Avicultura
Nutrição ganha papel estratégico na imunidade e no controle de doenças na avicultura
Ração deixa de ser apenas fonte de desempenho e passa a atuar como ferramenta biológica, reforçando defesas das aves em um cenário de menor uso de antibióticos.

Por décadas, a nutrição animal foi vista como ferramenta para garantir desempenho, peso e conversão alimentar. Mas, em um cenário de restrição ao uso de antibióticos e pressão crescente por sustentabilidade, a alimentação tem assumido outro papel estratégico na avicultura, que é atuar a favor da imunidade e no controle de patógenos.

Especialista em Imunologia Veterinária e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Breno Castello Branco Beirão: “É possível melhorar como acontecem as defesas se damos alguns nutrientes em momentos específicos. Hoje isso ainda é bastante teórico, pois a ração é fixa dentro de cada empresa, mas há potencial para o futuro” – Foto: Arquivo Pessoal
A ciência vem mostrando que a ração é mais do que combustível, é também um modulador biológico capaz de ajustar o comportamento do sistema imune, tornando as aves mais resistentes a desafios sanitários. Vitaminas, minerais, aminoácidos e aditivos funcionais não apenas nutrem, mas também influenciam como o organismo reage a infecções, inflamações e desequilíbrios intestinais.
O professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Breno Castello Branco Beirão, especialista em Imunologia Veterinária, explica que todos os nutrientes têm papel na modulação do sistema imunológico das aves, alguns de forma mais marcante, como as vitaminas A e D, os aminoácidos triptofano e arginina e os carboidratos.
Esses nutrientes, detalha Beirão, podem mudar de forma significativa a intensidade e a rapidez da resposta imune. “Há aminoácidos especialmente relevantes no controle imune, como glutamina, arginina e triptofano. A alteração deles modifica de maneira importante as defesas”, afirma.
No caso da energia dietética, explica, o essencial é o equilíbrio. “A quantidade total e a velocidade de uso são determinantes. A glicemia elevada constantemente ativa as células imunes, e o uso de fibras pode ajudar a mitigar isso”, menciona.
Mais do que nutrientes
O professor ressalta que a suplementação de vitaminas, minerais e prebióticos pode aprimorar as defesas naturais, mas o ponto-chave é o momento da oferta. “É possível melhorar como acontecem as defesas se damos alguns nutrientes em momentos específicos. Hoje isso ainda é bastante teórico, pois a ração é fixa dentro de cada empresa, mas há potencial para o futuro”, observa.
Na prática, o desafio está na rigidez dos sistemas industriais de alimentação. Cada empresa trabalha com formulações padronizadas, o que limita ajustes pontuais conforme a idade das aves, as condições do lote ou a carga de patógenos. “Talvez estratégias como a nutrição in ovo ou via água possam permitir maior flexibilidade”, expõe Beirão.
Controle de patógenos pelo intestino

As doenças entéricas, como coccidiose e enterites bacterianas, estão entre as principais causas de perdas produtivas. Nesses casos, as estratégias nutricionais buscam suprimir inflamações e, ao mesmo tempo, otimizar a resposta imune, explica o professor. “Sabemos um pouco sobre o uso de aditivos bióticos e nutricionais, mas ainda há espaço para melhorar esse conhecimento. É uma área nova de pesquisa”, salienta.
A ação dos aditivos funcionais, como probióticos, enzimas, óleos essenciais e acidificantes, ocorre em múltiplas frentes. “Eles interagem diretamente com as células imunes e alteram a microbiota intestinal, influenciando a presença de patógenos. Há inúmeros mecanismos, e esses são alguns dos mais conhecidos”, detalha.
Em relação à acidificação intestinal, Beirão observa que, embora muitos microrganismos se tornem resistentes aos ácidos, a técnica ainda provoca mudanças importantes na microbiota, dificultando a colonização por agentes como Salmonella e Escherichia coli.
Imunidade desde cedo
Outro ponto crítico é o início da vida das aves, quando o sistema imune ainda está em formação. “A maturação imune é muito dependente de estímulos nos primeiros momentos da vida. Estímulos com probióticos, leveduras e nutrição que sustente a formação dos tecidos mudam a resposta para toda a vida do animal”, afirma Beirão.
Segundo ele, investir na imunocompetência precoce é um dos caminhos mais promissores para reduzir o uso de antibióticos. “A nutrição pode ajudar, mas não sozinha. É preciso mudar manejo junto. Várias das estratégias que já mencionamos contribuem para isso”, acrescenta.
Avaliar, medir e ajustar
Hoje, nutricionistas contam com ferramentas sofisticadas para monitorar a saúde intestinal das aves. “Já há indicadores tecnificados, como análise de microbioma e permeabilidade intestinal”, menciona o professor, acrescentando: “Contudo, os parâmetros clínicos e zootécnicos ainda são o padrão ouro, embora sejam retrospectivos e não preditivos.”
Mesmo com limitações práticas, a convergência entre nutrição, imunidade e controle sanitário já é uma realidade respaldada pela pesquisa. “Há muitos estudos demonstrando resultados concretos, mas o problema é operacional: como manejar a dieta de uma empresa inteira quando as demandas são localizadas?”, questiona Beirão. A resposta, sugere ele, pode estar em inovações que permitam ajustar a nutrição de forma mais dinâmica e personalizada.
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Avicultura
Avicultura de Santa Catarina reforça liderança e deve fechar 2025 com resultados positivos
Estado amplia produção e receita mantém protagonismo nas exportações de carne de frango e sustenta competitividade mesmo diante de custos elevados e desafios sanitários globais.

