacidade de cada um saber mais que seu concorrente e aplicar o conhecimento mais rápido que ele.

O Presente Rural – Fale a respeito do status sanitário para a produção de carnes e situe os principais produtores mundiais e o Brasil neste contexto.

Osler Desouzart – Fiz uma conferência recentemente sobre esse assunto, onde pediam-me que discutisse a questão: regulação global, regional e nacional, status sanitário etc.:  aplicabilidade ou restrição? Argumentei que há vários tipos de exigências.

1.    Autênticas, traduzindo a evolução das demandas dos consumidores ou valores de sustentabilidade;

2.    Sanitária, visando garantir a integridade da saúde dos rebanhos em uma realidade de mercado global que inclui a rua onde você mora;

3.    Pseudo-sanitário, formas de protecionismo vestidas com a pureza branca da defesa da saúde dos rebanhos ou dos consumidores;

4.    Restrições, consagrando o princípio secular eternamente novo de que “quem pode fazer mais, chora menos”.

A América Latina, capitaneada pelo Brasil, vem ganhando espaço na oferta global de carne de frango, deslocando sobretudo a Europa, que dominou o mercado internacional até a década de 1990. É óbvio que não estão felizes. Somos uma potência do agronegócio situada num país que não conta internacionalmente. Porque fazer concessões ao Brasil se não ameaçamos ninguém, se respeitamos o acordo de não proliferação de armas nucleares, se não invadimos ninguém e nos comportamos? Tenho uma colega que diz com muita razão: só te respeitam na proporção do mal que podes causar. Porque dar doces ao menino comportado já que ele se comporta? A todos, concessões; ao Brasil, acusações e restrições.

As exigências mudam, principalmente quando já foram cumpridas: livre de antibióticos (b.), livre de OGM (d.), ética (???), e a atual, em pleno vigor, a nobre defesa do meio ambiente.

Como sabem, o culpado da situação climática são os bovinos e o Brasil, já que a Europa está fazendo a sua parte, apesar de gerar sua energia a partir de matérias primas altamente poluentes, como o carvão. Por falar nisso, o preço internacional do carvão subiu desde que o Putin se colocou no papel de salvar a Ucrânia da nazificação, já que como Hitler, o presidente ucraniano invade seus vizinhos em guerras de conquista, não respeita tratados, faz ameaças se não fizerem o que ele quer, outras típicas de um ditador nazista e mente horrores como… Ia citar um mentiroso maior no Brasil, mas não consegui pensar em nenhum, pois aqui tem gente mais honesta que Jesus Cristo.

O Presente Rural – Veganismo, vegetarianismo, flexitarianismo, carne de laboratório, carne vegetal, entre outras situações. Como isso interfere no mercado mundial de carnes?

Osler Desouzart – Os “ismos” são os novos evangelistas, com um toque de Inquisição Espanhola. Não se conformam em comer suas alfaces e nos deixar comer nossos churrascos em paz. Querem que o mundo se conforme democraticamente ao que pensam.

A coisa que mais adoro é quando citam números. Num debate ouvi, “18% dos brasileiros são vegetarianos”. Imediatamente pedi a palavra e fingindo olhar um tablet disse: “há um erro na sua planilha que o fez chegar aos 18%. O resultado real é 12,6%”. Continuou e interrompi de novo: “perdão, mas encontrei novo erro na planilha, e o resultados é agora de um dígito”. Infelizmente ele não caiu na armadilha de dizer que os valores que citava não vinham de uma planilha.

Há um estudo que estima o número de “ativistas alimentares” em 3%. Esse percentual faz com que não sejam uma tendência maior. Não são o leito do rio principal que é o “mais renda igual a mais consumo de carnes”. São um pequeno afluente desse rio, assim como a dieta a base de insetos e outras coisitas mais.

A foto abaixo tirada num supermercado de país rico (+US$ 54/dia) durante um período de desabastecimento mostra o inegável êxito desses “ismos”.

