Suínos Sanidade
O que a produção de suínos moderna tem feito para evitar as superbactérias?
Em situações onde ocorre um desequilíbrio entre a proporção de bactérias benéficas e as bactérias patogênicas os animais ficam mais suscetíveis às enfermidades

Uma das mais renomadas pesquisadoras brasileiras na área de suínos a professora da Universidade federal do Paraná campus de Palotina, Daiane Güllich Donin, docente de Suinocultura do Departamento de Zootecnia, tem uma série de preocupações com o surgimento cada vez mais frequente de superbactérias. Mas o que são? Como agem? Quais os prejuízos e o que a produção animal brasileira está fazendo para evita-las. O Presente Rural foi atrás das respostas.
“Quando pensamos em bactérias a primeira coisa que nos vêm à cabeça é doença, mas devemos ter ciência que as bactérias são parte integral e inseparável da vida na Terra. São encontradas em qualquer lugar, desde revestindo a pele até as mucosas e trato intestinal dos homens e dos animais. Estão intrinsecamente ligadas à vida dos organismos e ao correto funcionamento e manutenção da homeostasia dos mesmos”, aborda inicialmente.
De acordo com ela, algumas são consideradas comensais ou benéficas, pois residem no organismo e não trazem prejuízo a este; pelo contrário, protegem contra a colonização por bactérias consideradas patogênicas. Outras, no entanto, denominadas patogênicas, podem causar doenças em humanos, animais e plantas.
“Em situações onde ocorre um desequilíbrio entre a proporção de bactérias benéficas e as bactérias patogênicas os animais ficam mais suscetíveis às enfermidades. Quando as doenças se estabelecem o tratamento se faz necessário para combater os sinais clínicos e o agente infeccioso com potencial patogênico que encontrou as condições ideais para se manifestar. Nestas situações, os antimicrobianos são muito importantes, pois são os fármacos de eleição para tratamento de enfermidades causadas por bactérias”, explica a especialista.
E segue: “Antes do desenvolvimento dos antimicrobianos, muitas pessoas (e animais) morriam de doenças que hoje não são mais consideradas perigosas. Com a descoberta do primeiro antimicrobiano, a penicilina, por Alexander Fleming, em 1928, muitas infecções bacterianas puderam ser tratadas com sucesso e muitas mortes foram evitadas desde o início do emprego destas substâncias na terapia dos pacientes. São, portanto, medicamentos que revolucionaram a história da Medicina, protegendo o homem e os animais de bactérias antes mortais. Milhões de infecções potencialmente fatais foram curadas por intermédio do uso da terapia antimicrobiana”.
Contudo, cita a professora Daiane, esses fármacos encontram-se entre os mais empregados de maneira errada e abusiva, resultando no desenvolvimento de microrganismos resistentes, o que torna necessário o emprego, cada vez maior, de antimicrobianos mais fortes. “A resistência microbiana aos antimicrobianos vem aumentando rapidamente em todo o mundo e, em particular, no ambiente hospitalar, o que faz com que estejam em alerta todos os setores envolvidos no emprego dos antimicrobianos nas terapias, sejam humanas ou animais”, pontua.
“O fato de as bactérias apresentarem curto tempo de geração faz com que elas apresentem capacidade de se adaptar rapidamente às mudanças no ambiente. Quando uma colônia de bactérias recebe pequena dose de um determinado antimicrobiano, ocorre a morte da maioria delas, sobrevivendo apenas aquelas portadoras de variações que conferem resistência ao medicamento. Os descendentes das bactérias sobreviventes não morrem com a mesma dose do antimicrobiano, evidenciando que as variações são hereditárias. Se a dose do medicamento for aumentada, novamente algumas resistentes à nova dose sobreviverão. Enfim, prosseguindo com o aumento progressivo das doses dos antibióticos obtém-se, ao final, bactérias resistentes a altas dosagens do antimicrobiano. Não é a presença do antimicrobiano que provoca o aparecimento das mutações; na realidade elas surgem espontaneamente, e o antimicrobiano apenas seleciona as bactérias mais resistentes. Portanto, a resistência aos antimicrobianos é uma consequência natural da habilidade bacteriana de se adaptar”.
