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Ocupação na indústria cresce 5,3%, mas não recupera perdas dos últimos 10 anos
A Indústria alimentícia, principal atividade industrial em participação na RLV (21,5%), voltou a cair em 2021, após ensaiar aumento na participação em 2020 frente a 2019.

Em 2020, o país tinha 325,8 mil indústrias com uma ou mais pessoas ocupadas, sendo 6,3 mil nas Indústrias extrativas e 319,5 mil nas Indústrias de transformação. Essas empresas geraram R$ 5,6 trilhões de receita líquida de vendas – R$ R$ 456,7 bilhões na Indústria extrativa e R$ 5,1 trilhões na Indústria de transformação – e pagaram R$ 352,1 bilhões em salários, retiradas e outras remunerações. Foram gerados R$ 2,2 trilhões em valor de transformação industrial, com 85,8% vindo das Indústrias de transformação. Essas quantias estão em preços correntes de 2021. Os dados são da Pesquisa Industrial Anual – Empresa (PIA Empresa), que abrange as Indústrias extrativas e de transformação.

Para Synthia Santana, gerente de análise estrutural, esse cenário da produção industrial reflete os aspectos macroeconômicos: o PIB cresceu 5,0% em 2021 e a inflação registrada pelo IPCA foi de 10,06%. Paralelamente, a taxa de juros chegou a 9,25% em dezembro de 2021. A taxa de desocupação no quarto trimestre desse ano, segundo a PNAD Contínua, foi de 11,1%, enquanto a balança comercial teve superávit recorde, influenciado pelos preços internacionais. “Todos esses fatores contribuíram para a recuperação do setor industrial em 2021, após o início da vacinação. Mas a recuperação também se deve a uma base de comparação menor, já que 2020 foi um ano com baixa atividade industrial”, destaca.
Em 2021, as atividades industriais com maior peso na receita líquida de vendas aumentaram sua participação, frente a 2012. A exceção foi Fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias, que caiu da segunda para a quinta posição no ranking de faturamento industrial. “Em 2021, a indústria alimentícia representava 21,5% da receita líquida de vendas da indústria brasileira, com sua participação crescendo 2,3 p.p ante 2012. Mas, no mesmo período, a participação da indústria automobilística caiu 3,7 p.p., saindo da segunda posição no ranking e chegando à sua menor participação na série: 7,2% da RLV”, diz Synthia.
Das 29 atividades, apenas indústria de bebidas perdeu pessoal em 2021
A ocupação na indústria subiu pelo segundo ano consecutivo. Em 2021, o setor industrial ocupava 8,1 milhões de pessoas, sendo 97,4% (7,9 milhões) nas indústrias de transformação. Esse movimento, no entanto, não foi suficiente para recuperar as vagas perdidas na recessão 2015-2016. A população ocupada na indústria caiu 8,6%, ou 758,6 mil vagas a menos, entre 2012 e 2021: menos 9,3 mil nas Indústrias extrativas e menos 749,3 mil nas Indústrias de transformação.