Fontes alternativas em prateleira de supermercado durante desabastecimento de proteína animal – Foto: Arquivo/Divulgação

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor avícola acesse gratuitamente a edição digital Avicultura – Corte & Postura.

Fonte: O Presente Rural

Avicultura

Nova edição de Avicultura Corte e Postura evidencia os desafios do reovírus para a indústria avícola brasileira

A publicação também traz uma matéria especial sobre o Rei do Ovo, o mais novo bilionário brasileiro a integrar a lista da Forbes, a cobertura histórica de O Presente Rural no Siavs 2024 e ainda especialistas discutem os principais desafios sanitários enfrentados pelo setor avícola e as medidas de controle que estão sendo implementadas para proteger as granjas.

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Já está disponível a nova edição digital de Avicultura Corte e Postura de O Presente Rural. A publicação traz em sua capa uma reportagem exclusiva sobre o reovírus aviário (ARV), um patógeno que vem desafiando a indústria avícola com novas variantes mutantes, particularmente virulentas em frangos de corte. Esse vírus, que já é conhecido há décadas, está ganhando novas proporções e afetando significativamente a produtividade das granjas, causando doenças como artrite viral e tenossinovite, além de impactos econômicos relevantes.

O reovírus é um inimigo invisível, mas poderoso, que prejudica a performance das aves, aumenta a mortalidade, e resulta em condenações em frigoríficos, elevando os custos de produção. Para mitigar esses danos, é essencial uma combinação de esforços entre pesquisa científica, biotecnologia avançada e boas práticas de manejo, além da troca constante de informações entre produtores, veterinários e empresas de saúde animal. A rápida identificação de novas variantes e a adaptação das estratégias de controle são elementos essencias para reduzir o impacto do reovírus.

Além da reportagem sobre o ARV, esta edição também traz uma matéria especial sobre Ricardo Faria, mais conhecido como o “Rei do Ovo”, o mais novo bilionário brasileiro a integrar a lista da Forbes. Faria construiu um império na produção de ovos e é referência no agronegócio, sendo um exemplo de sucesso e inovação no setor.

Outro destaque é a cobertura histórica de O Presente Rural no Salão Internacional de Avicultura e Suinocultura (Siavs 2024), o maior evento do setor no Brasil. A edição traz uma cobertura completa dos painéis, palestras e entrevistas realizadas durante o evento, além de vídeos exclusivos que capturam os principais momentos do encontro que reuniu líderes da avicultura e suinocultura.

Ainda nesta edição, especialistas discutem os principais desafios sanitários enfrentados pelo setor avícola e as medidas de controle que estão sendo implementadas para proteger as granjas. Em outra reportagem, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) traça um panorama da avicultura para a próxima década, destacando as tendências e os avanços tecnológicos que moldarão o futuro da produção avícola.

A edição também traz uma homenagem a Ricardo Santin, uma figura de destaque no setor, pela sua contribuição à avicultura do Paraná, que segue sendo um exemplo de excelência em nível nacional.

Há ainda artigos técnicos escritos por profissionais de renome do setor falando sobre manejo, inovação, produtos, bem-estar e as novas tecnologias existentes no mercado. A publicação conta ainda com matérias que trazem novidades das principais e mais importantes empresas do agronegócio nacional e internacional.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor avícola acesse a versão digital de Avicultura de Corte e Postura clicando aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
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Avicultura

Desafios sanitários e seu controle norteiam discussões do 15º Encontro Mercolab de Avicultura

Além do reovírus, o encontro abordou temas como as consequências econômicas da bronquite infecciosa e a importância do controle de salmonella na cadeia produtiva.