A avicultura industrial de Santa Catarina apresentou desempenho positivo em 2025 e reforçou sua posição estratégica no cenário nacional e internacional, mesmo diante de um ambiente econômico adverso e de desafios sanitários enfrentados pelo setor em âmbito global. A avaliação é do diretor executivo da Associação Catarinense de Avicultura (ACAV), Jorge Luiz de Lima, ao analisar os principais indicadores do ano.
O Estado respondeu por 26,3% de todo o volume de carne de frango exportado pelo Brasil e por 22,8% da receita obtida com as vendas externas do produto, números que evidenciam o peso da avicultura catarinense dentro da cadeia avícola brasileira. Enquanto o desempenho nacional foi marcado por produção recorde e leve retração nas exportações, Santa Catarina conseguiu ampliar produção e receita, sustentado pela diversificação de mercados e pela competitividade do setor.

Diretor executivo da Associação Catarinense de Avicultura (ACAV), Jorge Luiz de Lima: “Após o caso de influenza aviária no Rio Grande do Sul, a rápida resposta sanitária, o controle da situação e a reconhecida biosseguridade do sistema produtivo brasileiro permitiram a manutenção e a reabertura de mercados, fator que também beneficiou diretamente Santa Catarina”
Em 2025, a produção catarinense de carne de frango cresceu 2,5% em relação a 2024, acompanhando o movimento nacional, que alcançou cerca de 15,4 milhões de toneladas, alta próxima de 3%. A receita do setor em Santa Catarina avançou 6,3% no mesmo período, resultado que compensou, em parte, o aumento de 6,5% nos custos de produção, pressionados principalmente pela logística. Segundo a ACAV, o cenário foi ainda mais desafiador em função da taxa básica de juros em torno de 15%, considerada um fator adverso para investimentos e capital de giro.
No comércio exterior, Santa Catarina manteve protagonismo. Arábia Saudita, Japão, Países Baixos, Emirados Árabes Unidos e Reino Unido figuraram entre os principais destinos da carne de frango produzida no Estado. Ao longo do ano, Reino Unido e México se consolidaram como grandes compradores, ampliando a base de mercados e reduzindo riscos comerciais. Esse desempenho ganha relevância quando comparado ao cenário brasileiro, que registrou uma queda aproximada de 2% nas exportações totais, projetadas em cerca de 5,2 milhões de toneladas, em função de embargos temporários impostos após a detecção de um foco de influenza aviária em maio.
Apesar desse revés pontual, o faturamento da avicultura brasileira com exportações superou US$ 5,4 bilhões em 2025, demonstrando a força do setor no mercado global. “Após o caso de influenza aviária no Rio Grande do Sul, a rápida resposta sanitária, o controle da situação e a reconhecida biosseguridade do sistema produtivo brasileiro permitiram a manutenção e a reabertura de mercados, fator que também beneficiou diretamente Santa Catarina”, observou o diretor executivo.
No mercado interno, o consumo permaneceu elevado, impulsionado pelo frango como proteína de menor custo para o consumidor. De acordo com a ACAV, o setor encerrou 2025 com preços estáveis e margens favoráveis, mesmo diante do aumento de custos e das incertezas econômicas. O desempenho catarinense, que concentra pouco mais de um quarto das exportações brasileiras de carne de frango, confirma a relevância do Estado para a avicultura nacional e sustenta perspectivas positivas para 2026, tanto em produção quanto em mercados.
Avicultura
Ceia de Natal deve ficar mais cara em 2025 com altas de até 65% em aves
Preços de peru, pernil e bacalhau sobem, enquanto lombo suíno e azeites surgem como alternativas mais acessíveis para a ceia.

Com a proximidade do fim do ano, a procura por itens tradicionais da ceia de Natal volta a movimentar as gôndolas dos supermercados. Em 2025, porém, o jantar natalino deve ficar mais caro para o consumidor. É o que aponta um novo estudo da Neogrid, ecossistema de tecnologia e inteligência de dados voltado à gestão da cadeia de consumo, que analisou os produtos mais buscados pelos brasileiros e identificou altas de até 65,3% nos preços em relação ao ano passado, puxadas principalmente pelas aves típicas do período.
De acordo com o levantamento, as aves natalinas no geral registraram alta de 42,8%, passando de R$ 44,01 em outubro de 2024 para R$ 62,88 no mesmo mês deste ano. Em especial, o peru ficou 65,3% mais caro, saltando de R$ 22,52 para R$ 37,23. Outros cortes, como o pernil, seguiram a mesma tendência e o preço médio subiu de R$ 34,50 para R$ 37,96 na comparação anual.
De forma similar, o bacalhau dessalgado e congelado subiu 17,8%, passando de R$ 126,61 para R$ 149,26, enquanto o bacalhau salgado e seco apresentou alta ainda maior – de 22,2%, partindo de R$ 72,44 para R$ 88,57.
Alternativas mais em conta

