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Suínos / Peixes Sanidade

O que a produção de suínos moderna tem feito para evitar as superbactérias?

Em situações onde ocorre um desequilíbrio entre a proporção de bactérias benéficas e as bactérias patogênicas os animais ficam mais suscetíveis às enfermidades

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Arquivo/OP Rural

Uma das mais renomadas pesquisadoras brasileiras na área de suínos a professora da Universidade federal do Paraná campus de Palotina, Daiane Güllich Donin, docente de Suinocultura do Departamento de Zootecnia, tem uma série de preocupações com o surgimento cada vez mais frequente de superbactérias. Mas o que são? Como agem? Quais os prejuízos e o que a produção animal brasileira está fazendo para evita-las. O Presente Rural foi atrás das respostas.

“Quando pensamos em bactérias a primeira coisa que nos vêm à cabeça é doença, mas devemos ter ciência que as bactérias são parte integral e inseparável da vida na Terra. São encontradas em qualquer lugar, desde revestindo a pele até as mucosas e trato intestinal dos homens e dos animais. Estão intrinsecamente ligadas à vida dos organismos e ao correto funcionamento e manutenção da homeostasia dos mesmos”, aborda inicialmente.

De acordo com ela, algumas são consideradas comensais ou benéficas, pois residem no organismo e não trazem prejuízo a este; pelo contrário, protegem contra a colonização por bactérias consideradas patogênicas. Outras, no entanto, denominadas patogênicas, podem causar doenças em humanos, animais e plantas.

“Em situações onde ocorre um desequilíbrio entre a proporção de bactérias benéficas e as bactérias patogênicas os animais ficam mais suscetíveis às enfermidades. Quando as doenças se estabelecem o tratamento se faz necessário para combater os sinais clínicos e o agente infeccioso com potencial patogênico que encontrou as condições ideais para se manifestar. Nestas situações, os antimicrobianos são muito importantes, pois são os fármacos de eleição para tratamento de enfermidades causadas por bactérias”, explica a especialista.

E segue: “Antes do desenvolvimento dos antimicrobianos, muitas pessoas (e animais) morriam de doenças que hoje não são mais consideradas perigosas. Com a descoberta do primeiro antimicrobiano, a penicilina, por Alexander Fleming, em 1928, muitas infecções bacterianas puderam ser tratadas com sucesso e muitas mortes foram evitadas desde o início do emprego destas substâncias na terapia dos pacientes. São, portanto, medicamentos que revolucionaram a história da Medicina, protegendo o homem e os animais de bactérias antes mortais. Milhões de infecções potencialmente fatais foram curadas por intermédio do uso da terapia antimicrobiana”.

Contudo, cita a professora Daiane, esses fármacos encontram-se entre os mais empregados de maneira errada e abusiva, resultando no desenvolvimento de microrganismos resistentes, o que torna necessário o emprego, cada vez maior, de antimicrobianos mais fortes. “A resistência microbiana aos antimicrobianos vem aumentando rapidamente em todo o mundo e, em particular, no ambiente hospitalar, o que faz com que estejam em alerta todos os setores envolvidos no emprego dos antimicrobianos nas terapias, sejam humanas ou animais”, pontua.

“O fato de as bactérias apresentarem curto tempo de geração faz com que elas apresentem capacidade de se adaptar rapidamente às mudanças no ambiente. Quando uma colônia de bactérias recebe pequena dose de um determinado antimicrobiano, ocorre a morte da maioria delas, sobrevivendo apenas aquelas portadoras de variações que conferem resistência ao medicamento. Os descendentes das bactérias sobreviventes não morrem com a mesma dose do antimicrobiano, evidenciando que as variações são hereditárias. Se a dose do medicamento for aumentada, novamente algumas resistentes à nova dose sobreviverão. Enfim, prosseguindo com o aumento progressivo das doses dos antibióticos obtém-se, ao final, bactérias resistentes a altas dosagens do antimicrobiano. Não é a presença do antimicrobiano que provoca o aparecimento das mutações; na realidade elas surgem espontaneamente, e o antimicrobiano apenas seleciona as bactérias mais resistentes. Portanto, a resistência aos antimicrobianos é uma consequência natural da habilidade bacteriana de se adaptar”.

