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Avicultura Um desabafo agroindustrial

“O Mapa torra a paciência da indústria todo dia”

Por trás do inquestionável sucesso da produção avícola brasileira, há um sistema burocrático, antigo e ineficiente que desgasta o setor, freia seu crescimento e ameaça seu futuro

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Uma entrevista exclusiva da Reportagem do jornal O Presente Rural expõe uma situação que no mínimo merece atenção de toda a cadeia da avicultura e das autoridades governamentais. Por trás do inquestionável sucesso da produção avícola brasileira, há um sistema burocrático, antigo e ineficiente que desgasta o setor, freia seu crescimento e ameaça seu futuro. As revelações nada agradáveis sobre os bastidores da produção de carne de frango no Brasil são de João Pedro, nome fictício para o responsável pelo setor de avicultura de uma das maiores e mais respeitadas agroindústrias do país. João Pedro prefere o anonimato por receio de retaliações, especialmente do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e do Ministério do Trabalho.

Os infortúnios, em sua opinião, começaram em 2007, com a publicação da Instrução Normativa 56, que estabeleceu os procedimentos para registro, fiscalização e controle de estabelecimentos avícolas de reprodução e comerciais. “O governo começou a se meter muito no setor produtivo com a desculpa de proteger consumidor. De 2007 pra cá o governo começou a se meter muito, burocratizou o setor, nós perdemos agilidade, seja de abate, seja para construir um aviário ou qualquer outra atividade da avicultura. Para se ter uma ideia, antes de 2007 a gente fazia um aviário em três meses. Hoje eu preciso mais de dez documentos para construir e geralmente demora mais de um ano para conseguir todas as liberações. Isso é uma vergonha”, menciona João Pedro. “Tem empresário ficando doente com tantas normas, instruções, papel para preencher, sendo que em outros países as coisas são bem diferentes. O controle de qualidade fica a cargo da empresa, por exemplo. O resultado é que muitas empresas fecharam ou foram incorporadas e o setor parou”, amplia.

“Para quem crescia de 8 a 10 % por ano, hoje crescer 1%… veja o tamanho da encrenca”.

Gente despreparada no MAPA

Para o profissional, há despreparo na hora de confeccionar leis e fazer as fiscalizações na indústria. “Estamos (avicultura brasileira) há quase dez anos sem crescer em volume de produção. E muito por conta do Mapa e das pessoas despreparadas que estão ditando regras lá. O Mapa torra a paciência da indústria todo dia. Com a desculpa de que tudo é exigência do consumidor, fica ferrando a indústria. No Mapa há um excesso de zelo e gente despreparada, que tem visão de que o empresário é malandro, só quer se dar bem, mas não é assim. Se a indústria errar, afeta a marca da empresa, é a primeira que perde. Nenhum empresário quer isso”, cita. “Infelizmente a realidade é que temos gente sem capacidade técnica determinando as normas da nossa avicultura. Isso requer a participação da indústria, que não é ouvida. A avicultura é um negócio complexo, que começa cinco anos antes, com as bisavós, matrizes, genética, etc. Não dá para ficar ditando regras sem saber do negócio”, sustenta. “Por isso paramos de crescer, especialmente de 2010 pra cá”, justifica.

“O SIF (Serviço de Inspeção Federal) é um problema. Em outros países produtores, como estados Unidos, a qualidade e controle dos produtos ficam a cargo da empresa, no Brasil isso não acontece. Quando você toma um medicamento, quem é que está lá descrito no franco; o responsável técnico, não a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Por que com os alimentos a coisa não é tratada assim?”, questiona o profissional.

Ao tratar a agroindústria como inimiga, deixá-la fora da confecção das leis e regulamentar e fiscalizar em demasia, menciona João Pedro, o Mapa comete um grave erro que resulta em perda da imagem dos processos produtivos e ineficiência.

A patética história de Gumboro

A Doença de Gumboro é uma enfermidade fortemente presente nas produções de aves, gerando enormes prejuízos econômicos com mortalidade e diminuição da eficácia do lote. Por isso, a vacinação das aves é feita na produção industrial, não só no Brasil, mas no mundo todo. João Pedro lembra de um episódio protagonizado pelo Mapa que, segundo ele, demonstra o despreparo da equipe do Ministério.  “Eles estavam negociando com um país, mas esse país só aceitaria se nós não vacinássemos contra Gumboro. O próprio país que exigia isso vacina contra Gumboro. E o Mapa estava aceitando essas condições”, lembra com indignação. “Falta conhecimento”, lamenta o profissional da indústria.

