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Óleos essenciais: mais carne, mais leite, menos antibióticos

Os óleos podem potencializar a nutrição, a saúde do animal e a produtividade

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Nos últimos anos os óleos essenciais ganharam a atenção do produtor rural brasileiro. Com a redução de antibióticos na produção, eles são alternativa também para a bovinocultura de corte e de leite. O Presente Rural entrevistou o médico veterinário Júlio César Laureano Martino, gerente técnico comercial da Anpario, para saber um pouco mais sobre o tema e como os óleos podem potencializar a nutrição, a saúde do animal e a produtividade.

O Presente Rural – O que são óleos essenciais?

Júlio César Laureano Martino – Os óleos essenciais são compostos líquidos, complexos, bioativos, voláteis, com odor e cor característicos, formados a partir de metabólitos secundários de plantas, presentes em todos os órgãos desta, como brotos, flores, folhas, caules, galhos, sementes, frutas e cascas.

O conhecimento sobre óleos essenciais de plantas data desde alguns séculos antes da era cristã. As referências históricas de obtenção desses óleos estão ligadas, originalmente, aos países orientais, destacando-se o Egito, Pérsia, Japão, China e Índia.

O Presente Rural – Quando e por que começaram a ser usados nas dietas de ruminantes?

Júlio César Laureano Martino – Desde 2006, com a proibição da utilização de promotores de crescimento (antibióticos) em rações para animais de produção em alguns países ao redor do mundo.

No Brasil, a portaria número 171 publicada em dezembro de 2018 pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento com a intenção de proibir a utilização de diversos promotores de crescimento, como a tilosina, lincomicina e bacitracina, fez com que houvesse uma demanda maior por alternativas naturais. Ou seja, a realidade que já encontramos em alguns países da União Europeia estava cada vez mais se aproximando do Brasil e com isso, fazendo com que os óleos essenciais se tornassem alternativas na busca de desempenho no sistema de produção animal.

O Presente Rural – Quais óleos essenciais são mais usados na bovinocultura de corte e de leite?

Júlio César Laureano Martino – Na nutrição animal, podemos citar a utilização do Carvacrol, Timol, Cinemaldeído e Eugenol, que podem ser extraídos de orégano, tomilho, canela e cravo.

O Presente Rural – Quais são os principais componentes desses óleos?

Júlio César Laureano Martino – A estrutura química dos óleos essenciais é composta por elementos básicos como o carbono, oxigênio e hidrogênio, sendo sua classificação química difícil, por serem formados por uma mistura de diversas moléculas orgânicas, como: hidrocarbonetos, álcoois, ésteres, aldeídos, cetonas, fenóis, entre outras.

O Presente Rural – Como eles atuam no animal?

Júlio César Laureano Martino  – Os óleos essenciais possuem ação antimicrobiana, que se caracteriza pela degradação da parede celular, com isso há o rompimento desta barreira permeável, comprometendo suas funções celulares, incluindo regulação metabólica e manutenção do estado energético (Nazzaro et al., 2013).

Em se tratando de bovinos, os benefícios também são satisfatórios. Os óleos essenciais atuam sobre as bactérias Gram + e Gram – (patogênicas) no rúmen dos animais, semelhante aos ionóforos. Com isso, a redução destas bactérias resulta em benefícios como a redução de ácido acético e aumento da produção de ácido propiônico (precursor de energia). O resultado pode ser traduzido como, aumento na produção de leite e carne, ou seja, melhor desempenho dos animais.

Outro fato importante a respeito da inclusão dos óleos essenciais na dieta de ruminantes diz respeito a digestibilidade. Primeiro, há uma redução da degradação da proteína no rúmen, pela inibição da proliferação de bactérias proteolíticas. Segundo, há uma diminuição na degradação de amidos, favorecendo a velocidade do fluxo destes nutrientes ao intestino. Inclusive, existem relatos que há a possibilidade de incrementar a digestibilidade da proteína em 11%, assim como também se pode incrementar a digestibilidade de outros nutrientes (Yang et al.,2007).