Uso indiscriminado

De acordo com a doutora Daiane Donin, “o uso indiscriminado de antimicrobianos, tanto na Medicina quanto na produção de animais, aumenta a pressão seletiva, selecionando as bactérias resistentes, e permitindo o surgimento das superbactérias. Os antibióticos matam as bactérias sensíveis; entretanto as que sobrevivem transmitem para as gerações futuras os genes de resistência até criar uma bactéria super-resistente”, menciona.

Ela argumenta que as superbactérias representam grande risco aos pacientes em hospitais, pois são capazes de criar “escudos” contra os medicamentos mais potentes e podem infectar os pacientes debilitados e se espalhar rapidamente pela falta de antimicrobianos capazes de contê-las. “Por isso, as superbactérias são consideradas grande ameaça global em saúde pública, e são foco de amplas discussões no meio científico”, justifica.

Para a professora e pesquisadora, a velocidade com que as bactérias desenvolvem resistência aos antimicrobianos é maior do que a velocidade com que novos fármacos são elaborados, “e desta forma, surtos provocados por bactéria comuns, como Staphylococcus aureus, porém resistente à meticilina (MRSA), podem afetar milhares de pessoas, e fazem com que estes agentes se apresentem como desafio para a indústria farmacêutica na busca novas drogas capazes de combater as superbactérias”.

Produção animal

A professora cita que a utilização de antimicrobianos na produção animal e o possível surgimento de bactérias resistentes é uma fonte de preocupação para a saúde humana por várias razões. “Primeiro porque bactérias associadas aos animais podem ser patogênicas para os humanos, podendo ser facilmente transmitidas para os humanos via alimento obtido de animais de produção. Somado a isto, os dejetos dos animais podem espalhar estas bactérias no meio ambiente de uma forma ampla”, aponta.

“O receio de que o uso de princípios antimicrobianos na produção de suínos possa espalhar resistência bacteriana para infecções em humanos foi agravado pelo fato registrado na China de resistência à Colistina. Um novo gene que tornou as bactérias comuns (como a E. coli) resistente a esta droga foi descrito na China em novembro de 2015. Em abril de 2016 foi reportada a presença deste gene em isolados de bactérias de origem animal no Brasil (encontrados em frangos oriundos do Paraná). Este gene foi encontrado em amostras de humanos, comprovando a possibilidade de surgimento nos animais de bactérias resistentes a antimicrobianos que podem infectar humanos”, revela a professora.

Neste contexto, amplia, ponto crucial e bastante criticado por profissionais ligados à saúde é o uso dos antimicrobianos (como o que era feito com a Colistina) para “incentivar o crescimento dos animais” ao invés de tratar sua infecção. “Devemos ressaltar que este uso de antimicrobianos como promotores de crescimento vem sendo banido gradativamente ao longo dos últimos anos, e isto estende-se à Colistina, por exemplo, que teve seu uso banido para esta finalidade”, sustenta.

One Health

Ainda conforme a pesquisadora, “a Organização Mundial da Saúde, através da Organização Internacional de Epizootias, tem se preocupado de sobremaneira com a ocorrência de resistência bacteriana na medicina humana e na produção animal, e aponta que apenas com uma abordagem integrada envolvendo o homem, os animais e o meio-ambiente, batizada como “One Health”, poderemos ter sucesso na resolução desse problema”.

“A abordagem sistêmica One Health talvez seja a única maneira de tentar deter a marcha rumo à resistência antimicrobiana. Devemos disciplinar a utilização de antimicrobianos na Medicina Veterinária e, em especial, evitar aqueles princípios ativos de uso compartilhado com a Medicina humana. A cultura da prevenção da ocorrência de doenças deve ser a tônica das ações de todos envolvidos na produção de suínos. Quando da necessidade da utilização de substâncias com caráter antimicrobiano nos sistemas produtivos é fundamental ter a assessoria de médicos veterinários que devem estar devidamente capacitados no assunto”, avalia a profissional.

