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Suínos / Peixes Piscicultura

O fim do amadorismo

Cooperativas entram em cena, protagonizam mutação da piscicultura no Oeste do Paraná e sustentam o maior polo de produção de tilápias do país

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Giuliano De Luca/OP Rural

O Paraná é o maior produtor de peixes cultivados do Brasil, mas até chegar a esse posto galgou um longo caminho de calotes e desinformação que beiravam o amadorismo. Nos anos de 1980 e 1990 praticamente tudo era feito sem nenhuma assistência técnica, os piscicultores tinham pouca informação, acumulavam calotes de compradores independentes e dívidas com fornecedores. O fracasso na atividade foi em massa no Oeste do Estado, região que hoje concentra 66% da produção paranaense. O cenário começou a mudar no início dos anos 2000 essencialmente por dois motivos: a aproximação entre pesquisadores do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) e produtores e o início das atividades em piscicultura por duas cooperativas da região. As cooperativas passaram a oferecer segurança para o piscicultor produzir e para receber, sem precisar comercializar, fazer dívidas ou preocupar-se com a assistência técnica. Era tudo que os pequenos produtores precisavam para voltar a apostar na criação de peixes no Oeste do Estado.

“Quando a gente conversa com os produtores, ouve muitos relatos dos problemas que eles enfrentavam. A atividade era um risco permanente e os calotes se multiplicavam. Para falar a verdade, eu ouço essas histórias há décadas. Gente que entregava um lote ou dois, recebia em dia, mas no lote seguinte o comprador dava um cheque frio e sumia. O produtor ficava com a dívida junto ao fornecedor de ração e tinha que se virar para pagar, pegar dinheiro emprestado, tirar de outra fonte, enfim, era uma insegurança total. Isso sem falar que eles (produtores) tinham que se virar com assistência técnica, não tinham muitos profissionais especializados. Muita gente abandonou a atividade por essas dificuldades”, lembra o presidente da C.Vale, Alfredo Lang.

“Não existia um sistema de integração. Era tudo produção independente. Você tinha seus peixes e vendia para quem pagava mais ou para quem você achava que era confiável, que não ia dar calote. O comprador muitas vezes era de longe e o produtor não tinha informações sobre o histórico dele, se era bom pagador ou não. O produtor entregava os peixes e ficava rezando para receber. Nem todos os compradores eram caloteiros, evidentemente, mas os golpes eram frequentes. E tinha outro problema: muitas vezes o frigorífico prometia pagamento para um dia determinado e chegava o tal dia e o comprador pedia mais prazo, não tinha capital de giro. O pagamento atrasava e o produtor ficava na angústia porque tinha a promissória da ração para quitar”, continua Lang.

Histórias de prejuízos que o piscicultor Wilson Wehrmeister ouvia desde 1993, quando mudou-se de Santa Catarina para casar-se com Dietlen Pavloski, a Nena, e tocar uma pequena propriedade rural em Palotina. Depois de tentativas de pouco sucesso com vacas de leite e uma pequena área agricultável, decidiram, em 2010, migrar para a piscicultura. O sistema de integração oferecido pelas cooperativas atraiu a atenção de Wilson.

A cooperativa dava os alevinos, a assistência técnica para o manejo correto e manutenção da qualidade da água, dava a ração, fazia a despesca, o abate, a industrialização e a comercialização dos peixes. Ao produtor cabia oferecer a mão-de-obra, pagar a fatura da energia elétrica necessária para tocar os aeradores dos tanques escavados e receber o dinheiro na conta dois ou três dias depois que os peixes eram levados da propriedade, diz Wilson. “Eu já tinha a intenção de trabalhar com peixes desde o início dos anos 2000, mas meu sogro não queria, tinha medo por causa dos calotes e da falta de informação, os técnicos não tinham o conhecimento que se tem hoje. Mas em 2010 começamos a construir os tanques. No final daquele mesmo ano começamos a produzir”, lembra. “Eles davam os juvenis, a ração e a assistência técnica. O pessoal da Emater também vinha fazer visitas”, recorda o piscicultor.

