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O inabalável crescimento do agronegócio brasileiro em foco e um olhar para 2024

A solidez do agronegócio brasileiro é indiscutível, mas a evolução é um imperativo.

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Foto: Gilson Abreu

Num cenário nacional em constante mudança e sob a iminência de um novo governo, as previsões tornam-se complexas e estão repletas de nuances. Quando lancei minhas previsões para o agronegócio brasileiro, estava ciente de que as variáveis eram múltiplas e as certezas, escassas. A expectativa era, contudo, de que o Brasil mantivesse seu vigor no agronegócio, uma potência incontestável no cenário global.

Na ocasião, refleti sobre a robustez do setor agropecuário, apesar de um crescimento modesto, pontuando sua independência em relação às inclinações políticas governamentais e sua capacidade de se sustentar e prosperar mediante a inovação e a demanda global crescente.

E, ao cotejar minhas análises com os dados recentemente divulgados pelo IPEA, vejo que, de muitas formas, as premissas se consolidaram. O agronegócio registrou um crescimento formidável, com um incremento do valor adicionado em 15,5%, superando as expectativas iniciais de 13,2%.

As razões por trás do sucesso

O que impulsionou esse desempenho foi a produção agrícola excepcional, com os principais protagonistas sendo a soja e o milho.

No segundo trimestre de 2023, a produção de soja na região Sul cresceu surpreendentes 61,4%, enquanto o milho teve um crescimento estimado de 16%.

Esses números refletem não apenas uma colheita abundante, mas também uma capacidade notável de aumento de produtividade.

Revisões positivas em diversas culturas

Não se trata apenas de soja e milho. Outras culturas importantes, como cana-de-açúcar e algodão, também apresentaram revisões positivas em suas estimativas de crescimento. A cana-de-açúcar teve uma previsão de alta revisada de 6,6% para 8,6%, enquanto o algodão surpreendeu com um salto de 2,9% para 10,0%.

Setor pecuário em ascensão 

As produções de bovinos e frangos também superaram as expectativas, com crescimentos de 10,8% e 7,2%, respectivamente, no segundo trimestre de 2023. Com esses resultados robustos, as projeções anuais foram revisadas para 7,0% e 6,3%, respectivamente.

A capacidade do setor de se adaptar a condições desafiadoras, adotar tecnologias avançadas e implementar práticas sustentáveis tem sido fundamental. Os produtores brasileiros demonstraram uma resiliência notável diante de adversidades, adotando práticas agrícolas modernas que aumentaram a produtividade.

2024: perspectivas de estabilidade e desafios

Enquanto estes crescimentos são celebrados, há um sinal claro de estabilidade projetada para 2024,com uma leve expansão de 0,4% no VA do setor agropecuário. Uma estabilidade que, por um lado, denota uma certa resiliência e solidez do setor, mas, por outro, reflete a necessidade imperiosa de inovação, diversificação e desenvolvimento sustentável.

O cenário para 2024, apesar da antecipação de estabilidade, ressalta a impermanência do crescimento vertiginoso. Com a soja projetada para crescer 5,1%, mas com quedas notáveis em milho e algodão, as nuances do futuro exigem uma atenção meticulosa aos detalhes e às tendências. A pecuária, embora com projeções positivas, particularmente nos segmentos de frangos e suínos, requer um monitoramento contínuo para antecipar oscilações e oportunidades.

A interação entre tecnologia e agronegócio, um tema que explorei extensivamente, torna-se cada vez mais crucial. Com mais de 90% dos agricultores conectados, a revolução digital no campo é uma realidade. As empresas precisam dominar a arte de navegar nas complexidades do mundo digital para criar estratégias de comunicação eficazes e eticamente responsáveis. É imperativo respeitar a privacidade dos produtores rurais e estar em sintonia com as normativas da LGPD.

Em minha previsão inicial, fiz referência à capacidade do setor de manter sua força entre pequenos produtores e à agricultura familiar, e à necessidade de políticas públicas promissoras. O novo governo tem a responsabilidade de incentivar o cooperativismo e o seguro rural, mantendo o diálogo aberto com todos os envolvidos no setor agropecuário.

O agronegócio brasileiro é uma força resiliente que continua a surpreender positivamente. 2023 foi um ano excepcional, destacando a capacidade do setor de superar desafios e prosperar. Para 2024, enfrentamos novos desafios, mas a resiliência, inovação e investimentos no setor podem nos posicionar para enfrentar com confiança as incertezas que podem surgir.

