Peixes Piscicultura brasileira
Oportunidades internas e competitividade no mercado global
Brasil parece estar no caminho certo para se tornar um dos maiores produtores de pescado do mundo, pois vem ganhando destaque tanto no mercado interno quanto externo.

Nos últimos anos, a piscicultura brasileira vem ganhando destaque tanto no mercado interno quanto externo, e o Brasil parece estar no caminho certo para se tornar um dos maiores produtores de pescado do mundo. Com vastos recursos naturais, condições climáticas favoráveis e uma crescente demanda mundial por peixes e frutos do mar, o país tem todas as ferramentas necessárias para ocupar uma posição de liderança global. Entretanto, os desafios são tão grandes quanto as oportunidades.
Durante o 21º Seminário Estadual da Piscicultura, realizado em Maripá, Paraná, o ex-ministro da Pesca e atual presidente do International Fish Congress (IFC), Altemir Gregolin, destacou as potencialidades e obstáculos que o Brasil enfrenta para consolidar seu papel nesse setor estratégico.
De acordo com Gregolin, o Brasil tem um dos maiores potenciais do mundo para a piscicultura, principalmente por sua vasta disponibilidade de água doce, pela extensão de suas áreas propícias para a criação de peixes e pela proximidade com a matéria-prima da nutrição. No entanto, ele sublinhou que o Paraná, um dos principais estados produtores, ainda não explora totalmente o potencial desse mercado. “O Paraná tem tudo para ser uma referência na produção de tilápia, mas ainda não aproveita todo o seu potencial. Precisamos investir mais em tecnologias e estratégias de mercado”, afirmou Gregolin, apontando que o modelo de produção de tilápia no estado já agrega valor considerável, mas poderia alcançar níveis ainda mais elevados.

Ex-ministro da Pesca, Altemir Gregolin
Oportunidades inexploradas
O Brasil é um gigante adormecido na produção de pescado, com capacidade de superar outros grandes produtores globais, como os países do Sudeste Asiático, que atualmente enfrentam limitações significativas devido a problemas ambientais e de espaço. “O Sudeste Asiático, que é um grande produtor de pescado, já está no limite de sua capacidade produtiva. Problemas ambientais e a falta de espaço estão prejudicando a continuidade da expansão naquele mercado. É aí que o Brasil entra”, destacou Gregolin. Ele ressaltou que, além das condições naturais, o Brasil tem avançado no uso de tecnologias e na ciência como base para o sucesso do setor.
A piscicultura no Brasil ainda tem muito espaço para crescer no mercado interno. O consumo de pescado no país é baixo (9 quilos/habitante/ano) quando comparado à média mundial (20,7 quilos), o que representa um grande potencial inexplorado. “A recomendação da FAO é que cada brasileiro consuma pelo menos 12 quilos de pescado por ano”, observou o palestrante. Segundo ele, há um grande espaço para crescimento no mercado interno, o que é uma oportunidade não só para os produtores, mas também para a melhoria da alimentação da população brasileira.
Sustentabilidade e inovação: pilares para o futuro
De acordo com Gregolin, para que o Brasil assuma uma posição de liderança global na piscicultura, será essencial investir em práticas sustentáveis e tecnologias inovadoras. Gregolin ressaltou que o mercado internacional está cada vez mais exigente em termos de certificações e rastreabilidade, especialmente quando se trata de questões ambientais e bem-estar animal. “A certificação de boas práticas e a rastreabilidade são fundamentais para acessar os mercados mais exigentes, como o europeu”, disse. Ele destacou que o Brasil está bem posicionado para atender a essas demandas, mas que será necessário um esforço contínuo para garantir que os padrões sejam mantidos.
Gregolin exemplificou, citando que uma das inovações já em curso no setor é a adoção de embalagens sustentáveis, que têm atraído a atenção de mercados internacionais. Empresas estão desenvolvendo soluções em que 70% do material é feito de papelão reciclável, com apenas 30% de plástico. Isso facilita a separação e a reciclagem dos materiais, alinhando-se às demandas globais por sustentabilidade. “As empresas que estão à frente na adoção dessas tecnologias terão vantagem competitiva no mercado internacional”, afirmou Gregolin, apontando que essa é uma entre outras tendências que não podem ser ignoradas pelos produtores brasileiros.
Além das inovações em embalagens, o uso de tecnologias de monitoramento também tem sido crucial para a evolução da piscicultura no país. Equipamentos como sondas, que monitoram a oxigenação da água e a concentração de nutrientes, estão cada vez mais presentes nas fazendas de criação de peixes, permitindo uma gestão mais eficiente e produtiva. O palestrante destacou que a digitalização dos processos e o uso de big data são fundamentais para melhorar a eficiência e a tomada de decisões no campo.