O Presente Rural – Quais são seus benefícios zootécnicos para a bovinocultura de corte e de leite?

Júlio César Laureano Martino – Em gado de corte, os óleos essenciais representam a nova geração em produtos melhoradores da fermentação ruminal. O uso de produtos com composição e controle de qualidade garantidos podem resultar em melhoras significativas da digestibilidade e dos ganhos de peso dos animais, com a grande vantagem de, por serem naturais, podem ser usados sem as restrições que apresentam os antibióticos.

Com isso, temos estudos em gado de leite que demonstram a melhora significativa no ganho médio diário de bezerras, com maior peso ao desmame. Assim como um incremento na produção de leite, na primeira lactação.

O Presente Rural – Quais são seus benefícios financeiros para a bovinocultura de corte e de leite?

Júlio César Laureano Martino – De acordo com a tendência do uso de produtos naturais, como os óleos essenciais, vejo como o principal resultado financeiro, a diminuição do uso de medicamentos em todo o sistema de produção.

Com certeza, o produtor terá um animal eficiente, com menor incidência de doenças. Animais mais saudáveis, com melhor resposta imunológica e melhores índices zootécnicos.

Com o uso de óleos essenciais, novos mercados podem se abrir, onde o diferencial de um produto (carne ou leite), oriundo de animais livres de antibióticos poderá ser explorado em determinados nichos de mercado, com valores diferenciados.

O Presente Rural – Qual a relação dos óleos essenciais com a redução de metano e o que isso significa para a produção de corte e leite?

Júlio César Laureano Martino – O óleo essencial poderá ser utilizado como suplemento nutricional para bovinos a fim de reduzir a produção de gás metano (CH4) pelos animais.

Isso acontece porque os óleos essenciais são potenciais aditivos naturais para uso de alimentação animal, pois apresentam propriedades antibacterianas, antifúngicas e antioxidantes, melhorando a qualidade da digestão animal e favorecendo a fermentação.

Segundo os resultados de pesquisa, são importantes no debate de assuntos de impacto ambiental e atividade pecuária. Segundo um estudo, o Brasil possui o maior rebanho comercial do mundo, com 219 milhões de cabeças, e cerca de 13,4% do rebanho mundial. E, apesar da reconhecida importância, o País vem sendo criticado por emitir quantidades significativas de gases de efeito estufa: dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O). No caso do metano, o Brasil é o maior emissor mundial.

O Presente Rural – Quais os níveis e em que fases da produção (corte e leite) eles são usados?

Júlio César Laureano Martino – Leite. Óleos essenciais podem ser utilizados na dieta de vacas em lactação para aumentar a produção e qualidade do leite e para o controle da mastite, sem uso de antibióticos. Com isso, existe uma grande relevância por ser um produto seguro, aplicável e sustentável, que não deixa resíduos no leite e pode ser utilizado em propriedades com produção de leite, sendo um diferencial para aquelas que produzem leite orgânico.

Em bezerras, os óleos essenciais, por suas características antimicrobiana, anticoccidiana, antinflamatoria e antioxidante, diminuem a incidência de diarreias, resultando em um melhor crescimento das bezerras, com maior ganho de peso e uma melhora na produtividade na primeira lactação.

Os óleos essenciais também foram pesquisados com a finalidade de controlar o carrapato do boi, formulações alternativas de origem natural, devido à resistência dos parasitas aos produtos químicos.

Corte. Na pecuária de corte, o uso de óleos essenciais como substitutos de promotores de crescimento (ionóforos) é uma excelente alternativa, natural e segura. Até o momento, os óleos essenciais estudados demonstraram capacidade para incrementar vários parâmetros produtivos como o ganho médio diário, melhora no rendimento de carcaça ou ainda, melhorando a qualidade da carne (menor oxidação lipídica, levando a melhor qualidade da carne, com mais maciez e aspecto final para o consumidor). Ainda serão necessários mais estudos para esclarecer o mecanismo de ação e os efeitos dos óleos essenciais, assim como as dosagens necessárias e combinações mais rentáveis e eficazes, além das sinergias mais potentes, sendo importante estudar a aceitação do consumidor final a este tipo de carne.

