Avicultura Saúde Animal
O que fazer quando a salmonella se torna uma realidade no plantel?
Além do conhecimento dos vírus e bactérias que podem afetar a criação, saber como evitar esses patógenos é de extrema importância

Artigo escrito por Rafael Soares, médico veterinário, mestrando em Produção Animal e coordenador Técnico da Divisão Animal da BTA Aditivos
A primeira preocupação dos criadores de frangos de corte, antes mesmo do alojamento, é combater os problemas sanitários do lote futuro. Além do conhecimento dos vírus e bactérias que podem afetar a criação, saber como evitar esses patógenos é de extrema importância.
A Salmonelose é uma das principais doenças das aves, causada por bactérias de um gênero de duas espécies, a Salmonella bongori e a Salmonella entérica. Esta última apresenta seis subespécies: salamae, arizonae, diarizonae, indica, houtenae e enterica.
Dos mais de 1.500 sorovares da espécie entérica está a Salmonella Gallinarum (Tifo aviária) que causa anemia e deixa a ave com cristas e barbelas pálidas ou arroxeadas e penas arrepiadas. Além disso provoca apatia, anorexia, diarreia amarelo-esverdeada e febre. Já a Salmonella Pullorum (Pulorose) pode apresentar sinais subclínicos como diarreia, desidratação, queda de consumo de ração, perda de peso e diminuição da produção de ovos. Tanto a S. Gallinarum como a S. Pullorum causam doenças clínicas nas aves, mas sem impacto sobre seres humanos.
A subespécie Enterica ainda tem maior importância para a saúde pública. Isso porque a Salmonella enteritidis e a Salmonella typhimurium, presentes nesta subespécie, estão entre as doenças mais prevalentes em aves e que podem contaminar os humanos caso haja o consumo de alimentos de origem animal. Os sintomas mais comuns são diarreia, vômito, dor abdominal, cansaço e perda de apetite nas pessoas.
Barreiras para evitar contaminação externa
Ciente deste desafio, o produtor deve estar municiado de barreiras para diminuir a presença de salmonella atuando já no momento do recebimento de pintinhos que devem estar livres de salmonelas. A garantia da sanidade destas aves vai depender de como está o processo de biosseguridade tanto nas granjas matrizeiras como no incubatório.

