Suínos Suinocultura
O preço da biosseguridade
No dia a dia da produção animal, os programas de biosseguridade se tornam eficientes ao estarem embasados em normativas e legislações consistentes
Artigo escrito por Débora Bernardes, médica veterinária da MS Schippers
Quando falamos de biosseguridade muitas vezes a enxergamos como um investimento, um custo dentro do processo de produção animal, e não como uma medida obrigatória para proteção da sustentabilidade do negócio a longo prazo. A persistência em uma visão de curto prazo sobre a demanda do mercado pode ser fator limitante para a sobrevivência de vários participantes da cadeia de alimentos. O padrão de consumo está mudando a cada ano, e além disso, do ponto de vista de saúde humana, nós sabemos que as próximas décadas exigirão um cuidado maior na utilização de recursos sustentáveis e nas boas práticas de produção, de forma a aumentar a eficiência produtiva e reduzir o uso abusivo de medicamentos. Atualmente vivemos um momento de ascenção da biosseguridade como medida básica de sobrevivência e convívio social, e o desafio pandêmico do coronavírus na saúde humana tende a trazer mais reflexões também dentro da cadeia agropecuária.
Está mais evidente que setores essenciais como o de produção de alimentos precisam estar blindados de catástrofes sanitárias e econômicas para garantir a sobrevivência da população mundial. O setor agropecuário, que já viveu diversas epidemias preocupantes ao longo dos anos, dentro de poucos anos precisará suportar novas pressões de redução no uso de antibióticos e agrotóxicos através de práticas de biosseguridade. A produtividade por área precisará aumentar, já que precisaremos alimentar uma população global continuamente crescente com proteína animal e vegetal suficientes.
Para que isso aconteça, esforços multidisciplinares deverão ser combinados entre empresas, universidades, e governos, como já sugerido pelo conceito de “saúde única” (onde seres humanos, animais e meio ambiente são uma só entidade de saúde a ser tratada). No âmbito de da produção pecuária, sabemos que a infra-estrutura de granjas e fazendas ao redor do mundo é extremamente variável, bem como a intensificação dos sistemas de produção e as legislações que os governam. Por isso, o compartilharmento de informações dentro do tema biosseguridade é fundamental para que o próprio setor se prepare para, em um futuro bastante próximo, mudar suas concepções de prioridade em manejo e produção.
Em sistemas de produção mais intensivos (como na avicultura e suinocultura) o desafio e risco sanitário é grande, afinal o confinamento de mais animais em um mesmo espaço é maior. Nesses cenários, quando pensamos nos prejuízos causados por possíveis epidemias, será que conseguimos definir o custo de eventuais falhas de biossegurança? Quanto vale um plantel inteiro de animais? Quanto custa recuperar uma drástica queda em produção devido a altas taxas de mortalidade? Esse raciocínio nos permite entender que, ao invés do preço, precisamos mesmo é enxergar o valor da biosseguridade para os negócios agropecuários.
Biosseguridade na produção intensiva
No dia a dia da produção animal, os programas de biosseguridade se tornam eficientes ao estarem embasados em normativas e legislações consistentes. Além disso, o suporte de profissionais responsáveis como médicos veterinários, zootecnistas, e gerentes técnicos de granjas faz total diferença na adesão aos protocolos de produção em granjas suinícolas e aviários. Citamos abaixo alguns pontos importantes de biosseguridade que devem ser padronizados pelas granjas e inseridos dentro da rotina de funcionários e visitantes.