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Fotos: Jaqueline Galvão/OP Rural

O 15º Encontro Mercolab de Avicultura, realizado em 10 de setembro em Cascavel (PR), reuniu mais de 300 participantes, entre profissionais da agroindústria, técnicos, fornecedores e especialistas, para debater os desafios e avanços da sanidade na cadeia avícola. Coordenado pelo médico-veterinário Alberto Back, doutor em Patobiologia Veterinária, o evento figura entre as principais plataformas de troca de conhecimento para o setor, reforçando o compromisso com a atualização técnica e trazendo à tona temas de extrema importância para a sustentabilidade e competitividade da avicultura brasileira.

Com uma programação elaborada em parceria com profissionais da cadeia produtiva, o encontro trouxe uma visão abrangente da avicultura atual, abordando desde o programa de autocontrole até o monitoramento molecular de reovírus. “Tivemos uma participação expressiva do público, o que demonstra o grande interesse pelos temas tratados. Houve muita troca de experiências e debates, engrandecendo o evento”, destacou Back.

Médico-veterinário doutor em Patobiologia Veterinária e coordenador do 15º Encontro Mercolab de Avicultura, Alberto Back: “Estamos criando aves mais eficientes, mas o desenvolvimento genético pode, em parte, colaborar para o surgimento de novas dificuldades, como o aumento da incidência de reovírus”

Entre os temas em destaque, o reovírus ocupou o centro das discussões. A reovirose, doença que afeta aves gerando problemas articulares e dificuldade de locomoção, tem causado grande preocupação entre os produtores. Back explicou que a complexidade do vírus, com diversas cepas que variam em seu impacto, torna o controle um desafio constante. “Com o uso de tecnologias moleculares, conseguimos identificar as cepas que causam problemas e, com isso, desenvolver vacinas específicas para cada região ou granja, mas o controle ainda não é fácil”, evidenciou.

Além do reovírus, o encontro abordou temas como as consequências econômicas da bronquite infecciosa e a importância do controle de salmonella na cadeia produtiva. O evento também enalteceu a necessidade de atualização constante no setor avícola nacional, que, apesar de ser um dos mais avançados do mundo, enfrenta desafios crescentes com o avanço genético e as mudanças nas condições de criação. “Estamos criando aves mais eficientes, mas o desenvolvimento genético pode, em parte, colaborar para o surgimento de novas dificuldades, como o aumento da incidência de reovírus”, comentou Back.

O médico-veterinário enfatizou a importância de eventos como o Encontro para o fortalecimento da cadeia produtiva. “Esse tipo de troca de informações entre produtores, técnicos, laboratórios e fornecedores é o que nos permite estar preparados para enfrentar os desafios do setor e continuar evoluindo”, afirmou.

Avicultura nacional

O Brasil produziu em 2023 mais de 14,8 milhões de toneladas de carne de frango, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Com 5,1 milhões de toneladas comercializadas e R$ 52 bilhões faturados, o Brasil se consolida como o maior exportador dessa proteína. O Paraná é líder nacional, respondendo sozinho por 42% de tudo o que o País manda para 172 países. A produção mundial de carne de frango, no ano passado, foi de 102 milhões de toneladas.

O Brasil, que caminha para se consolidar como o maior celeiro exportador de alimentos do planeta, abastece a mesa de um bilhão de pessoas, cerca de 12% dos habitantes do planeta. E para manter essa liderança e o crescimento de cadeias tão indispensáveis para a economia nacional, com previsão de crescimento de 13% na de frango nos próximos sete anos, eventos como o Encontro MercoLab de Avicultura se tornam cada vez mais necessários.

O cenário da avicultura brasileira está em constante evolução, mas enfrenta um inimigo invisível e perigoso: o reovírus aviário (ARV). Embora já seja conhecido por décadas, este patógeno ganhou novas proporções com o surgimento de variantes virulentas, especialmente em frangos de corte, que causam doenças debilitantes como artrite viral e tenossinovite. O impacto econômico é considerável, com prejuízos causados pela queda na produtividade, aumento da mortalidade, condenações em frigoríficos e altos custos de tratamento.