O primeiro ponto a ser avaliado pelos produtores é o isolamento das granjas. O ideal é ter um único portão de acesso, evitando desta forma, o livre trânsito de pessoas, veículos e animais no interior do núcleo de produção. As construções devem ser sempre protegidas por barreiras naturais e físicas, tendo o conhecimento da direção do vento no momento da construção. Isso é importante para que haja diminuição de contaminações por vias aéreas.
O cuidado com o ambiente de produção é muito importante. Para isso, é preciso observar as ações de higienização no local. Logo após a saída do último lote é preciso entrar com a limpeza e a desinfecção das instalações, que visam diminuir os riscos de infecções e realizar a quebra do ciclo de agentes infecciosos. Nesta fase, a limpeza é tão importante quanto a desinfecção. A remoção de detritos e gorduras dos lotes passados é imprescindível para o sucesso da desinfecção.
É importante destacar que o vazio sanitário ideal é de, no mínimo, 15 dias após concluídos todos os procedimentos de limpeza e desinfecção. Um controle da biosseguridade adequado nas granjas deve abranger o controle de tráfego e fluxo, ou seja, a observação de tudo que venha de fora e que entrará na granja para eliminar todo risco de contaminação.
O programa de vacinação é outro ponto de atenção. É necessária a elaboração de um programa de vacinação com foco no controle dos desafios sanitários da região e basear-se em resultados técnicos e laboratoriais. A vacinação deve dar proteção suficiente contra doenças intercorrentes na região, além da vacinação obrigatória em pintos de um dia contra a doença de Marek.
A vacinação nos programas de controle de S.enteritidis tem um grande efeito para redução da contaminação dentro dos lotes de matrizes e contribui eficazmente para eliminar a transmissão vertical. Para o êxito da vacinação é necessário:
- Seguir o cronograma proposto
- Respeitar os prazos de validade das vacinas, as vias de aplicação e as diluições indicadas
- Realizar treinamento sistemático e educação contínua da equipe sobre boas práticas de vacinação
- Manusear e conservar as vacinas de forma adequada
- Manter a qualidade da água na vacinação (T °C e pH)
- Limpar e desinfetar os utensílios utilizados pelos vacinadores
O programa de biosseguridade precisa ser averiguado e monitorado para que ocorra a identificação dos pontos críticos e dos níveis de contaminação. Assim, será possível estabelecer as estratégias de controle e as monitorias que devem ser feitas nos animais, no ambiente e nos insumos que são utilizados no sistema de produção. A água e as rações oferecidas as aves devem ser enviadas para laboratórios de patologia animal credenciados pelo Ministério da Agricultura e do Abastecimento (MAPA), com o acompanhamento do Médico Veterinário Oficial do Ministério da Agricultura. O principal objetivo desta análise deve ser a identificação de Salmonella spp. e outras enterobactérias patogênicas.
Além das monitorias oficiais são utilizados métodos de swabs estéreis e plaqueamentos para avaliação dos desafios e avaliação da eficiência de um programa de limpeza e desinfecção. Esses monitoramentos podem analisar a carga microbiológica de enterobactérias e presença de salmonela. Com esses resultados é possível fazer um plano de ação para erradicação dessas doenças.
A aplicação de programas de 5S e auditorias são fundamentais para checar o programa de biosseguridade e, se existirem erros, agir rapidamente realizando planos de ações e ajustes nos procedimentos. O 5S auxilia na obtenção de padrões operacionais que contribuem para maior eficiência e excelência na realização das tarefas de biosseguridade. Aliado a isso, as auditorias constantes, com uma frequência mensal ou bimestral, permitem identificar quais os processos ou pontos que necessitam de ajustes ou correções.
A educação continuada deve fazer da produção desde o momento da admissão dos funcionários. É indicada a aplicação das instruções já no processo de integração, mostrando uma visão geral das políticas da empresa, englobando neste momento, a importância da biosseguridade para o setor de produção avícola.
Aditivos para o controle da salmonella
A ração utilizada na granja também pode servir como meio de disseminação de contaminação, pois possui em sua formulação matérias-primas de origem animal e vegetal que servem de atrativos para aves e roedores intrusos, que podem trazer contaminações externas para a fábrica, e consequentemente, para a ração. Por este motivo, atualmente as fábricas de ração utilizam a associação de três pontos principais para controle de contaminantes em sua produção e controle do produto final: através de sistemas de segurança alimentar (BPF e APPCC), tratamentos térmicos como extrusão e peletização (atendendo os parâmetros de umidade, temperatura e tempo de condicionamento) e utilização de aditivos antissalmonelas.
Os aditivos mais utilizados nas formulações de rações para o controle microbiológico são os ácidos orgânicos, sais orgânicos e o formaldeído, que atuam na diminuição do pH intracelular. Com isso, podem causar alteração na permeabilidade da membrana microbiana com o bloqueio do substrato do sistema de transporte de elétrons, eliminando bactérias patogênicas como a Salmonella. A ação dos ácidos orgânicos nas aves ocorre de diversas formas, como na alteração da microbiota intestinal por ação bactericida ou bacteriostática, na melhora das atividades das enzimas digestivas e na redução do pH do trato gastrintestinal que reduz a presença de Salmonella no papo e no ceco. Observa-se ainda um benefício na flora intestinal que leva ao equilíbrio da imunidade, onde os nutrientes e a energia da fórmula da ração serão aproveitadas pelas aves, levando a melhora dos índices zootécnicos.
Treinamentos e planos de contingência
É necessário oferecer treinamentos aos funcionários das normas de biosseguridade pertinentes às suas atividades. E outras atualizações também precisam ser repassadas com periodicidade semestral no tocante às normas de biosseguridade, de acordo com a matriz de treinamento. Quando identificada uma oportunidade ou necessidade o ideal é realizar treinamentos extras com o intuito de oferecer capacitação adicional aos interessados.
É indicado que as empresas avícolas onde o produtor entrega seu produto tenham um plano de contingência para as possíveis emergências nos lotes. Este plano deve contemplar procedimentos extras a serem realizados, até que se tenham os resultados de laboratório se o lote está positivo ou negativo. Com este plano, pode-se bloquear a disseminação da doença para outros lotes até que se elimine as aves, se for o caso.
Em caso de positividade em qualquer uma das análises, oficial ou de rotina da empresa, devem ser adotadas medidas mínimas que incluem:
- Isolamento do galpão
- Isolamento dos funcionários por aviário
- Controle rígido de tráfego e fluxo de veículos e caminhões (deve ser sempre o último a entregar insumos)
- Fluxo de pessoas deve ser proibido
- Calçados e roupas devem ser lavados e desinfectados diariamente
- Adotar a inclusão de pedilúvios extras
- Controle especial de destino das aves mortas
A prevenção e o controle sanitário são condições fundamentais para diminuir os problemas sanitários nos lotes, tendo em vista que a salmonelose é um desafio para a saúde pública e para a indústria avícola. Portanto, colocar em prática todos os procedimentos de biosseguridade nas granjas é essencial para que se tenha maiores garantias de efetividade.
Outras notícias você encontra na edição de Aves de abril/maio de 2021 ou online.

