Peixes Em Pindamonhangaba
O bê-á-bá da Aquicultura leva manejo, diversificação e prática ao produtor paulista
Evento reúne pesquisadores, produtores e estudantes para discutir manejo, diversificação de espécies e tecnologias aplicadas à aquicultura, com palestras técnicas e visita de campo.

A Apta Regional de Pindamonhangaba – Setor de Aquicultura realiza na sexta-feira (19) o evento “O bê-á-bá da Aquicultura”, iniciativa voltada à capacitação técnica de aquicultores, estudantes, profissionais do setor e demais interessados. O encontro começa às 08 horas, na sede da unidade, em Pindamonhangaba, no interior paulista, e combina atividades teóricas e práticas ao longo do dia.
A programação foi estruturada para apresentar fundamentos e experiências aplicadas a diferentes sistemas produtivos da aquicultura, com foco em espécies de relevância econômica e alternativas de diversificação. Entre os temas abordados estão a tilapicultura, a criação de camarões de água doce, a lambaricultura e a ranicultura, além de técnicas específicas voltadas ao aumento da produtividade.
A abertura técnica será conduzida pelo pesquisador científico da Apta Regional de Pindamonhangaba, Sergio Henrique Schalch, que apresentará a palestra “Tilapicultura: manejos básicos”, com orientações práticas sobre o cultivo da espécie mais produzida no país. Em seguida, às 08h50, o pesquisador do Instituto de Pesca (IP-Apta), Hélcio Luis de Almeida Marques, de Pirassununga, abordará a “Criação de camarões de água doce”, destacando técnicas e experiências consolidadas no setor.
Na sequência, às 09h20, a pesquisadora científica da Apta Regional de Pariquera-Açu, Camila Fernandes Corrêa, tratará da “Lambaricultura em viveiros escavados”, sistema considerado estratégico para pequenos produtores e projetos de diversificação produtiva. Após um breve intervalo, a programação retorna às 10 horas com a palestra “Noções básicas de ranicultura”, apresentada por Adriana Sacioto Marcantonio, da Apta Regional de Pindamonhangaba.
s 10h30, o agente de apoio à pesquisa científica e tecnológica da mesma unidade, João Simões Paiva Neto, encerrará a etapa de palestras com o tema “Reversão sexual de tilápias”, técnica amplamente utilizada para padronização de lotes e ganhos de eficiência produtiva.
No período da tarde, a partir das 14 horas, os participantes participarão de uma visita técnica guiada ao Setor de Aquicultura da Apta Regional de Pindamonhangaba. A atividade inclui acompanhamento das instalações, troca de experiências com os pesquisadores e um bate-papo técnico que se estende até as 16h, encerrando a programação.

Colunistas
Piscicultura brasileira fecha 2025 sob pressão externa e ajustes estratégicos
Tarifas dos EUA, preços firmes no mercado interno e avanços sanitários marcaram o ano da tilápia e reforçaram a necessidade de diversificar mercados e fortalecer a competitividade do setor.

2025 trouxe uma combinação inédita de desafios para a piscicultura brasileira: mudanças bruscas no comércio internacional, dinâmica interna de preços que surpreendeu o mercado, avanços sanitários impulsionados por necessidades e urgência de diversificar destinos da nossa produção.
Foi um ano intenso, que exigiu adaptação rápida, reposicionamento estratégico e visão mais ampla sobre o papel do Brasil nesse setor em expansão. A produção de tilápia, especificamente, entrou em 2025 com altas expectativas e o encerra com aprendizados que devem moldar o ritmo de crescimento no futuro próximo.