A C.Vale começou a sua produção de peixes em 2007, inicialmente abatendo em frigoríficos terceirizados. Dez anos depois, inaugurou o maior frigorífico do Brasil, em Palotina, que hoje abate 85 mil tilápias por dia, mas o investimento, de R$ 110 milhões, suporta o processamento de mais de 200 mil tilápias por dia, o que deve acontecer ao longo dos próximos anos, de acordo com Lang.

Era um casamento perfeito, lembra Wilson, até que, em 2015, ele pediu “divórcio” da cooperativa na ânsia de ganhar um pouco mais com uma produção independente. Já no primeiro ano, teve uma quebra na safra, acumulou dívidas e ficou com a saúde debilitada. “Em 2015 decidi fazer a produção particular. No primeiro lote tive uma quebra de 17 toneladas de peixe. Entrou uma bactéria nos açudes, eu não sabia o que era, não sabia como controlar. Era pra produzir 50 toneladas, mas só saiu 33 toneladas (sic). Como a ração era financiada, não consegui pagar e entrei em depressão, tive que procurar ajuda médica”, recorda.

Com a ajuda de amigos, Wilson está pagando a dívida e, em 2017, voltou a produzir peixes em sistema de integração, de onde não pretende sair tão cedo. “Não tem como comparar o independente e o produtor da integração. A C.Vale vem aqui com seus técnicos a cada 15 dias, ajusta os níveis de ração, faz a biometria dos peixes, faz a pesagem, analisa a conversão alimentar, analisa a qualidade da água. Se tiver algum problema, já entra com a correção imediatamente, reduzindo riscos e prejuízos”, aponta. “A gente trabalha com mais segurança”, sugere o produtor rural.

Wilson produz cerca de 50 toneladas a cada lote de peixes, que ficam alojados entre oito e nove meses. São seis açudes que totalizam 23,6 mil metros quadrados. “A renda nossa praticamente é toda da piscicultura. Hoje a gente vive do peixe. Temos cinco hectares de plantação (milho e soja), mas a gente pode dizer que nossa renda maior vem do peixe”, menciona o produtor. No último ano, Wilson conquistou premiações entre os produtores mais eficientes da cooperativa. “Fiquei em segundo lugar em crescimento diário e também em segundo no rendimento de filé”, alegra-se.

Integração

O presidente da C.Vale, Alfredo Lang, explica que a decisão da cooperativa em investir esforços na piscicultura veio por conta da facilidade que o produtor da região tem de adaptar-se a novas atividades e oferta abundante de grãos, insumo básico das rações. “Decidimos ingressar na atividade porque o Oeste do Paraná tem as duas condições ideais para um sistema de integração de peixes competitivo. Primeiro, a vocação natural dos produtores da região para a diversificação, tanto que é o maior polo de produção de peixes do Paraná. A segunda é a grande oferta de matéria-prima, principalmente milho, para a produção de rações”, explica Lang.

“Nós montamos um sistema de integração de ciclo completo. O produtor entra com os açudes e a mão-de-obra enquanto que a C.Vale fornece os alevinos, ração, assistência, retirada do peixe, industrialização e comercialização. O pagamento é pelo desempenho do lote de tilápias. Em outras palavras, por conversão alimentar, ganho de peso diário e rendimento de filé”, argumenta. Com esse sistema, lembra, não foi difícil encontrar produtores dispostos a criar peixes. Angariar os produtores “foi a parte mais fácil do projeto. A maior parte deles era independente e não pensou duas vezes em passar a ser fornecedor da C.Vale. O produtor tem só o trabalho da criação das tilápias. Eles (piscicultores) só tiveram vantagens. Não precisam assinar promissórias para comprar a ração, o pagamento é garantido e o melhor de tudo, com uma excelente rentabilidade”, reforça o líder cooperativista.

Conforme Lang, as cooperativas no Oeste do Paraná montaram sistemas de produção em grande escala, têm grandes estruturas, com laboratórios, controle de qualidade, atualizam tecnologicamente o produtor e oferecem ao consumidor garantia de origem do produto, dentro das normas de sanidade. Essas características, de acordo com a liderança, garantem mais confiabilidade na qualidade dos produtos.

