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Suínos / Peixes

O que há de novo sobre diarreias neonatais em leitões? Prevalência e estratégia preventiva para Clostridioides difficile

Apesar da importância do patógeno, não existem medidas específicas para a prevenção e controle da infecção por C. difficile, por isso a vacinação é a melhor medida a ser tomada.

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Foto: Arquivo/OP Rural

Diarreias neonatais sempre foram preocupantes para a suinocultura por gerar perdas por mortalidade, diminuir o ganho de peso ao desmame e aumentar o uso de antibióticos. Agentes infecciosos são amplamente conhecidos por ocasionar as diarreias, e eles podem estar associados aos fatores de risco ambientais, como falta de vazio sanitário, excesso de matéria orgânica, umidade, calor, uso de antibióticos como preventivo em leitões e na dieta de matrizes, ingestão de água contaminada, micotoxinas, baixa disponibilidade de colostro e de leite pela fêmea, entre outros.

Os principais patógenos envolvidos nas diarreias em leitões lactantes podem ser bacterianos: Escherichia coli, Clostridium perfringens tipos A e C, Clostridioides difficile; virais: rotavírus, Senecavírus A; e parasitas: Isospora suis e Cryptosporidium spp.

Nos últimos anos Clostridioides difficile (C. difficile) está adquirindo significativa importância na suinocultura devido a associação deste agente com as diarreias em leitões. C. difficile é uma bactéria gram positiva, formato de bastonete, anaeróbia estrita, formadora de esporos, encontrada no meio ambiente e no trato intestinal de vários mamíferos, pássaros e répteis. Este agente é responsável por causar uma colite pseudomembranosa e diarreia associada ao uso de antibióticos em humanos, cavalos e suínos.

Nos Estados Unidos, C. difficile foi detectado como causador de mais de 50% das diarreias neonatais em leitões na primeira semana de vida e pela morte de até 10% dos leitões nas maternidades. Em outro estudo americano, C. difficile foi considerado o principal e único agente etiológico em 35% das diarreias neonatais, além de ser encontrado em associação com outros enteropatógenos em 25% de outros casos de enterite.

Detecções no Brasil 

Atualmente, Clostridium difficile tem sido relatado como o principal causador de colite neonatal em suínos em todo mundo. Recentemente, em 2021, no Brasil, foram avaliadas 43 granjas (103 mil matrizes) sediadas em 8 estados (PR, SC, RS, MG, SP, GO, MA, CE) com casuística clínica de enterite em leitões do nascimento aos 12 dias de idade, em que C. difficile foi detectado e associado ao quadro clínico de diarreia em 72% (31/43) das granjas.

Nestas granjas, havia co-infecção do C. difficile com E. coli em 6,4% (2/31) e com Clostridium perfringens tipo A em 16,1% (5/31), sendo que outros patógenos não foram detectados nas amostras como causadores da diarreia. Além disto, 48,3% (15/31) das granjas diagnosticadas com C. difficile apresentavam uso preventivo de antibiótico em matrizes ou leitões, e 77,4% (24/31) relataram excesso de micotoxinas na dieta da fêmea gestante/lactante sugerindo que os manejos ambientais/nutricionais podem contribuir para a enterite por este agente.

A maioria dos isolados de C. difficile produzem dois tipos de toxinas que danificam o epitélio intestinal do leitão: toxina A, uma enterotoxina, e toxina B, uma citotoxina. Além dessas duas principais toxinas, existe uma outra toxina chamada C. difficile transferase (CDT), que é codificada por dois genes separados, designados cdtA e cdtB e aumenta a aderência e colonização da bactéria no intestino do leitão.

Ação no suíno 

A doença causada pelo C. difficile pode ser associada ao uso de antibióticos, que levam a uma alteração na microbiota entérica e oportunizam a colonização pelo agente. Quando ocorrem alterações na microbiota, bactérias resistentes a antimicrobianos podem se multiplicar, inibindo o crescimento das bactérias benéficas ao trato intestinal e favorecendo o crescimento de bactérias patogênicas, como o C. difficile.

Esporos de C. difficile são eliminados nas fezes das matrizes lactentes, e podem ser ingeridos pelos leitões, sendo que estes esporos são resistentes ao pH ácido do estômago e iniciam o processo de germinação no duodeno, com auxílio de alguns ácidos biliares. C. difficile toxigênicos ao chegarem no cólon se aderem e colonizam o epitélio e produzem as toxinas TcdA, TcdB e, eventualmente, CDT. A toxina CDT é internalizada e causa a protrusão de microtúbulos celulares, que facilita a adesão de outras células toxigênicas. As toxinas TcdA e TcdB, quando internalizadas, causam ruptura das junções, arredondamento e apoptose celular. Os enterócitos infectados produzem mediadores inflamatórios (p. ex. IL-1ß, IL-18), que são produzidos com maior intensidade por mastócitos e macrófagos após com a ruptura da barreira celular.

