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O agro nos próximos quatro anos

O agro pode melhorar ou piorar dependendo do clima e da situação internacional. O próximo governo brasileiro pouco interferirá.

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Foto: Arquivo/OP Rural

O Brasil ruma para um protagonismo inédito, tanto na produção quanto na comercialização de produtos agrícolas. Nosso agro ganhou vida e dinâmica próprias. Dado o seu tamanho, sua dependência do mercado doméstico, em termos relativos, é cada vez menor. Assim, a situação de oferta e demanda nos demais países passa a ser determinante para o maior ou menor crescimento do agro brasileiro. Instabilidades na geopolítica internacional, crises de abastecimento, taxa de desenvolvimento do PIB (e da renda per capita) em escala global, são fatores determinantes para os rumos do nosso agro no futuro imediato.

Não menos importantes são as mudanças climáticas, tanto cá quanto alhures. Os eventos climáticos extremos estão se tornando cada vez mais frequentes, com secas prolongadas, períodos mais longos de temperatura muito elevada, enchentes e inundações, tempestades, vendavais e outros fenômenos adversos. São eventos que prejudicam a produção agrícola, impedindo semeadura na época mais propícia, por vezes requerendo nova semeadura. Prejudicam operações de manejo, favorecem ataques de determinadas pragas, frustram colheitas.

Para que o agro brasileiro continue crescendo às mesmas taxas dos últimos 20 anos, precisamos, essencialmente de duas coisas: que o mundo cresça e compre mais nossos produtos. Em consequência, que os preços sejam remuneradores. E que o clima não nos atrapalhe, permitindo que haja produção compatível com a demanda.

Governo

E o novo governo? Não o vislumbro como um agente que possa interferir no agro com a mesma intensidade que os dois fatores acima. Poderá ajudar muito, mas não prejudicar. O agro brasileiro adquiriu uma expressão e uma dinâmica próprias, com cadeias e conexões solidamente vinculadas ao mercado, cada vez mais se descola das ações governamentais. Ganha progressivamente mais força a expressão “quanto menos governo, melhor”! Eu diria que o governo passou a depender mais do agro do que este do governo!

Sem dúvida algumas ações de governo são essenciais. Destacaria a primordial, que é a defesa agropecuária que, por força de acordos internacionais, precisa ser capitaneada pelo governo de cada país, para assegurar o ingresso de nossos produtos no mercado internacional. Trabalho de coordenação, integrado com o setor privado. Duas outras ações, no âmbito do Ministério da Agricultura são essenciais: geração e transferência de tecnologia e política agrícola.

A Embrapa é um órgão do Mapa que tem sido reconhecido como um dos grandes responsáveis pela revolução que ocorreu no agro brasileiro, nos últimos 40 anos. Nas sábias palavras do mestre Xico Graziano “Reanimar e revalorizar a Embrapa, o maior orgulho do agro nacional, é a mais difícil tarefa do próximo governo”. Obviamente Xico restringia sua análise ao agro e não aos demais setores do governo. Quanto à assistência técnica, a correia de transmissão da informação para os produtores rurais, o setor privado se organiza de forma cada vez mais adequada para atender às suas necessidades.

Resta uma ação no âmbito do Mapa, que depende em muito do governo: a proteção e o apoio ao pequeno agricultor, que ainda não esteja adequadamente vinculado às cadeias produtivas do agro, com ações como crédito, apoio à organização e associativismo, e assistência técnica.

É fora do âmbito do Ministério da Agricultura que vislumbro os aspectos nos quais o governo mais pode ajudar o agro brasileiro a obter um novo salto de patamar, tanto no mercado doméstico, quanto internacional. Listo as principais iniciativas que podem nos ajudar:

