Suínos
O porco, a lembrança e o amor que permanece
A história do Museu do Suíno em Santa Catarina é também a história de um homem que decidiu guardar tudo o que o tempo tenta levar.

Era uma manhã gelada de julho. Daquelas em que a geada ainda resiste nas sombras e o sol demora a tocar os telhados. Nosso último dia de gravações da segunda temporada da Expedição Suinocultura começava com o corpo já pedindo descanso, mas com a alma ainda alerta – talvez porque sabíamos, mesmo sem saber, que algo especial nos esperava. Foram dias intensos por Santa Catarina: mais de vinte entrevistas, centenas de quilômetros percorridos entre paisagens, granjas, cooperativas, agroindústrias, histórias. E então, no final da jornada, veio o presente.
O Museu do Suíno não fazia parte do roteiro original. Descobrimos sua existência quase como se ele tivesse nos chamado. Durante uma das entrevistas, o nome de Inácio Oswald surgiu quase involuntariamente. E a forma como falaram dele, com respeito, com um certo brilho nos olhos, nos convenceu de que era um desvio necessário. Subimos o morro onde está o Centro Histórico Germânico de Itapiranga, um espaço onde o passado ainda respira: casas de madeira, igrejas típicas, moinhos antigos, jardins impecáveis. E ali, entre tudo isso, o museu. Simples. Sereno. Vivo.
Inácio nos esperava na porta. O olhar atento, o sorriso contido, a mão estendida como quem convida para dentro não apenas de um lugar, mas de uma história. Ele é desses homens que a gente sente que carrega mais que lembranças: carrega sentido. Com passos fortes e fala firme, nos guiou pelas salas daquele espaço, construído por ele mesmo, com recursos próprios e dedicação de quem sabe que a memória, se não for cuidada, desaparece.
O espaço é cuidadosamente organizado. Uma linha do tempo percorre a evolução da suinocultura catarinense, desde os primeiros porcos trazidos pelos imigrantes alemães em 1928 até os sistemas modernos de produção. Há objetos antigos, moldes para embutidos, balanças manuais, tachos de banha, fotos em preto e branco, documentos, ferramentas, arte popular. Tudo limpo, iluminado, acolhedor. Tudo escolhido com olhos que sabem o que vale ser guardado.
Lá pelas tantas, ele nos levou a uma representação que nos marcou: o tropeirismo de suínos. Explicou que, no início, os porcos eram conduzidos a pé por longas distâncias até os centros de abate em São Paulo. Um tropeiro ia na frente jogando milho, e os animais vinham atrás. Como se fossem bois. Como se soubessem que o destino deles era parte de algo maior. Aquilo me fez parar. Imaginar a cena. Sentir o silêncio daqueles caminhos. De Itapiranga a São Paulo a pé com os porcos? Como se diz hoje, aquilo abriu um tríplex na minha cabeça.
Mas o que mais me tocou naquela visita foi algo que não estava nas vitrines. Quando terminamos o percurso e agradecemos pela recepção, Inácio se despediu com gentileza e certa urgência. Disse que precisava voltar para casa. Sua esposa o esperava. Ela tem Alzheimer, disse ele com um carinho que não se explica em palavras. Um amor paciente, diário, presente – desses que a doença desafia, mas não apaga. Fiquei em silêncio por alguns segundos. Ele acabara de nos mostrar um museu inteiro dedicado à memória. E voltava, com a mesma dedicação, para cuidar de alguém cujas lembranças escapam dia após dia. Ironia? Talvez. Mas prefiro acreditar que há nisso uma delicadeza que escapa ao entendimento comum.
Saí daquele lugar em silêncio. O frio ainda cortava o rosto, mas dentro, algo tinha aquecido. Entendi, ali, que a suinocultura não se explica apenas por números, produção, consumo. Ela se sente. Está nos gestos, na herança, nos vínculos. Está naquele museu erguido por um homem comum e extraordinário. Está na paisagem que o cerca – um vale verde, límpido, como se a natureza tivesse decidido homenagear o que ali acontece.
A Expedição nos levou a muitos lugares. Conhecemos tecnologias de ponta, sistemas produtivos avançados, tivemos debates técnicos sobre sanidade, nutrição, exportação, genética. Tudo necessário, tudo importante. Mas em Itapiranga, naquele museu, naquele dia frio de julho, entendi outra coisa: o futuro da suinocultura depende também daquilo que não cabe nos relatórios. Daquilo que é memória, afeto, reconhecimento.
Essa história estará na segunda temporada da série documental Expedição Suinocultura: Rotas do Brasil, que estreia no dia 22 de agosto. Porque antes de falar de proteína, é preciso falar de gente. E antes de projetar o amanhã, é preciso cuidar – com olhos, mãos e coração – daquilo que o tempo nos confiou.
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Suínos
Swine Day 2025 reforça integração entre ciência e indústria na suinocultura
Com 180 participantes, painéis técnicos, pré-evento sanitário e palestras internacionais, encontro promoveu troca qualificada e aproximação entre universidade e setor produtivo.