As cinco atividades que mais empregaram em 2021 somavam 46,4% do total de pessoas ocupadas. Entre elas, apenas as Indústrias alimentícia e de produtos minerais não metálicos aumentaram suas participações ao longo da série histórica da pesquisa. O principal destaque foi a perda gradativa de participação da Indústria de vestuário, segundo maior empregador, que reduziu 193,2 mil vagas. “Em 2021, houve aumento de 407,7 mil postos de trabalho (5,3% de aumento): 11,6 mil nas Indústrias extrativas e 396,1 mil nas Indústrias de transformação. Mas esses aumentos não recuperaram as perdas do biênio 2015-2016. Ainda estamos com quase um milhão de pessoas abaixo do ponto mais alto da série, em 2013, quando a indústria tinha nove milhões de ocupados”, ressalta a gerente.
As cinco atividades que mais empregaram foram: Fabricação de produtos alimentícios (22,5%), Confecção de artigos do vestuário e acessórios (7%); Fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (6%); Fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias (5,5%); Fabricação de produtos de minerais não-metálicos (5,4%). “As mesmas atividades estavam no ranking em 2012, mostrando que a indústria é muito estável nesse aspecto”, destaca Synthia.
Entre 2020 e 2021, as maiores altas ocorreram em de Confecção de artigos do vestuário e acessórios (51 mil), Fabricação de produtos alimentícios (45,9 mil) e Fabricação de produtos de metal (42,7 mil). A única perda foi na Indústria de bebidas (-0,3 mil).
Em dez anos, salário médio teve reduções em 25 das 29 atividades
Entre 2012 e 2021, em 25 das 29 atividades houve queda na remuneração média mensal, medida em salários mínimos. No período, o salário médio na Indústria caiu de 3,4 s.m. para 3,1 s.m. Mesmo pagando os salários mais elevados, as Indústrias extrativas tiveram uma redução no salário médio, passando de 6,2 s.m. em 2012 para 5,1 s.m. em 2021. Nas Indústrias de transformação, o salário médio caiu de 3,3 s.m. em 2011 para 3,0 s.m. em 2021.
Entre 2012 e 2021, as reduções mais intensas foram na Extração de petróleo e gás natural (-11,0 s.m.), Fabricação de coque, produtos derivados de petróleo e de biocombustíveis (-3,7 s.m.) e Extração de minerais metálicos (-1,8 s.m.).
Já em 2020 frente a 2021, o salário médio teve reduções em cinco das 29 atividades. As variações mais intensas foram em Extração de petróleo e de gás natural (-3,0 s.m.), Atividades de apoio à extração de minerais (-0,8 s.m.) e Extração de minerais metálicos (alta de 0,9 s.m.).
Em 2021, Sudeste volta a ganhar participação e ainda detém mais de 50% do VTI
Em 10 anos, destaca-se a redução na concentração do Valor de Transformação Industrial (VTI) nas Regiões Sudeste, Sul e Nordeste, que recuaram, respectivamente, 1,5 p.p., 0,8 p.p. e 0,5 p.p. nesse período. Em contrapartida, houve avanço nas duas regiões menos representativas: Norte (1,9 p.p.) e Centro-Oeste (0,8 p.p.). Na comparação de 2021 com o primeiro ano de pandemia, em 2020, embora o ranking tenha se mantido, houve aumento de participação (2,7 p.p.) do Sudeste que ainda concentrava 58,9% do VTI. As demais regiões perderam espaço: Norte (1,3 p.p.), Sul (0,7 p.p.), Nordeste (0,4 p.p.) e Centro-Oeste (0,3 p.p.). O Sul, que ocupa a segunda posição no ranking, caiu à sua menor participação (18,0%) desde 2007.
No Sudeste, São Paulo concentrou 53,0% do VTI, seguido por Minas Gerais (21,7%), Rio de Janeiro (19,6%) e Espírito Santo (5,8%). Entre 2012 e 2021, embora não tenha havido mudança no ranking regional, destaca-se a redução da participação de São Paulo (-5 p.p.), em contrapartida ao avanço da produção na indústria mineira (3 p.p.). Em 2021, as principais atividades eram da cadeia extrativa de petróleo e gás natural e de refino de petróleo.
O ranking de VTI da Região Sul foi liderado pelo Paraná (36%), seguido pelo Rio Grande do Sul (34,9%) e Santa Catarina (29,2%). Entre 2012 e 2021, a participação do Rio Grande do Sul no VTI regional caiu 2,6 p.p., tirando o estado da liderança no ranking. Santa Catarina, por sua vez, avançou 3,6 p.p. e manteve o 3º lugar. Em 2021, 37,9% do VTI da região estava concentrado nas três principais atividades: Fabricação de produtos alimentícios (21,9%), Fabricação de máquinas e equipamentos (8,3%) e Fabricação de produtos químicos (7,7%).
No Nordeste, a Bahia correspondeu à maior parcela do VTI (39,6%), seguida por Pernambuco (19,8%) e Ceará (14,7%). Os 26,0% restantes foram distribuídos entre: Rio Grande do Norte (7,7%), Maranhão (7,4%), Paraíba (3,2%), Alagoas (3,1%), Sergipe (2,9%) e Piauí (1,7%). Destaca-se o declínio da indústria baiana, com redução na participação de 3,0 p.p., ao passo que a indústria maranhense cresceu 2,6 p.p. entre 2012 e 2021. Entre os setores predominantes na região, destacam-se a indústria alimentícia, a do refino de petróleo/biocombustíveis e a química.
Pará (63,4%) e Amazonas (31,9%) foram responsáveis por 95,3% do VTI gerado na Região Norte. Além destes, o ranking regional compreendeu: Rondônia (2,2%), Tocantins (1,8%), Amapá (0,3%), Acre (0,3%) e Roraima (0,1%). Entre 2012 e 2021, a principal mudança estrutural foi o aumento da participação do Pará (19,9 p.p.), pelo potencial de sua indústria extrativa, em detrimento do Amazonas (17,8 p.p.), que, apesar dos incentivos do Polo Industrial de Manaus, perdeu a liderança em 2017, quando o Pará assumiu a primeira posição no ranking.
No Centro-Oeste, Goiás representou 46,5% do VTI regional, seguido por Mato Grosso do Sul (26,1%), Mato Grosso (24,9%) e Distrito Federal (2,5%). Em 10 anos, a única mudança no ranking regional foi denotada pelo avanço de 6,6 p.p. do Mato Grosso do Sul, que ultrapassou o Mato Grosso e ocupou a segunda posição. A indústria do Centro-Oeste se destacou pela agroindústria com grande potencial exportador, com indústria alimentícia e de biocombustíveis.