  • Integração do agro às ações de proteção ao meio ambiente, com o cumprimento do Código Florestal e o apoio aos programas que buscam sistemas de produção cada vez mais sustentáveis, particularmente na redução das emissões de carbono para a atmosfera, o que inclui o mercado de carbono e o pagamento por serviços ambientais;
  • Abertura de novos mercados e consolidação dos existentes, novas oportunidades de ocupação de espaços mercadológicos, como bioeconomia, aquicultura, fruticultura e plantas ornamentais;
  • Investimentos em infraestrutura e logística para o transporte de insumos, estocagem e escoamento de safras, o que abarca silos e armazéns, hidrovias, ferrovias, rodovias, portos e aeroportos à altura da pujança do agro brasileiro;
  • Investimentos em energia, comunicação e avanços tecnológicos para que os sistemas de produção e as cadeias produtivas possam operar no estado da arte;
  • Redução do custo Brasil, que inclui reformas, desburocratização e apoio às ações para tornar o agro brasileiro cada vez mais competitivo.

Uma necessidade sempre presente em um setor que atinge um terço do PIB, responsável pela integralidade do saldo comercial, pelo emprego e renda de dezenas de milhões de brasileiros, é a comunicação. Comunicar adequadamente o que é o agro nacional, livre das fakenews e dos mitos, tanto no Brasil quanto no exterior, é uma ação que deve integrar governo e iniciativa privada.

Não desconheço a fragilidade das contas públicas face ao tamanho das demandas do agro. Mas vislumbro uma oportunidade histórica de capturar portentosos investimentos internacionais para resgatar a deficiência crônica em nossa infraestrutura e logística, na forma de PPAs ou outras modalidades.

Quanto ao nosso produtor e demais elos da cadeia, projeto que manterão o foco em ser o melhor do mundo, produzindo de forma sustentável, com produtividade crescente, para diminuir cada vez mais a abertura de novas áreas, sempre atento às demandas do mercado e dos governos de outros países, cada vez mais exigentes nos critérios de sustentabilidade.

De minha parte, não tenho qualquer dúvida que, daqui a quatro anos, estaremos ainda melhor do que estamos hoje, independente da forma de avaliação que viermos a utilizar.

Fonte: Por Décio Luiz Gazzoni, engenheiro agrônomo e membro do Conselho Agro Sustentável.

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Comunicação e Marketing como mola propulsora do consumo de carne suína no Brasil

Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas.

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Foto: Claudio Pazetto

Artigo escrito por Felipe Ceolin, médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias, com especialização em Qualidade de Alimentos, em Gestão Comercial e em Marketing, e atual diretor comercial da Agência Comunica Agro.

O mercado da carne suína vive no Brasil um momento transição. A proteína, antes limitada por barreiras culturais e mitos relacionados à saúde, vem conquistando espaço na mesa do consumidor.

Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas. Estudos recentes revelam que o brasileiro passou a reconhecer características como sabor, valor nutricional e versatilidade da carne suína, demonstrando uma mudança clara no comportamento de compra e consumo. É nesse cenário que o marketing se transforma em importante aliado da cadeia produtiva.

Foto: Shutterstock

Reposicionar para crescer

Para aumentar a participação na mesa das famílias é preciso comunicar aquilo que o consumidor precisava ouvir:
— que é uma carne segura,
— rica em nutrientes,
— competitiva em preço,
— e extremamente versátil na culinária.

Campanhas educativas, conteúdos informativos e a presença mais forte nas mídias sociais têm ajudado a construir essa nova imagem. Quando o consumidor entende o produto, ele compra com mais confiança – e essa confiança só existe quando existe uma comunicação clara e alinhada as suas expectativas.

O marketing não apenas divulga, ele conecta. Ao simplificar informações técnicas, aproximar o produtor do consumidor e mostrar maneiras práticas de preparo, a comunicação se torna um instrumento de transformação cultural.

Apresentar novos cortes, propor receitas, explicar processos de qualidade, destacar certificações e reforçar a rastreabilidade são estratégias que aumentam a percepção de valor e, consequentemente, estimulam o consumo.

Digital: o novo campo do agro

As redes sociais se tornaram o “supermercado digital” do consumidor moderno. Ali ele busca receitas, tira dúvidas, avalia produtos e

Foto: Divulgação/Pexels

compartilha experiências.
Indústrias, cooperativas e associações que investem em presença digital tornam-se mais competitivas e ampliam sua capacidade de influenciar preferências.

