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O Brasil e a janela de oportunidade de tomar a liderança nas ações climáticas
Os créditos de carbono e os créditos da biodiversidade são mecanismos financeiros que já se encontram disponíveis e que podem mobilizar grande parte desses recursos, gerando valor para o meio ambiente, para a biodiversidade e a sociedade como um todo.

Entre os dias 30 de novembro e 12 de dezembro, Dubai, nos Emirados Árabes, irá sediar a 28ª edição da Conferência das Partes (COP 28), evento anual promovido pela Organização das Nações Unidas, com a participação de representantes do setor público, setor privado e sociedade civil, dos países-membros da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (UNFCCC).
O evento irá discutir o combate às mudanças climáticas sob a ótica das metas estipuladas no Acordo de Paris, que têm por objetivo limitar o aquecimento global abaixo dos 2º C, com esforços para se limitar em até 1,5º C, até 2025, e alcançar um equilíbrio entre as emissões e remoções de Gases de Efeito Estufa (GEE). Dentro desse contexto, foram estabelecidas as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC) pelos países, com início a partir de 2020, renováveis a cada cinco anos.
No encontro de Dubai agora no final do mês será publicado o Global Stocktake (GST), documento com um balanço global sobre os avanços e retrocessos obtidos desde a celebração do Acordo de Paris, com as respectivas justificativas, a partir do que as nações terão condições de revisar e apresentar seus novos compromissos para atender à meta global de 2030.
O Brasil, em particular, no âmbito do Acordo de Paris, se comprometeu, até o ano de 2025, reduzir suas emissões de GEE em 37% e, até 2030, reduzir em 43%, tomando-se por base em ambos os casos as emissões de 2005. Já em 2060 o Brasil se comprometeu a atingir a neutralidade climática.
Além dos progressos com relação às metas estabelecidas pelo Acordo de Paris, a COP tocará em pontos como: (i) a adoção de medidas para acelerar a transição energética; (ii) a necessidade de se alterar o uso da terra e os sistemas de alimentação; e (iii) os instrumentos/mecanismos capazes de propiciar aos países em desenvolvimento investir em ações climáticas, com foco na natureza e nas pessoas. Além disso, a COP 28 pretende ser a mais inclusiva de todas as conferências realizadas até o momento.
Tanto as ameaças físicas decorrentes das mudanças climáticas, quanto os efeitos decorrentes da transição para uma economia neutra em carbono, se encontram na pauta de todos os segmentos econômicos, que terão seus modelos de negócios afetados, com consequentes repercussões financeiras.
Assim é que dentro do atual momento em que nos encontramos a governança climática não se trata mais de um diferencial, mas de uma verdadeira obrigação, por meio da qual as empresas devem começar a elaborar seus inventários de emissões de GEE, mapear os riscos e as oportunidades das mudanças climáticas a que se encontram expostas, assumir compromissos para se atingir a neutralidade de carbono (Net Zero), para, ao final, proceder às compensações e neutralizações necessárias.
A par de o Brasil liderar a perda global de desmatamento, com reflexos diretos sobre a sua economia e política, não é menos certo que o país se encontra em situação de extrema vantagem sobre os demais países do mundo, em função da riqueza de seus ativos ambientais.
Exatamente em função dessa riqueza, representada pela diversidade do nosso país, é que os olhos do mundo se encontram voltados para o Brasil, uma vez que as soluções baseadas na natureza possuem papel fundamental para reverter as mudanças climáticas e a perda da biodiversidade, ao lado de competentes instrumentos regulatórios, econômicos, financeiros, de monitoramento e incentivo.
As soluções baseadas na natureza, que podem tanto garantir o aumento do sequestro de carbono, assim como a redução das emissões de CO2, passam (i) pela proteção dos ecossistemas; (ii) pela gestão sustentável da biodiversidade e dos ecossistemas, por meio do desenvolvimento de uma agricultura regenerativa e da adoção de melhores práticas de gestão florestal; e (iii) pela restauração dos ecossistemas degradados ou convertidos.
O Brasil concentra 15% do potencial global de captura de carbono por meios naturais, sendo que desse percentual 80% através de processos de restauração dos ecossistemas, o que faz do Brasil um grande atrativo para os investidores, que passam a migrar seus investimentos para atividades que protejam, conservem, recuperem e restaurem o meio ambiente ao invés de degradar.
Os créditos de carbono e os créditos da biodiversidade são mecanismos financeiros que já se encontram disponíveis e que podem mobilizar grande parte desses recursos, gerando valor para o meio ambiente, para a biodiversidade e a sociedade como um todo.
É dentro desse contexto que o mercado voluntário de carbono, já em prática no país, ainda que de forma tímida, ao lado do mercado regulado, que aguarda-se deva ser aprovado em breve, se não até a COP 28, já no início de 2024, deve ganhar escala, com maior participação do setor privado, como grande aliado no cumprimento das metas de descarbonização individuais e do país como um todo, dentro do que o Brasil se comprometeu no Acordo de Paris.
Importante que as empresas e os investidores se mostrem atentos a esse novo mercado, trazendo mais esse instrumento para dentro de seus negócios, auxiliando na construção de uma economia cada vez mais verde, e colocando o Brasil em papel de destaque frente aos demais países do mundo.