1- Localização física, construção, e isolamento das instalações
Segundo recomendações da Embrapa, para a construção ou instalação de granjas é necessário escolher um local que esteja distante em, no mínimo, 500m de qualquer outra criação ou abatedouro e pelo menos 100m de estradas por onde transitam caminhões com animais. Isto é importante, principalmente, para prevenir a transmissão de agentes infecciosos por via aérea e através de vetores como: roedores, moscas, cães, gatos, aves e animais selvagens. Além disso é importante cercar a área ao redor dos galpões (com cercas a no mínimo 20 metros de distância das instalações. Um outro ponto importante é qualidade da construção em si, pois dependendo do material utilizado haverá menor ou maior propensão ao aumento da pressão de infecção ambiental após a limpeza das instalações. O uso de revestimentos impermeabilizantes nos pisos e paredes permitirão uma melhor qualidade da lavação feita entre o alojamento dos lotes, enquanto outros materiais (como o concreto) inevitavelmente serão mais porosos, absorvendo a água e a matéria orgânica acumulada dentro das baias, além dos próprios produtos utilizados para limpeza e desinfecção.
2- Controle de vetores
A transmissão de doenças por vetores como roedores, moscas, pássaros, baratas, e animais silvestres também deve ser evitada ao máximo. Entre as medidas gerais também recomendadas pela Embrapa estão: a cerca de isolamento; o destino adequado dos animais mortos, o descarte de restos de parição e de dejetos; e a limpeza da fábrica e depósito de rações. A implementação de armadilhas e iscas (fora do alcance dos animais) também é importante, especialmente nos arredores de galpões com animais e locais onde os alimentos são armazenados. Um exemplo importante para essa compreensão é a relação entre a presença de moscas e roedores com o desenvolvimento de infecções por senecavírus A (SVA), com surtos em granjas ao redor do Brasil. Embora muitos aspectos da epidemiologia do SVA ainda sejam desconhecidos, um recente estudo norte-americano demonstrou a detecção do SVA em ratos e amostras de mosca doméstica, sugerindo que estas pragas possam desempenhar um papel na ocorrência das infecções.
3- Uso de EPIs
Os equipamentos de proteção individual (EPIs) são considerados elementos de contenção primária ou barreiras primárias. Eles podem reduzir ou eliminar a exposição da equipe e do meio ambiente a patógenos e microorganismos em geral. O uso de luvas descartáveis deve ser feito para prevenir a contaminação da pele com material biológico durante os cuidados com os animais e para a manipulação de produtos químico. As máscaras com ou sem válvula de filtragem são, por sua vez, o EPI indicado para a proteção das vias respiratórias contra a possibilidade de respingos ou aspiração de químicos nocivos e eventuais agentes patogênicos. O tipo de máscara deve ser escolhido conforme o tipo de exposição, devendo-se somente utilizar as máscaras de tripla proteção no atendimento de animais com infecção ativa. Os óculos de segurança devem ser usados em atividades que possam produzir respingos e/ou aerossóis, projeção de estilhaços pela quebra de materiais, bem como em procedimentos que utilizem fontes luminosas intensas e eletromagnéticas, que envolvam risco químico, físico ou biológico. Os macacões descartáveis ou higienizáveis devem ser adotados para a proteção de funcionários contra respingos de água, material químico ou biológico, e durante procedimentos como o manejo de animais e a lavação das baias. As botas e/ou calçados utilizados dentro das salas, departamentos, e instalações em geral devem ser higienizados ou trocados ao se transitar de um local para o outro, e a utilização de propés também pode ser associada a essa estratégia, reforçando a proteção contra sujidades carreadas nas solas.
4- Banhos, lavagem de mãos, fluxo de pessoas
Além dos banhos ao se entrar e sair das instalações, a lavagem das mãos é, sem sombra de dúvidas, a ação mais importante na prevenção da transmissão cruzada entre departamentos e salas da granja. As mãos de funcionários devem ser lavadas antes e após atividades que eventualmente possam contaminá-las; ao início e término do turno de trabalho; entre o atendimento de animais; antes de calçar luvas e após a remoção das mesmas; e quando as mãos forem contaminadas com material biológico e/ou químico. Na ausência de pia com água e sabão, o funcionário deverá realizar anti-sepsia com álcool etílico a 70% de concentração. De forma semelhante ao raciocínio da lavagem de mãos, o fluxo de pessoas e visitantes deve seguir (sempre que possível) uma sequência lógica começando por áreas menos contaminadas para áreas mais sujas, para que se evite carrear sujidades no sentido oposto. Além disso, o controle de materiais, equipamentos, uniformes, e sapatos utilizados em cada área da produção também deve ser feito de forma a evitar esse carreamento de patógenos de uma área para a outra. Para tanto, é possível adotar estratégias simples como o uso de cores separadas por departamento da granja (vide exemplo abaixo).