Vídeos curtos, reels com receitas simples, influenciadores culinários e campanhas segmentadas têm desempenhado papel fundamental na aproximação com o consumidor urbano, historicamente mais distante da realidade da cadeia produtiva e do campo.

Promoções e estratégias de varejo

Além do ambiente digital, o ponto de venda continua sendo o território decisivo da conversão. Embalagens mais atrativas, materiais explicativos, promoções e ações conjuntas com o varejo aumentam a visibilidade e reduzem a insegurança de quem tomando decisão na frente da gondola.

Marketing como elo da cadeia produtiva

A cadeia de carne suína brasileira é altamente tecnificada, sustentável e reconhecida, mas essa excelência precisa ser comunicada. O marketing tem o papel de unir elos – do campo ao consumidor – e transformar conhecimento técnico em mensagens simples e que engajam.

Fonte: O Presente Rural com Felipe Ceolin
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Expandir sem desmatar: a lógica econômica que vai muito além do discurso

Recuperar áreas degradadas e investir em produtividade sustentável é hoje o caminho mais rentável e estratégico para o agro brasileiro crescer sem comprometer o meio ambiente.

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Foto: Juliana Sussai

Dias atrás reli um artigo do pesquisador da Embrapa e membro do Conselho Científico Agro Sustentável, Décio Luiz Gazzoni, sobre a expansão agrícola sem desmatamento. O texto, publicado em 2023, ainda é muito atual e me fez refletir novamente sobre algo que sempre defendo: a sustentabilidade não é apenas uma exigência ambiental, é uma decisão econômica inteligente.

Como economista e alguém que acompanha o agro de perto, inclusive viajando para conhecer iniciativas em diferentes países, vejo com muita clareza o que Gazzoni já apontava: a grande fronteira do crescimento brasileiro está dentro das áreas já abertas, principalmente nas pastagens degradadas.

Artigo escrito por Fábio Torquato, economista, formado em Relações Internacionais e fundador da AgroTravel – Foto: Divulgação/AgroTravel

E os números mais recentes reforçam essa visão. Estudos da Embrapa, publicados na revista internacional Land, indicam que o Brasil possui cerca de 27,7 milhões de hectares de pastagens degradadas. Isso significa que temos uma área gigantesca pronta para ser recuperada e incorporada à produção, sem a necessidade de avançar sobre novos biomas.

Além disso, durante a COP29, que aconteceu ano passado em Baku, no Azerbaijão, o Brasil lançou o Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas (PNCPD), que prevê US$ 120 bilhões em investimentos nos próximos dez anos para recuperar 40 milhões de hectares. O número do programa é maior do que o estimado pela Embrapa porque considera áreas em diferentes graus de degradação, aptas para conversão produtiva ao longo dos anos.

Do ponto de vista econômico, é um movimento que faz todo o sentido. Segundo o Broto Notícias, o custo de recuperação de uma pastagem varia de R$ 6 mil a R$ 30 mil por hectare, dependendo do nível de degradação, tipo de solo e métodos adotados. Parece caro? Talvez à primeira vista. Mas quando olhamos para o retorno — aumento de produtividade por hectare, redução de custos operacionais e acesso a mercados premium que pagam mais por produtos rastreáveis e sustentáveis — a conta fecha rapidamente.

Vi isso acontecer em fazendas que visitei em viagens técnicas com a AgroTravel ao redor do mundo.

Como bem lembra Gazzoni, o produtor brasileiro já tem tecnologia e conhecimento para fazer essa virada. O que falta, muitas vezes, é entender que sustentabilidade é investimento, e não custo. E agora, com bilhões de dólares disponíveis em crédito via BNDES, Banco do Brasil e fundos internacionais, esse argumento fica ainda mais forte.

Estamos acompanhando os trabalhos da COP30, que este ano acontece no Brasil, e o mundo inteiro está olhando para nosso país. A oportunidade está escancarada: quem se antecipar, quem enxergar a recuperação de pastagens como um ativo estratégico, vai liderar o agro brasileiro do futuro.