Palestra para centenas de piscicultores durante 21º Seminário Estadual de Piscicultura, em Maripá (PR)
Bem-estar animal: uma exigência crescente
O bem-estar animal é outro tema central para o futuro da piscicultura no Brasil. De acordo com Gregolin, o mercado internacional, especialmente a Europa, está cada vez mais exigente em relação a certificações que comprovem práticas adequadas de manejo e bem-estar animal. “Animais que vivem em boas condições tendem a ter uma melhor conversão alimentar e a produzir carne de maior qualidade, o que beneficia tanto o produtor quanto o consumidor”, afirmou. Ele destacou que esse é um caminho sem volta, e que o Brasil deve se preparar para atender essas exigências caso queira se manter competitivo no mercado global.
Gregolin também apontou que o Brasil possui condições ideais para expandir sua produção de peixes utilizando áreas como tanques escavados e reservatórios de água doce, que favorecem a criação de diversas espécies. “Temos um potencial enorme, especialmente nas águas interiores. Se soubermos aproveitar essas condições e aliá-las a práticas de manejo adequadas, a piscicultura pode se tornar uma das atividades mais rentáveis e sustentáveis do agronegócio brasileiro”, declarou o especialista.
O papel das cooperativas
As cooperativas desempenham um papel fundamental na estruturação da cadeia produtiva de pescado no Brasil. Segundo Gregolin, essas organizações têm sido responsáveis por levar tecnologia e gestão eficiente a milhares de pequenos e médios produtores, permitindo que eles acessem mercados maiores e mais exigentes. Ainda segundo Gregolin, o Brasil deve seguir o exemplo de outros setores do agronegócio, como o de carnes, que se estruturaram por meio de cooperativas e hoje são líderes mundiais em produção e exportação. “A piscicultura pode trilhar o mesmo caminho de sucesso que a avicultura e a suinocultura seguiram no Brasil”, analisou o palestrante.
A piscicultura e o desafio da competitividade
Por outro lado, Gregolin também ressaltou que, para ser competitiva, a piscicultura brasileira precisa superar alguns desafios internos, como a melhoria da infraestrutura de logística e o acesso a mercados internacionais. “Temos um grande desafio pela frente em termos de logística. Precisamos de uma rede eficiente de transporte e armazenamento para que o peixe brasileiro chegue ao mercado internacional com a qualidade que os consumidores exigem”, alertou. Ele destacou que o investimento em infraestrutura, especialmente nas áreas de processamento e distribuição, será crucial para que o Brasil consiga expandir suas exportações de pescado.
O palestrante também mencionou a importância do crédito agrícola e de políticas públicas que incentivem o crescimento da piscicultura no país. “O acesso ao crédito é fundamental para que os produtores possam investir em tecnologia e inovação. Além disso, precisamos de políticas públicas que incentivem o crescimento do setor”, comentou Gregolin.
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Peixes
Classificada como invasora, tilápia segue sem definição regulatória até 2026
Maior produto da aquicultura nacional vive incerteza dupla: debate ambiental sem solução e manutenção das tarifas americanas que travam embarques para o principal mercado do país.

A indefinição sobre o futuro regulatório da tilápia no Brasil deve se prolongar até o início de 2026. A estimativa é do ministro da Pesca e Aquicultura, André de Paula, que tenta costurar um acordo com o Ministério do Meio Ambiente (MMA) após a inclusão em outubro da espécie na Lista Nacional Oficial de Espécies Exóticas Invasoras, decisão tomada pela Comissão Nacional de Biodiversidade (Conabio).

Foto: Shutterstock
O gesto técnico do Conabio acendeu um sinal amarelo em uma cadeia produtiva que movimenta bilhões, responde por quase 70% da piscicultura brasileira e sustenta milhares de empregos. Ainda que a lista não determine proibição de cultivo, o temor de insegurança jurídica se espalhou entre produtores, empresas e governos estaduais.
De Paula reconhece o peso da inquietação. “Estamos dialogando com outros integrantes do Conabio e tenho uma expectativa positiva, porque essa discussão precisa considerar aspectos econômicos e sociais. Estamos no final do ano e, pessoalmente, não acredito que essa decisão saia agora. Mas, no início do próximo ano, devemos encaminhar uma solução”, afirmou.
A fala reforça o que o setor já percebia nos bastidores: a solução não virá em 2025.
Classificação da tilápia
A classificação da tilápia como exótica e invasora envolve critérios técnicos. O peixe não é nativo do Brasil, tem origem na bacia do rio Nilo, na África, e vem sendo registrado em cursos d’água fora das áreas de cultivo, o que, segundo o MMA, pode comprometer ecossistemas locais. O status, no entanto, não implica automaticamente restrição de uso, mas abre debate sobre regras futuras.
Enquanto o governo discute diretrizes ambientais, os números mostram o tamanho da engrenagem em jogo. A piscicultura brasileira