5- Limpeza, desinfecção e vazio sanitário
A rotina de limpeza e desinfecção das baias durante a troca de lotes ainda é muito negligenciada do ponto de vista de metodologia, dosagem dos produtos aplicados, e tempo de vazio sanitário adequado. As recomendações em geral seguem a sequência de limpeza seca, umidificação das instalações, limpeza úmida, desinfecção úmida, e desinfecção por pulverização ou nebulização. O uso de detergentes e desinfetantes deve ser feito seguindo dosagens e tempo de aplicação específicos para cada granja e desafio sanitário. Recomenda-se a exposição dos protocolos em quadros ou placas à vista para maior adesão e consistência do lavador. É importante salientar, mais uma vez, que a qualidade da limpeza e desinfecção realizadas será profundamente dependente do tipo de material de construção das instalações. Pisos e paredes mais porosos não só vão absorver mais água e microorganismos em suas frestas e ranhuras, como também uma maior quantidade dos próprios produtos químicos utilizados na limpeza. O objetivo final é sempre a remoção da maior quantidade possível de matéria orgânica e contaminantes para reduzir a pressão de a níveis próximos de 1 unidade formadora de colônia por cm². A recomendação de vazio sanitário da Embrapa Suínos é de pelo menos 5 dias, isto é, o período entre a desinfecção das baias e o alojamento de novos animais.
6- Qualidade da água
A qualidade da água disponível nas instalações, tanto para consumo dos animais (água de bebida) quanto para a lavação e outros procedimentos, também é profundamente importante na prevenção à entrada de patógenos dentro das granjas. Dentre os vários microorganismos que podem adentrar as granjas via água estão Enterococcus, E-coli, Streptococcus, Salmonella, Clostridium, entre outros. Quando a qualidade da água está comprometida, a sua palatabilidade e odor são alterados, e há maior contaminação intestinal do animal por microrganismos patogênicos. Isso tende a reduzir a conversão alimentar, o ganho de peso, e aumentar ocorrência de diarréias, elevando os custos de produção. A formação do biofilme é um dos principais pontos de preocupação quando falamos da água de bebida dos animais, pois ele se torna uma fonte de constante contaminação da água, mesmo que na fonte ela seja limpa. Caso essa mesma água (ou outra de origem contaminada) seja utilizada também para o enxágue e lavação das baias estaremos em um contrassenso, afinal uma água contaminada estará sendo adicionada às baias e isso comprometerá o efeito dos produtos utilizados, bem como a pressão de infecção após o alojamento de novos animais. É importante tratar a água da granja com o mesmo zelo, ou mais, que a própria ração e genética utilizadas, pois sua influência no bom aproveitamento das duas anteriores é de grande impacto
Embora existam muitos outros aspectos a serem levados em consideração dentro do tema biosseguridade, é importante que todos os envolvidos na cadeia agropecuária primeiramente a entendam como um fator limitante de competitividade no mercado em vários sentidos. O olhar atual que vemos sobre o tema devido à COVID-19 é apenas mais um indicativo da sua importância, no entanto sabemos que dentro da saúde animal as enfermidades e epidemias representam um dos principais pontos de prejuízo e redução de performance desde sempre, com potencial para impactar os negócios e, claro, a própria condição de saúde humana.
Outras notícias você encontra na edição de Suínos e Peixes de maio/junho de 2020 ou online.
