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Oferta ajustada e demanda aquecida sustentam preços do milho, avalia analista do Itaú BBA
Projeção para a safra 2024/25 indica uma redução dos estoques mundiais em cerca de 25 milhões de toneladas, reflexo da menor produção dos Estados Unidos e do crescimento da demanda global.

A demanda aquecida e o uso crescente do milho para etanol no Brasil seguem pressionando os estoques internos, mesmo diante da expectativa de uma safra maior em 2024/25. No cenário global, a menor oferta tem mantido os preços sustentados, com redução de estoques e incertezas climáticas em importantes países produtores.
Conforme avaliação do analista da Consultoria Agro do Itaú BBA, Francisco Queiroz, a segunda safra do cereal será determinante para a definição dos preços no mercado brasileiro. “No Mato Grosso, estado responsável por quase 50% da produção do milho safrinha, a concentração do plantio em um curto intervalo de tempo aumenta a dependência das condições climáticas entre abril e maio. “Qualquer adversidade nesses meses pode comprometer o rendimento das lavouras e impactar a oferta nacional”, afirma.
No mercado internacional, os preços do milho na Bolsa de Chicago seguem firmes, impulsionados pela restrição da oferta global. A projeção para a safra 2024/25 indica uma redução dos estoques mundiais em cerca de 25 milhões de toneladas, reflexo da menor produção dos Estados Unidos e do crescimento da demanda global.
Na Argentina, terceiro maior exportador do grão, as condições climáticas adversas têm impactado negativamente a produção. A estimativa inicial do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) para a safra argentina foi revisada de 51 para 50 milhões de toneladas, mas especialistas indicam que a produção pode ficar próxima de 45 milhões de toneladas. Esse cenário adiciona ainda mais pressão sobre os estoques globais. “Apesar da sustentação dos preços no curto prazo, alguns fatores podem limitar um avanço maior das cotações. Entre eles, está a possibilidade de ampliação da área de plantio de milho nos Estados Unidos e a eventual resolução do conflito no Mar Negro, que poderia normalizar os fluxos comerciais na região”, aponta Queiroz, acrescentando: “Enquanto a oferta seguir ajustada, o mercado tende a manter preços firmes, especialmente no Brasil, onde a demanda interna e as exportações seguem elevadas”.
Produção nacional em alta
De acordo com o 5º Levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção total de milho no Brasil deve alcançar 122 milhões de toneladas na safra 2024/25, um aumento de 5,5% em relação ao ciclo anterior. A colheita da primeira safra segue em ritmo avançado no campo e a produtividade média teve um crescimento de 9,9% em comparação com 2023/24. Com isso, a expectativa é que sejam colhidas 23,6 milhões de toneladas no primeiro ciclo.
A segunda safra, fundamental para a composição da oferta nacional, já ultrapassa 18% da área semeada. Com condições climáticas favoráveis, a Conab projeta um crescimento de 2,4% na área de plantio, resultando em uma produção estimada de 96 milhões de toneladas, um avanço de 6,4%.
O plantio do milho safrinha segue o ritmo da colheita da soja, que já supera 15% da área total. A produção da oleaginosa deve alcançar 166 milhões de toneladas, 18,3 milhões a mais que no ciclo anterior. Esse aumento se deve tanto à ampliação da área plantada quanto à recuperação da produtividade média, impulsionada por condições climáticas favoráveis no Paraná, Santa Catarina e na maior parte do Centro-Oeste. Já no Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul, houve restrição hídrica desde meados de dezembro, o que pode impactar os rendimentos nessas regiões.
Estoques e preços internos
O estoque final de milho no Brasil deve apresentar redução devido ao crescimento da demanda interna, especialmente para a produção de etanol. O consumo doméstico deve alcançar 88 milhões de toneladas em 2024/25, um aumento de 5% sobre a safra anterior. “O setor de etanol de milho, que vem expandindo sua capacidade, deve consumir 21,1 milhões de toneladas, um crescimento de 20% em relação ao ciclo passado”, ressalta o analista de mercado.

Além do consumo interno, as exportações brasileiras devem se manter aquecidas, aproveitando a menor oferta global e a alta competitividade do milho brasileiro no mercado internacional. “A projeção do USDA indica que os embarques dos Estados Unidos devem alcançar 62,2 milhões de toneladas na safra atual, maior volume desde 2021/22, o que pode impactar a participação do Brasil no comércio global”, avalia Queiroz.
Os preços internos seguem sustentados, influenciados pelo aperto dos estoques e pela incerteza climática sobre a segunda safra.
1ª safra no Paraná deve ter resultado histórico
No Paraná, segundo maior produtor de milho do Brasil, os produtores da primeira safra podem ter a melhor produtividade histórica, com a retirada de mais de 10,4 mil quilos por hectare. Se confirmada, a produção pode superar em 11% o volume de 2,5 milhões de toneladas do ciclo anterior, chegando a 2,8 milhões de toneladas, mesmo ocupando uma área 9% inferior, de 294,4 mil hectares caiu para 267,5 mil. “Essa produtividade é benéfica, ainda que a primeira safra seja pequena”, salienta o analista da cultura no Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab), Edmar Gervásio. Ele lembra que historicamente a primeira safra vem perdendo terreno, principalmente para o plantio de soja. “Mas para quem apostou será muito bom, vai colher boa produtividade”, enfatiza.