Sem dúvida, existe a necessidade de muito mais estudos sobre o resultado do uso dos óleos essenciais na pecuária de corte, tendo uma janela aberta para o uso destes produtos naturais como alternativa para a melhora dos sistemas produtivos, melhora na rentabilidade e aceitação do consumidor final frente a este tipo de carne.

O Presente Rural – Como esses óleos essenciais são produzidos e administrados?

Júlio César Laureano Martino – A produção dos óleos essenciais requer alguns cuidados importantes, para que a extração dos componentes das plantas seja feita da melhor forma possível, fazendo com que a qualidade seja mantida, já que vários fatores externos podem influenciar no produto final.

Entre os fatores externos, podemos citar as variedades cultivadas, fatores geográficos (altitude), fatores climáticos (índices pluviométricos e luminosidade) e época da colheita. Para diminuir a ação dos fatores externos e garantir a qualidade e padronização das concentrações dos ingredientes, a extração de óleos essenciais por destilação à vapor é muito eficiente.

Os óleos essenciais, na apresentação líquida, podem ser administrados aos animais via oral, através da água de beber. No caso de bezerras de leite, devido ao manejo, podemos administrar os óleos essenciais via colostro, leite ou sucedâneo, desde o nascimento até o desmame. Além disso, óleos essenciais na apresentação pó são inclusos na dieta dos animais, via ração. 

O Presente Rural – Como está a utilização de óleos essenciais na pecuária brasileira?

Júlio César Laureano Martino – O uso de óleos essenciais na nutrição de ruminantes no Brasil ainda é pequeno.  Muitos aditivos esperam ainda por serem melhor compreendidos, de maneira a serem usados no momento e na forma que realmente faça diferença. Assim, selecionar e usar seguindo as melhores recomendações técnicas constituem o protocolo mínimo para pensar em se usar aditivos com resultados comprovados e eficientes.

Outras notícias você encontra na edição de Bovinos, Grãos e Máquinas de junho/julho de 2021 ou online.

Fonte: O Presente Rural

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Tripanossomose x Tristeza Parasitária bovina

Diagnóstico diferencial entre as doenças é indispensável para implementação do tratamento adequado no rebanho

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Foto e texto: Assessoria

As hemoparasitoses representam um desafio significativo para a pecuária bovina em todo o mundo, afetando a saúde do rebanho e causando prejuízos econômicos consideráveis.

Entre as enfermidades causadas por hemoparasitas, a tripanossomose e a tristeza parasitária bovina se destacam. Os agentes causadores dessas enfermidades são distintos. A tristeza parasitária bovina, é classicamente causada por protozoários intracelulares do gênero Babesia (B. bigemina e Babesia bovis) e por bactérias do gênero Anaplasma (A. marginale, é a mais importante em nosso meio, também intracelular). Já a tripanossomose bovina tem como agente, o protozoário extracelular Trypanosoma vivax.

“A tripanossomose tem se mostrado um obstáculo crescente no rebanho bovino brasileiro, com casos relatados tanto no gado leiteiro, como no de corte. Com os sintomas pouco específicos, a doença pode passar despercebida pelos pecuaristas e ser responsável por inúmeros prejuízos. Além da forma aguda (clínica), em que os sinais de doença são evidentes, a tripanossomose também pode se apresentar de forma subclínica e até mesmo crônica”, explica Rafael Queiroz, médico veterinário gerente de produtos da Linha Leite da Ceva Saúde Animal.