Sempre digo nos grupos que acompanham as viagens da AgroTravel: o futuro do agro não está em abrir novas áreas, mas em transformar cada hectare já aberto em um ativo de alta performance. O artigo de Gazzoni só reforçou o que vejo na prática. E, como economista, reafirmo: essa é a equação mais inteligente que já tivemos nas mãos.

Fonte: Assessoria AgroTravel
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Meio ambiente e cooperativismo

Movimento econômico e social baseado em valores éticos e solidários, o cooperativismo reafirma, em tempos de COP 30, seu papel essencial na construção de um futuro sustentável, unindo produção, preservação e desenvolvimento coletivo.

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Foto: Divulgação/Sistema Faep

As cooperativas representam o mais elevado estágio da organização humana em torno de valores éticos, solidários e sustentáveis. Elas não existem apenas para gerar resultados econômicos, mas para promover o desenvolvimento coletivo em harmonia com o meio ambiente e com as comunidades em que atuam. Por essência e por princípios universais, o cooperativismo defende a preservação da natureza, a gestão responsável dos recursos e o equilíbrio entre produção e sustentabilidade. Esse compromisso ambiental não é um apêndice, mas uma convicção enraizada na própria identidade cooperativista.

Artigo escrito por Vanir Zanatta, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC).

Em tempos de COP 30 é essencial lembrar que, nas cooperativas, cada decisão administrativa, cada projeto de ampliação e cada investimento em unidades industriais, agrícolas, logísticas ou administrativas é precedido por uma análise criteriosa dos impactos ambientais. O crescimento não se mede apenas em números, mas também na capacidade de reduzir emissões, otimizar o uso da água, reciclar resíduos e proteger a biodiversidade. É essa consciência prática e constante que diferencia o cooperativismo das demais formas de organização econômica. Ele entende que não há prosperidade possível em um planeta degradado, nem futuro para a economia sem o equilíbrio ambiental.

As cooperativas são parceiras leais do Poder Público na implementação de políticas voltadas ao meio ambiente. Estão sempre presentes em programas de reflorestamento, saneamento básico, manejo de resíduos, recuperação de nascentes e educação ambiental. Mas sua contribuição vai além da sustentabilidade ecológica — elas também participam ativamente de ações que promovem segurança, educação, cultura e mobilidade urbana, compreendendo que a proteção ambiental é inseparável da qualidade de vida e do bem-estar social. Onde há uma cooperativa, há compromisso com o futuro coletivo.

Essas instituições agem com coerência e exemplo, estimulando a cidadania e o senso de responsabilidade em seus empregados, cooperados, clientes e comunidades. Elas ensinam, pelo exemplo, que o progresso verdadeiro não nasce da exploração desenfreada, mas da gestão equilibrada e consciente dos recursos. O cooperativismo forma cidadãos engajados, capazes de compreender que o planeta é uma herança comum e que sua preservação é um dever de todos.

A defesa do meio ambiente é, portanto, um desdobramento natural dos princípios cooperativistas — entre eles, o interesse pela comunidade, a responsabilidade social e a intercooperação. Cada árvore preservada, cada solo recuperado e cada nascente protegida são expressões concretas de uma filosofia que valoriza a vida. As cooperativas não esperam por imposições legais ou incentivos externos para agir: elas o fazem porque acreditam que sua missão é cuidar das pessoas e do mundo em que elas vivem.

O cooperativismo é, por natureza, o caminho da sustentabilidade. Ele demonstra, todos os dias, que é possível crescer produzindo, prosperar preservando e inovar sem destruir. Em tempos de mudanças climáticas e desafios globais, as cooperativas reafirmam sua vocação de construir um mundo melhor, mais justo e solidário. Elas provam, com ações e resultados, que a economia pode — e deve — caminhar de mãos dadas com o meio ambiente. Essa é a essência do cooperativismo: servir, preservar e transformar.

Fonte: Artigo escrito por Vanir Zanatta, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC).
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