Analista da Consultoria Agro do Itaú BBA, Francisco Queiroz: “A curto prazo, os preços devem seguir sustentados pela combinação de oferta ajustada, demanda firme e incertezas climáticas sobre a produção da segunda safra no Brasil” – Foto: Divulgação/Itaú BBA
Para ajudar no bom desempenho dessa cultura no Paraná, a segunda safra está avançando no plantio e também promete ser das melhores já colhidas no Estado. Favorecida pelas condições climáticas, já cobre aproximadamente 65% dos 2,6 milhões de hectares projetados. Se essa situação permanecer, nos próximos dias deve superar os 90%. A produção estimada é de 15,9 milhões de toneladas.
Entretanto, Queiroz avisa que as previsões climáticas indicam uma possível antecipação do corte das chuvas na faixa central do Brasil devido à transição do fenômeno El Niño para um padrão neutro. “Caso essa previsão se concretize, a produtividade pode ser impactada, adicionando mais pressão sobre os preços”, expõe.
Valorização do milho
Outro fator apontado por Queiroz que contribui para a valorização do milho no Brasil é o aumento do preço do frete, reflexo da colheita recorde de soja, que reduziu a disponibilidade de caminhões. “Além disso, muitos produtores estão retendo a comercialização, aguardando preços mais elevados, o que reduz a oferta disponível no mercado”, revela o analista de mercado.
Perspectivas para os próximos meses
A curva do milho na B3 segue em um formato invertido, com preços futuros abaixo dos valores atuais, refletindo a expectativa de maior oferta no segundo semestre, quando entra no mercado a maior parte da segunda safra. No entanto, a efetiva realização dessa expectativa dependerá das condições climáticas nos próximos meses.
Outro fator que deve influenciar os preços é o aumento da área de plantio para a safra 2025/26 destinada para o milho nos EUA, que segundo estimativas do USDA deverá saltar de 36,68 para 38,05 milhões de hectares, ficando acima da expectativa do mercado. “Com este aumento da área de milho em detrimento da soja, o mercado pode precificar essa perspectiva de maior oferta futura”, menciona Queiroz, acrescentando: “A curto prazo, os preços devem seguir sustentados pela combinação de oferta ajustada, demanda firme e incertezas climáticas sobre a produção da segunda safra no Brasil”.
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Regeneração de pastagens e sistemas integrados ganham protagonismo na pecuária brasileira
Especialistas destacam que eficiência produtiva, solo saudável e adoção de ILPF são caminhos centrais para uma pecuária sustentável e de baixo carbono.

A regeneração de pastagens degradadas e a adoção de sistemas integrados de produção devem ocupar o centro da estratégia da pecuária brasileira para os próximos anos. Essa visão foi defendida por Fábio Dias, líder de Pecuária Sustentável da JBS, durante sua participação no VEJA Fórum de Agronegócio, realizado nesta segunda-feira (24), em São Paulo.
Ao participar do painel “Agricultura Sustentável: como produzir sem desmatar”, o executivo ressaltou que a eficiência produtiva e a sustentabilidade caminham juntas para garantir a perenidade do negócio. Com atuação em 20 países e relacionamento diário com centenas de milhares de produtores, a JBS enxerga a saúde da cadeia de fornecimento como prioridade. “A produção pecuária e agrícola precisa prosperar por muitos anos, não apenas por alguns. Se os produtores não forem bem, toda a cadeia não irá bem”, explicou.
Dias também analisou a mudança de paradigma no setor: se antes o foco estava exclusivamente no volume de produção, hoje a degradação e a queda de produtividade, especialmente em áreas de abertura mais antigas, impulsionaram uma nova mentalidade voltada à longevidade e à qualidade do solo.
Segundo Dias, essa agenda regenerativa é um imperativo de gestão, focada na melhoria contínua do ativo ambiental. “É fundamental garantir que a fazenda seja mantida em condições de produtividade superior a cada ano, demonstrando que a exploração pecuária de longo prazo é totalmente sustentável”, afirmou.
O executivo reforçou a singularidade do modelo brasileiro, capaz de acomodar duas ou três safras na mesma área. Nesse contexto, a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) surge como ferramenta vital. A presença animal no sistema não apenas diversifica a renda, mas eleva a biologia do solo e sua capacidade de estocagem de carbono. “Colocar animais numa área aumenta a vida do local, eleva a qualidade da terra e mantém o solo coberto durante todo o ano”, explicou Dias. De acordo com o executivo, a eficiência gerada pela ILPF, somada à redução da idade de abate dos animais, resulta em menor pressão por desmatamento e queda nas emissões entéricas, pavimentando o caminho para uma pecuária brasileira de baixo carbono.
Para acelerar a adoção dessas tecnologias e fortalecer a formalização da cadeia, a JBS estruturou um ecossistema robusto de difusão de conhecimento, assistência técnica e gerencial. O objetivo é empoderar o produtor para a tomada de decisões embasadas. “Construímos um ecossistema que difunde conhecimento e apoio aos produtores”, reforçou Dias.
Essa estratégia, operacionalizada por meio do programa Escritórios Verdes, criado em 2021, e que que oferecem assistência técnica, ambiental e gerencial gratuita, tem gerado impacto mensurável: desde então, já foram mais de 20.000 produtores apoiados, reinseridos na cadeia produtiva legal e sustentável.
O líder de Pecuária Sustentável da JBS concluiu que o potencial do Brasil em ter uma pecuária baixa em carbono é evidente, dada a capacidade de armazenagem do solo tropical e a redução da idade de abate dos animais. “Ao aumentar a produção por área, a JBS enxerga um futuro brilhante para a pecuária brasileira, onde a sustentabilidade se torna o novo padrão de eficiência e inclusão produtiva”, pontuou.
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Mercado do leite volta a cair em novembro e mantém pressão sobre o produtor
Demanda mais fraca e custos elevados sustentam pressão negativa sobre o preço ao produtor.