Para ele, esse tipo de situação demonstra a incapacidade, inclusive, de fechar acordos internacionais de comércio. “O Mapa alega que tudo é exigência do consumidor e do mercado externo, mas esse tudo é mal negociado. Nossos acordos internacionais, por exemplo, têm poucas pessoas da produção envolvidos. O negociador internacional não entende como funciona o processo”, sustenta.

Que pepelão

O profissional cita que no Brasil, quando a carne para linguiça vai de uma planta industrial a outra, por tubulação, para ser finalizada, é embalada em invólucros plásticos para percorrer o caminho. Isso gera custos e mão de obra para higienizar os materiais. É uma norma do Mapa o transporte em embalagens desse tipo. “Nos Estados Unidos, maior produtor mundial de frango, esse transporte é feito em embalagens de papelão. Isso é muito mais eficiente e seguro. Mas aqui no Brasil não pode. Então eu te pergunto. Quando você compra uma pizza, onde ela vem? Numa caixa de papelão. Qual o risco disso?”.

“Esse tipo de situação é só mais um exemplo de como produzir carne de frango está difícil no Brasil”, lastima o profissional.

Cadê os doentes?

João Pedro cita que é cultural no Brasil o Mapa e outras instituições jogarem contra o setor produtivo. Para exemplificar, ele lembra dos prejuízos enormes que a Operação Carne Fraca trouxe para o setor. “Ficam jogando contra. Cadê os doentes, cadê as pessoas que comeram a carne da operação Carne Fraca e foram parar nos hospitais? Não tem”, enfurece-se.

Pior ainda, segundo João Pedro, é que outro tratamento é dado para outros players mundiais da avicultura. “Quando acontece um problema com a avicultura na Europa, centenas de pessoas vão parar nos hospitais, mas isso tudo bem porque é na Europa. E aqui no Brasil? Nada”, destaca. João Pedro se incomoda muito com essa “demonização” da avicultura brasileira por parte dos órgãos reguladores.

Logística, corrupção e custos

Quando João Pedro toca no assunto logística, fica nítida sua frustração e o medo de perder mercados consumidores em ascensão por perda de competitividade. “A nossa logística é cara e não funciona direito. Tem muito pedágio, rodovias em péssimas condições, pouca rodovia asfaltada, falta hidrovias e ferrovias. Nosso dinheiro foi parar na mão de funcionários públicos, não viraram investimentos. Mesmo assim, somos competitivos. O problema é que tudo isso encarece nossos custos. Quando temos custos baixos, temos facilidade de competir. Mas quando nossos custos se aproximam de outros produtores, o mercado pode se fechar”.

Um dado repassado pelo profissional é de assustar. De acordo com ele, juntos, a cada trinta dias os caminhões e carretas da empresa onde trabalha rodam o equivalente a 160 voltas ao redor do mundo. “São 164 voltas ao mundo por mês”.

Plantas paradas

O resultado é que muitas plantas industriais estão paradas ou subutilizadas. João Pedro cita pelo menos oito, espalhadas em São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. “O produtor deixou de alojar muitos lotes, as plantas (empresas) deram férias coletivas, hoje temos cinco frigoríficos parados em Santa Catarina em municípios como Itajaí, Jaraguá do Sul e Chapecó, além de um sexto que está abatendo a metade que abatia há algum tempo. Temos exemplos também em Pelotas, RS, onde uma grande unidade fechou. No Paraná tem planta parada e em São Paulo também, tudo parado”.

Isso tudo, na opinião de João Pedro, tem muita relação com a burocracia. “Por que o Brasil parou de crescer se genética é a mesma de outros países, a nutrição é como em qualquer parte do mundo, temos sanidade, bom manejo. Então o problema não está no campo. Dentro dos frigoríficos, temos as mesmas tecnologias e maquinas que os outros países. Então o problema não é na fábrica. A gente passa mais tempo escrevendo papel, respondendo questionário, isso reduz nossa eficiência. Questões trabalhistas também limitam as empresas de produzir mais. Ele cita uma nova lei, que garante pausas no trabalho que em sua opinião seriam desnecessárias, e sua consequência no abate. “A velocidade de abate, diminui. Em uma unidade nossa, por exemplo, caiu de 150 mil para 130 mil frangos por dia só por causa dessa pausa. Tudo isso aliado a uma tributação elevada”, aponta.