Uso indiscriminado
De acordo com a doutora Daiane Donin, “o uso indiscriminado de antimicrobianos, tanto na Medicina quanto na produção de animais, aumenta a pressão seletiva, selecionando as bactérias resistentes, e permitindo o surgimento das superbactérias. Os antibióticos matam as bactérias sensíveis; entretanto as que sobrevivem transmitem para as gerações futuras os genes de resistência até criar uma bactéria super-resistente”, menciona.
Ela argumenta que as superbactérias representam grande risco aos pacientes em hospitais, pois são capazes de criar “escudos” contra os medicamentos mais potentes e podem infectar os pacientes debilitados e se espalhar rapidamente pela falta de antimicrobianos capazes de contê-las. “Por isso, as superbactérias são consideradas grande ameaça global em saúde pública, e são foco de amplas discussões no meio científico”, justifica.
Para a professora e pesquisadora, a velocidade com que as bactérias desenvolvem resistência aos antimicrobianos é maior do que a velocidade com que novos fármacos são elaborados, “e desta forma, surtos provocados por bactéria comuns, como Staphylococcus aureus, porém resistente à meticilina (MRSA), podem afetar milhares de pessoas, e fazem com que estes agentes se apresentem como desafio para a indústria farmacêutica na busca novas drogas capazes de combater as superbactérias”.
Produção animal
A professora cita que a utilização de antimicrobianos na produção animal e o possível surgimento de bactérias resistentes é uma fonte de preocupação para a saúde humana por várias razões. “Primeiro porque bactérias associadas aos animais podem ser patogênicas para os humanos, podendo ser facilmente transmitidas para os humanos via alimento obtido de animais de produção. Somado a isto, os dejetos dos animais podem espalhar estas bactérias no meio ambiente de uma forma ampla”, aponta.
“O receio de que o uso de princípios antimicrobianos na produção de suínos possa espalhar resistência bacteriana para infecções em humanos foi agravado pelo fato registrado na China de resistência à Colistina. Um novo gene que tornou as bactérias comuns (como a E. coli) resistente a esta droga foi descrito na China em novembro de 2015. Em abril de 2016 foi reportada a presença deste gene em isolados de bactérias de origem animal no Brasil (encontrados em frangos oriundos do Paraná). Este gene foi encontrado em amostras de humanos, comprovando a possibilidade de surgimento nos animais de bactérias resistentes a antimicrobianos que podem infectar humanos”, revela a professora.
Neste contexto, amplia, ponto crucial e bastante criticado por profissionais ligados à saúde é o uso dos antimicrobianos (como o que era feito com a Colistina) para “incentivar o crescimento dos animais” ao invés de tratar sua infecção. “Devemos ressaltar que este uso de antimicrobianos como promotores de crescimento vem sendo banido gradativamente ao longo dos últimos anos, e isto estende-se à Colistina, por exemplo, que teve seu uso banido para esta finalidade”, sustenta.
One Health
Ainda conforme a pesquisadora, “a Organização Mundial da Saúde, através da Organização Internacional de Epizootias, tem se preocupado de sobremaneira com a ocorrência de resistência bacteriana na medicina humana e na produção animal, e aponta que apenas com uma abordagem integrada envolvendo o homem, os animais e o meio-ambiente, batizada como “One Health”, poderemos ter sucesso na resolução desse problema”.
“A abordagem sistêmica One Health talvez seja a única maneira de tentar deter a marcha rumo à resistência antimicrobiana. Devemos disciplinar a utilização de antimicrobianos na Medicina Veterinária e, em especial, evitar aqueles princípios ativos de uso compartilhado com a Medicina humana. A cultura da prevenção da ocorrência de doenças deve ser a tônica das ações de todos envolvidos na produção de suínos. Quando da necessidade da utilização de substâncias com caráter antimicrobiano nos sistemas produtivos é fundamental ter a assessoria de médicos veterinários que devem estar devidamente capacitados no assunto”, avalia a profissional.
Conforme Daiane Donin, o plano de ação global prevê como metas melhorar o conhecimento sobre a resistência a antimicrobianos, aumentar o monitoramento da resistência a antimicrobianos, reduzir a incidência de infecções, otimizar o uso de antimicrobianos e ampliar os investimentos em novos antimicrobianos, ferramentas de diagnóstico, vacinas e outras intervenções alternativas.