Conforme Daiane Donin, o plano de ação global prevê como metas melhorar o conhecimento sobre a resistência a antimicrobianos, aumentar o monitoramento da resistência a antimicrobianos, reduzir a incidência de infecções, otimizar o uso de antimicrobianos e ampliar os investimentos em novos antimicrobianos, ferramentas de diagnóstico, vacinas e outras intervenções alternativas.

Ainda segundo a pesquisadora, “melhorias na gestão do uso de antimicrobianos em animais de produção, particularmente reduzindo aqueles criticamente importantes para a Medicina humana, são passos relevantes para a preservação dos benefícios dos antimicrobianos para o ser humano”, reforça.

Uso racional

Ela reitera que vale destacar que não somente a produção animal é responsável pelo surgimento de superbactérias, mas sim, a prescrição banalizada de antimicrobianos na Medicina humana é a principal responsável pela expansão de bactérias resistentes. “Desta forma, se desejamos conter o surgimento destas bactérias, devemos não somente nos preocupar com a forma como lidamos com os antimicrobianos nas produções animais, mas também reduzir a medicalização na Medicina humana, visando frear o uso de antimicrobianos em situações em que terapias alternativas poderiam ser utilizadas para solucionar as enfermidades”, aponta.

E garante: “Racionalizar o uso de antimicrobianos tanto na Medicina humana quanto na Medicina Veterinária é o caminho para contermos o aparecimento de bactérias resistentes e sabemos que isto tem sido foco das discussões e das ações nas cadeias de produção animal, em especial na produção de aves e suínos. A atividade suinícola vem assumindo o compromisso de usar racionalmente os antimicrobianos e implementar práticas que permitam a produção eficiente e rentável sem o uso indiscriminado destes produtos. As empresas estão investindo fortemente na tentativa de validar novos produtos que possam ser utilizados como melhoradores desempenho dos animais alternativos aos antimicrobianos, como probióticos, prebióticos, simbióticos e outros”.

Pontos chave

Neste contexto, insiste a professora, seguem alguns pontos chave para obtenção de sucesso na redução e uso prudente de antimicrobianos: utilização de eubióticos: aditivos que auxiliam na manutenção do ótimo balanço da flora gastrointestinal sendo assim, benéficos para a saúde intestinal dos animais e contribuindo para o bem-estar e aumento do desempenho produtivo. Na prática, ácidos orgânicos, probióticos, prebióticos e óleos essenciais são os eubióticos que têm sido amplamente pesquisados para uso nas criações comerciais de suínos, e validados ao terem seus benefícios comprovados. “Citando alguns exemplos, a modulação de flora das matrizes minimizando a excreção de agentes patogênicos pelas fezes e consequente contaminação das leitegadas através da utilização de ácidos orgânicos e probióticos nas semanas anteriores ao parto já é prática consolidada em alguns países, bem como a utilização de ácidos orgânicos e probióticos na maternidade e dietas pós-desmame visando prevenção e controle de enfermidades entéricas”.

Outro ponto chave: “Adoção dos manejos básicos: respeitar vazio sanitário das instalações, estimular os leitões a ingerirem o máximo de colostro, respeitar o fluxo de produção, adotar sistema “todos dentro – todos fora”, promover a utilização adequada de quarentenário na introdução de animais, desinfecção adequada de caminhões, entre outros. A adoção de práticas eficientes de biossegurança e manejo são imprescindíveis na manutenção do status sanitário dos sistemas de produção, evitando dessa forma a necessidade da utilização dos antimicrobianos. Neste quesito, no Estado do Paraná a Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) publicou recentemente a Instrução Normativa nº 265, instrumento que regulamenta as boas práticas voltadas à prevenção e controle de doenças infecciosas nos locais onde ocorre a criação de suínos. O Estado é o primeiro entre todas as unidades da federação a ter um regulamento dessa natureza.

