Notícias
Nutrição do rebanho de cria: a base sólida para a produção
Dentro dos sistemas de produção de gado de corte, talvez a cria seja o que mais envolve detalhes em relação a organização e planejamento

Como em toda atividade, a busca por incremento na lucratividade no sistema de cria é constante, e para que isso ocorra, é necessário que sejam respeitados alguns pilares. Por exemplo: uma vaca precisa “deixar” o bezerro em um intervalo de 12 a 13 meses na propriedade. A quantidade e o peso dos animais desmamados também influenciam diretamente na receita.
No entanto, para que isso ocorra, as matrizes precisam estar com bom estado corporal ao parto, uma vez que naturalmente já perdem peso após o parto devido ao estado de balanço energético negativo (BEN), que ocorre por conta da redução na ingestão de energia diária e pelo aumento da demanda energética para produção de leite. Portanto, a nutrição bem ajustada é fundamental para proporcionar bom estado corporal às matrizes ao parto, bem como para auxiliar na recuperação dos animais no pós-parto.
Além da nutrição, a programação do período de nascimento dos bezerros auxilia no desenvolvimento do sistema de cria. Sabe-se que bezerros nascidos na época seca do ano tendem a ter melhor peso ao desmame em relação aos animais nascidos em épocas chuvosas. Esse fato está relacionado com os seguintes fatores: menor exposição a parasitas externos e internos, não exposição a chuvas e umidade demasiada (o que causa gasto energético para manutenção da temperatura corporal) e concentração do manejo com neonatos na fazenda, que já estarão aptos ao consumo de pasto durante todo o período de águas.
Em relação ao peso dos bezerros no desmame, a nutrição adicional ao leite e ao pasto também influi de forma positiva no desempenho. Esse aporte nutricional consiste em fornecer aos bezerros suplementação proteica ou proteico-energética em cocho durante a fase de aleitamento.
Com o planejamento do manejo reprodutivo bem alinhado é possível trabalhar de forma específica os protocolos nutricionais adequados para cada fase do ciclo.
Influência da nutrição na reprodução
O tempo de recuperação pós-parto influencia diretamente no intervalo entre partos. É possível mensurar o estado nutricional com a avaliação da condição corporal dos animais através de uma escala de notas variando de 1 a 5, as quais são atribuídas por uma avaliação visual, onde a nota 1 é para uma vaca extremamente magra, com ossatura bastante exposta, e a nota 5, para um animal onde é possível notar deposição de gordura subcutânea, sem ossatura aparente. Em estudo realizado por Emerick et al., 2009, o deficiente estado nutricional no pós-parto, evidenciado por baixo escore de condição corporal (ECC), foi uma das mais importantes causas de atraso da primeira ovulação pós-parto.
O ECC alto de uma vaca também a torna menos eficiente na reprodução, trazendo dificuldades ao parto, como aumento das perdas neonatais, redução de peso ao desmame e aumento dos custos nutricionais.
A suplementação mineral é a base da nutrição e jamais deve ser marginal ou negligenciada, pois os minerais participam de praticamente todos os processos metabólicos e também na composição estrutural dos animais. Portanto, nenhuma suplementação em nível proteico e/ou energético surtirá efeito se o aporte mineral não estiver adequado.
Na reprodução, os minerais, classificados como macro e microminerais, exercem papel importante tanto para concepção quanto para manutenção da gestação. Ambos os grupos possuem igual importância, diferindo apenas na dose necessária para suprir a exigência animal. Todos são fundamentais na produção, visto que participam do metabolismo, manutenção e crescimento animal. A necessidade de determinado elemento em um tipo de célula ou tecido é variável de acordo com a fase fisiológica do animal, ou seja, a intensidade da suplementação mineral pode variar, porém, deve sempre existir.
A biodisponibilidade, ou seja, o potencial de absorção que determinado mineral apresenta, pode variar dependendo da fonte da qual é obtido, podendo chegar a ser nula ou marginal, não contribuindo para supressão da exigência animal. Portanto, ao avaliar um suplemento mineral, além de observar os níveis de garantia, é importante também se atentar para a matéria prima utilizada na fabricação.
Dentro dos sistemas de produção de gado de corte, talvez a cria seja o que mais envolve detalhes em relação a organização e planejamento. Quanto à nutrição, fica muito clara a necessidade de protocolos específicos para cada fase do processo, bem como para cada categoria envolvida nele. Sendo assim, não basta fornecer condições nutricionais adequadas apenas no período reprodutivo (estação de monta). Além da concepção, a manutenção da gestação e o retorno ao estro são fundamentais para o sucesso da atividade.
* Felipe Pelícia Luiz é zootecnista e consultor técnico da Premix.

