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O uso da Bacitracina de zinco na produção de suínos: benefícios e segurança alimentar

Um antibiótico polipeptídico produzido a partir de culturas de Bacillus licheniformis. Os microrganismos sensíveis à bacitracina de zinco são, em sua maioria, bactérias Gram-positivas, sendo pouco ou nada ativa contra bactérias Gram-negativas.

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Foto: Shutterstock

Artigo escrito por Maria Carolina Gonçalves Toth Tonelli, Médica Veterinária e Gerente Suínos – MCassab Saúde e Nutrição Animal

A suinocultura brasileira vem crescendo a cada ano. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a produção nacional atingiu um recorde em 2023, com 5,16 milhões de toneladas, posicionando o Brasil como o 4º maior produtor global, atrás apenas de China, União Europeia e Estados Unidos. Esse crescimento é resultado da melhoria contínua do processo de produção, que abrange desde o desenvolvimento genético e controle sanitário até a nutrição, escolha de aditivos nutricionais e antimicrobianos adequados para a granja.

Antimicrobiano é definido, pela Organização Mundial da Saúde, como toda substância de origem natural, sintética ou semissintética que, em baixas concentrações, destrói ou inibe o crescimento de microrganismos, causando pouco ou nenhum dano ao organismo hospedeiro. Na suinocultura, os antimicrobianos são usados tanto no controle de infecções bacterianas quanto para melhorar o desempenho dos animais, sendo estes conhecidos como promotores de crescimento.

Os antibióticos melhoradores de desempenho são definidos como agentes antibióticos utilizados com o propósito de aumentar o ganho de peso diário ou a eficiência alimentar em animais produtores de alimentos. O uso de melhoradores de desempenho não é considerado uso veterinário para tratamentos de doenças infecciosas, pois são usadas baixas doses de moléculas permitidas pelo MAPA para esse fim, junto à ração. O uso de aditivos melhoradores de desempenho tem como objetivo aumentar as taxas de crescimento animal e a eficiência alimentar, enquanto reduz a mortalidade. Os antibióticos melhoradores de desempenho são os principais aditivos usados na alimentação animal e estão conectados a melhorias na produtividade animal.

De um modo geral, os chamados melhoradores de desempenho reduzem a carga bacteriana total e aumentam a absorção de nutrientes, resultando em um acréscimo diário de ganho de peso e, consequentemente, uma melhor conversão alimentar. Eles também favorecem o crescimento de alguns microrganismos e previnem a possível multiplicação de bactérias patogênicas no trato gastrointestinal. Acredita-se que a eficiência alimentar ocorra devido à redução da carga bacteriana entérica, o que diminui o consumo de energia, tornando essa energia disponível para o crescimento animal.

Uso questionado

Os antimicrobianos na produção de suínos, quando usados com responsabilidade técnica, são grandes aliados no controle de patógenos, melhoria do bem-estar dos suínos, redução da mortalidade e melhoria da conversão alimentar.

Devido ao surgimento de bactérias super-resistentes e à escassez de novas moléculas para uso na medicina humana e veterinária, o uso de antimicrobianos na produção animal vem sendo questionado.

Desde 2010, a Aliança Tripartite, formada pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), trabalha para mitigar os riscos na interface da saúde pública, animal e ambiental sob a perspectiva de Saúde Única. Eles implementaram planos nacionais de controle em sete países da América do Sul, incluindo o Brasil, com o Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes (PNCRC/Animal). Este plano prevê o monitoramento sistemático de resíduos químicos de preocupação de saúde pública em animais encaminhados para abate e processamento nos estabelecimentos registrados no DIPOA. O escopo de análise atual inclui uma ampla gama de medicamentos veterinários aprovados e não aprovados, agrotóxicos e contaminantes ambientais e industriais. Assim, o PNCRC proporciona ao consumidor final total segurança alimentar.

Países da União Europeia especificaram legislações que proíbem o uso de antibióticos como aditivos promotores de crescimento. Em contrapartida, nas Américas, Ásia, Extremo Oriente e Oceania, a maioria dos países ainda usa antimicrobianos para essa finalidade. Em uma análise realizada pela OMSA, que reúne informações de 93 países referentes ao ano de 2016, o consumo global total de antimicrobianos em animais foi de 92.269 toneladas, distribuídos numa média de 144,39 mg/kg.

Impacto

A experiência de outros países que já baniram o uso de promotores de crescimento, associada a diversos estudos ao redor do mundo, demonstra que a retirada de melhoradores de desempenho na produção de suínos traz um grande impacto econômico para a atividade. Alguns estudos estimaram o impacto econômico potencial da proibição dos melhoradores de desempenho na indústria de suínos dos EUA, com estimativas variando do aumento de custos por suíno de USD$ 0,59 a USD$ 4,50. Essa grande variação também foi observada nos estudos conduzidos na Dinamarca, onde se estimou um aumento de EUR$ 1,04 por suíno produzido.