O frango dos outros

O profissional faz um alerta importante: se o Brasil não está ampliando seu mercado no ritmo do crescimento do consumo mundial de carne de frango, outros países estão atendendo essa demanda. “O consumo mundial aumenta ano após ano. Estamos chegando a 8 bilhões de pessoas no mundo. Aumentou o consumo total porque tem mais pessoas e porque temos pessoas com mais dinheiro. Se vai ser nós ou outra parte do mundo que vai ficar com esse mercado, depende do que faremos daqui pra frente. Países como Polônia, Índia e Arábia Saudita estão produzindo frango. Na Arábia Saudita, inclusive, tem uma empresa abatendo 600 milhões e frangos por ano, lá no meio do deserto, por incompetência nossa”, menciona. “Perdemos uma oportunidade de acompanhar o crescimento mundial”, crava.

Por isso, segundo a fonte ouvida na Reportagem, a tendência é de exportar cada vez mais milho e soja, que são a base da nutrição de suínos e aves, para esses países. “Estamos aumentando a exportação de milho. O milho está indo do Brasil para dar de comer para suínos e aves em outros países”, sustenta. “O que gera mais empregos, uma lavoura ou uma agroindústria?”, provoca. “Se a empresa quebrar, onde vão parar os empregos nesse país?”, preocupa-se.

Era para ser o maior

Com mais de 20 anos de experiência no setor, João Pedro revela o ideal que a avicultura brasileira tinha a 11 anos atrás. “Em 2008 falávamos que em 2018 seráamos o maior produtor de frango do mundo, à frente dos Estados Unidos. Para isso, a gente acreditava que hoje estaríamos abatendo 18 milhões de toneladas, mas paramos”.

A entrevista encerra com um apelo de João Pedro ao governo federal. “Acho que estamos começando a entrar no caminho certo, mas precisa muita mudança, principalmente no governo, que tem que trabalhar com a agroindústria. Hoje não somos ouvidos e, o pior, tratados como inimigos, tratados como pessoas que só querem levar vantagem, mas isso não é verdade. A maior parte do nosso trabalho vira distribuição de renda e melhorias socioeconômicas para todos que estão envolvidos no processo. Os Ministérios do Trabalho, da Agricultura e do Meio Ambiente não podem tratar assim as agroindústrias. Isso não é normal”, lamenta-se.

Outras notícias você encontra na edição de Aves de setembro/outubro de 2019 ou online.

Fonte: O Presente Rural

Avicultura

Produção de frangos em Santa Catarina alterna quedas e avanços

Dados da Cidasc mostram que, mesmo com variações mensais, o estado sustentou produção acima de 67 milhões de cabeças no último ano.

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A produção mensal de frangos em Santa Catarina apresentou oscilações significativas entre outubro de 2024 e outubro de 2025, segundo dados da Cidasc. O período revela estabilidade em um patamar elevado, sempre acima de 67 milhões de cabeças, mas com movimentos de queda e retomada que refletem tanto fatores sazonais quanto ajustes de mercado.

O menor volume do período foi registrado em dezembro de 2024, com 67,1 milhões de cabeças, possivelmente influenciado pela desaceleração típica de fim de ano e por ajustes de alojamento. Logo no mês seguinte, porém, houve forte recuperação: janeiro de 2025 alcançou 79,6 milhões de cabeças.

Ao longo de 2025, o setor manteve relativa constância entre 70 e 81 milhões de cabeças, com destaque para julho, que atingiu o pico da série, 81,6 milhões, indicando aumento da demanda, seja interna ou externa, em plena metade do ano.

Outros meses também se sobressaíram, como outubro de 2024 (80,3 milhões) e maio de 2025 (80,4 milhões), reforçando que Santa Catarina segue como uma das principais forças da avicultura brasileira.

Já setembro e outubro de 2025 mostraram estabilidade, com 77,1 e 77,5 milhões de cabeças, respectivamente, sugerindo um período de acomodação do mercado após meses de forte atividade.

De forma geral, mesmo com oscilações, o setor mantém desempenho sólido, mostrando capacidade de rápida recuperação após quedas pontuais. O comportamento indica que a avicultura catarinense continua adaptável e resiliente diante das demandas do mercado nacional e internacional.

Fonte: O Presente Rural com informações Epagri/Cepa
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Avicultura

Setor de frango projeta crescimento e retomada da competitividade

De acordo com dados do Itaú BBA Agro, produção acima de 2024 e aumento da demanda doméstica impulsionam perspectivas positivas para o fechamento de 2025, com exportações em recuperação e espaço para ajustes de preços.

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O setor avícola brasileiro encerra 2025 com sinais de recuperação e crescimento, mesmo diante dos desafios impostos pelos embargos que afetaram temporariamente as margens de lucro.