Notícias
Santa Catarina registra avanço simultâneo nas importações e exportações de milho em 2025
Volume importado sobe 31,5% e embarques aumentam 243%, refletindo demanda das cadeias produtivas e oportunidades geradas pela proximidade dos portos.

As importações de milho seguem em ritmo acelerado em Santa Catarina ao longo de 2025. De janeiro a outubro, o estado comprou mais de 349,1 mil toneladas, volume 31,5% superior ao do mesmo período do ano passado, segundo dados do Boletim Agropecuário de Santa Catarina, elaborado pela Epagri/Cepa com base no Comex Stat/MDIC. Em termos de valor, o milho importado movimentou US$ 59,74 milhões, alta de 23,5% frente ao acumulado de 2024. Toda a origem é atribuída ao Paraguai, principal fornecedor externo do cereal para o mercado catarinense.

Foto: Claudio Neves
A tendência de expansão no abastecimento externo se intensificou no segundo semestre. Em outubro, Santa Catarina importou mais de 63 mil toneladas, mantendo a curva ascendente registrada desde julho, quando os volumes mensais passaram consistentemente da casa das 50 mil toneladas. A Epagri/Cepa aponta que esse movimento deve avançar até novembro, período em que a demanda das agroindústrias de aves, suínos e bovinos segue aquecida.
Os dados mensais ilustram essa escalada. De outubro de 2024 a outubro de 2025, as importações variaram de mínimas próximas a 3,4 mil toneladas (março/25) a máximas superiores a 63 mil toneladas (setembro/25). Nesse intervalo, meses como junho, julho e agosto concentraram forte entrada do cereal, acompanhados de receitas que oscilaram entre US$ 7,4 milhões e US$ 11,2 milhões.
Exportações crescem apesar do déficit interno
Em um cenário aparentemente contraditório, o estado, que possui déficit anual estimado em 6 milhões de toneladas de milho para suprir seu grande parque agroindustrial, também ampliou as exportações do grão em 2025.
Até outubro, Santa Catarina embarcou 130,1 mil toneladas, um salto de 243,9% em relação ao mesmo período de 2024. O valor exportado também chamou atenção: US$ 30,71 milhões, alta de 282,33% na comparação anual.

Foto: Claudio Neves
Segundo a Epagri/Cepa, essa movimentação ocorre majoritariamente em regiões produtoras próximas aos portos catarinenses, onde os preços de exportação tornam-se mais competitivos que os do mercado interno, especialmente quando o câmbio favorece vendas externas ou quando há descompasso logístico entre oferta e demanda regional.
Essa dinâmica reforça um traço estrutural conhecido do agro catarinense: ao mesmo tempo em que é um dos maiores consumidores de milho do país, devido ao peso das cadeias de proteína animal, Santa Catarina não alcança autossuficiência e depende do cereal de outras regiões e países para abastecimento. A exportação pontual ocorre quando há excedentes regionais temporários, oportunidades comerciais ou vantagens logísticas.
Perspectivas
Com a entrada gradual da nova safra 2025/26 no estado e no Centro-Oeste brasileiro, a tendência é que os volumes importados se acomodem a partir do fim do ano. No entanto, o comportamento do câmbio, os preços internacionais e o resultado final da produção catarinense seguirão determinando a necessidade de compras externas — e, por outro lado, a competitividade das exportações.
Para a Epagri/Cepa, o quadro de 2025 reforça tanto a importância do milho como insumo estratégico para as cadeias de proteína animal quanto a vulnerabilidade decorrente da dependência externa e interestadual do cereal. Santa Catarina continua sendo um estado que importa para abastecer seu agro e exporta quando a lógica de mercado permite, um equilíbrio dinâmico que movimenta portos, indústrias e produtores ao longo de todo o ano.
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Brasil e Japão avançam em tratativas para ampliar comércio agro
Reunião entre Mapa e MAFF reforça pedido de auditoria japonesa para habilitar exportações de carne bovina e aprofunda cooperação técnica entre os países.