Hoje a C.Vale tem 130 produtores integrados e capacidade de alojamento de 18 milhões de peixes. O frigorífico, em Palotina, inaugurado em 2017, tem 10 mil metros quadrados e emprega 618 funcionários. A operação na planta industrial começou em abril do ano passado, quando “estávamos abatendo 35 mil tilápias por dia. Agora estamos com 85 mil/dia e queremos chegar ao final do ano com 100 mil/dia”, cita o presidente.

Já a Copacol atualmente é a maior empresa do Brasil no abate de tilápias. São 213 produtores integrados, com média de abate de 138,6 mil tilápias por dia, industrializadas no Abatedouro de Peixes em Nova Aurora. Durante o ano de 2018, foram abatidas quase 41 milhões de cabeças. Os produtos são comercializados no mercado interno e a pele é exportada para a França.

C.Vale e Copacol protagonizam um novo e próspero momento da piscicultura no Paraná e no Brasil. Informação e segurança financeira acabaram com o amadorismo que desagradavelmente flertava com os piscicultores da região.

Líder nacional

O Paraná é líder nacional na produção de pescados em cativeiro. De acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento, a expectativa é que a atividade experimente crescimento de 20% neste ano em relação a 2018, chegando a 170 mil toneladas de carne de peixe produzidas.

Conforme a Associação Brasileira de Piscicultura, em 2018 a produção de peixes no Paraná foi de 129,9 mil toneladas, 16% a mais que em 2017, o que coloca o Estado como o maior produtor de peixes de cultivo do país, seguido por São Paulo e Rondônia.

O Oeste representa a maior parte da produção. De acordo com o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) cerca de três mil piscicultores de 12 municípios da Bacia do Rio Paraná 3, que abrange municípios da região, trabalham com a atividade, 95% deles com a tilapicultura, que ocupa dois mil hectares.

Outras notícias você encontra na edição de Suínos e Peixes de maio/junho de 2019 ou online.

Fonte: O Presente Rural

Suínos / Peixes

Brasil conquista dois novos mercados para pescados na Índia

Agronegócio brasileiro alcançou a 30ª abertura comercial internacional apenas neste ano. Nos últimos 16 meses, foram abertos 108 novos mercados em 50 países.

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Foto: Shutterstock

A missão do ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, à Índia em novembro do ano passado segue gerando resultados positivos para o Brasil. Após encontros com Shri Parshottam Rupala, ministro da Pesca, Pecuária e Lácteos da Índia e Kamala V Rao, CEO da Autoridade de Segurança dos Alimentos da Índia, o Brasil obteve, na última sexta-feira (19), a confirmação da abertura de dois novos mercados: pescado de cultivo (aquacultura) e pescado de captura (pesca extrativa).

O anúncio se soma a expansões recentes da pauta agrícola do Brasil para o país asiático. Nos últimos 12 meses, o governo indiano autorizou a importação de açaí em pó e de suco de açaí brasileiros.

Em 2023, a Índia foi o 12º principal destino das exportações agrícolas brasileiras, com vendas de US$ 2,9 bilhões. Açúcar e óleo de soja estiveram entre os produtos mais comercializados.

Segundo o Agrostat (Estatísticas de Comércio Exterior do Agronegócio Brasileiro), nos três primeiros meses deste ano, o Brasil exportou mais de 12 mil toneladas de pescado para cerca de 90 países, gerando receitas de US$ 193 milhões. Esse valor mostra um aumento de mais de 160% em relação ao mesmo período do ano anterior, quando as vendas foram de US$ 74 milhões.

“Seguimos comprometidos em ampliar a presença dos produtos agrícolas brasileiros nas prateleiras do mundo. Essa estratégia não apenas abre mais oportunidades internacionais para nossos produtos e demonstra a confiança no nosso sistema de controle sanitário, mas também fortalece a economia interna. Com as recentes aberturas comerciais estamos gerando mais empregos e elevando a renda dos produtores brasileiros”, ressaltou o secretário de Comércio e Relações Internacionais do Mapa, Roberto Perosa.