De acordo com dados do Itaú BBA Agro, a produção de frango deve fechar o ano cerca de 3% acima de 2024, enquanto o consumo aparente deve registrar aumento próximo de 5%, impulsionado por maior disponibilidade interna e retomada do mercado externo, especialmente da China.

Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a competitividade do frango frente à carne bovina voltou a se fortalecer, criando espaço para ajustes de preços, condicionados à oferta doméstica. A demanda interna tende a crescer com a chegada do período de fim de ano, sustentando a valorização do produto.

Além disso, os custos de produção, especialmente da ração, seguem controlados, embora a safra de grãos 2025/26 ainda possa apresentar ajustes. No cenário geral, os números do setor podem ser considerados positivos frente às dificuldades enfrentadas, reforçando perspectivas favoráveis para os próximos meses.

Fonte: O Presente Rural com informações Itaú BBA Agro
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Avicultura

Avicultura do Paraná sofre com desequilíbrio entre custos e remuneração

Levantamento do Sistema Faep mostra que, mesmo com a liderança nacional em abates, a maioria dos produtores opera abaixo dos custos, acumulando prejuízos e enfrentando dificuldades para manter e modernizar os aviários.

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O Paraná é uma superpotência nacional na produção de frangos de corte. Os números falam por si: o Estado responde por um terço dos abates do país, produzindo quase 2,3 bilhões de cabeças em 2024, movimentando cifras da ordem de R$ 31 bilhões. Toda essa pujança do setor, no entanto, não tem chegado aos produtores rurais. As receitas dos avicultores mal cobrem os custos diretos, o que representa um risco para a atividade em médio e longo prazos.

Confira todas as planilhas do levantamento de custos de produção da avicultura

É o que aponta o levantamento de custos de produção elaborado pelo Sistema Faep. O estudo é elaborado seguindo a metodologia própria e embasado por dados fornecidos por avicultores de todas as regiões do Estado. Os produtores foram ouvidos em painéis realizados em cada uma das 14 Comissão de Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração (Cadecs) do Paraná, abrangendo os polos produtivos do Estado. Os resultados representam as médias por tamanhos de modais e classificação do frango, pesado ou griller, conforme o cenário das integrações.

Segundo os técnicos Caroline da Costa e Fábio Mezzadri, do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema Faep, os dados “revelam um cenário preocupante para a sustentabilidade da atividade”. Segundo o relatório, em praticamente todas as integrações, ALERTA as receitas obtidas pelos avicultores com a entrega das aves e com a venda de cama de aviário cobriram apenas os custos variáveis – ou seja, os desembolsos para produzir o lote de frangos.

O levantamento revelou que os produtores rurais ficaram no vermelho no que diz respeito ao custo fixo (que leva em conta as depreciações de máquinas, equipamentos e instalações) e o custo total (que se consolida como um índice de longo prazo para a atividade). Isso implica em saldos negativos anuais para cada produtor, que variam entre R$ 89 mil e R$ 217 mil, o que compromete a depreciação de instalações e a capacidade de investimento. “Ano após ano, as condições dos produtores estão se complicando, com a atividade ficando mais no vermelho”, diz o presidente da Comissão Técnica de Avicultura do Sistema Faep, Diener Santana. “Os reajustes que os produtores estão recebendo não acompanham os custos de produção, que têm aumentado acima. Isso agrava o vermelho”, acrescenta.

Ainda, o DTE do Sistema Faep estabelece uma comparação com os resultados de 2024. Segundo os técnicos, ao longo de um ano, houve um aumento nos custos variáveis, que oscilou entre 5% e 15%, conforme a região. O que mais pesou foram os valores da mão de obra, dos custos de manutenção e da energia elétrica. “Esses fatores [de aumento] são influenciados pela inflação, demandas regulatórias e exigências de bem-estar animal”, destaca Caroline, do DTE. “Esta realidade ameaça a viabilidade da cadeia produtiva paranaense, um dos pilares do agronegócio brasileiro, com potencial impacto em empregos rurais, suprimento de insumos e exportações”, complementa Mezzadri.

O presidente da CT de Avicultura ressalta uma distinção dentro da atividade. Os aviários mais novos, em regra, recebem adicionais. Os galpões mais antigos, no entanto, não ganham qualquer complementação. “Os modais novos têm incentivo para que o produtor se viabilize. Os mais antigos não têm. É só a remuneração seca”, aponta Santana.

Há oito anos na atividade, o avicultor Luís Guilherme Geraldo mantém quatro galpões, alojando 160 mil aves, em Jaguapitã, no Norte do Paraná. Além dele, o pai e dois colaboradores atuam diretamente na produção de frangos de corte, na propriedade. “Realmente, a avicultura está em bom momento, principalmente no mercado de exposições. Mas o lucro fica todo na integração”, ressalta.