Foto: Shutterstock
cresceu 10% em 2024, chegando a 725 mil toneladas. Quase 500 mil toneladas são de tilápia, o equivalente a 69% de toda a produção nacional. “A tilápia é hoje o carro-chefe das nossas exportações e uma atividade presente em praticamente todo o país. Também há um ponto relevante de segurança jurídica, já que muitos empresários investiram acreditando na continuidade dessa atividade, e uma mudança abrupta gera preocupação”, disse o ministro.
Tarifaço
O cenário externo adiciona mais pressão. O ministro afirma que o governo brasileiro segue negociando com a nova gestão de Donald Trump o fim das tarifas aplicadas aos pescados brasileiros. As sobretaxas foram impostas em agosto e atingiram em cheio o fluxo de exportações.
Na última quinta-feira (20), Trump assinou uma ordem executiva suspendendo as tarifas de mais de 200 produtos brasileiros, mas a tilápia segue de fora deste corte. Segundo a Casa Branca, a medida busca aliviar a inflação de alimentos nos EUA. “Para o nosso setor ainda não há uma notícia a ser celebrada, mas mantemos uma expectativa positiva de que isso seja possível”, afirmou De Paula.

Foto: Jonathan Campos
Os números corroboram a apreensão. Dados da Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca) mostram que 58 contêineres, equivalentes a 1.160 toneladas, perderam compradores e devem retornar ao Brasil. Os Estados Unidos são destino de 70% das exportações brasileiras de pescado, e a tilápia responde por 90% do volume enviado. “As tarifas reduziram nossas exportações em, em média, 50%. Esperamos que os Estados Unidos suspendam as tarifas sobre peixes de cultivo, mas ainda não temos visibilidade sobre quando isso ocorrerá”, afirma Francisco Medeiros, presidente da Peixe BR.
Um setor entre dois impasses
Com o embate ambiental ainda sem solução e o mercado externo parcialmente bloqueado, a tilapicultura vive um momento de incerteza raro para uma cadeia produtiva que vinha crescendo em ritmo acelerado.
Peixes No Rio Grande do Sul
Festival da Tilápia reforça identidade gastronômica de Ubiretama
2º Festival da Tilápia será realizado no dia 13 de dezembro, com entrada gratuita, atrações culturais e pratos típicos.

O município de Ubiretama (RS) se prepara para a segunda edição do Festival da Tilápia, marcado para o dia 13 de dezembro, com entrada gratuita. A proposta é reunir moradores, produtores e visitantes em um dia dedicado à gastronomia, ao lazer e às tradições locais.
Com uma programação diversificada, o Festival reforça o papel da tilápia e destaca o avanço da produção local. A iniciativa foi criada para valorizar a cadeia produtiva, fortalecer a economia do município e incentivar o consumo da culinária típica, especialmente dos pratos à base de peixe.
Além da gastronomia, o evento oferece atrações culturais, atividades para todas as idades e espaços de convivência, consolidando-se como um ponto de encontro da comunidade.
A expectativa dos organizadores é que a segunda edição supere o público do ano anterior, reforçando o festival como uma das principais celebrações gastronômicas de Ubiretama.
Peixes
Ministério da Pesca suspende 35,7 mil licenças profissionais por indício de fraude
Profissionais têm 30 dias para recorrer da decisão, que entra em vigor em 1º de dezembro de 2025, por meio do protocolo digital do MPA.

O Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) publicou a Portaria MPA nº 582/2025, que suspende as Licenças de pescadores e pescadoras profissionais, de acordo com o art. 25, caput, inciso III, da Portaria MPA nº 127/2023.
Assim, ficam suspensas 35.750 (trinta e cinco mil, setecentos e cinquenta) Licenças inscritas no Registro Geral da Atividade Pesqueira (RGP), por indício de fraude. Essa suspensão implica a perda de direitos vinculados à inscrição no RGP e à Licença na categoria profissional.
Os(as) profissionais poderão interpor recurso administrativo no prazo de até 30 (trinta) dias corridos contados a partir da data de vigência da Portaria MPA nº 582/2025, que entra em vigor no dia 1 de dezembro de 2025.
O recurso deve ser protocolado por meio do protocolo digital disponível clicando aqui.
Deve-se anexar, obrigatoriamente, o Formulário de Requerimento disposto no Anexo I ou II da Portaria.
Clique aqui e acesse a Portaria MPA nº 582/2025 e a Lista de Licenças suspensas.