Os sintomas da manifestação clínica são mais intensos e podem evoluir para o óbito do animal, sendo um alerta importante a redução do apetite sem motivo aparente e rápida perda de peso, febre intermitente, depressão, anemia intensa, salivação excessiva, diminuição na produção leiteira, aumento dos linfonodos (“ínguas”), incoordenação motora, diarreia, aumento das frequências cardíaca e respiratória, cegueira e dificuldade respiratória.

Quando a tripanossomose se apresenta na forma subclínica, os sintomas são pouco específicos, porém geram um grande impacto na produtividade da fazenda, como o atraso no desenvolvimento corporal, redução nos índices reprodutivos (anestro, reabsorção embrionária precoce, queda na produção leiteira, aumento da ocorrência de outras enfermidades (comorbidades) até então controladas.

Na Tristeza parasitária, os sinais clínicos são muito semelhantes aos da tripanosomose bovina, sendo o diagnóstico diferencial fundamental para a introdução do tratamento e de programas de controle.

Assim, a nível de campo, o diagnóstico diferencial entre as doenças é um desafio, pois ambas compartilham características que as tornam difíceis de distinguir apenas com base nos sinais clínicos. Ainda é importante no estabelecimento do diagnóstico uma avaliação epidemiológica realizada pelo médico veterinário, onde o mesmo fará um estudo das condições que irão favorecer a cada uma das doenças como: presença de vetores (transmissores) específicos, emprego de material compartilhado em aplicações injetáveis, histórico de entrada recente de animais no rebanho ou proximidade de outras propriedades com grande rotatividade de animais, presença de reservatórios silvestres ou domésticos que possam albergar os parasitas, dentre outros fatores. Também é importante mencionar que os animais podem estar expostos a mais de um desses hemoparasitos, agravando ainda mais a situação.  “Em muitas regiões, as áreas de endemia para essas doenças se sobrepõem, o que significa que os produtores podem lidar com ambas as enfermidades ao mesmo tempo. Isso contribui para a demora no reconhecimento do desafio presente no rebanho e aumenta substancialmente os impactos produtivos”, detalha Rafael

Apesar das similaridades existentes é importante esclarecer que as formas de contaminação mais comuns e o tratamento destes patógenos podem ser diferentes.

No caso da tripanossomose, as principais fontes de transmissão incluem, principalmente, e a reutilização de materiais que possam entrar em contato com o sangue de animais portadores e posteriormente utilizados em outros animais, como agulhas para aplicação de medicamentos ou vacinas, bisturis, canivetes, luvas de palpação retal e, picada de moscas hematófagas (mutucas, moscas dos estábulos e moscas dos chifres). Também pode haver a transmissão transplacentária, culminando com perdas de gestação ou nascimento de crias fracas que morrem logo a seguir.

Já no caso de contaminação por Babesia spp. e Anaplasma marginale, o carrapato é o principal agente transmissor. Entretanto o uso de materiais compartilhados sem os devidos cuidados além da presença de moscas hematófagas também pode ser importante. Ambas também podem ser transmitidas de forma transplacentária, e esse fator deve ser levado em conta durante a implementação de programas de controle dessas enfermidades.

“Embora ambas afetem os glóbulos vermelhos dos bovinos e compartilhem sintomas semelhantes, o tratamento e manejo dessas doenças são distintos. Portanto, a identificação correta do agente etiológico é fundamental para um diagnóstico preciso e para garantir um tratamento eficaz e reduzir os impactos negativos na saúde e na produção dos bovinos”, esclarece Rafael.

A utilização de exames laboratoriais é imprescindível para confirmar o tipo de microrganismo responsável pela sintomatologia apresentada pelo rebanho. Para o diagnóstico da tripanossomose podem ser empregados métodos sorológicos (RIFI ou Reação de Imunofluorescência Incompleta; ELISA; Imunocromatografia também denominado Teste Rápido). Há também métodos moleculares (PCR). O diagnóstico direto através da detecção e identificação dos parasitos em amostras sanguíneas são os de “padrão ouro”. Entretanto nos casos da tripanosomose (esfregaços sanguíneos corados, Teste do Microhematócrito o de Woo, análise de gota espessa, por exemplo) podem levar a erros quando os parasitos não são visualizados uma vez que estes testes diretos possuem baixa sensibilidade (capacidade de detectar animais parasitados), pois  necessitam de um número enorme de parasitos circulantes no momento da coleta das amostras. Este momento tem uma janela curta após a infecção.