Com estes novos mercados, o agronegócio brasileiro alcançou a 30ª abertura comercial internacional apenas neste ano. Nos últimos 16 meses, foram abertos 108 novos mercados em 50 países.

Fonte: Assessoria Mapa
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Suínos / Peixes

Peste Suína Clássica no Piauí acende alerta

ACCS pede atenção máxima na segurança sanitária dentro e fora das granjas

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Presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), Losivanio Luiz de Lorenzi - Foto e texto: Assessoria

A situação da peste suína clássica (PSC) no Piauí é motivo de preocupação para a indústria de suinocultura. A Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) registrou focos da doença em uma criação de porcos no estado, e as investigações estão em andamento para identificar ligações epidemiológicas. O Piauí não faz parte da zona livre de PSC do Brasil, o que significa que há restrições de circulação de animais e produtos entre essa zona e a zona livre da doença.

Conforme informações preliminares, 60 animais foram considerados suscetíveis à doença, com 24 casos confirmados, 14 mortes e três suínos abatidos. É importante ressaltar que a região Sul do Brasil, onde está concentrada a produção comercial de suínos, é considerada livre da doença. Portanto, não há risco para o consumo e exportações da proteína suína, apesar da ocorrência no Piauí.

 

Posicionamento da ACCS

O presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), Losivanio Luiz de Lorenzi, expressou preocupação com a situação. Ele destacou que o Piauí já registrou vários casos de PSC, resultando no sacrifício de mais de 4.300 suínos. Com uma população de suínos próxima a dois milhões de cabeças e mais de 90 mil propriedades, a preocupação é compreensível.

Uma portaria de 2018 estabelece cuidados rigorosos para quem transporta suínos para fora do estado, incluindo a necessidade de comprovar a aptidão sanitária do caminhão e minimizar os riscos de contaminação.

Losivanio também ressaltou que a preocupação não se limita aos caminhões que transportam suínos diretamente. Muitos caminhões, especialmente os relacionados ao agronegócio, transportam produtos diversos e podem não seguir os mesmos protocolos de biossegurança. Portanto, é essencial que os produtores mantenham um controle rigoroso dentro de suas propriedades rurais para evitar problemas em Santa Catarina.

A suinocultura enfrentou três anos de crise na atividade, e preservar a condição sanitária é fundamental para o setor. “A Associação Catarinense de Criadores de Suínos pede que todos os produtores tomem as medidas necessárias para evitar a entrada de pessoas não autorizadas em suas propriedades e aquel a que forem fazer assistência em visitas técnicas, usem Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para minimizar os riscos de contaminação. Assim, a suinocultura poderá continuar prosperando no estado, com a esperança de uma situação mais favorável no futuro”, reitera Losivanio.

Fonte: ACCS
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Suínos / Peixes

Levantamento da Acsurs estima quantidade de matrizes suínas no Rio Grande do Sul 

Resultado indica um aumento de 5% em comparação com o ano de 2023.

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Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Com o objetivo de mapear melhor a produção suinícola, a Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs) realizou novamente o levantamento da quantidade de matrizes suínas no estado gaúcho.

As informações de suinocultores independentes, suinocultores independentes com parceria agropecuária entre produtores, cooperativas e agroindústrias foram coletadas pela equipe da entidade, que neste ano aperfeiçoou a metodologia de pesquisa.

Através do levantamento, estima-se que no Rio Grande do Sul existam 388.923 matrizes suínas em todos os sistemas de produção. Em comparação com o ano de 2023, o rebanho teve um aumento de 5%.

O presidente da entidade, Valdecir Luis Folador, analisa cenário de forma positiva, mesmo com a instabilidade no mercado registrada ainda no ano passado. “Em 2023, tivemos suinocultores independentes e cooperativas que encerraram suas produções. Apesar disso, a produção foi absorvida por outros sistemas e ampliada em outras regiões produtoras, principalmente nos municípios de Seberi, Três Passos, Frederico Westphalen e Santa Rosa”, explica.

O levantamento, assim como outros dados do setor coletados pela entidade, está disponível aqui.

Fonte: Assessoria Acsurs
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