O preço médio nacional do leite ao produtor fechou novembro de 2025 em R$ 2,44 por litro, conforme o boletim Indicadores Leite e Derivados, elaborado pelo Cileite/Embrapa. O valor representa queda de 3,8% na comparação mensal e recuo de 14,8% em 12 meses, consolidando um ano de forte retração para o setor.
A análise regional mostra que todos os estados acompanhados registraram variações negativas, como em São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Goiás, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. As barras do gráfico destacam uma tendência comum de queda, com redução próxima a 4%.
Derivados também caem

Foto: Sistema Faep
Os preços dos lácteos seguiram o mesmo movimento. O boletim indica retração de 1,0% no conjunto de “Leite e Derivados” e queda de 0,2% em outro agrupamento de produtos monitorados. Entre os itens acompanhados individualmente, o leite UHT apresentou variação negativa mais intensa, acompanhado por baixas em queijos, manteiga, creme de leite e leite condensado — todos com índices de redução destacados na coluna “Em 12 meses”.
Consumo interno não reage
O relatório também traz a evolução do ticket de compra de lácteos no varejo, mostrando oscilações ao longo de 2023, 2024 e 2025. A curva referente a 2025 revela leve recuperação no segundo semestre, mas ainda distante dos patamares observados em anos anteriores. Segundo o boletim, o consumo interno não tem acompanhado a oferta, o que contribui para a continuidade da pressão sobre os preços ao produtor.
Cenário segue desfavorável ao produtor
Com custos ainda elevados em várias regiões e baixa capacidade de repasse pela indústria, o momento permanece desafiador para a cadeia produtiva. A retração em praticamente todos os indicadores reforça o ambiente de margens apertadas e de incerteza para o início da temporada 2026.
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Mato Grosso institui Passaporte Verde e eleva padrão socioambiental da pecuária
Nova lei, que entra em vigor em 2026, estabelece critérios socioambientais e rastreabilidade completa do rebanho para atender às exigências dos mercados internacionais.

A Assembleia Legislativa de Mato Grosso aprovou, em duas votações, na última quarta-feira (19), o projeto de lei que institui o Programa Passaporte Verde, iniciativa que coloca o Estado na vanguarda da pecuária sustentável no Brasil. A nova legislação entra em vigor em janeiro de 2026 e estabelece critérios socioambientais para todo o monitoramento de rebanho bovino e bubalino mato-grossense, com o objetivo de atender às exigências dos mercados internacionais mais competitivos.
O Passaporte Verde, desenvolvido pelo Instituto Mato-grossense da Carne (Imac) em parceria com o Governo do Estado e o setor produtivo, propõe o monitoramento socioambiental completo da cadeia da carne, desde o nascimento do animal até o abate. O programa prevê etapas de implantação para incluir propriedades de todos os portes, oferecendo suporte técnico e orientação aos produtores.
Entre os objetivos dessa política de sustentabilidade estão o desenvolvimento sustentável, a inclusão e consciência produtiva, o acesso ao mercado global, qualidade e monitoramento, incentivo de parcerias do setor privado com entidades públicas, a valorização de serviços ambientais, além do estímulo do ambiente de concorrência equitativa na cadeia produtiva.
A iniciativa reforça o compromisso de Mato Grosso com a produção responsável, rastreabilidade, transparência e conservação ambiental, critérios cada vez mais valorizados pelos importadores e consumidores globais. Países da Europa e da Ásia, por exemplo, têm adotado políticas que priorizam produtos com comprovação de origem sustentável e desmatamento zero. “Mato Grosso se consolida como pioneiro em sustentabilidade com o Passaporte Verde. Estamos mostrando ao mundo que é possível produzir mais, com responsabilidade ambiental e inclusão social. Esse programa será uma vitrine da pecuária moderna, transparente e comprometida com o futuro do planeta”, comemorou o presidente do Imac, Caio Penido.