Juliano Kubitza, diretor da Fider Pescados
Entre esses desafios, a virada mais expressiva veio, evidentemente, das tarifas impostas pelos Estados Unidos. O salto de cerca de 10% para 50% nas taxas de importação alterou a rota natural de expansão brasileira no país que tem demanda elevada, produção interna insuficiente e alto poder de compra. O impacto foi imediato: a participação do Brasil caiu de aproximadamente 5% para perto de 3% no total das importações norte-americanas. Essa reação reforçou a necessidade de rever a estratégia, colocando a diversificação novamente no centro da agenda da cadeia produtiva.
Para além dos EUA, o setor precisou revisitar seu mapa de oportunidades globais. A análise dos mercados evidenciou que cada destino oferece limites e possibilidades distintas – e que, nenhum deles, isoladamente, substitui o potencial norte-americano. A China, por exemplo, apesar de ser um dos maiores consumidores mundiais de pescado, é autossuficiente e mantém barreiras práticas para importadores. Já o Canadá, mesmo com elevado poder aquisitivo, apresenta hábitos de consumo mais restritos. Diante desse quadro, a União Europeia surge como alternativa mais promissora, enquanto a prospecção de novos mercados se torna essencial para sustentar o ritmo de crescimento da produção brasileira.
No mercado interno, os efeitos também foram diferentes do esperado. Em vez de queda, os preços seguiram em alta, mesmo diante de um fluxo menor de exportações. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), vinculado à Universidade de São Paulo (USP), a tilápia fechou novembro a R$ 9,29 o quilo, acima dos R$ 8,02/kg registrados logo após o anúncio das tarifas e dos R$ 7,75/kg do fim de 2024. Isso mostra que a oferta não é grande o suficiente para provocar desvalorização significativa, reforçando que o Brasil está apenas começando sua trajetória como produtor e exportador relevante.
Ao mesmo tempo, 2025 estimulou avanços importantes na área sanitária: práticas de biosseguridade mais robustas, fortalecimento dos protocolos de imunidade, uso crescente de vacinas e de nutracêuticos e investimentos em manejo preventivo. A maturidade sanitária deixou de ser tendência e passou a ser pilar estratégico para sustentação de produtividade e competitividade.
Nesse cenário, as empresas brasileiras têm se reorganizado para enfrentar um ambiente mais complexo e exigente. A Fider, maior produtora e processadora de tilápia do Estado de São Paulo e uma das maiores do Brasil, é um exemplo desse movimento, reforçando inovação, rigor sanitário e busca por novos mercados como caminhos para atravessar o período e se posicionar bem para as oportunidades que virão. Fechamos o ano mais consciente dos riscos, mais atentos às mudanças globais e, sobretudo, mais preparados para construir um futuro mais sólido e diverso para a piscicultura nacional.
Peixes No Rio de Janeiro
Pesca artesanal da Baía de Guanabara apresenta traços de mercúrio, alerta estudo da UFF
Pesquisa identifica contaminação em peixes e pescadores, reforçando a necessidade de rodízio entre espécies e atenção à saúde das comunidades locais.

Uma pesquisa da Universidade Federal Fluminense (UFF) identificou a presença de mercúrio em peixes da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, e avaliou os riscos à saúde de pescadores e moradores que têm o pescado como principal fonte de proteína. O estudo analisou oito espécies de peixes e amostras de cabelo de integrantes de colônias de pescadores em Magé, Itaboraí, cidades da região metropolitana, e na Ilha do Governador, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro.

Os pesquisadores constataram mercúrio nos peixes em concentrações que estão dentro do intervalo permitido na legislação brasileira. Mesmo assim, sugerem que o consumo tenha variação de espécies, para não incluir apenas os peixes com maiores concentrações, como o robalo. Já entre os pescadores, houve casos em que a contaminação supera o limite indicado por autoridades sanitárias, o que indica exposição maior dos trabalhadores ao metal pesado.
O trabalho é de Bruno Soares Toledo, sob orientação de Eliane Teixeira Mársico, ambos do Programa de Pós-Graduação em Higiene Veterinária e Processamento Tecnológico de Produtos de Origem Animal (PPGHIGVET-UFF).
A Baía de Guanabara sustenta milhares de famílias que dependem da pesca artesanal. Cerca de 4 mil pescadores estão vinculados à Associação de Homens e Mulheres do Mar da Baía de Guanabara (Rede AHOMAR), em um território onde vivem aproximadamente 8 milhões de pessoas.
A intensificação de atividades industriais, o tráfego marítimo, o lançamento de resíduos domésticos e industriais aumentam a liberação de substâncias tóxicas no ambiente aquático.
Resultados
A primeira etapa da pesquisa avaliou a presença de mercúrio total (HgT) em oito espécies de peixes de diferentes hábitos alimentares. Entre as espécies analisadas estavam sardinha, robalo, corvina e tainha.
Os limites estabelecidos pela legislação brasileira são de até um miligrama de mercúrio para cada quilograma de peixes predadores (mg/kg) e 0,5 mg/kg para não predadores.
Os resultados mostraram variações significativas entre as espécies: a sardinha apresentou valores muito baixos de mercúrio, em torno de 0,0003 mg/kg. Já o robalo teve a maior concentração, com 0,2218 mg/kg. “A concentração detectada não é alta, mas expressa a necessidade de maior espaçamento entre as refeições. Precisa existir um intervalo maior entre o consumo”, explica o pesquisador Bruno Toledo. “Nosso intuito não é que as pessoas deixem de consumir os peixes, mas que haja um rodízio entre as espécies. Desta forma, a possível exposição ao mercúrio será amenizada”, complementa.
Na segunda etapa, os pesquisadores analisaram amostras de cabelo humano, método reconhecido internacionalmente para identificar exposição crônica ao mercúrio. Utilizando como referência os limites indicados pela Organização das Nações Unidas (ONU), entre 1 e 2 mg/kg, o estudo encontrou valores que variaram de 0,12 mg/kg a 3,5 mg/kg entre os voluntários. “Isso significa que tivemos voluntários com resultados acima do limite previsto, o que indica maior exposição, possivelmente relacionada ao consumo frequente de peixe”, diz Eliane Mársico.
Impactos na saúde
As amostras foram coletadas em realidades distintas dentro do mesmo estuário, com maiores concentrações na Ilha do Governador, seguidas por Magé e Itaboraí. A frequência de consumo e as espécies mais capturadas podem explicar essas diferenças.
Uma parcela dos peixes é direcionada para consumo próprio, principalmente aqueles com menor valor comercial. Os outros são comercializados, o que significa que os impactos na saúde podem se estender para além das três regiões pesquisadas.
Segundo a ONU, a inalação ou ingestão de grandes quantidades de mercúrio pode provocar consequências neurológicas sérias. Entre os sintomas, estão tremores, insônia, perda de memória, dores de cabeça, fraqueza muscular e até morte.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) reforça que dois grupos são especialmente vulneráveis: fetos cujas mães têm altos níveis de mercúrio em seu sangue e populações mais expostas a altos níveis da substância, como os pescadores de subsistência.
Benefício coletivo
A equipe de pesquisadores da UFF pretende devolver os resultados do estudo às comunidades pesquisadas. A ideia é levar as informações de forma acessível, para contribuir com a saúde coletiva. “Os pescadores não têm conhecimento completo do problema. A percepção deles é o quanto diminuiu a oferta de peixes e outras espécies de pescado ao longo dos anos. Além disso, relataram que o tamanho dos peixes capturados está diminuindo bastante a cada período. De forma geral, eles entendem que é a poluição e acúmulo de resíduos líquidos e sólidos na baía”, diz Bruno. “Nossa proposta é apresentar os dados em banners claros e diretos, que ficarão expostos na Associação de Pescadores, para que todas as colônias compreendam os resultados e saibam como se proteger”, complementa.
Para Eliane Mársico, a compartilhar os resultados da pesquisa é parte essencial do trabalho científico. “Os pescadores querem saber e é necessário que tenham essa informação para que possam se prevenir, fazer um rodízio entre as espécies que consomem e evitar impactos no futuro. Nosso foco é garantir a essas comunidades a tranquilidade de se alimentar com algo que gostam e podem”, diz a pesquisadora.
Peixes
Plataforma PNIP completa primeiro ano e avança na rastreabilidade do pescado
Aplicativo do MPA moderniza certificações, integra dados de captura e processamento e fortalece presença do pescado brasileiro em mercados exigentes.