Ainda segundo a pesquisadora, “melhorias na gestão do uso de antimicrobianos em animais de produção, particularmente reduzindo aqueles criticamente importantes para a Medicina humana, são passos relevantes para a preservação dos benefícios dos antimicrobianos para o ser humano”, reforça.
Uso racional
Ela reitera que vale destacar que não somente a produção animal é responsável pelo surgimento de superbactérias, mas sim, a prescrição banalizada de antimicrobianos na Medicina humana é a principal responsável pela expansão de bactérias resistentes. “Desta forma, se desejamos conter o surgimento destas bactérias, devemos não somente nos preocupar com a forma como lidamos com os antimicrobianos nas produções animais, mas também reduzir a medicalização na Medicina humana, visando frear o uso de antimicrobianos em situações em que terapias alternativas poderiam ser utilizadas para solucionar as enfermidades”, aponta.
E garante: “Racionalizar o uso de antimicrobianos tanto na Medicina humana quanto na Medicina Veterinária é o caminho para contermos o aparecimento de bactérias resistentes e sabemos que isto tem sido foco das discussões e das ações nas cadeias de produção animal, em especial na produção de aves e suínos. A atividade suinícola vem assumindo o compromisso de usar racionalmente os antimicrobianos e implementar práticas que permitam a produção eficiente e rentável sem o uso indiscriminado destes produtos. As empresas estão investindo fortemente na tentativa de validar novos produtos que possam ser utilizados como melhoradores desempenho dos animais alternativos aos antimicrobianos, como probióticos, prebióticos, simbióticos e outros”.
Pontos chave
Neste contexto, insiste a professora, seguem alguns pontos chave para obtenção de sucesso na redução e uso prudente de antimicrobianos: utilização de eubióticos: aditivos que auxiliam na manutenção do ótimo balanço da flora gastrointestinal sendo assim, benéficos para a saúde intestinal dos animais e contribuindo para o bem-estar e aumento do desempenho produtivo. Na prática, ácidos orgânicos, probióticos, prebióticos e óleos essenciais são os eubióticos que têm sido amplamente pesquisados para uso nas criações comerciais de suínos, e validados ao terem seus benefícios comprovados. “Citando alguns exemplos, a modulação de flora das matrizes minimizando a excreção de agentes patogênicos pelas fezes e consequente contaminação das leitegadas através da utilização de ácidos orgânicos e probióticos nas semanas anteriores ao parto já é prática consolidada em alguns países, bem como a utilização de ácidos orgânicos e probióticos na maternidade e dietas pós-desmame visando prevenção e controle de enfermidades entéricas”.
Outro ponto chave: “Adoção dos manejos básicos: respeitar vazio sanitário das instalações, estimular os leitões a ingerirem o máximo de colostro, respeitar o fluxo de produção, adotar sistema “todos dentro – todos fora”, promover a utilização adequada de quarentenário na introdução de animais, desinfecção adequada de caminhões, entre outros. A adoção de práticas eficientes de biossegurança e manejo são imprescindíveis na manutenção do status sanitário dos sistemas de produção, evitando dessa forma a necessidade da utilização dos antimicrobianos. Neste quesito, no Estado do Paraná a Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) publicou recentemente a Instrução Normativa nº 265, instrumento que regulamenta as boas práticas voltadas à prevenção e controle de doenças infecciosas nos locais onde ocorre a criação de suínos. O Estado é o primeiro entre todas as unidades da federação a ter um regulamento dessa natureza.
A professora segue: “Diagnóstico adequado de enfermidades: a coleta de material e diagnóstico adequado das doenças que acometem os animais permite adotar diferentes práticas de manejo no controle, além da utilização de classes de antimicrobianos menos prejudiciais aos animais, evitando dessa forma a utilização preventiva de antimicrobianos de amplo espectro, bem como grande quantidade de princípios ativos”. Ambiente adequado aos animais: “outro ponto importante a ser considerado no uso prudente de antimicrobianos é a promoção de ambiência adequada aos animais, permitindo a expressão de seu máximo potencial genético sem a necessidade do suporte medicamentoso”.