Avicultura
Produção brasileira de ovos para consumo desacelera no terceiro trimestre
Levantamento do IBGE e Cepea indica leve queda trimestral na oferta porém aponta recorde histórico no acumulado de 2025 com impacto direto nos preços pagos ao produtor.

Dados do IBGE analisados pelo Cepea mostram que, entre julho e setembro, foram produzidas 1,02 bilhão de dúzias de ovos para consumo, queda de 1,4% frente ao trimestre anterior, mas alta de 2,5% na comparação com igual intervalo de 2024.
No acumulado do ano, a produção nacional soma 3,04 bilhões de dúzias, volume recorde para o período de toda a série histórica do Instituto, iniciada em 2012. Assim, pesquisadores do Cepea explicam que, mesmo com a leve retração na quantidade produzida, os valores dos ovos seguiram enfraquecidos ao longo do terceiro trimestre.
De acordo com levantamentos do Centro de Pesquisas, entre julho e setembro, a média dos ovos brancos tipo extra, a retirar (FOB) em Bastos (SP), foi de R$ 149,15/caixa com 30 dúzias, queda de 14% em termos reais (dados deflacionados pelo IGP-DI de nov/25), em relação ao trimestre anterior.
Para os ovos vermelhos, houve desvalorização real de 16% em igual comparativo, à média de R$ 164,45/cx na região paulista.
Avicultura Do surto ao recall
Lições que a agroindústria não pode ignorar
Especialistas alertam que o avanço de contaminações no Brasil e no exterior exige vigilância contínua, tecnologia de ponta e gestão rigorosa para evitar crises sanitárias e prejuízos às empresas.

A segurança alimentar voltou ao centro das atenções diante da escalada de surtos e contaminações que desafiam a indústria de alimentos no Brasil e no mundo. A mensagem foi reforçada pela bióloga Marina Gumiere, doutora em Microbiologia Agrícola, durante o 11º Encontro Avícola Empresarial Unifrango, realizado em julho na cidade de Maringá (PR).
Segundo a especialista, só um monitoramento contínuo e políticas rígidas de controle de qualidade conseguem prevenir riscos e proteger tanto a saúde pública quanto a reputação das marcas. “Os riscos invisíveis da indústria alimentícia exigem mais que protocolos básicos, pedem vigilância constante, ferramentas modernas e uma cultura de prevenção. Prevenir surtos é sempre mais eficiente, e menos custoso, do que lidar com as consequências de uma crise sanitária”, frisou.
Entre 2013 e 2022, o Brasil registrou uma média anual de 6,6 mil surtos alimentares. Casos recentes de enterovírus e contaminações por E. coli e Salmonella em praias de São Paulo evidenciam a persistência do problema. Em 2024, episódios semelhantes atingiram Estados Unidos, Vietnã, Rússia e Arábia Saudita, com foco em carnes, saladas prontas e alimentos processados, um alerta de que a vulnerabilidade é mundial. “As consequências de um recall são amplas. Além de altos custos financeiros, que envolvem recolhimento, processos judiciais e investimentos em recuperação, as empresas sofrem desgaste da reputação, com perda da confiança do consumidor e questionamentos de investidores. Há ainda a pressão legal, com disputas e ações judiciais que prolongam os impactos da crise”, enumerou Marina.
Casos que marcaram a indústria