A professora segue: “Diagnóstico adequado de enfermidades: a coleta de material e diagnóstico adequado das doenças que acometem os animais permite adotar diferentes práticas de manejo no controle, além da utilização de classes de antimicrobianos menos prejudiciais aos animais, evitando dessa forma a utilização preventiva de antimicrobianos de amplo espectro, bem como grande quantidade de princípios ativos”. Ambiente adequado aos animais: “outro ponto importante a ser considerado no uso prudente de antimicrobianos é a promoção de ambiência adequada aos animais, permitindo a expressão de seu máximo potencial genético sem a necessidade do suporte medicamentoso”.

A professora cita ainda a eliminação de doenças: “diversos protocolos de eliminação de diferentes enfermidades que acometem os suínos já foram validados e, de acordo com as características de cada sistema de produção, são possíveis de serem adotados, minimizando também dessa forma a utilização massiva de antimicrobianos. Neste contexto, em granjas com um perfil sanitário livre de algumas enfermidades, a observação das práticas de biossegurança e origem de animais de reposição deve ser cuidadosamente respeitada visando garantir a manutenção deste status”.

Desta forma, aponta a pesquisadora, “observa-se que os sistemas de produção de suínos têm investido na implementação e melhoria dos programas de biossegurança, têm revisado e melhorado os programas vacinais, e têm feito o uso prudente de antimicrobianos visando promover a saúde dos animais, prevenir a entrada de enfermidades e garantir o bom desempenho zootécnico dos mesmos. A Medicina Veterinária preventiva é a melhor ferramenta para conter o avanço do uso inadequado de antimicrobianos nos animais e reduzir os riscos de aparecimento de superbactérias”, sugere a professora da Universidade Federal do Paraná.

Mais informações você encontra na edição de Nutrição e Saúde Animal de 2018 ou online.

Fonte: O Presente Rural

Suínos / Peixes

Levantamento da Acsurs estima quantidade de matrizes suínas no Rio Grande do Sul 

Resultado indica um aumento de 5% em comparação com o ano de 2023.

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Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Com o objetivo de mapear melhor a produção suinícola, a Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs) realizou novamente o levantamento da quantidade de matrizes suínas no estado gaúcho.

As informações de suinocultores independentes, suinocultores independentes com parceria agropecuária entre produtores, cooperativas e agroindústrias foram coletadas pela equipe da entidade, que neste ano aperfeiçoou a metodologia de pesquisa.

Através do levantamento, estima-se que no Rio Grande do Sul existam 388.923 matrizes suínas em todos os sistemas de produção. Em comparação com o ano de 2023, o rebanho teve um aumento de 5%.

O presidente da entidade, Valdecir Luis Folador, analisa cenário de forma positiva, mesmo com a instabilidade no mercado registrada ainda no ano passado. “Em 2023, tivemos suinocultores independentes e cooperativas que encerraram suas produções. Apesar disso, a produção foi absorvida por outros sistemas e ampliada em outras regiões produtoras, principalmente nos municípios de Seberi, Três Passos, Frederico Westphalen e Santa Rosa”, explica.

O levantamento, assim como outros dados do setor coletados pela entidade, está disponível aqui.

Fonte: Assessoria Acsurs
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Suínos / Peixes

Preços maiores na primeira quinzena reduzem competitividade da carne suína

Impulso veio do típico aquecimento da demanda interna no período de recebimento de salários.

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Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Os preços médios da carne suína no atacado da Grande São Paulo subiram comparando-se a primeira quinzena de abril com o mês anterior

Segundo pesquisadores do Cepea, o impulso veio do típico aquecimento da demanda interna no período de recebimento de salários.

Já para as proteínas concorrentes (bovina e de frango), o movimento foi de queda em igual comparativo. Como resultado, levantamento do Cepea apontou redução na competitividade da carne suína frente às substitutas.

Ressalta-se, contudo, que, neste começo de segunda quinzena, as vendas da proteína suína vêm diminuindo, enfraquecendo os valores.