O diagnóstico diferencial preciso entre a tristeza parasitária e a tripanossomose é indispensável por várias razões. Cada doença requer um tratamento específico, e o tratamento incorreto pode não ser eficaz, e as medidas de controle não serem aplicadas convenientemente. A demora na identificação e, consequentemente na adoção do tratamento adequado pode resultar em perdas econômicas significativas para produtores, incluindo a perda de animais, diminuição da produtividade e custos adicionais com tratamentos desnecessários.

Fonte: Assessoria Ceva
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Cultivar de trigo tropical da Embrapa tem rendimento 12% superior em anos secos

Para avaliar a tolerância do trigo à restrição hídrica, pesquisadores da Embrapa Trigo (RS) reuniram dados de desempenho das cultivares de trigo de sequeiro no Brasil Central nos últimos cinco anos

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Lavoura de trigo BRS 404 em Planaltina (DF) - Foto: Jorge Chagas

Um estudo para avaliar a tolerância do trigo ao déficit hídrico mostrou que cultivar BRS 404 pode representar até sete sacos a mais nos anos de pouca chuva no Brasil Central. A pesquisa avaliou o rendimento de trigo tropical das principais cultivares de sequeiro disponíveis no mercado no período 2019-2023.

Para avaliar a tolerância do trigo à restrição hídrica, pesquisadores da Embrapa Trigo (RS) reuniram dados de desempenho das cultivares de trigo de sequeiro no Brasil Central nos últimos cinco anos. Em média, os rendimentos da cultivar BRS 404 foram 12,4% superiores quando comparados às demais cultivares em uso na região, o que pode representar até sete sacos a mais por hectare. A variação ficou entre 5% e 23% superior, considerando que a brusone foi limitação somente em 2019, enquanto nos demais anos o déficit hídrico foi o fator limitante. Nesses cinco anos, os ensaios variaram em função dos locais e com a inserção de novas cultivares que chegaram ao mercado durante o período. Veja na tabela abaixo:

Em 2022, em São Gonçalo do Sapucaí (MG), com apenas 97 mm de chuva da semeadura à colheita, o rendimento de grãos da BRS 404 foi 15,5% superior na comparação com outras sete cultivares. O pesquisador Vanoli Fronza explica que esse desempenho superior da cultivar ocorreu devido ao seu grande potencial de enchimento de grãos, mesmo em condições adversas, como seca e temperaturas mais elevadas. “Para explorar melhor os benefícios da BRS 404, a cultivar deve ser semeada no fechamento do plantio, quando reduz os riscos com brusone e pode se destacar em caso de limitação hídrica”, declara o cientista.

A região tropical conta com mais de 10 cultivares com sementes disponíveis no mercado para cultivo de trigo de sequeiro. No ensaio de cultivares da Coopa-DF de 2023, o destaque de produtividade foi para a cultivar BRS 404, que atingiu 71,9 sacos por hectare (sc/ha) com peso do hectolitro (PH) de 84, superando a segunda colocada que apresentou 68,5 sc/ha e PH 81. Entretanto, o diferencial das cultivares de trigo de sequeiro é ainda mais importante em anos de seca, quando a média de rendimentos não tem ultrapassado 40 sc/ha na região.

Avanço do trigo tropical

O Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) orienta para o cultivo do trigo em seis estados da região tropical: Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Bahia e São Paulo, mais o Distrito Federal. No período de 2018 a 2023, a área com trigo no Brasil Central cresceu 110,7%, enquanto a produção aumentou em 131,5%. Apesar do crescimento da cultura, as produtividades oscilaram bastante ao longo dos anos (veja o gráfico).