O ARV é especialmente problemático por sua capacidade de se espalhar rapidamente nos ambientes de criação, tanto por transmissão horizontal (de ave para ave) quanto vertical (de reprodutoras para a progênie). Isso exige que os produtores mantenham um controle rigoroso das condições de biosseguridade nas granjas. No entanto, a resistência do vírus a desinfetantes e sua habilidade de permanecer oculto tornam o controle da doença um desafio constante.

Os programas de vacinação desempenham um papel central no controle da reovirose, mas o cenário atual impõe uma corrida contra o tempo. O ARV, como muitos outros vírus de RNA, tem uma alta taxa de mutação, o que frequentemente torna as vacinas tradicionais menos eficazes. Esse fenômeno destaca a importância de atualizar as vacinas regularmente, considerando as cepas predominantes nas regiões afetadas. Empresas de saúde animal têm investido na pesquisa e no desenvolvimento de vacinas autógenas, que são adaptadas a essas variantes locais, proporcionando maior eficácia.

No entanto, mesmo com o avanço das tecnologias de imunização, o reovírus continua sendo um desafio, pois suas manifestações clínicas são variadas e, muitas vezes, difíceis de identificar precocemente.

Para enfrentar esses desafios, a integração entre pesquisa científica, inovação em biotecnologia e a adoção de boas práticas de manejo é crucial. Além disso, a troca constante de informações entre produtores, veterinários e empresas de saúde animal é essencial para identificar rapidamente novas variantes e adaptar as estratégias de controle.

A avicultura, setor vital para a economia brasileira, precisa estar em alerta e continuar investindo em tecnologia e biosseguridade. Com uma produção de carne de frango que coloca o Brasil entre os líderes mundiais, garantir a sanidade e o bem-estar das aves é um passo fundamental para manter a competitividade no mercado global. O reovírus não é apenas um problema de saúde animal; é uma ameaça à sustentabilidade do setor avícola. A preparação, a inovação e a colaboração serão as chaves para superar esse obstáculo.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de avicultura acesse a versão digital de avicultura de corte e postura, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
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Avicultura Vem aí o Alimenta

Congresso Brasileiro de Proteína Animal e Rendering

Em junho de 2025 o Paraná sediará o primeiro evento que vai reunir os players de proteína e reciclagem animal.

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Foto: Divulgação

Surge um novo e disruptivo capítulo na história dos eventos de proteína animal no Brasil: o Alimenta – Congresso Brasileiro de Proteína Animal & Rendering. Marcado para junho de 2025, em Foz do Iguaçu, este evento é a evolução natural do Congresso de Avicultores e Suinocultores O Presente Rural, que cresceu ano após ano com o pilar de gerar informação útil aos produtores rurais. O Alimenta promete ser um marco significativo na integração de toda a cadeia de proteína animal e rendering ou reciclagem animal, atraindo a atenção de todos os segmentos do setor. Só o mercado de reciclagem animal movimenta em torno de R$ 100 bilhões por ano e exporta mais de US$ 115 mil por ano.

“O Alimenta 2025 foi concebido para atender às novas demandas e oportunidades do setor de proteína animal. A evolução do nosso

Selmar Marquesin, diretor do jornal O Presente Rural: “O Alimenta 2025 foi concebido para atender às novas demandas e oportunidades. Um ambiente onde produtores, profissionais e empresas possam compartilhar conhecimentos, inovações e gerar negócios”- Foto: Divulgação

evento reflete nosso compromisso em proporcionar um ambiente onde produtores, profissionais e empresas possam compartilhar conhecimentos, inovações e gerar negócios. A escolha de Foz do Iguaçu, com sua infraestrutura e localização estratégica, foi essencial para abrigar esse novo formato, que promete ser mais inclusivo e abrangente”, destaca Selmar Marquesin, diretor do jornal O Presente Rural.