 

Fonte: Assessoria Cepea
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Suínos / Peixes

Pesquisadores adaptam técnica que acelera o crescimento do tambaqui

Por meio de um equipamento de pressão, é possível gerar um par a mais de cromossomos no peixe, gerando animais triploides e favorecendo o seu crescimento. Técnica foi adaptada de versões empregadas em criações de truta e salmão no exterior. Método gera animais inférteis, o que possibilita criações em regiões em que o tambaqui é exótico, uma vez que eventuais escapes não impactarão a fauna aquática local no longo prazo.

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Além do crescimento mais rápido e do peso maior do tambaqui, a esterilidade provocada pela técnica de produção de peixes triploides é uma vantagem para a disseminação da piscicultura nativa - Foto: Siglia Souza

A Embrapa Pesca e Aquicultura (TO) estuda uma técnica capaz de deixar o tambaqui (Colossoma macropomum) aproximadamente 20% maior e mais pesado. A técnica consiste em gerar, por meio de aplicação de pressão nos ovos fertilizados, peixes com três conjuntos de cromossomos (triploides) – em condições naturais são dois conjuntos – para deixar o peixe infértil. Com isso, ele cresce e engorda mais rápido do que em condições normais. A pesquisa faz parte da tese de doutorado de Aldessandro Costa do Amaral, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), sob a orientação da pesquisadora Fernanda Loureiro de Almeida O´Sullivan.

Além do crescimento mais rápido, a esterilidade provocada pela técnica de produção de peixes triploides é uma vantagem para a disseminação da piscicultura nativa. “Quando você tem um peixe estéril, abre a possibilidade de regularização de seu cultivo em uma região onde ele seja exótico”, ressalta a pesquisadora. Isso porque, em caso de escape para a natureza, os animais estéreis não ofereceriam risco de se reproduzir em regiões das quais eles não fazem parte como, por exemplo, a Bacia do Prata, no Pantanal. “Assim, você expande os locais em que a espécie pode ser cultivada, mediante a regularização da atividade”, destaca a cientista.

A tecnologia já é empregada no exterior em peixes como salmão e truta, e o maior desafio era adaptá-la para o tambaqui, a segunda espécie mais produzida no Brasil. “Nas pisciculturas de truta na Escócia, o peixe cultivado tem que ser obrigatoriamente triploide, para não desovar. Como essas espécies são criadas em gaiolas no mar, precisam ser estéreis para não se reproduzir, o que causaria uma contaminação genética na população natural. Por isso é uma obrigação que todos os peixes sejam triploides”, explica a pesquisadora, acrescentando que a técnica em si não é nova; a novidade está na aplicação em peixes nativos brasileiros. “É uma tecnologia antiga, relativamente simples e de grande efeito na aquicultura, que estamos adaptando para o tambaqui.”

Equipamento de pressão para a indução de poliploidia de cromossômica em peixes – Foto: Jefferson Christofoletti/Embrapa

Equipamento importado
A pesquisa faz parte do projeto Aquavitae, o maior consórcio científico já realizado para estudar a aquicultura no Atlântico e no interior dos continentes banhados por esse oceano. Por meio do Aquavitae, a Embrapa utilizou de 2019 até 2023, para os primeiros testes dessa técnica, um equipamento de pressão próprio para a indução de poliploidia de cromossômica em peixes. A empresa norueguesa Nofima cedeu o equipamento para os experimentos na Embrapa Pesca e Aquicultura. Trata-se de aparelho de grande porte que opera de forma automática, bastando regular a pressão e o tempo desejados. A máquina é inédita no Brasil. “O aparelho que mais se assemelha pertence à Universidade de Santa Catarina, porém, a aplicação da pressão é manual”, conta a pesquisadora.

Como é a técnica utilizada?
O´Sullivan explica que a pesquisa buscou definir três parâmetros cruciais para induzir à triploidia. Primeiro, o tempo após a fecundação do ovo em que se deve iniciar o choque de pressão. Depois, foi preciso definir a intensidade da pressão a ser aplicada para o tambaqui, e, por fim, a equipe teve que descobrir a duração ideal da pressão. “Tivemos que identificar esses três parâmetros para o tambaqui ao longo do projeto”, explica a cientista.