Enquanto nos encontramos num momento de prosperidade relativa, a vigilância e a reflexão continuada são essenciais. Devemos questionar, analisar e planejar com meticulosidade e discernimento, preparando-nos para as instabilidades futuras e maximizando as oportunidades que surgem num cenário tão dinâmico e imprevisível como o do agronegócio brasileiro.

A solidez do agronegócio brasileiro é indiscutível, mas a evolução é um imperativo. As empresas e os produtores que não se adaptarem às nuances e complexidades da modernidade líquida correm o risco de perder terreno num setor tão promissor e vital para a economia nacional.

Fonte: Por Diogo Luchiari Fructuoso, sócio e chief Marketing Officer da Macfor.

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No agro, governança e transparência é questão de sobrevivência

Atitudes sustentáveis levam ao acesso a novas fontes de financiamento e capital, que contribuem para a prosperidade de suas atividades e podem mudar não só o futuro da empresa, mas do país.

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Fotos: Shutterstock

O agronegócio desempenha um papel fundamental na economia global, fornecendo alimentos, fibras e combustíveis que sustentam a vida moderna. No entanto, para manter e expandir suas operações e ter acesso a novas tecnologias, as empresas do setor precisam de acesso a capital e, para isso, é necessário investimento em transparência e governança.

Foto: Gisele Rosso

Óbvio que transparência e governança são componentes essenciais para qualquer empresa que deseja operar de forma sustentável e responsável. No entanto, no contexto do agronegócio esses princípios assumem uma importância ainda maior devido aos impactos ambientais e sociais significativos associados à agricultura e à pecuária.

Num primeiro momento, a transparência envolve a divulgação aberta e acessível de informações sobre as operações da empresa. Isso inclui dados sobre práticas contábeis, fiscais e trabalhistas, impactos ambientais, uso de recursos naturais e condições de trabalho. Quando as empresas do agronegócio são transparentes, elas demonstram também comprometimento com a responsabilidade social e a sustentabilidade.

Isso não apenas atrai investidores preocupados com essas questões, mas também ajuda a construir uma reputação positiva junto aos consumidores, o que pode impulsionar as vendas e a rentabilidade a médio e curto prazos.

A governança corporativa refere-se as estruturas e processos que regem o funcionamento interno de uma empresa. No agronegócio isso inclui a gestão de riscos ambientais e sociais, a conformidade com regulamentações governamentais e regras contábeis, a gestão de cadeia ética de suprimentos e muito mais. Ter uma governança sólida não apenas minimiza o risco de crises, mas também melhora a eficiência operacional, a tomada de decisões estratégicas e, sobretudo, facilita o acesso ao capital.

Foto: Divulgação/Arquivo OPR

E, por que a governança e transparência são importantes para acessar capital mais barato? A resposta está na crescente conscientização dos investidores e das instituições financeiras sobre os riscos associados ao agronegócio. À medida que os problemas ambientais, como desmatamento e escassez de água, e as preocupações sociais, como condições de trabalho e direitos indígenas e quilombolas ganham destaque, investidores estão cada vez mais interessados em apoiar empresas que abordem essas questões de maneira responsável.

Empresas que investem em transparência e governança têm maior probabilidade de atrair investidores comprometidos com critérios ambientais, sociais e de governança (ESG). Esses investidores estão dispostos a fornecer capital a taxas mais favoráveis para empresas que demonstram um compromisso genuíno com a sustentabilidade e a responsabilidade social. Portanto, as empresas do agronegócio que adotam práticas transparentes e sólidas de governança estão bem-posicionadas para acessar capital mais barato.

Além disso, as instituições financeiras estão cada vez mais incorporando métricas ESG em suas decisões de empréstimos e investimentos. Isso significa que as empresas que não investem em transparência e governança correm o risco de serem consideradas de maior risco, o que pode resultar em custos de capital mais elevados.

Um exemplo notável é a emissão de títulos verdes, que são instrumentos de dívida usados para financiar projetos sustentáveis. Em novembro de 2023, o Tesouro Nacional fez a sua primeira emissão de títulos sustentáveis. Essa emissão foi de um novo título, denominado Global 2031 ESG, com vencimento em 18 de março de 2031. O título foi emitido no montante de US$ 2,0 bilhões, com uma taxa de retorno para o investidor de 6,50% a.a. – fato que certamente influenciará o setor privado a seguir o mesmo caminho. As empresas do agronegócio que adotam práticas transparentes e de governança podem se beneficiar ao emitir este tipo de títulos, pois a demanda por eles está em alta e as taxas de juros tendem a ser mais baixas em comparação com títulos tradicionais.