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Comunicação e Marketing como mola propulsora do consumo de carne suína no Brasil
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas.

Artigo escrito por Felipe Ceolin, médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias, com especialização em Qualidade de Alimentos, em Gestão Comercial e em Marketing, e atual diretor comercial da Agência Comunica Agro.
O mercado da carne suína vive no Brasil um momento transição. A proteína, antes limitada por barreiras culturais e mitos relacionados à saúde, vem conquistando espaço na mesa do consumidor.
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas. Estudos recentes revelam que o brasileiro passou a reconhecer características como sabor, valor nutricional e versatilidade da carne suína, demonstrando uma mudança clara no comportamento de compra e consumo. É nesse cenário que o marketing se transforma em importante aliado da cadeia produtiva.

Foto: Shutterstock
Reposicionar para crescer
Para aumentar a participação na mesa das famílias é preciso comunicar aquilo que o consumidor precisava ouvir:
— que é uma carne segura,
— rica em nutrientes,
— competitiva em preço,
— e extremamente versátil na culinária.
Campanhas educativas, conteúdos informativos e a presença mais forte nas mídias sociais têm ajudado a construir essa nova imagem. Quando o consumidor entende o produto, ele compra com mais confiança – e essa confiança só existe quando existe uma comunicação clara e alinhada as suas expectativas.
O marketing não apenas divulga, ele conecta. Ao simplificar informações técnicas, aproximar o produtor do consumidor e mostrar maneiras práticas de preparo, a comunicação se torna um instrumento de transformação cultural.
Apresentar novos cortes, propor receitas, explicar processos de qualidade, destacar certificações e reforçar a rastreabilidade são estratégias que aumentam a percepção de valor e, consequentemente, estimulam o consumo.
Digital: o novo campo do agro
As redes sociais se tornaram o “supermercado digital” do consumidor moderno. Ali ele busca receitas, tira dúvidas, avalia produtos e

Foto: Divulgação/Pexels
compartilha experiências.
Indústrias, cooperativas e associações que investem em presença digital tornam-se mais competitivas e ampliam sua capacidade de influenciar preferências.
Vídeos curtos, reels com receitas simples, influenciadores culinários e campanhas segmentadas têm desempenhado papel fundamental na aproximação com o consumidor urbano, historicamente mais distante da realidade da cadeia produtiva e do campo.
Promoções e estratégias de varejo
Além do ambiente digital, o ponto de venda continua sendo o território decisivo da conversão. Embalagens mais atrativas, materiais explicativos, promoções e ações conjuntas com o varejo aumentam a visibilidade e reduzem a insegurança de quem tomando decisão na frente da gondola.
Marketing como elo da cadeia produtiva
A cadeia de carne suína brasileira é altamente tecnificada, sustentável e reconhecida, mas essa excelência precisa ser comunicada. O marketing tem o papel de unir elos – do campo ao consumidor – e transformar conhecimento técnico em mensagens simples e que engajam.
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Expandir sem desmatar: a lógica econômica que vai muito além do discurso
Recuperar áreas degradadas e investir em produtividade sustentável é hoje o caminho mais rentável e estratégico para o agro brasileiro crescer sem comprometer o meio ambiente.

Dias atrás reli um artigo do pesquisador da Embrapa e membro do Conselho Científico Agro Sustentável, Décio Luiz Gazzoni, sobre a expansão agrícola sem desmatamento. O texto, publicado em 2023, ainda é muito atual e me fez refletir novamente sobre algo que sempre defendo: a sustentabilidade não é apenas uma exigência ambiental, é uma decisão econômica inteligente.
Como economista e alguém que acompanha o agro de perto, inclusive viajando para conhecer iniciativas em diferentes países, vejo com muita clareza o que Gazzoni já apontava: a grande fronteira do crescimento brasileiro está dentro das áreas já abertas, principalmente nas pastagens degradadas.