Com isso, o ocorre colite e edema de mesocolón causado pelo aumento da permeabilidade vascular, recrutam uma grande quantidade de neutrófilos e extravasamento de líquido vascular, intensificado pela presença das toxinas na lâmina própria. A diarreia é resultado da má absorção de líquidos causada pelo dano ao epitélio e extravasamento de líquidos para o lúmen.

Sinais clínicos 

Figura 1 – Leitão de 5 dias de vida: acentuado edema de mesocólon (setas azuis) – Foto: Divulgação/Hipra

Os principais sinais clínicos em leitões acometidos por C. difficile são dispneia moderada, distensão abdominal e edema escrotal. Além disto, pode ocorrer diarreia, ascite e hidrotórax e a doença é caracterizada por altas morbidade e mortalidade. As lesões macroscópicas observadas na autopsia são enterite inflamatória, edema de mesocólon (Figura 1) e com auxílio da histopatologia pode-se observar na microscopia acúmulo de neutrófilos e fibrina na lâmina própria.

 

Diagnóstico e prevenção 

O diagnóstico pode ser realizado pelo isolamento das colônias do C. difficille, contudo este processo é demorado, trabalhoso e difícil de ser realizado e ainda é necessário pesquisar as toxinas para diferenciar as cepas toxigênicas das não toxigênicas. As toxinas TcdA, TcdB são as principais responsáveis pelo desencadeamento da doença e a detecção delas nas amostras fecais podem sugerir que C. difficile esteja proliferando no intestino e possa estar associado ao desafio entérico.  A associação desta técnica com a histopatologia é importante para excluir outros agentes como causador da diarreia, visto que as toxinas nas fezes podem ser encontradas em animais saudáveis.

Apesar da importância do patógeno, não existem medidas específicas para a prevenção e controle da infecção por C. difficile, por isso a vacinação é a melhor medida a ser tomada. Para mudar esse cenário, estudos têm focado em possíveis estratégias preventivas, incluindo utilização de vacinas e melhoradores de microbiota entérica, como probióticos.

Em relação à vacina, é interessante salientar a importância de ela proteger contra as toxinas A e B do C. difficile, visto que estas toxinas são as principais responsáveis pelo desencadeamento da doença no leitão. Desta forma, vacinas contendo apenas o agente, como vacinas autógenas, podem não ser tão eficazes quanto ao uso de vacinas contendo toxóide A e B.

Estudo com dez mil matrizes 

Recentemente, no Brasil, avaliou-se o uso de vacina contendo toxóide A e B do C. difficile em matrizes gestantes em granja com 10 mil matrizes, previamente diagnosticada com este agente. Neste estudo, a incidência de diarreia em leitões reduziu de 8% para 2% após a vacinação, a mortalidade total dos leitões reduziu de 7,98% para 5,68% e houve redução de 84% no uso de antibióticos injetáveis na fase de maternidade. Além disto, os leitões filhos de fêmeas vacinadas tiveram melhor uniformidade ao desmame e maior ganho de peso médio diário na fase de maternidade, que foi de 250 gramas, comparado ao grupo não vacinado que foi de 233 gramas.

C. difficile está presente nas granjas brasileiras e de todo mundo, ocasionando diarreia, mortalidade e perda de desempenho de leitões e uso excessivo de antibióticos. Neste cenário, a vacinação contendo toxóide A e B do C. difficile em fêmeas gestantes tem se mostrado eficaz no controle de C. difficile e na redução de perdas ocasionadas por este agente em granjas brasileiras.

As referências bibliográficas estão com as autoras. Contato via: tatiana.souza@hipra.com

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor suinícola e da piscicultura acesse gratuitamente a edição digital Suínos e Peixes.

Fonte: Por Tatiana Carolina Gomes Dutra de Souza, médica-veterinária, PhD em Ciência Animal e gerente de Serviços Técnicos Suínos da Hipra Brasil; e Daniele Araújo Pereira, médica-veterinária, PhD em Clínica de Suínos e coordenadora técnica Regional Suínos da Hipra Brasil

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Brasil conquista dois novos mercados para pescados na Índia

Agronegócio brasileiro alcançou a 30ª abertura comercial internacional apenas neste ano. Nos últimos 16 meses, foram abertos 108 novos mercados em 50 países.

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Foto: Shutterstock

A missão do ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, à Índia em novembro do ano passado segue gerando resultados positivos para o Brasil. Após encontros com Shri Parshottam Rupala, ministro da Pesca, Pecuária e Lácteos da Índia e Kamala V Rao, CEO da Autoridade de Segurança dos Alimentos da Índia, o Brasil obteve, na última sexta-feira (19), a confirmação da abertura de dois novos mercados: pescado de cultivo (aquacultura) e pescado de captura (pesca extrativa).

O anúncio se soma a expansões recentes da pauta agrícola do Brasil para o país asiático. Nos últimos 12 meses, o governo indiano autorizou a importação de açaí em pó e de suco de açaí brasileiros.

Em 2023, a Índia foi o 12º principal destino das exportações agrícolas brasileiras, com vendas de US$ 2,9 bilhões. Açúcar e óleo de soja estiveram entre os produtos mais comercializados.