Para realizar a técnica, são utilizados um milhão de ovos recém fertilizados, que vão para a máquina de pressão. Em seguida ao choque de pressão, os ovos vão para as incubadoras comumente usadas e o manejo é igual à larvicultura tradicional e à alevinagem. A quantidade de ração também é a mesma por biomassa; apenas os peixes começam a crescer mais. A pesquisadora conta que o protocolo para obtenção de 100% de triploides levou cinco anos para ser alcançado, após vários testes-piloto.

À esquerda, animais convencionais e, à direita, peixes submetidos ao processo de indução de poliploidia. Ambos originários da mesma desova e de idades idênticas.

Em seis meses, 20% maior
Durante a pesquisa, que avaliou o ciclo de crescimento e engorda do tambaqui triploide durante seis meses, observou-se que o peixe ficou 20% maior e mais pesado que os irmãos que não tinham passado pelo choque de pressão (usados como controle). O próximo passo da pesquisa é fazer uma avaliação durante o ciclo completo de crescimento da espécie, que dura 12 meses. “Produzimos um novo lote de triploides que deixaremos crescer até chegarem a um quilo. Se o resultado for o mesmo que tivemos com o peixe de seis meses, eles vão chegar a um quilo em menos de 12 meses”, calcula a pesquisadora, acrescentando que também estão sendo avaliadas a sobrevivência larval e a ocorrência de deformidades nesses peixes.

Outra característica que preocupa os pesquisadores são as consequências da triploidia no sistema imunológico destes peixes. Resultados preliminares indicam que o tambaqui triploide pode ter uma resistência reduzida a condições desafiadoras, como alteração da temperatura da água. Por isso, segundo a pesquisadora, antes que a tecnologia seja repassada para o setor produtivo, serão realizados estudos para a validação completa da técnica de produção de tambaquis triploides. “O primeiro passo era conseguir obter um protocolo que nos desse 100% de triploidia em tambaqui. Ficamos muito felizes e esperançosos de termos alcançado esse objetivo. Agora, outros estudos vão avaliar as vantagens e possíveis desvantagens dessa técnica na produção da espécie”, conclui Fernanda O’Sullivan.

Produção de tilápia usa outra técnica
Embora a infertilidade dos peixes seja uma vantagem para o crescimento do animal e para a expansão a novas regiões de produção, a triploidia não é indicada para a tilápia (Oreochromis niloticus), a espécie mais produzida no Brasil. Segundo a pesquisadora, há para a tilápia uma técnica mais econômica, que promove a criação do monosexo do macho pelo tratamento com hormônio para esse fim.

“A tilápia também tem protocolo de triploidia desde 1980, mas não estão mais usando, pois fica mais barato fazer a masculinização pela ração”, ressalta O´Sullivan. Ao contrário do tambaqui, em que as fêmeas são maiores do que os machos, na tilápia, os machos é que são maiores. Assim, foram desenvolvidas técnicas para masculinizar as larvas da tilápia. Ainda, para se fazer a triploidia, os ovos devem ser fertilizados in vitro, ou seja, artificialmente. E a produção de larvas de tilápias hoje se baseia na reprodução natural dos casais e coletas dos ovos já em desenvolvimento.

No caso da criação de monosexo da tilápia, quando os alevinos começam a comer, é oferecida ração com metiltestosterona. Isso faz com que todos os peixes se tornem machos. Com a produção exclusiva de machos, além de acelerar o crescimento, evita-se problemas de reprodução desenfreada da espécie, que é exótica no Brasil.

A pesquisadora ressalta que a técnica do monosexo nada tem a ver com a triploidia. “A técnica empregada no peixe triploide está ligada ao crescimento e à esterilidade. A esterilidade é muito importante, porque é uma característica que o monosexo não tem. Os peixes são do mesmo sexo, porém são férteis”. Ela conta que a Embrapa já está pesquisando produzir monosexo de tambaqui feminino, também pelo uso da ração – no caso, acrescida de estradiol.

Fonte: Assessoria Embrapa Pesca e Aquicultura
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