Suínos
Importância do diagnóstico para controle de diarreia em leitões de maternidade
Ajuda a determinar a etiologia da diarreia, que pode variar desde infecções bacterianas, virais ou parasitárias, até problemas metabólicos ou nutricionais.
Artigo escrito por Lucas Avelino Rezende, consultor de Serviços Técnicos de suínos na Agroceres Multimix
Uma das causas mais frequentes de morte de leitões na maternidade, sem dúvidas, é a diarreia neonatal, que pode ser causada por diversos fatores, incluindo infecções bacterianas, virais ou parasitárias, bem como problemas nutricionais ou ambientais.
Por ser multifatorial, a simples presença de patógenos entéricos nem sempre é suficiente para produzir doença clínica. Diante disso, é importante saber que é necessário haver uma interação hospedeiro-ambiente-patógeno. Diferenças em práticas específicas de manejo e ambiente, bem como características do animal e do rebanho, podem influenciar muito o risco de ocorrência da doença.
Alguns fatores podem contribuir para o aumento na ocorrência da diarreia pré-desmame, como: leitões de baixo peso ao nascer, baixa temperatura ambiental levando ao estresse pelo frio, higiene ruim da gaiola de parição, ingestão de leite e colostro insuficientes e o número insuficiente de tetos para a prole.
As principais causas infecciosas de diarreia em leitões na maternidade no Brasil são as Clostridioses, Colibacilose, Rotaviroses e Coccidiose. Em alguns casos, a coinfecção de dois ou mais agentes podem estar presentes e agravar o caso de diarreia.
A sobrevivência de leitões é influenciada por vários fatores, incluindo ordem de nascimento, peso ao nascer, ingestão de colostro e níveis séricos de imunoglobulina G (IgG). Esses fatores interagem de maneiras complexas para determinar a suscetibilidade do leitão a doenças e a saúde geral.
Um importante ponto para entender a dinâmica do surgimento de diarreias na maternidade é a avaliação da ingestão de colostro pelos leitões, uma vez que é essencial para a imunidade passiva dos leitões recém-nascidos, já que não há transferência de imunoglobulinas e outros componentes da imunidade materna para os leitões via transplacentária.
De modo geral, granjas com baixo peso ao nascimento ou uma grande variabilidade do tamanho dos leitões nascidos são aquelas mais desafiadas com diarreias na maternidade, porque leitões com menor peso ao nascer podem ter dificuldade em consumir colostro suficiente, resultando em níveis mais baixos de IgG e maior suscetibilidade a infecções.
O diagnóstico clínico da causa da diarreia em leitões pode ser subjetivo e propenso a erros. Fatores como estresse, condições ambientais e outros problemas de saúde subjacentes podem ser muito semelhantes aos sintomas da diarreia. Para isso, devemos desenvolver critérios de diagnóstico mais objetivos para diarreia em leitões, como: monitorar os leitões desde o nascimento, permitindo a detecção precoce da doença, incorporar testes laboratoriais (por exemplo, consistência fecal, pH e níveis de eletrólitos), realizar necropsias e exames complementares a detecção viral ou bacteriana, como histopatologia e imuno-histoquímica.
Diagnóstico
Um diagnóstico preciso ajuda a determinar a etiologia da diarreia, que pode variar desde infecções bacterianas, virais ou parasitárias, até problemas metabólicos ou nutricionais. Um dos pilares para isso é a coleta adequada de amostras. Ela permite a identificação dos agentes etiológicos, avaliação da resposta imune e a monitorização da eficácia das terapias.
A escolha do tipo de amostra dependerá do agente etiológico suspeito e dos objetivos do exame. As amostras mais comuns incluem:
- Fezes: A coleta de fezes é o método mais simples e acessível. É importante coletar amostras frescas e representativas de diferentes animais do lote. Para suspeitas virais é importante coletar sempre de animais na fase aguda da doença, quando a eliminação viral é maior. Para casos de suspeita parasitária é importante associar o diagnostico com histopatologia, uma vez que a eliminação do Cystoisospora é intermitente.