OMinistério da Pesca e Aquicultura (MPA) celebra o primeiro ano de lançamento da Plataforma Nacional da Indústria do Pescado (PNIP), instituída pela Portaria MPA n°361, de 26 de outubro de 2024. A ferramenta é usada pelo Departamento da Indústria do Pescado (DIP), da Secretaria Nacional de Pesca Industrial, Amadora e Esportiva (SNPI), na emissão e gestão das certificações das embarcações de pesca integradas à cadeia produtiva do pescado brasileiro – destinado à indústria para fins de comercialização nos mercados nacional e internacional.
Em 2025, foram entregues quatro módulos principais:
- Módulo de habilitação de técnicos responsáveis de embarcações;
- Módulo de Certificação higiênico-sanitária, em cumprimento à Portaria SAP-MAPA n° 310/2020;
- Módulo de Certificação higiênico-sanitária para atendimento à Portaria MPA nº 75/2023, que conta com uma versão em aplicativo para otimizar as atividades da equipe técnica de certificação a campo;
- Módulo de Certificado de Acreditação de Origem Legal (CAOL), com base na Instrução Normativa MPA n° 2/2018, para assegurar a procedência legal da matéria-prima.
Em retrospecto, foram recebidos pelo DIP, via PNIP:
- 57 solicitações de habilitação de técnicos responsáveis;
- 45 solicitações de emissão do Certificado Oficial de Boas Práticas Higiênico-sanitárias a Bordo;
- 3 solicitações de emissão de Certificado Oficial de Conformidade da Embarcação de Pesca;
- 247 solicitações de emissão de CAOL.
No último dia 9 de dezembro, a equipe da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), responsável pelo desenvolvimento da PNIP, esteve reunida em Brasília/DF para prosseguir com o trabalho de aprimoramento e inovação da plataforma. Eles apresentaram para a equipe do DIP/SNPI uma proposta de interface para o Módulo Rastreabilidade, um Painel de Gestão de Dados da Cadeia Produtiva da Pesca, demanda solicitada pelo diretor José Luis Vargas.
De acordo com Vargas, a nova interface de dados dará suporte fundamental ao DIP/SNPI para o desenvolvimento de políticas públicas que valorizem o pescado brasileiro, além de garantir o controle higiênico-sanitário, legal e de rastreabilidade do pescado, fator essencial para o fornecimento do pescado brasileiro para mercados exigentes. “O novo módulo representa um salto em rastreabilidade e inteligência na gestão da cadeia do pescado, fornecendo informações completas sobre o ciclo produtivo do pescado, desde a captura e até o destino de comercialização”, ressaltou.
A nova ferramenta integra os seguintes dados:
- Cruzeiro de pesca e mapa de bordo;
- Mapa de produção e volume de pescado;
- Identificação da indústria que recepciona a matéria-prima;
- Tipo de produto processado;
- Mercado de destino (nacional e internacional).
“Este é um marco para a gestão eficiente e transparente do setor, elevando a confiabilidade e a rastreabilidade de toda cadeia de produção da pesca, aumentando a competitividade do pescado brasileiro”, concluiu Vargas.