A explicação está na variabilidade das condições ambientais, especialmente relacionadas com a disponibilidade hídrica e excesso de calor. “A maioria das áreas indicadas para o cultivo do trigo no Cerrado estão em altitudes acima de 700 metros, onde as temperaturas costumam ser menores à noite. Já nas áreas de menor altitude, em geral, predominam solos mais arenosos, que possuem menor capacidade de armazenar água”, explica o agrometeorologista Gilberto Cunha. Segundo ele, o excesso de chuva explica a queda no rendimento em 2019, uma vez que o ambiente favoreceu epidemia de brusone, doença fúngica favorecida pela umidade e temperaturas elevadas. Por outro lado, a queda nos rendimentos, nas safras 2021 e 2022, foi causada pela redução nas chuvas e o aumento do calor, com temperaturas mínimas acima da média na região. “No Cerrado, não há relação direta entre calor e incidência de chuvas, já que existe um regime hídrico bem definido, como a época das águas – de outubro a março – e a seca no restante do ano. Contudo, o aumento das temperaturas mínimas favorece a maior evapotranspiração das plantas, que tendem a sofrer pelo déficit hídrico na falta de chuvas regulares”, detalha Cunha.

Resposta às mudanças climáticas

Estudos sobre mudanças climáticas indicam agravamento dos problemas relacionados com irregularidades na distribuição das chuvas e o aumento de estresse hídrico durante o ciclo das culturas, principalmente nas regiões do centro, norte e nordeste do País. Nesse cenário, um dos desafios para a expansão da triticultura tropical é o desenvolvimento de plantas com tolerância à restrição hídrica, que sejam capazes de fazer uso mais eficiente da água e que tenham melhor tolerância ao calor. Por ser um problema complexo, envolvendo interações solo-água-planta-ambiente, a seleção de plantas tolerantes à restrição hídrica é um constante desafio para os programas de melhoramento genético.

O desafio da seca é maior no trigo cultivado em sistema de sequeiro, ou trigo safrinha, que representa cerca de 80% da área de cultivo com trigo tropical. De acordo com o pesquisador Joaquim Soares Sobrinho, a região do Cerrado sofre frequentemente com veranicos, trazendo ondas de calor e seca que afetam o trigo em épocas críticas do desenvolvimento da planta, como no perfilhamento e no enchimento de grãos: “O maior impacto é verificado quando falta água no enchimento de grãos, resultando na diminuição do seu peso”, conta Soares.

Além do rendimento, em anos de estresse hídrico a qualidade do trigo também é impactada. “Em anos secos, especialmente nos cutivos de sequeiro, os grãos de trigo ficam enrugados, contendo maior teor de proteína do que em condições hídricas normais. A alteração na composição de proteínas pode resultar em farinhas de maior qualidade e melhor desempenho para produção de pães. Por outro lado, seca e altas temperaturas no momento do enchimento de grãos diminuem o teor de amido nos grãos de trigo”, avalia a pesquisadora Martha Miranda.

O ano de 2023 foi considerado um dos melhores para o trigo tropical. No cultivo de sequeiro, os rendimentos foram cerca de 50% superiores à média do ano anterior. “Além da boa disponibilidade hídrica, a distribuição das chuvas e as temperaturas mínimas mais amenas resultaram no alongamento do ciclo das cultivares, permitindo que a planta aproveitasse melhor os recursos disponíveis no ambiente e convertesse em rendimento de grãos”, relata Soares.

Evolução do melhoramento genético

Os trabalhos com a tropicalização do trigo tiveram início ainda na década de 1920 e foram intensificados nos anos 1980, confirmando a viabilidade dos primeiros cultivos em Minas Gerais e em Goiás. No cultivo de trigo tropical foram definidos pela pesquisa dois sistemas de produção: irrigado e sequeiro. Um esforço conjunto entre produtores, instituições de pesquisa, assistência técnica e poder público resultou em estudos sobre rotação de culturas, épocas de plantio, população de plantas, adubação, manejo integrado de pragas e doenças, viabilidade socioeconômica, entre outros. A aproximação com a indústria permitiu também avançar na qualidade do trigo tropical, atendendo as diferentes demandas do mercado consumidor.