- Sangue: A análise do sangue permite avaliar a resposta imune, a presença de anticorpos e detectar alterações bioquímicas.
- Conteúdo intestinal: A coleta do conteúdo intestinal é indicada para a identificação de patógenos que colonizam o intestino delgado ou grosso.
- Tecidos: A coleta de tecidos para histopatologia é parte fundamental e complementar as análises de cultivo bacteriano e detecção viral nas fazes ou conteúdo intestinal.
A coleta de amostras deve ser realizada de forma cuidadosa para evitar a contaminação e garantir a qualidade do material. Os recipientes utilizados para a coleta das amostras devem estar limpos e esterilizados para evitar a contaminação por outros microrganismos. De modo geral, é importante que as amostras sejam bem refrigeradas e nunca congeladas, uma vez que o processo de congelamento pode inviabilizar o cultivo bacteriano.
Após a coleta das amostras, diversos métodos podem ser utilizados para o diagnóstico, dentre eles cultura que possibilita a identificação e o isolamento de bactérias, PCR que detecta a presença de DNA ou RNA de vírus, bactérias com alta especificidade, sorologia para pesquisa de anticorpos contra os agentes infecciosos, indicando uma infecção prévia ou atual e a histopatologia que permite a avaliação de lesões histológicas e a identificação de agentes infecciosos em tecidos.
A histopatologia desempenha um papel crucial no diagnóstico preciso de doenças intestinais em leitões. Através da análise microscópica de tecidos, é possível identificar lesões características de diversas doenças, auxiliando na diferenciação entre condições infecciosas, inflamatórias, neoplásicas e degenerativas.
A escolha do método de coleta de amostra e do exame laboratorial dependerá do agente etiológico suspeito, da fase da doença e dos recursos disponíveis. A correta coleta e o transporte das amostras são essenciais para garantir a qualidade dos resultados.
A interpretação correta dos resultados dos exames laboratoriais é crucial para o diagnóstico preciso e o tratamento adequado da diarreia em leitões. Ela envolve a análise dos dados obtidos, a correlação com os sinais clínicos e a consideração de outros fatores, como a idade dos animais, as condições de manejo e a história epidemiológica do plantel.
Em resumo, o diagnóstico é uma ferramenta essencial no combate à diarreia em leitões de maternidade, uma vez que permite ações direcionadas e eficazes para controlar e prevenir a doença, garantindo a saúde e o bem-estar dos animais.
As referências bibliográficas estão com o autor. Contato: marketing.nutricao@agroceres.com.
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Suínos
Especialista evidencia importância de os profissionais da cadeia suinícola entenderem o que é sustentabilidade
Esses profissionais são fundamentais para a gestão do custo da indústria, pois a ração representa cerca de 70% do custo de produção.
Na suinocultura, a sustentabilidade se tornou um dos principais desafios enfrentados pelos profissionais do setor. O médico-veterinário José Francisco Miranda, especialista em Qualidade de Alimentos, destaca que a compreensão desse conceito é fundamental para que zootecnistas e veterinários contribuam efetivamente para a produção sustentável de suínos. “É preciso entender que a sustentabilidade não é custo, mas investimento”, afirma.
Ele ressalta que, ao longo dos últimos 15 anos, a discussão sobre práticas sustentáveis esteve frequentemente atrelada a um aumento nos custos, envolvendo ações como o plantio de árvores e a adequação da dieta dos animais. “Essas práticas eram vistas como um custo, o profissional precisa desmistificar essa visão. Na verdade, boas práticas de produção estão intimamente ligadas a resultados positivos”, explica.
Para Miranda, a eficiência na conversão alimentar é um exemplo claro de como sustentabilidade e produtividade caminham juntas. “Não existe produção com alta conversão alimentar que não seja sustentável. Os números de emissões são baixos quando a eficiência é alta”, ressalta.