Foto: ASGAV
Por outro lado, a pesquisa indica que o lombo suíno pode se tornar uma das proteínas mais vantajosas para o consumidor, com queda de 12,6% no preço médio, saindo de R$ 32,94 para R$ 28,76. De acordo com o estudo, os azeites caminham para um cenário mais favorável ao consumidor, com o azeite de oliva virgem recuando 20,5% e o extra virgem caindo 17,4%.
Segundo o levantamento, fatores como variações climáticas, redução da produção nacional e alta do dólar com foco maior nas exportações ajudam a explicar as oscilações observadas nos preços. “Percebemos que as cadeias produtivas estão respondendo de maneira muito diferente às pressões do mercado”, afirma a líder de Dados Estratégicos da Neogrid, Anna Carolina Fercher, destacando: “Enquanto algumas proteínas lidam com custos de reposição mais altos e uma oferta que não acompanha a demanda, o que naturalmente puxa a alta dos preços, outras, como o lombo suíno, demonstram maior capacidade de estabilização ao longo do ciclo. Essa assimetria traduz porquê não estamos diante apenas de um Natal mais caro, mas de um período em que o consumidor encontrará comportamentos de preço muito distintos dentro da mesma cesta.”
Oleaginosas sobem e elevam custo premium da mesa
As oleaginosas seguem como um dos principais vetores de pressão na ceia, com aumentos relevantes na comparação anual. As amêndoas lideram, com salto de 20,1% (de R$ 161,33 para R$ 193,74), seguidas pelas castanhas, que avançaram 19,7%.
O mix de castanhas, opção comum em aperitivos e sobremesas, subiu 13,4%, ao passo que as nozes tiveram alta de 6,7%. No geral, a categoria permanece como uma das que mais pesam no bolso, com um único respiro: o pistache, que registrou leve queda de 0,5%, indo de R$ 244,49 para R$ 243,31. Mesmo com a redução, o pistache segue como o item mais caro do grupo.
Entre os ingredientes usados em panetones, bolos e demais preparações festivas, as frutas cristalizadas avançaram 11,3%, e a uva-passa subiu 8,7%, chegando a R$ 75,18 por quilo.
Bebidas mostram movimento misto
Já na categoria de bebidas, o levantamento da Neogrid indica um cenário de contrastes. O espumante sem álcool apresentou a maior variação positiva do grupo, com alta de 13,6%, passando de R$ 36,95 para R$ 41,99. A sidra também avançou, embora em ritmo mais moderado (4,7%).
Na direção oposta, os espumantes nacionais e importados ficaram mais acessíveis este ano. O nacional recuou 9%, com o preço médio descendo de R$ 85,28 para R$ 77,54, enquanto o importado caiu 6,3% (de R$ 155,01 para R$ 145,11). O comportamento sugere uma oportunidade para quem busca versões premium por valores mais competitivos em relação a 2024.
Entre os vinhos, o tipo fino nacional incrementou 9,9% (de R$ 45,31 para R$ 49,81), seguido pelo importado, que avançou 4,1% (de R$ 65,85 para R$ 68,60), e pelo vinho de mesa, com elevação de 5,1%, alcançando R$ 26,50. Nas cervejas, a clara cresceu 4,7%, enquanto a escura (1,9%) e a sem álcool (1,8%) praticamente se mantiveram estáveis.
Avicultura
Brasil abre mercado em Moçambique para exportação de material genético avícola
Acordo sanitário autoriza envio de ovos férteis e pintos de um dia, fortalece a presença do agronegócio brasileiro na África e amplia para 521 as oportunidades comerciais desde 2023.

O governo brasileiro concluiu negociação sanitária com Moçambique, que resultou na autorização de exportações brasileiras de material genético avícola (ovos férteis e pintos de um dia) àquele país.
Além de contribuir para a melhoria de qualidade do plantel moçambicano, esta abertura de mercado promove a diversificação das parcerias do Brasil e a expansão do agronegócio brasileiro na África, ao oferecer oportunidades futuras para os produtores nacionais, em vista do grande potencial do continente africano em termos de crescimento econômico e demográfico.
Com cerca de 33 milhões de habitantes, Moçambique importou mais de US$ 24 milhões em produtos agropecuários do Brasil entre janeiro e novembro de 2025, com destaque para proteína animal.
Com este anúncio, o agronegócio brasileiro alcança 521 novas oportunidades de comércio, em 81 destinos, desde o início de 2023.
Tais resultados são fruto do trabalho conjunto entre o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e o Ministério das Relações Exteriores (MRE).