Estudos realizados em países que impuseram restrições ao uso de aditivos têm revelado um aumento na incidência, principalmente, de doenças entéricas, como enterite necrótica. Em decorrência, houve necessidade de aumentar a quantidade de antimicrobianos usados terapeuticamente.

Estudo no Brasil

No Brasil foi realizado um estudo utilizando meta-análise e modelagem no Laboratório de Ensino Zootécnico da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com o objetivo de estimar o impacto econômico e de desempenho da retirada dos melhoradores de desempenho das dietas de suínos. A base de dados continha 81 artigos científicos, englobando 103 experimentos e totalizando 42.923 suínos. Os resultados mostraram uma clara conexão entre a suplementação de antibióticos melhoradores de desempenho e o melhor desempenho dos suínos. O estudo concluiu que o impacto econômico da retirada dos promotores de crescimento foi de US$ 1,83 por animal e US$ 79.258.694 por ano para a indústria suína brasileira.

Neste mesmo estudo, a pesquisa evidenciou o efeito do uso da bacitracina de zinco como melhorador de desempenho:

Bacitracina de zinco

No Brasil, um dos melhoradores de desempenho mais utilizados na suinocultura é a bacitracina de zinco, devido à grande segurança conferida à molécula. A bacitracina de zinco é um antibiótico polipeptídico produzido a partir de culturas de Bacillus licheniformis. Os microrganismos sensíveis à bacitracina de zinco são, em sua maioria, bactérias Gram-positivas, sendo pouco ou nada ativa contra bactérias Gram-negativas.

A bacitracina de zinco não é absorvida quando administrada por via oral devido ao seu elevado peso molecular, que dificulta esse tipo de absorção. Dessa maneira, sua atuação sobre as bactérias ocorre apenas dentro do trato gastrointestinal, durante o processo de digestão.

Outra pesquisa examinou a distribuição e a excreção de bacitracina de zinco após administração oral em suínos, mostrando que 95% da quantidade administrada foi excretada nas fezes, com apenas quantidades mínimas detectadas no sangue e na urina. A bacitracina de zinco também não é utilizada por via parenteral, o que limita seu uso na medicina humana apenas ao uso tópico.

A bacitracina de zinco inibe a desfosforilação do pirofosfato lipídico e, na ausência do transportador, interrompe a síntese da parede celular que recobre a membrana citoplasmática da bactéria. Como essa parede é primordial para a sobrevivência da bactéria, sua interrupção leva à morte da bactéria. Devido a esse modo de ação diferenciado de outras classes antimicrobianas, apesar de a bacitracina de zinco ter sido descoberta em 1945, não existem relatos na medicina humana e veterinária que demonstrem o aumento da resistência bacteriana a esse antibiótico.

A maior preocupação por parte do mercado consumidor e das organizações mundiais que trabalham pelo uso responsável e pela redução do uso de antimicrobianos é o desenvolvimento de resistência bacteriana, principalmente entre bactérias Gram-negativas, como E. coli e Salmonella sp., mais comumente encontradas como contaminantes em carcaças.

No entanto, como relatado anteriormente, a bacitracina de zinco não tem atuação sobre bactérias Gram-negativas, não oferecendo risco de transferência de resistência para essa classe bacteriana. Além disso, as bacitracinas não foram classificadas como “criticamente importantes” ou “altamente importantes” para a saúde humana pela OMS (Organização Mundial da Saúde), FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), OIE (Organização Mundial da Saúde Animal) e FDA (Food and Drug Administration).

O uso responsável dos antimicrobianos, bem como o controle e a fiscalização para mitigar todo e qualquer risco de desenvolvimento de resistência bacteriana, é do interesse de todos para a manutenção dos conceitos da Saúde Única. O uso de antimicrobianos na produção de suínos continua sendo uma ferramenta de extrema importância para a manutenção da sanidade, bem-estar animal, boa produtividade e eficiência econômica do setor.

As referências bibliográficas estão com a autora. Contato: gabriella.freschi@mcassab.com.br.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo na suinocultura acesse a versão digital de Suínos clicando aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural com Maria Carolina Gonçalves Toth Tonelli

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Swine Day 2025 reforça integração entre ciência e indústria na suinocultura

Com 180 participantes, painéis técnicos, pré-evento sanitário e palestras internacionais, encontro promoveu troca qualificada e aproximação entre universidade e setor produtivo.

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Foto: Divulgação/Swine Day

Realizado nos dias 12 e 13 de novembro, na Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Swine Day chegou à sua 9ª edição reunindo 180 participantes, 23 empresas apoiadoras, quatro painéis, 29 apresentações orais e oito espaços de discussão. O encontro reafirmou sua vocação de aproximar pesquisa científica e indústria suinícola, promovendo ambiente de troca técnica e atualização profissional.

O evento também contou com um pré-evento dedicado exclusivamente aos desafios sanitários causados por Mycoplasma hyopneumoniae na suinocultura mundial, com quatro apresentações orais, uma mesa-redonda e 2 espaços de debate direcionados ao tema.