Um ponto destacado pelo especialista é o papel dos zootecnistas e nutricionistas na cadeia produtiva. “Esses profissionais são fundamentais para a gestão do custo da indústria, pois a ração representa cerca de 70% do custo de produção. E cada vez mais eles terão um papel significativo na implantação da sustentabilidade dentro das empresas”, afirma.
O entendimento das análises de sustentabilidade e das tecnologias disponíveis é essencial. Miranda menciona, como exemplo, o uso de aditivos nutricionais, como a protease, que permite reduzir a quantidade de soja na ração. “Com isso, é possível diminuir a pegada de carbono em até 12%. No entanto, menos de 40% dos produtores no mundo utilizam essa tecnologia, o que revela uma falta de informação e confiança na eficácia desses produtos”, expõe.
Comunicação e conscientização
Para que as informações sobre sustentabilidade sejam disseminadas na suinocultura é fundamental que os profissionais comuniquem os benefícios dessas práticas não apenas entre si, mas também para a alta direção das empresas. “Os profissionais precisam trazer essa informação para a gestão, conscientes de que a sustentabilidade deve ser uma estratégia de crescimento, não apenas uma preocupação financeira”, destaca Miranda.
O especialista também ressalta a importância de uma colaboração entre academia, indústria e governo para facilitar a adoção de novas tecnologias. “Cada parte da cadeia produtiva deve contribuir para acelerar esse processo. É um esforço coletivo que envolve desde a produção até a comercialização”, enfatiza.
Compromisso do setor
Miranda acredita que o setor está comprometido com a adoção de práticas sustentáveis, embora reconheça a necessidade de discussão sobre o que é realmente necessário para essa transição. “As empresas entendem que a sustentabilidade traz benefícios não apenas para o planeta, mas também para sua própria lucratividade, mas é preciso acelerar a implementação destas práticas sustentáveis”, frisa,
Para se destacar neste cenário, Miranda enfatiza que os profissionais devem se aprofundar nas análises de sustentabilidade e na análise do ciclo de vida dos produtos. “Um bom profissional deve entender desde a produção do grão até o produto final que chega ao consumidor. Se ele se restringir a uma única área, pode perder de vista os benefícios que sua atuação pode trazer para toda a cadeia”, salienta.
A visão do especialista reforça que a sustentabilidade na suinocultura não é uma tendência passageira, mas uma necessidade imediata. “A adoção de práticas sustentáveis, aliada ao conhecimento técnico e científico, é fundamental para garantir um futuro mais responsável e eficiente para a indústria suinícola”, afirma.
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Suínos
Suinocultura teve ano de recuperação, mas cenário é de cautela
Conjuntura foi apresentada ao longo de reunião da Comissão Técnica de Suinocultura da Faep. Encontro também abordou segurança do trabalho em granjas de suínos.
Depois de dois anos difíceis, a suinocultura paranaense iniciou um período de recuperação em 2024. As perspectivas para o fim deste ano são positivas, mas os primeiros meses de 2025 vão exigir cautela dos produtores rurais, que devem ficar de olho em alguns pontos críticos. O cenário foi apresentado em reunião da Comissão Técnica (CT) de Suinocultura do Sistema Faep, realizada na última terça-feira (19). Os apontamentos foram feitos em palestra proferida por Rafael Ribeiro de Lima Filho, assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A mesma conjuntura consta do levantamento de custos de produção do Sistema Faep, que será publicado nos próximos dias.
O setor começou a se recuperar já em janeiro deste ano, com a retomada dos preços. Até novembro, o preço do suíno vivo no Paraná acumulou aumento de 54,4%, com a valorização se acentuando a partir de março. No atacado, o preço da carcaça especial também seguiu esse movimento. A recomposição ajudou o produtor a se refazer de um período em que a atividade trabalhou no vermelho.