Um marco para a triticultura tropical foi a cultivar BR 18 Terena, lançada pela Embrapa em 1986, que até hoje é utilizada nos programas de melhoramento genético devido à grande capacidade de adaptação, especialmente no cultivo de trigo de sequeiro no Brasil Central. A Embrapa seguiu o caminho na oferta de cultivares de trigo para o ambiente tropical junto com outras instituições pioneiras como Epamig, IAC e Coodetec.

A restrição hídrica ainda é fator limitante para a expansão do trigo na região tropical, mas a pesquisa intensificou os estudos para vencer a seca e o calor, mostrando bons resultados no melhoramento genético. Muitas cultivares chegaram ao mercado nos últimos cinco anos, desenvolvidas principalmente por obtentores privados. “Hoje estão disponíveis ao produtor 33 cultivares de trigo tropical, tanto para o sistema irrigado como para sequeiro, com genética que garantiu aumento de área e produtividade em grãos com qualidade comparada aos melhores trigos do mundo”, conta o pesquisador Ricardo Lima de Castro. Veja abaixo como foi a evolução da oferta cultivares nas últimas quatro décadas:

Para o futuro, os pesquisadores informam que novas estratégias para a seleção de genes, tanto em cruzamento tradicional de plantas de trigo como com plantas transgênicas ou edição gênica, deverão trazer respostas ainda melhores na resiliência do trigo às mudanças climáticas.

Fonte: Assessoria Embrapa Trigo
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Otimismo marca abertura oficial da colheita da soja no Rio Grande do Sul

Evento foi realizado no município de Tupanciretã

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Safra deve resultar em 22,2 milhões de toneladas de soja - Foto: Julia Chagas/Ascom Seapi

Expectativa de uma safra de soja recorde, com incremento de 71%, em relação ao ano passado. É com esse otimismo que a Colheita da Soja no Rio Grande do Sul foi oficialmente aberta na segunda-feira (25), no município de Tupanciretã. O secretário adjunto da pasta da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação, Márcio Madalena, representou o governo do Estado no ato que reuniu produtores rurais, autoridades, entidades e empresas privadas na Agropecuária Richter.

Dados da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) apontam uma área plantada de cerca de 6,6 milhões de hectares em 426 municípios do Estado. A expectativa é de uma safra que deve resultar em 22,2 milhões de toneladas de soja.

“A frustração das safras nos últimos anos trouxe prejuízos para o município e a região, mas acreditamos que esta deve ser de grande recuperação, com produtividade recorde. Isso reposicionará o Rio Grande do Sul no cenário nacional”, ressaltou o secretário adjunto.

Madalena também citou uma das pautas prioritárias da secretaria, que é a irrigação, e tratou do programa do governo do Estado que vai subsidiar em até R$ 100 mil os projetos de irrigação dos produtores rurais. “A reservação de água e a irrigação devem ser assuntos permanentes, e o governo estadual tem essa discussão como prioridade para que o nosso agronegócio não venha a sofrer no futuro o que já aconteceu em épocas de estiagem”, afirmou.

Conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Rio Grande do Sul deve ficar em segundo lugar no ranking de produtividade, atrás apenas do Mato Grosso.

O prefeito de Tupanciretã, Gustavo Herter Terra, destacou que o município sempre liderou o ranking de maior produtor, mas que, no ano passado, em razão da estiagem, a produtividade foi menor. Para 2024, a expectativa é de que a cidade volte a ocupar o primeiro lugar. “Aqui no município produzimos soja em cerca de 150 mil hectares, com produção de 9 milhões de sacas por ano”, contabilizou.

Fonte: Assessoria Seapi
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Imeve Suínos março

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