A professora cita ainda a eliminação de doenças: “diversos protocolos de eliminação de diferentes enfermidades que acometem os suínos já foram validados e, de acordo com as características de cada sistema de produção, são possíveis de serem adotados, minimizando também dessa forma a utilização massiva de antimicrobianos. Neste contexto, em granjas com um perfil sanitário livre de algumas enfermidades, a observação das práticas de biossegurança e origem de animais de reposição deve ser cuidadosamente respeitada visando garantir a manutenção deste status”.
Desta forma, aponta a pesquisadora, “observa-se que os sistemas de produção de suínos têm investido na implementação e melhoria dos programas de biossegurança, têm revisado e melhorado os programas vacinais, e têm feito o uso prudente de antimicrobianos visando promover a saúde dos animais, prevenir a entrada de enfermidades e garantir o bom desempenho zootécnico dos mesmos. A Medicina Veterinária preventiva é a melhor ferramenta para conter o avanço do uso inadequado de antimicrobianos nos animais e reduzir os riscos de aparecimento de superbactérias”, sugere a professora da Universidade Federal do Paraná.
Mais informações você encontra na edição de Nutrição e Saúde Animal de 2018 ou online.

Suínos
Suinocultura brasileira reforça liderança sanitária em debate regional sobre febre aftosa
Encontro no Paraguai destaca avanços e desafios da região sem vacinação, enquanto a ABCS ressalta competitividade e potencial das exportações de carne e genética suína do Brasil.

A Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS) participou, nos dias 25 e 26 de novembro, do Taller Regional de Febre Aftosa, em Assunção, no Paraguai. O encontro reuniu especialistas, autoridades sanitárias e representantes do setor produtivo do Cone Sul para debater os avanços e desafios no combate à doença.
O foco principal foi o novo cenário da região após o reconhecimento de países livres de febre aftosa sem vacinação, um marco que exige atenção redobrada às oportunidades e riscos, além da construção de estratégias conjuntas para preservar o status sanitário e a competitividade do bloco no comércio internacional.
Representando a ABCS, a diretora técnica Charli Ludtke apresentou a palestra “Expectativas de los mercados de carne porcina frente a distintos status”. Ela ressaltou o forte desempenho da suinocultura brasileira, destacando o padrão sanitário elevado, a integração entre setor público e privado e a estrutura produtiva avançada — fatores que ampliam o acesso do Brasil a mercados mais exigentes.
Ludtke também apontou o crescimento do segmento de genética suína, impulsionado pela atuação da Estação de Quarentena de Cananéia (EQC), peça-chave para garantir segurança na entrada de material genético e para fortalecer a expansão das exportações.
Entre os temas discutidos no encontro estiveram os desafios enfrentados pelos países livres da aftosa sem vacinação, como a necessidade de respostas rápidas em possíveis emergências sanitárias, as novas exigências internacionais e o fortalecimento das parcerias público-privadas.
Para Charli Ludtke, o encontro marca uma nova fase para o Brasil e para a América do Sul. “A retirada da vacina é só o começo. Agora, o desafio é manter o status livre sem vacinação com vigilância ativa, biosseguridade e cooperação entre os países. A febre aftosa não respeita fronteiras, e a harmonização das estratégias dentro do Mercosul é fundamental.”
Suínos Da coleta rudimentar à genética de ponta
O pioneirismo da Acsurs que mudou o rumo da suinocultura brasileira
Iniciativa pioneira da Acsurs, criada há 50 anos, introduziu a inseminação artificial e impulsionou o melhoramento genético, transformando a suinocultura brasileira em um setor moderno e competitivo.

Há meio século, a suinocultura brasileira vivia um momento decisivo. Em 1975, nascia em Estrela (RS) a primeira Central de Coleta e Processamento de Sêmen (CCPS) do país, criada pela Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs). O projeto, impulsionado pelo então presidente da Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS), Hélio Miguel de Rose, foi o ponto de partida para uma transformação silenciosa e profunda na produção de suínos no Brasil.
Com apoio do Ministério da Agricultura, da Embrapa, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e das associações estaduais de criadores, o grupo que idealizou a central uniu pioneirismo e coragem para implantar uma técnica que, até então, só era usada em bovinos. “A Acsurs foi pioneira justamente por ter uma visão muito à frente do seu tempo”, afirma Valdecir Luis Folador, atual presidente da entidade, enaltecendo: “Naquela época, a direção da Acsurs entendeu que o futuro da suinocultura passava pelo melhoramento genético, e foi buscar fora o que o Brasil ainda não tinha. Isso ajudou a construir a suinocultura moderna que conhecemos hoje”.