Por outro lado, a valorização da carne suína também serve de alerta. Com o aumento de preços, os produtos da suinocultura perdem competitividade, principalmente em relação à carne de frango, que teve alta bem menor ao longo ano: o preço subiu 7,7%, entre janeiro e novembro. Com isso, a tendência é que o frango possa ganhar a preferência do consumidor, em razão dos preços mais vantajosos.
“Temos que nos atentar com a competitividade da carne suína em relação a outras proteínas. Com seus preços subindo bem menos, o frango se tornou mais competitividade. Isso é um ponto de atenção para a suinocultura, neste cenário”, assinalou Lima Filho.
Exportações
Com 381,6 mil matrizes, o Paraná mantém 18% do rebanho brasileiro de suínos. A produção nacional está em estabilidade nos últimos três anos, mas houve uma mudança no portifólio de exportações paranaenses. Com a recomposição de seus rebanhos, a China reduziu as importações de suínos. O país asiático – que chegou a ser o destino de 40% das vendas externas paranaenses em 2019 – vai fechar 2024 com a aquisição de 17% das exportações de suínos do Paraná.
Em contrapartida, os embarques para as Filipinas aumentaram e já respondem por 18% das vendas externas de carne suína do Estado. Entre os destinos crescentes, também aparece o Chile, como destino de 9% das exportações de produtos da suinocultura paranaense. Nesse cenário, o Paraná deve fechar o ano com um aumento de 9% no volume exportado em relação a 2023, atingindo 978 mil toneladas. Os preços, em compensação, estão 2,3% menores. “Apesar disso, as margens de preço começaram a melhorar no segundo semestre”, observou Lima Filho.
Perspectivas
Diante deste cenário, as perspectivas são positivas para este final de ano. O assessor técnico da CNA destaca fatores positivos, como o recebimento do 13º salário pelos trabalhadores, o período de férias e as festas de final de ano. Segundo Lima Filho, tudo isso provoca o aquecimento da economia e tende a aumentar o consumo de carne suína. “A demanda interna aquecida e as exportações em bons volumes devem manter os preços do suíno vivo e da carne sustentados no final deste ano, mantendo um momento positivo para o produtor”, observou o palestrante.
Para 2025, se espera um tímido crescimento de 1,2% no rebanho de suínos, com produção aumentando em 1,6%. As exportações devem crescer 3%, segundo as projeções. Apesar disso, por questões sazonais, os produtores podem esperar uma redução de consumo nos dois primeiros meses de 2025. “É um período em que as pessoas tendem a ter mais contas para pagar, como alguns impostos. Além disso, a maior concorrência da carne de frango pode impactar a demanda doméstica”, disse Lima Filho.
Além disso, o aumento nos preços registrados neste ano pode estimular o alojamento de suínos em 2025. Com isso, pode haver uma futura pressão nos preços nas granjas e nas indústrias. Ou seja, o produtor deve ficar de olho no possível aumento dos custos de produção, puxado principalmente pelo preço do milho, da mão de obra e da energia elétrica. “O cenário continua positivo para a exportação, mas o cenário para o ano que vem é de cautela. O produtor deve se planejar e traçar suas estratégias para essa conjuntura”, apontou o assessor da CNA.
Segurança do trabalho
Além disso, a reunião da CT de Suinocultura da FAEP também contou com uma palestra sobre segurança do trabalho em granjas de suínos. O engenheiro e segurança do trabalho e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Sandro Andrioli Bittencourt, abordou as Normas Regulamentadoras (NRs) que visam prevenir acidentes de trabalho e garantir a segurança e o bem-estar dos trabalhadores.
Entre as normativas detalhadas na apresentação estão a NR-31 (que estabelece as regras de segurança do trabalho no setor agropecuário), a NR-33 (que diz respeito aos espaços confinados, como silos, túneis e moegas) e a NR-35 (que versa sobre trabalho em altura). Em seu catálogo de cursos, o Sistema Faep dispõe de capacitações para cada uma dessas regulamentações.