Sócio líder do escritório de Maceió da BDO,  Leonardo Gomes – Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

As empresas do agronegócio podem explorar oportunidades de financiamento de impacto, que são investimentos voltados para projetos com benefícios sociais e ambientais mensuráveis. Esses investimentos muitas vezes oferecem condições favoráveis de empréstimo ou investimento e podem ser uma fonte valiosa de capital para empresas comprometidas com a responsabilidade social e ambiental.

Fica, então, evidente a importância para as empresas do agronegócio investirem em transparência e governança. Isso não apenas as coloca em uma posição favorável para atrair investidores comprometidos com ESG, mas também as ajuda a acessar capital mais barato e a se adaptar às crescentes expectativas da sociedade em relação a responsabilidade ambiental e social.

À medida que o mundo se volta para a sustentabilidade, as empresas do agronegócio que abraçam esses princípios avançam mais rápido. É um ciclo virtuoso que garante perenidade e sucesso a longo prazo. Atitudes sustentáveis levam ao acesso a novas fontes de financiamento e capital, que contribuem para a prosperidade de suas atividades e podem mudar não só o futuro da empresa, mas do país.

Fonte: Por Leonardo Gomes, sócio líder do escritório de Maceió da BDO.
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O jovem e o cooperativismo

Jovens podem ingressar no mundo do trabalho e no ambiente de negócios através da cooperativa; as cooperativas podem ampliar, fortalecer e renovar seus quadros sociais com a admissão de jovens. 

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Presidente da OCESC, Vanir Zanatta - Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

A sociedade contemporânea precisa entender que o cooperativismo, embora tenha surgido em 1844, na cidade de Rochdale (Manchester), no interior da Inglaterra, é um movimento absolutamente moderno e incrivelmente inovador, capaz de estimular ecossistemas produtivos e acelerar o desenvolvimento de municípios e de microrregiões.

Os empresários, os empreendedores, os trabalhadores do campo e da cidade, os profissionais liberais, todos enfim, que participam de uma cooperativa encontram, nesse modelo de associativismo, um caminho para o crescimento.

Fotos: Divulgação/Arquivo OPR

Essa verdade precisa tocar a mente e o coração dos jovens. E isso, teoricamente, não é uma tarefa difícil porque os princípios e os postulados do cooperativismo universal estão harmonizados com os ideais e o pensamento dos jovens. Valores como inclusão, diversidade, sustentabilidade, justiça social e equidade de gênero, que estão na pauta dos jovens, são temas do cotidiano das cooperativas.

Jovens e cooperativas são dois polos que podem se atrair mutuamente, com vantagens para ambos. Os jovens podem ingressar no mundo do trabalho e no ambiente de negócios através da cooperativa; as cooperativas podem ampliar, fortalecer e renovar seus quadros sociais com a admissão de jovens.

Os dirigentes de cooperativas de todos os ramos devem colocar, entre suas prioridades, a conquista dos jovens. Para isso, devem estar sintonizados com os desafios dos novos tempos. No esforço para prepará-los, a Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC), em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo de Santa Catarina (SESCOOP/SC), promove anualmente o Fórum Catarinense de Dirigentes Cooperativistas para atualizar a compreensão dos cenários de desafios pelos quais passa a sociedade brasileira.

As informações se transformam em conhecimento e orientam para a ação. Todos os líderes e, em especial, os presidentes precisam de contínua interpretação dos processos sociais em curso para que a ação cooperativista seja a grande impulsionadora das mudanças e transformações reclamadas pela sociedade.

A face mais valorizada do cooperativismo barriga-verde consiste na seriedade de gestão, eficiência gerencial e sintonia com os desafios dos novos tempos. A eficiência gerencial vem sendo perseguida tenazmente através de arrojados programas de treinamento e capacitação de técnicos e dirigentes, financiados pelas próprias cooperativas, diretamente ou via SESCOOP. A sintonia com os novos tempos exige uma permanente leitura das mudanças e transformações no Brasil e no mundo, conhecimento e contato com outras realidades culturais, seminários e viagens de estudo.