Artigo escrito por Fábio Torquato, economista, formado em Relações Internacionais e fundador da AgroTravel – Foto: Divulgação/AgroTravel
E os números mais recentes reforçam essa visão. Estudos da Embrapa, publicados na revista internacional Land, indicam que o Brasil possui cerca de 27,7 milhões de hectares de pastagens degradadas. Isso significa que temos uma área gigantesca pronta para ser recuperada e incorporada à produção, sem a necessidade de avançar sobre novos biomas.
Além disso, durante a COP29, que aconteceu ano passado em Baku, no Azerbaijão, o Brasil lançou o Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas (PNCPD), que prevê US$ 120 bilhões em investimentos nos próximos dez anos para recuperar 40 milhões de hectares. O número do programa é maior do que o estimado pela Embrapa porque considera áreas em diferentes graus de degradação, aptas para conversão produtiva ao longo dos anos.
Do ponto de vista econômico, é um movimento que faz todo o sentido. Segundo o Broto Notícias, o custo de recuperação de uma pastagem varia de R$ 6 mil a R$ 30 mil por hectare, dependendo do nível de degradação, tipo de solo e métodos adotados. Parece caro? Talvez à primeira vista. Mas quando olhamos para o retorno — aumento de produtividade por hectare, redução de custos operacionais e acesso a mercados premium que pagam mais por produtos rastreáveis e sustentáveis — a conta fecha rapidamente.
Vi isso acontecer em fazendas que visitei em viagens técnicas com a AgroTravel ao redor do mundo.
Como bem lembra Gazzoni, o produtor brasileiro já tem tecnologia e conhecimento para fazer essa virada. O que falta, muitas vezes, é entender que sustentabilidade é investimento, e não custo. E agora, com bilhões de dólares disponíveis em crédito via BNDES, Banco do Brasil e fundos internacionais, esse argumento fica ainda mais forte.
Estamos acompanhando os trabalhos da COP30, que este ano acontece no Brasil, e o mundo inteiro está olhando para nosso país. A oportunidade está escancarada: quem se antecipar, quem enxergar a recuperação de pastagens como um ativo estratégico, vai liderar o agro brasileiro do futuro.
Sempre digo nos grupos que acompanham as viagens da AgroTravel: o futuro do agro não está em abrir novas áreas, mas em transformar cada hectare já aberto em um ativo de alta performance. O artigo de Gazzoni só reforçou o que vejo na prática. E, como economista, reafirmo: essa é a equação mais inteligente que já tivemos nas mãos.
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Meio ambiente e cooperativismo
Movimento econômico e social baseado em valores éticos e solidários, o cooperativismo reafirma, em tempos de COP 30, seu papel essencial na construção de um futuro sustentável, unindo produção, preservação e desenvolvimento coletivo.

As cooperativas representam o mais elevado estágio da organização humana em torno de valores éticos, solidários e sustentáveis. Elas não existem apenas para gerar resultados econômicos, mas para promover o desenvolvimento coletivo em harmonia com o meio ambiente e com as comunidades em que atuam. Por essência e por princípios universais, o cooperativismo defende a preservação da natureza, a gestão responsável dos recursos e o equilíbrio entre produção e sustentabilidade. Esse compromisso ambiental não é um apêndice, mas uma convicção enraizada na própria identidade cooperativista.

Artigo escrito por Vanir Zanatta, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC).
Em tempos de COP 30 é essencial lembrar que, nas cooperativas, cada decisão administrativa, cada projeto de ampliação e cada investimento em unidades industriais, agrícolas, logísticas ou administrativas é precedido por uma análise criteriosa dos impactos ambientais. O crescimento não se mede apenas em números, mas também na capacidade de reduzir emissões, otimizar o uso da água, reciclar resíduos e proteger a biodiversidade. É essa consciência prática e constante que diferencia o cooperativismo das demais formas de organização econômica. Ele entende que não há prosperidade possível em um planeta degradado, nem futuro para a economia sem o equilíbrio ambiental.
As cooperativas são parceiras leais do Poder Público na implementação de políticas voltadas ao meio ambiente. Estão sempre presentes em programas de reflorestamento, saneamento básico, manejo de resíduos, recuperação de nascentes e educação ambiental. Mas sua contribuição vai além da sustentabilidade ecológica — elas também participam ativamente de ações que promovem segurança, educação, cultura e mobilidade urbana, compreendendo que a proteção ambiental é inseparável da qualidade de vida e do bem-estar social. Onde há uma cooperativa, há compromisso com o futuro coletivo.
Essas instituições agem com coerência e exemplo, estimulando a cidadania e o senso de responsabilidade em seus empregados, cooperados, clientes e comunidades. Elas ensinam, pelo exemplo, que o progresso verdadeiro não nasce da exploração desenfreada, mas da gestão equilibrada e consciente dos recursos. O cooperativismo forma cidadãos engajados, capazes de compreender que o planeta é uma herança comum e que sua preservação é um dever de todos.
A defesa do meio ambiente é, portanto, um desdobramento natural dos princípios cooperativistas — entre eles, o interesse pela comunidade, a responsabilidade social e a intercooperação. Cada árvore preservada, cada solo recuperado e cada nascente protegida são expressões concretas de uma filosofia que valoriza a vida. As cooperativas não esperam por imposições legais ou incentivos externos para agir: elas o fazem porque acreditam que sua missão é cuidar das pessoas e do mundo em que elas vivem.
O cooperativismo é, por natureza, o caminho da sustentabilidade. Ele demonstra, todos os dias, que é possível crescer produzindo, prosperar preservando e inovar sem destruir. Em tempos de mudanças climáticas e desafios globais, as cooperativas reafirmam sua vocação de construir um mundo melhor, mais justo e solidário. Elas provam, com ações e resultados, que a economia pode — e deve — caminhar de mãos dadas com o meio ambiente. Essa é a essência do cooperativismo: servir, preservar e transformar.