OMinistério da Agricultura e Pecuária (Mapa), representado pelo secretário de Comércio e Relações Internacionais, Luis Rua, realizou uma reunião bilateral com o vice-ministro internacional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Florestas (MAFF), Osamu Kubota, para fortalecer a agenda comercial entre os países e aprofundar o diálogo sobre temas da relação bilateral.
No encontro, a delegação brasileira apresentou as principais prioridades do Brasil, incluindo temas regulatórios e iniciativas de cooperação, e reiterou o pedido para o agendamento da auditoria japonesa necessária para a abertura do mercado para exportação de carne bovina brasileira. O Mapa também destacou avanços recentes no diálogo e reforçou os pontos considerados estratégicos para ampliar o fluxo comercial e aprimorar mecanismos de parceria.
Os representantes japoneses compartilharam seus interesses e expectativas, demonstrando disposição para intensificar o diálogo técnico e buscar convergência nas agendas de interesse mútuo.
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Bioinsumos colocam agro brasileiro na liderança da transição sustentável
Soluções biológicas reposicionam o agronegócio como força estratégica na agenda climática global.

A sustentabilidade como a conhecemos já não é suficiente. A nova fronteira da produção agrícola tem nome e propósito: agricultura sustentável, um modelo que revitaliza o solo, amplia a biodiversidade e aumenta a captura de carbono. Em destaque nas discussões da COP30, o tema reposiciona o agronegócio como parte da solução, consolidando-se como uma das estratégias mais promissoras para recuperação de agro-ecossistemas, captura de carbono e mitigação das mudanças climáticas.

Thiago Castro, Gerente de P&D da Koppert Brasil participa de painel na AgriZone, durante a COP30: “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida”
Atualmente, a agricultura e o uso da terra correspondem a 23% das emissões globais de gases do efeito, aproximadamente. Ao migrar para práticas sustentáveis, lavouras deixam de ser fontes de emissão e tornam-se sumidouros de carbono, “reservatórios” naturais que filtram o dióxido de carbono da atmosfera. “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida. E não tem como falar em vida no solo sem falar em controle biológico”, afirma o PhD em Entomologia com ênfase em Controle Biológico, Thiago Castro.
Segudo ele, ao introduzir um inimigo natural para combater uma praga, devolvemos ao ecossistema uma peça que faltava. “Isso fortalece a teia biológica, melhora a estrutura do solo, aumenta a disponibilidade de nutrientes e reduz a necessidade de intervenções agressivas. É a própria natureza trabalhando a nosso favor”, ressalta.
As soluções biológicas para a agricultura incluem produtos à base de micro e macroorganismos e extratos vegetais, sendo biodefensivos (para controle de pragas e doenças), bioativadores (que auxiliam na nutrição e saúde das plantas) e bioestimulantes (que melhoram a disponibilidade de nutrientes no solo).
Maior mercado mundial de bioinsumos
O Brasil é protagonista nesse campo: cerca de 61% dos produtores fazem uso regular de insumos biológicos agrícolas, uma taxa quatro vezes maior que a média global. Para a safra de 2025/26, o setor projeta um crescimento de 13% na adoção dessas tecnologias.
A vespa Trichogramma galloi e o fungo Beauveria bassiana (Cepa Esalq PL 63) são exemplos de macro e microrganismos amplamente utilizados nas culturas de cana-de-açúcar, soja, milho e algodão, para o controle de lagartas e mosca-branca, respectivamente. Esses agentes atuam nas pragas sem afetar polinizadores e organismos benéficos para o ecossistema.
Os impactos do manejo biológico são mensuráveis: maior porosidade do solo, retenção de água e nutrientes, menor erosão; menor dependência de fertilizantes e inseticidas sintéticos, diminuição na resistência de pragas; equilíbrio ecológico e estabilidade produtiva.
Entre as práticas sustentáveis que já fazem parte da rotina do agro brasileiro estão o uso de inoculantes e fungos benéficos, a rotação de culturas, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e o manejo biológico de pragas e doenças. Práticas que estimulam a vida no solo e o equilíbrio natural no campo. “Os produtores que adotam manejo biológico investem em seu maior ativo que é a terra”, salienta Castro, acrescentando: “O manejo biológico não é uma tendência, é uma necessidade do planeta, e a agricultura pode e deve ser o caminho para a regeneração ambiental, para esse equilíbrio que buscamos e precisamos”.