Em Santa Catarina temos uma forte vocação para o cooperativismo. Nossas 250 cooperativas reúnem mais de 4,2 milhões de associados dos ramos agropecuário, consumo, crédito, saúde, infraestrutura, trabalho, produção de bens e serviços e transporte e geram um movimento econômico de R$ 85,9 bilhões por ano. Mais da metade da população está direta ou indiretamente ligada às cooperativas. (No Brasil são 4.509 cooperativas com 23,4 milhões de cooperados, com movimentação financeira de R$ 692 bilhões)

A OCESC atua para defender, proteger e fortalecer o sistema cooperativista catarinense. Atrair o jovem é parte dessa tarefa e do compromisso de manter e aperfeiçoar essa estrutura que garante trabalho, renda e qualidade de vida para as famílias. Nosso propósito em 2025, proclamado pela ONU como o Ano Internacional das Cooperativas, com o lema “Cooperativas constroem um mundo melhor”, deve ser precisamente este: atrair os jovens para o cooperativismo.

Fonte: Por Vanir Zanatta, Presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC)
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Do crime culposo da civilização ao caráter doloso dos incêndios rurais

É urgente que as autoridades investiguem e punam esses crimes com rigor, enquanto soluções para o aquecimento global e compromissos climáticos, como os da COP 30, se tornam cada vez mais necessários para enfrentar essa crise ambiental.

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Fotos: Divulgação/Arquivo OPR

Os incêndios no campo, que assolam numerosos municípios brasileiros, em vários estados, são provocados por duas graves causas. Uma delas resulta da exploração inadequada dos recursos naturais e da poluição ao longo dos séculos, numa paulatina degradação do meio ambiente e aquecimento global, provocando secas que tornam a vegetação mais suscetível às chamas. A outra é a prática de crimes dolosos, pois se constatou a ação de criminosos ateando foco em propriedades agrícolas, com a clara intenção de destruir as plantações.

A terrível ação desses bandidos precisa ser devida e rapidamente apurada e punida com o rigor da lei, para se evitar sua continuidade e desestimular esse grave crime, que mata pessoas, afeta a segurança alimentar, a produção de commodities e biocombustíveis, impõe imensos prejuízos aos produtores, provoca desemprego e causa sérios danos econômicos e ecológicos. É uma ação de extrema violência e intolerável.

Não é mera coincidência ou algo resultante de motivação pontual a eclosão de tantos incêndios, alguns deles já com autores confessos e outros presos em flagrante, em distintos pontos do território nacional, da Amazônia a São Paulo, passando pelo Planalto Central, até o Pantanal. Parece haver uma ação orquestrada. É necessário descobrir qual é a intenção real por trás desses crimes, para coibi-los de modo eficaz e duradouro.

Já é bem grave o risco permanente de incêndios resultante das secas prolongadas provocadas pelas mudanças climáticas. Estamos pagando um alto preço pelo “crime culposo” da nossa civilização na construção de uma economia baseada nos combustíveis fósseis. Quando esse modelo de desenvolvimento iniciou-se, ainda na era pré-industrial, nem havia condições de prever o aquecimento da Terra e suas consequências terríveis.

Hoje, apesar da plena consciência sobre o problema, ainda não se encontraram soluções adequadas, que esbarram na falta de vontade política dos governos e no descumprimento do Acordo de Paris, que limita a 1,5 grau Celsius a elevação da temperatura do planeta. Uma nova perspectiva surge por ocasião da COP 30 – Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que se realizará em Belém do Pará, em novembro de 2025, na qual os países deverão avaliar, renovar e/ou ampliar seus compromissos referentes à contenção do aquecimento.

Enfrentar essa causa de secas, incêndios, enchentes e cataclismos cada vez mais frequentes é um dos maiores desafios da humanidade na área ambiental, na segurança alimentar, na transição para combustíveis limpos e renováveis, na economia e na viabilização do amanhã. O combate ao crime doloso dos incêndios de plantações e matas é uma prioridade absoluta e urgente, pois se trata de um atentado absurdo contra o meio rural e nossos ecossistemas, ferindo de modo grave toda a população de nosso país. A segurança no campo é decisiva para o presente e o futuro deste Brasil protagonista do agronegócio mundial.

Fonte: Por João Guilherme Sabino Ometto, engenheiro, empresário e membro da Academia Nacional de Agricultura
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