Realizado nos dias 12 e 13 de novembro, na Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Swine Day chegou à sua 9ª edição reunindo 180 participantes, 23 empresas apoiadoras, quatro painéis, 29 apresentações orais e oito espaços de discussão. O encontro reafirmou sua vocação de aproximar pesquisa científica e indústria suinícola, promovendo ambiente de troca técnica e atualização profissional.
O evento também contou com um pré-evento dedicado exclusivamente aos desafios sanitários causados por Mycoplasma hyopneumoniae na suinocultura mundial, com quatro apresentações orais, uma mesa-redonda e 2 espaços de debate direcionados ao tema.
As pesquisas apresentadas foram organizadas em quatro painéis temáticos: UFRGS–ISU, Sanidade, Nutrição e Saúde e Produção e Reprodução. Cada sessão contou com momentos de discussão, reforçando a proposta do Swine Day de estimular o diálogo técnico entre academia, empresas e profissionais da cadeia produtiva.
Entre os destaques da programação estiveram as palestras âncoras. A primeira, ministrada pelo Daniel Linhares, apresentou “Estratégias epidemiológicas para monitoria sanitária em rebanhos suínos: metodologias utilizadas nos EUA que poderiam ser aplicadas no Brasil”. Já o Gustavo Silva abordou “Ferramentas de análise de dados aplicadas à tomada de decisão na indústria de suínos”.
Durante o encerramento, a comissão organizadora agradeceu a participação dos presentes e anunciou que a próxima edição do Swine Day será realizada nos dias 11 e 12 de novembro de 2026.
Com elevado nível técnico, forte participação institucional e apoio do setor privado, o Swine Day 2025 foi considerado pela organização um sucesso, consolidando sua importância como espaço de conexão entre ciência e indústria dentro da suinocultura brasileira.
Suínos
Preços do suíno vivo seguem estáveis e novembro registra avanço nas principais praças
Indicador Cepea/ESALQ mostra mercado firme com altas moderadas no mês e estabilidade diária em estados líderes da suinocultura.

Os preços do suíno vivo medidos pelo Indicador Cepea/Esalq registraram estabilidade na maioria das praças acompanhadas na terça-feira (18). Apesar do cenário de calmaria diária, o mês ainda apresenta variações positivas, refletindo um mercado que segue firme na demanda e no escoamento da produção.
Em Minas Gerais, o valor médio se manteve em R$ 8,44/kg, sem alteração no dia e com avanço mensal de 2,55%, o maior entre os estados analisados. No Paraná, o preço ficou em R$ 8,45/kg, registrando leve alta diária de 0,24% e acumulando 1,20% no mês.
No Rio Grande do Sul, o indicador permaneceu estável em R$ 8,37/kg, com crescimento mensal de 1,09%. Santa Catarina, tradicional referência na suinocultura, manteve o preço em R$ 8,25/kg, repetindo estabilidade diária e mensal.
Em São Paulo, o valor do suíno vivo ficou em R$ 8,81/kg, sem variação no dia e com leve alta de 0,46% no acumulado de novembro.
Os dados são do Cepea, que monitora diariamente o comportamento do mercado e evidencia, neste momento, um setor de suínos com preços firmes, porém com oscilações moderadas entre as principais regiões produtoras.
Suínos
Produção de suínos avança e exportações seguem perto de recorde
Mercado interno reage bem ao aumento da oferta, enquanto embarques permanecem em níveis históricos e sustentam margens da suinocultura.

A produção de suínos mantém trajetória de crescimento, impulsionada por abates maiores, carcaças mais pesadas e margens favoráveis, de acordo com dados do Itaú BBA Agro. Embora o volume disponibilizado ao mercado interno esteja maior, a demanda doméstica tem respondido positivamente, garantindo firmeza nos preços mesmo diante da ampliação da oferta.
Em outubro, o preço do suíno vivo registrou leve retração, com queda de 4% na média ponderada da Região Sul e de Minas Gerais. Apesar disso, o spread da suinocultura sofreu apenas uma redução marginal e segue em patamar sólido.

Foto: Shutterstock
Dados do IBGE apontam que os abates cresceram 6,1% no terceiro trimestre de 2025 frente ao mesmo período de 2024, após altas de 2,3% e 2,6% nos trimestres anteriores. Com carcaças mais pesadas neste ano, a produção de carne suína avançou ainda mais, chegando a 8,1%, reflexo direto das boas margens, favorecidas por custos de produção controlados.
Do lado da demanda, o mercado externo tem sido um importante aliado na absorção do aumento da oferta. Em outubro, as exportações somaram 125,7 mil toneladas in natura, o segundo maior volume da história, atrás apenas do mês anterior, e 8% acima de outubro de 2024. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, o crescimento chega a 13,5%.
O preço médio em dólares recuou 1,2%, mas o impacto sobre o spread de exportação foi mínimo. O indicador segue próximo de 43%, acima da média histórica de dez anos (40%), impulsionado pela desvalorização cambial, que atenuou a queda em reais.
Mesmo com as exportações caminhando para superar o recorde histórico de 2024, a oferta interna de carne suína está maior em 2025 em função do aumento da produção. Ainda assim, o mercado doméstico tem absorvido bem esse volume adicional, mantendo os preços firmes e reforçando o bom momento do setor.