Coragem dos primeiros passos

Presidente da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs), Valdecir Luis Folador: “A suinocultura brasileira deve muito àquele grupo visionário da década de 1970. Eles plantaram a semente da tecnologia e da inovação. E a Acsurs continua honrando esse legado, olhando sempre para frente, para garantir que o setor siga competitivo, sustentável e cada vez mais moderno” – Fotos: Divulgação/Arquivo Acsurs
A central gaúcha surgiu a partir de uma ideia trazida da Europa. Lá, a inseminação artificial em suínos já era uma prática avançada, mas por aqui o desafio era começar do zero. Um dos primeiros a embarcar nessa jornada foi o médico-veterinário Werner Meincke, recém-formado e disposto a se aprofundar na nova tecnologia. “Passei 90 dias na maior central de inseminação de suínos da Holanda, onde aprendi tudo: alimentação, avaliação de sêmen, coleta e inseminação. Depois ainda fui para a Alemanha, para aprofundar os conhecimentos em reprodução. Quando voltei, trouxemos tudo o que aprendemos e começamos a aplicar no Brasil”, relata.
Ao lado de Meincke estava Isabel Scheid, também médica-veterinária e uma das poucas mulheres na área à época. Com o grupo liderado pela Acsurs, ela participou da implantação prática da técnica no Vale do Taquari. “Nós começamos de forma muito simples, com um pequeno laboratório instalado nos fundos da ABCS, em Estrela. Montamos um manequim rudimentar, adquirimos alguns reprodutores e passamos a fazer as primeiras coletas e inseminações”, recorda.
Um salto técnico e cultural

Mais do que um avanço tecnológico, a inseminação artificial representou uma mudança de mentalidade. Até então, o cruzamento natural era o único método de reprodução nas granjas, o que limitava o ganho genético e dificultava o controle sanitário. “Aquele passo dado na década de 70 foi determinante para o desenvolvimento da suinocultura que temos hoje. A iniciativa da Acsurs, da ABCS, das entidades e profissionais técnicos envolvidos acelerou o melhoramento genético da suinocultura, primeiro no Rio Grande do Sul e depois se expandiu para o restante do país”, ressalta Folador.
Nos primeiros anos, o trabalho era quase artesanal. As doses de sêmen eram coletadas, analisadas e distribuídas manualmente. Os técnicos da Acsurs percorriam o interior do estado gaúcho para atender aos produtores interessados em testar a novidade. O sucesso foi imediato. Pouco a pouco, os resultados começaram a aparecer: aumento da produtividade, uniformidade dos lotes e maior controle reprodutivo.
Com a chegada, nos anos 1980, das empresas de melhoramento genético, o processo se consolidou. O Brasil já tinha uma década de experiência acumulada e um corpo técnico capacitado. “Houve um avanço muito rápido. Passamos a dispor de programas reprodutivos eficientes, cadeias de produção de insumos e até novas formas de transporte de sêmen. A inseminação artificial e o crescimento do setor caminharam juntos, uma não existiria sem a outra”, enfatiza Isabel.
Do Parque 20 de Maio à era digital

A trajetória da Acsurs reflete o próprio amadurecimento da suinocultura brasileira. De um pequeno laboratório improvisado no Parque 20 de Maio, em Estrela (RS), a entidade construiu uma central moderna, referência nacional em eficiência e qualidade genética.
Hoje, a Acsurs mantém mais de 380 reprodutores e investe continuamente em tecnologia, equipamentos de ponta e bem-estar animal. “Temos uma central moderna e muito eficiente, com o que há de melhor em coleta, processamento e conservação de sêmen. Buscamos sempre adequar as instalações para garantir conforto e manejo adequado, porque isso se reflete diretamente na qualidade do material produzido”, diz Folador.
O dirigente também destaca o papel institucional da associação ao longo das décadas. “A Acsurs sempre teve uma missão clara: levar informação, tecnologia e melhoramento genético aos produtores. Cada geração de lideranças entendeu o seu tempo e manteve esse compromisso. Foi assim nos anos 1970, quando introduzimos a inseminação, e continua sendo assim hoje, com novas demandas e desafios”, salientou.