Ao longo do ano, por meio de negociações na Cadec, os produtores conseguiram reajustes de 7,5%, que minimizaram os prejuízos acumulados em anos anteriores. Geraldo pretende ampliar a produção para diluir os custos, mas sabe dos riscos implicados na operação. “Apesar dos cenários econômico e político desafiadores, o produtor continua investindo. Esperamos que a avicultura siga em alta. O frango brasileiro é bem-visto no mercado internacional por nossas boas práticas sanitárias. Continuamos realizando diversos estudos para auxiliar nossos produtores rurais”, afirma o presidente interino do Sistema Faep, Ágide Eduardo Meneguette. “Nosso papel é dar esse suporte aos avicultores nas negociações de preços e custos junto às empresas integradoras em reuniões das Cadecs”, complementa.

Empresas cobram investimentos de produtores, mas remuneração é insuficiente

Um agravante à condição dos avicultores integrados envolve as exigências das empresas em relação a investimentos constantes nos aviários. Segundo os produtores rurais ouvidos pela reportagem do Boletim Informativo, as integradoras têm demandado atualizações constantes nos aviários, principalmente no que diz respeito a automação dos galpões e a aspectos sanitários. O valor pago aos produtores, no entanto, inviabiliza tais investimentos, pressionando cada vez mais os avicultores. “Há uma pressão enorme por investimentos e melhorias nos aviários justamente para proporcionar lucros à integradora e manter a excelência do padrão sanitário na criação das aves”, diz o produtor Maurício Gonçalves Pereira. “Temos que investir somas significativas para manter a ótima qualidade dos frangos, o que proporciona um primor sanitário e a conquista do produto em países que bem remuneram a carne de frango, mas não somos remunerados na mesma medida”, acrescenta.

Os aviários na propriedade de Pereira têm 11 anos, em São Tomé, município vizinho a Cianorte, Noroeste do Paraná. Apesar de ter feito inúmeras melhorias, ainda há uma série de investimentos que precisa ser feita. “Em um dos fornos, preciso substituir o sistema de aquecimento e nos outros é necessária a substituição das cortinas para a melhoria na circulação. Fora isso, constantes são os gastos com a manutenção da estrutura dos aviários”, aponta o avicultor. “Dada a necessidade incessante de investimentos, esta manutenção tem sido um problema sério para o produtor, visto que a remuneração não tem sido suficiente para que façamos todos os desembolsos necessários e exigidos pela integradora”, aponta.

Avicultor há 12 anos, Pereira mantém dois aviários com capacidade global de alojar 65 mil aves. Ele detalha que a renda dos produtores está diretamente relacionada à questão estrutural e às exigências das integradoras. Ele está prestes a fazer novos investimentos. “Preciso investir mais no aumento da capacidade de geração de energia fotovoltaica, já que a produção atual está sendo insuficiente. O valor da energia elétrica oscila e isto impacta diretamente no custo de produção”, diz.

Outro produtor, Eliandro Vegian Carneiro, também aponta que as instalações são determinantes para a equalização da atividade. Ele administra uma propriedade localizada em Éneas Marques, no Sudoeste do Paraná, em que mantém um aviário com capacidade para alojar 27 mil aves. Ele avalia os riscos que os elevados custos e necessidades constantes de investimentos implicam ao setor. “Tem que buscar por tecnologia e formas de reduzir os custos entre os lotes para poder se manter na atividade. É ‘bruto’ investir aproximadamente R$ 1,5 milhão em um barracão e saber que terá essa dívida por longos dez anos ou mais”, aponta Carneiro. “Em aviários mais novos, com mais tecnologia ou onde se tem mais de um aviário, consegue equilibrar, mas os custos de manutenção subiram muito”, diz.

De acordo com Luiz Guilherme Geraldo, quem tem estrutura mais defasada passa a ser pressionado a modernizar os galpões, mesmo que a remuneração não permita novos investimentos. “Os donos de aviários mais novos recebem um incentivo para estar sempre melhorando os galpões. Mas quando se trata de um aviário mais antigo, o produtor é cobrado a investir um dinheiro que não tem. Só se fizer essa modernização é que vai receber algum incentivo”, afirma. “Desejamos a melhoria das condições de remuneração para que possamos nos manter vivos e ativos na produção”, diz Pereira. “O próximo ano é uma incógnita. Com os juros altos em ano de eleição, não vejo uma melhora a curto prazo”, conclui Carneiro.

Fonte: Assessoria Sistema Faep
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