As pesquisas apresentadas foram organizadas em quatro painéis temáticos: UFRGS–ISU, Sanidade, Nutrição e Saúde e Produção e Reprodução. Cada sessão contou com momentos de discussão, reforçando a proposta do Swine Day de estimular o diálogo técnico entre academia, empresas e profissionais da cadeia produtiva.

Entre os destaques da programação estiveram as palestras âncoras. A primeira, ministrada pelo Daniel Linhares, apresentou “Estratégias epidemiológicas para monitoria sanitária em rebanhos suínos: metodologias utilizadas nos EUA que poderiam ser aplicadas no Brasil”. Já o Gustavo Silva abordou “Ferramentas de análise de dados aplicadas à tomada de decisão na indústria de suínos”.

Durante o encerramento, a comissão organizadora agradeceu a participação dos presentes e anunciou que a próxima edição do Swine Day será realizada nos dias 11 e 12 de novembro de 2026.

Com elevado nível técnico, forte participação institucional e apoio do setor privado, o Swine Day 2025 foi considerado pela organização um sucesso, consolidando sua importância como espaço de conexão entre ciência e indústria dentro da suinocultura brasileira.

Fonte: O Presente Rural
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Preços do suíno vivo seguem estáveis e novembro registra avanço nas principais praças

Indicador Cepea/ESALQ mostra mercado firme com altas moderadas no mês e estabilidade diária em estados líderes da suinocultura.

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Os preços do suíno vivo medidos pelo Indicador Cepea/Esalq registraram estabilidade na maioria das praças acompanhadas na terça-feira (18). Apesar do cenário de calmaria diária, o mês ainda apresenta variações positivas, refletindo um mercado que segue firme na demanda e no escoamento da produção.

Em Minas Gerais, o valor médio se manteve em R$ 8,44/kg, sem alteração no dia e com avanço mensal de 2,55%, o maior entre os estados analisados. No Paraná, o preço ficou em R$ 8,45/kg, registrando leve alta diária de 0,24% e acumulando 1,20% no mês.

No Rio Grande do Sul, o indicador permaneceu estável em R$ 8,37/kg, com crescimento mensal de 1,09%. Santa Catarina, tradicional referência na suinocultura, manteve o preço em R$ 8,25/kg, repetindo estabilidade diária e mensal.

Em São Paulo, o valor do suíno vivo ficou em R$ 8,81/kg, sem variação no dia e com leve alta de 0,46% no acumulado de novembro.

Os dados são do Cepea, que monitora diariamente o comportamento do mercado e evidencia, neste momento, um setor de suínos com preços firmes, porém com oscilações moderadas entre as principais regiões produtoras.

Fonte: Assessoria Cepea
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Produção de suínos avança e exportações seguem perto de recorde

Mercado interno reage bem ao aumento da oferta, enquanto embarques permanecem em níveis históricos e sustentam margens da suinocultura.

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Foto: Jonathan Campos

A produção de suínos mantém trajetória de crescimento, impulsionada por abates maiores, carcaças mais pesadas e margens favoráveis, de acordo com dados do Itaú BBA Agro. Embora o volume disponibilizado ao mercado interno esteja maior, a demanda doméstica tem respondido positivamente, garantindo firmeza nos preços mesmo diante da ampliação da oferta.

Em outubro, o preço do suíno vivo registrou leve retração, com queda de 4% na média ponderada da Região Sul e de Minas Gerais. Apesar disso, o spread da suinocultura sofreu apenas uma redução marginal e segue em patamar sólido.

Foto: Shutterstock

Dados do IBGE apontam que os abates cresceram 6,1% no terceiro trimestre de 2025 frente ao mesmo período de 2024, após altas de 2,3% e 2,6% nos trimestres anteriores. Com carcaças mais pesadas neste ano, a produção de carne suína avançou ainda mais, chegando a 8,1%, reflexo direto das boas margens, favorecidas por custos de produção controlados.

Do lado da demanda, o mercado externo tem sido um importante aliado na absorção do aumento da oferta. Em outubro, as exportações somaram 125,7 mil toneladas in natura, o segundo maior volume da história, atrás apenas do mês anterior, e 8% acima de outubro de 2024. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, o crescimento chega a 13,5%.

O preço médio em dólares recuou 1,2%, mas o impacto sobre o spread de exportação foi mínimo. O indicador segue próximo de 43%, acima da média histórica de dez anos (40%), impulsionado pela desvalorização cambial, que atenuou a queda em reais.

Mesmo com as exportações caminhando para superar o recorde histórico de 2024, a oferta interna de carne suína está maior em 2025 em função do aumento da produção. Ainda assim, o mercado doméstico tem absorvido bem esse volume adicional, mantendo os preços firmes e reforçando o bom momento do setor.

Fonte: O Presente Rural com informações Itaú BBA Agro
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