Do passado ao futuro

Cinquenta anos depois, a inseminação artificial segue como uma das principais ferramentas da suinocultura, agora impulsionada pela automação, pela genética de precisão e até por projetos que estudam a distribuição de sêmen por drones. “É extraordinário ver a diferença entre o que fazíamos no início e o que se faz hoje”, compara Meincke, completando: “Saímos do transporte de doses em ônibus para pensar em distribuição aérea. É uma revolução.”
Para Folador, essa trajetória resume o espírito que sempre guiou a entidade. “A suinocultura brasileira deve muito àquele grupo visionário da década de 1970. Eles plantaram a semente da tecnologia e da inovação. E a Acsurs continua honrando esse legado, olhando sempre para frente, para garantir que o setor siga competitivo, sustentável e cada vez mais moderno”, evidencia.
O que começou como um experimento audacioso no interior gaúcho se tornou um dos pilares da suinocultura nacional. A central da Acsurs, nascida do sonho de alguns pioneiros, é hoje símbolo de eficiência e de uma história que mistura ciência, dedicação e visão de futuro, a base de uma atividade que se reinventou sem perder suas raízes.
A versão digital está disponível gratuitamente no site oficial de O Presente Rural. A edição impressa já circula com distribuição dirigida a leitores e parceiros em 13 estados brasileiros.
Suínos
ABCS reúne líderes do varejo para fortalecer presença da carne suína no Brasil
Encontro em São Paulo promoveu debates estratégicos, troca de insights e networking qualificado, conectando produtores e grandes grupos varejistas para ampliar o consumo da proteína em 2026.

A Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), promoveu, na última quinta-feira (04), em São Paulo, um encontro que reuniu C-levels e executivos de grandes grupos do varejo alimentar brasileiro, responsáveis por cerca de R$ 200 bilhões em faturamento anual. Entre os convidados estavam representantes do Carrefour, Cencosud (Prezunic, GBarobosa e Bretas), GPA (Extra Mercado e Pão de Açúcar), Plurix, Rede São Paulo e Swift, redes estratégicas para o avanço do consumo da carne suína no país.
O encontro, realizado em formato petit comité, foi destinado a diretores, gerentes e compradores, criando um ambiente reservado para debater cenários, riscos e oportunidades do mercado de carnes, especialmente no contexto das projeções para 2026. A programação incluiu análise de dados conduzida pelo consultor de mercado Iuri Machado, que trouxe perspectivas sobre consumo, competitividade entre proteínas e direcionadores capazes de influenciar a estratégia comercial do varejo no próximo ciclo.
A agenda também contou com uma rodada estratégica de perguntas e insights, momento em que os participantes puderam compartilhar visões, desafios e prioridades. O diálogo colaborativo permitiu identificar caminhos estratégicos para fortalecer a carne suína no varejo, ampliar sua relevância nas gôndolas e aprimorar a integração entre o setor produtivo e os grupos varejistas.
Além das discussões técnicas, o encontro proporcionou networking qualificado e a construção de novas oportunidades de negócio, reforçando o papel da ABCS como articuladora entre indústria, varejo e consumidor. Marcelo Lopes, presidente da ABCS, reforçou a importância desse trabalho para a cadeia de suínos. “Tenho andado pelo país afora e visto o sucesso dessa parceria com o varejo, esse centro de informações que criamos em conjunto é um grande sucesso para a comunicação da carne suína, tanto para o consumidor, quanto para passar a realidade da suinocultura para o varejo. Recebemos muito reconhecimento dentro e fora do setor.”
Christianno Sanguinetti, diretor comercial da Cencosud Brasil, participou do Encontro e compartilhou suas percepções: “Esses encontros são sempre bons, um momento em que podemos ouvir os produtores, ter informações de produção, de mercado, perspectivas de futuro e encontrar colegas de outras redes. O papel da ABCS para mim é fundamental, desde o início com a Semana Nacional da Carne Suína, que aportou muito valor na cadeia e construiu de fato um evento no calendário do grande varejo nacional, reconhecemos esse mérito”, conclui. A iniciativa consolida a entidade como uma ponte estratégica para orientar decisões, gerar valor e impulsionar o crescimento sustentável da cadeia da carne suína no Brasil.