Bióloga Marina Gumiere, doutora em Microbiologia Agrícola: O Plano de Monitoramento Ambiental (PMA) é fundamental para identificar fontes de contaminação, mapear áreas críticas e apontar falhas de higiene nas plantas industriais” – Foto: Jaqueline Galvão/OP Rural
Marina lembrou de episódios que se tornaram referência em segurança alimentar e que servem de alerta para toda a cadeia produtiva. Em 2010, nos Estados Unidos, mais de 500 milhões de ovos foram recolhidos após 2,5 mil casos de salmonelose, com custos superiores a US$ 100 milhões. Em 2007, a contaminação de manteiga de amendoim gerou impacto estimado em US$ 1 bilhão, atingindo não apenas o produtor, mas também a extensa cadeia de produtos que utilizava o ingrediente.
A rede de hambúrgueres que enfrentou surtos de E. coli em 2004 e novamente em 2024 sofreu queda de 10% no valor de suas ações, perda de vendas e precisou investir mais de US$ 100 milhões em medidas corretivas e marketing para tentar recuperar a imagem.
Ferramentas para prevenir
Para reduzir riscos, Marina defende o uso de estratégias que envolvem diferentes frentes de controle. “O Plano de Monitoramento Ambiental (PMA) é fundamental para identificar fontes de contaminação, mapear áreas críticas e apontar falhas de higiene nas plantas industriais”, destacou.
Ela ressaltou ainda a importância do zoneamento de risco, que classifica os ambientes da fábrica em quatro níveis, permitindo direcionar o monitoramento para microrganismos adequados a cada área. “Sem um bom zoneamento, se perde eficiência no controle, porque não se mede o que realmente importa em cada ponto da planta”, afirmou.
Outro ponto crítico são os biofilmes, estruturas resistentes formadas por comunidades microbianas que podem abrigar agentes como Listeria e Salmonella. “Eles criam uma barreira protetora que dificulta a ação dos sanitizantes e, muitas vezes, só podem ser eliminados com ação mecânica”, alertou a especialista.
Soluções avançadas de investigação
A evolução tecnológica também oferece novas ferramentas para que a indústria alimentícia enfrente riscos invisíveis com mais precisão. Marina destacou o papel do sequenciamento de nova geração (NGS) e do sequenciamento completo do genoma (WGS), técnicas que permitem identificar microrganismos que não crescem em meios tradicionais e rastrear a origem de surtos. “O WGS consegue diferenciar sorotipos e apontar se a mesma cepa está presente em diferentes pontos da planta. É uma ferramenta poderosa de rastreamento e prevenção”, afirmou, destacando que essas técnicas também permitem identificar genes de resistência a sanitizantes e antibióticos, além de relacionar características das cepas com as condições sanitárias da planta e avaliar a evolução da resistência microbiana ao longo do tempo.
Outra solução é a metagenômica, capaz de extrair o DNA diretamente da matéria-prima, da água ou de superfícies, sem necessidade de cultivo. “A metagenômica mostra toda a comunidade microbiana presente, sua diversidade, abundância e potenciais riscos. É como acender a luz em um ambiente que antes estava no escuro”, comparou Marina.
A avaliação da eficácia dos desinfetantes utilizados na fábrica também é indispensável, especialmente contra as cepas isoladas da própria planta, e não apenas contra microrganismos indicadores padrão. “É importante testar a eficácia das soluções ao longo do tempo de armazenamento, já que alguns ativos, como o hipoclorito, perdem potência rapidamente”, reforçou.
No campo da gestão, a especialista reforçou a importância de ferramentas modernas de monitoramento, que superam as limitações das planilhas tradicionais. “O Excel ajuda, mas não oferece a visão estratégica. Hoje existem sistemas capazes de mapear zonas de risco, indicar pontos positivos de contaminação, monitorar ativos e desencadear planos de mitigação de forma integrada”, pontuou.
A versão digital está disponível gratuitamente no site oficial de O Presente Rural. A edição impressa já circula com distribuição dirigida a leitores e parceiros em 13 estados brasileiros.
Avicultura
Frango congelado mantém estabilidade e mercado segue com pouca volatilidade
Cotações recuaram e avançaram de forma moderada ao longo da semana e acumulam leve valorização de 0,25% no mês, segundo dados do Cepea.

Os preços do frango congelado no Estado de São Paulo seguiram estáveis nesta quarta-feira (10), segundo dados do Cepea/Esalq. A cotação ficou em R$ 8,13/kg, repetindo o valor do dia anterior, sem variação diária (0,00%).
Apesar da pausa no movimento de alta, o produto acumula valorização de 0,25% em dezembro.
Na terça-feira (09), o frango congelado havia avançado 0,49%, saindo de R$ 8,09/kg (08/12) para R$ 8,13/kg. Antes disso, as oscilações foram moderadas: -0,12% em 8 de dezembro e -0,12% no dia 5.
Já no dia 04 de dezembro, o indicador registrou estabilidade em R$ 8,11/kg.
Os números mostram que, mesmo com variações pontuais, o mercado paulista de frango congelado opera com baixa volatilidade neste início de mês.