Segundo o Agrostat (Estatísticas de Comércio Exterior do Agronegócio Brasileiro), nos três primeiros meses deste ano, o Brasil exportou mais de 12 mil toneladas de pescado para cerca de 90 países, gerando receitas de US$ 193 milhões. Esse valor mostra um aumento de mais de 160% em relação ao mesmo período do ano anterior, quando as vendas foram de US$ 74 milhões.

“Seguimos comprometidos em ampliar a presença dos produtos agrícolas brasileiros nas prateleiras do mundo. Essa estratégia não apenas abre mais oportunidades internacionais para nossos produtos e demonstra a confiança no nosso sistema de controle sanitário, mas também fortalece a economia interna. Com as recentes aberturas comerciais estamos gerando mais empregos e elevando a renda dos produtores brasileiros”, ressaltou o secretário de Comércio e Relações Internacionais do Mapa, Roberto Perosa.

Com estes novos mercados, o agronegócio brasileiro alcançou a 30ª abertura comercial internacional apenas neste ano. Nos últimos 16 meses, foram abertos 108 novos mercados em 50 países.

Fonte: Assessoria Mapa
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Peste Suína Clássica no Piauí acende alerta

ACCS pede atenção máxima na segurança sanitária dentro e fora das granjas

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Presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), Losivanio Luiz de Lorenzi - Foto e texto: Assessoria

A situação da peste suína clássica (PSC) no Piauí é motivo de preocupação para a indústria de suinocultura. A Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) registrou focos da doença em uma criação de porcos no estado, e as investigações estão em andamento para identificar ligações epidemiológicas. O Piauí não faz parte da zona livre de PSC do Brasil, o que significa que há restrições de circulação de animais e produtos entre essa zona e a zona livre da doença.

Conforme informações preliminares, 60 animais foram considerados suscetíveis à doença, com 24 casos confirmados, 14 mortes e três suínos abatidos. É importante ressaltar que a região Sul do Brasil, onde está concentrada a produção comercial de suínos, é considerada livre da doença. Portanto, não há risco para o consumo e exportações da proteína suína, apesar da ocorrência no Piauí.

 

Posicionamento da ACCS

O presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), Losivanio Luiz de Lorenzi, expressou preocupação com a situação. Ele destacou que o Piauí já registrou vários casos de PSC, resultando no sacrifício de mais de 4.300 suínos. Com uma população de suínos próxima a dois milhões de cabeças e mais de 90 mil propriedades, a preocupação é compreensível.

Uma portaria de 2018 estabelece cuidados rigorosos para quem transporta suínos para fora do estado, incluindo a necessidade de comprovar a aptidão sanitária do caminhão e minimizar os riscos de contaminação.

Losivanio também ressaltou que a preocupação não se limita aos caminhões que transportam suínos diretamente. Muitos caminhões, especialmente os relacionados ao agronegócio, transportam produtos diversos e podem não seguir os mesmos protocolos de biossegurança. Portanto, é essencial que os produtores mantenham um controle rigoroso dentro de suas propriedades rurais para evitar problemas em Santa Catarina.

A suinocultura enfrentou três anos de crise na atividade, e preservar a condição sanitária é fundamental para o setor. “A Associação Catarinense de Criadores de Suínos pede que todos os produtores tomem as medidas necessárias para evitar a entrada de pessoas não autorizadas em suas propriedades e aquel a que forem fazer assistência em visitas técnicas, usem Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para minimizar os riscos de contaminação. Assim, a suinocultura poderá continuar prosperando no estado, com a esperança de uma situação mais favorável no futuro”, reitera Losivanio.

Fonte: ACCS
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Levantamento da Acsurs estima quantidade de matrizes suínas no Rio Grande do Sul 

Resultado indica um aumento de 5% em comparação com o ano de 2023.

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Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Com o objetivo de mapear melhor a produção suinícola, a Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs) realizou novamente o levantamento da quantidade de matrizes suínas no estado gaúcho.

As informações de suinocultores independentes, suinocultores independentes com parceria agropecuária entre produtores, cooperativas e agroindústrias foram coletadas pela equipe da entidade, que neste ano aperfeiçoou a metodologia de pesquisa.

Através do levantamento, estima-se que no Rio Grande do Sul existam 388.923 matrizes suínas em todos os sistemas de produção. Em comparação com o ano de 2023, o rebanho teve um aumento de 5%.

O presidente da entidade, Valdecir Luis Folador, analisa cenário de forma positiva, mesmo com a instabilidade no mercado registrada ainda no ano passado. “Em 2023, tivemos suinocultores independentes e cooperativas que encerraram suas produções. Apesar disso, a produção foi absorvida por outros sistemas e ampliada em outras regiões produtoras, principalmente nos municípios de Seberi, Três Passos, Frederico Westphalen e Santa Rosa”, explica.

O levantamento, assim como outros dados do setor coletados pela entidade, está disponível aqui.

Fonte: Assessoria Acsurs
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