O Alimenta 2025 é uma oportunidade para cooperativas, empresas integradoras, produtores rurais, médicos veterinários, zootecnistas e empresas da cadeia de insumos se reunirem em um ambiente propício ao intercâmbio de conhecimento, inovação e oportunidades de negócios. Em um ambiente inspirador, o evento promete atender às demandas crescentes de qualificação e desenvolvimento constante. “Unir em um só lugar todos os atores da produção de proteína animal no Brasil é essencial para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades do setor. O Alimenta 2025 foi criado com essa visão integrada, proporcionando um espaço onde ciência, tecnologia e negócios se encontram para contribuição à indústria de proteína animal”, afirma Eliana Panty, CEO do Alimenta.

Panty destaca que o setor de reciclagem animal, responsável pelo processamento de resíduos do abate de animais de produção, como aves, suínos, bovinos e pescado, gira milhões no mercado internacional. “São as partes dos animais abatidos que não vão para o consumo humano, seja por questões ligadas aos hábitos alimentares ou culturais da população ou, então, classificados como impróprios para consumo humano pelo sistema de inspeção oficial, como ossos, penas, sangue, escamas, vísceras, aparas de carne e gordura e partes do animal. Uma matéria prima valiosa para a indústria de rações para animais de produção e pets”.

O Alimenta 2025 se apresenta com uma programação abrangente com foco no produtor e nos gestores de granjas. Grandes empresas do setor apresentam suas últimas inovações, produtos e serviços na Exposição e Feira de Negócios, promovendo um ambiente dinâmico de networking e geração de negócios. Além disso, serão oferecidas palestras direcionadas a produtores de leite, ovos e carnes, além de sessões específicas para profissionais como médicos veterinários e zootecnistas, abordando as mais recentes novidades em pesquisa e desenvolvimento. A Mostra de Trabalhos Científicos oferecerá um espaço dedicado à apresentação de pesquisas e estudos de vanguarda da ciência e tecnologia no setor de proteína animal. As empresas parceiras também terão a oportunidade de organizar eventos adicionais, proporcionando ainda mais conteúdo relevante e oportunidades de aprendizagem.

Foz do Iguaçu

A escolha de Foz do Iguaçu como sede do Alimenta não foi por acaso. Reconhecida pela sua capacidade de receber grandes congressos do setor, a cidade conta com um aeroporto bem localizado e uma infraestrutura turística robusta, incluindo muitos hotéis para acomodar os participantes. Situada no Oeste do Paraná, um dos maiores polos de produção de proteína animal do Brasil, Foz do Iguaçu oferece o ambiente ideal para um evento dessa magnitude.

Eliana Panty, CEO do Alimenta: “Unir em um só lugar todos os atores da produção de proteína animal no Brasil é essencial para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades do setor” – Foto: Divulgação

“O evento visa promover a qualificação constante do setor através de palestras atualizadas, destacando as mais recentes inovações em pesquisa e desenvolvimento. Além disso, busca fomentar negócios por meio da exposição de fornecedores da cadeia de insumos e das indústrias que trabalham com rendering, um processo de reciclagem animal que transforma partes não aproveitadas para a alimentação humana em componentes para rações. Com esta nova abordagem, o Alimenta pretende integrar toda a cadeia produtiva, reforçando a importância da inovação e do desenvolvimento sustentável para o futuro da proteína animal no Brasil”, menciona Eliana Panty.

“Prepare-se para uma experiência única e transformadora no Alimenta – Congresso Brasileiro de Proteína Animal & Rendering. Este evento promete ser um verdadeiro progresso para o avanço da indústria de proteína animal, reunindo os principais atores do setor para compartilhar conhecimento, explorar novas oportunidades e construir um futuro mais próspero e sustentável. Nos vemos em Foz do Iguaçu, onde juntos vamos moldar o futuro da proteína animal no Brasil”, sintetiza Eliana Panty.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de avicultura acesse a versão digital de avicultura de corte e postura, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
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