Notícias
Santa Catarina registra avanço simultâneo nas importações e exportações de milho em 2025
Volume importado sobe 31,5% e embarques aumentam 243%, refletindo demanda das cadeias produtivas e oportunidades geradas pela proximidade dos portos.

As importações de milho seguem em ritmo acelerado em Santa Catarina ao longo de 2025. De janeiro a outubro, o estado comprou mais de 349,1 mil toneladas, volume 31,5% superior ao do mesmo período do ano passado, segundo dados do Boletim Agropecuário de Santa Catarina, elaborado pela Epagri/Cepa com base no Comex Stat/MDIC. Em termos de valor, o milho importado movimentou US$ 59,74 milhões, alta de 23,5% frente ao acumulado de 2024. Toda a origem é atribuída ao Paraguai, principal fornecedor externo do cereal para o mercado catarinense.

Foto: Claudio Neves
A tendência de expansão no abastecimento externo se intensificou no segundo semestre. Em outubro, Santa Catarina importou mais de 63 mil toneladas, mantendo a curva ascendente registrada desde julho, quando os volumes mensais passaram consistentemente da casa das 50 mil toneladas. A Epagri/Cepa aponta que esse movimento deve avançar até novembro, período em que a demanda das agroindústrias de aves, suínos e bovinos segue aquecida.
Os dados mensais ilustram essa escalada. De outubro de 2024 a outubro de 2025, as importações variaram de mínimas próximas a 3,4 mil toneladas (março/25) a máximas superiores a 63 mil toneladas (setembro/25). Nesse intervalo, meses como junho, julho e agosto concentraram forte entrada do cereal, acompanhados de receitas que oscilaram entre US$ 7,4 milhões e US$ 11,2 milhões.
Exportações crescem apesar do déficit interno
Em um cenário aparentemente contraditório, o estado, que possui déficit anual estimado em 6 milhões de toneladas de milho para suprir seu grande parque agroindustrial, também ampliou as exportações do grão em 2025.
Até outubro, Santa Catarina embarcou 130,1 mil toneladas, um salto de 243,9% em relação ao mesmo período de 2024. O valor exportado também chamou atenção: US$ 30,71 milhões, alta de 282,33% na comparação anual.

Foto: Claudio Neves
Segundo a Epagri/Cepa, essa movimentação ocorre majoritariamente em regiões produtoras próximas aos portos catarinenses, onde os preços de exportação tornam-se mais competitivos que os do mercado interno, especialmente quando o câmbio favorece vendas externas ou quando há descompasso logístico entre oferta e demanda regional.
Essa dinâmica reforça um traço estrutural conhecido do agro catarinense: ao mesmo tempo em que é um dos maiores consumidores de milho do país, devido ao peso das cadeias de proteína animal, Santa Catarina não alcança autossuficiência e depende do cereal de outras regiões e países para abastecimento. A exportação pontual ocorre quando há excedentes regionais temporários, oportunidades comerciais ou vantagens logísticas.
Perspectivas
Com a entrada gradual da nova safra 2025/26 no estado e no Centro-Oeste brasileiro, a tendência é que os volumes importados se acomodem a partir do fim do ano. No entanto, o comportamento do câmbio, os preços internacionais e o resultado final da produção catarinense seguirão determinando a necessidade de compras externas — e, por outro lado, a competitividade das exportações.
Para a Epagri/Cepa, o quadro de 2025 reforça tanto a importância do milho como insumo estratégico para as cadeias de proteína animal quanto a vulnerabilidade decorrente da dependência externa e interestadual do cereal. Santa Catarina continua sendo um estado que importa para abastecer seu agro e exporta quando a lógica de mercado permite, um equilíbrio dinâmico que movimenta portos, indústrias e produtores ao longo de todo o ano.
Notícias
Brasil e Japão avançam em tratativas para ampliar comércio agro
Reunião entre Mapa e MAFF reforça pedido de auditoria japonesa para habilitar exportações de carne bovina e aprofunda cooperação técnica entre os países.

OMinistério da Agricultura e Pecuária (Mapa), representado pelo secretário de Comércio e Relações Internacionais, Luis Rua, realizou uma reunião bilateral com o vice-ministro internacional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Florestas (MAFF), Osamu Kubota, para fortalecer a agenda comercial entre os países e aprofundar o diálogo sobre temas da relação bilateral.
No encontro, a delegação brasileira apresentou as principais prioridades do Brasil, incluindo temas regulatórios e iniciativas de cooperação, e reiterou o pedido para o agendamento da auditoria japonesa necessária para a abertura do mercado para exportação de carne bovina brasileira. O Mapa também destacou avanços recentes no diálogo e reforçou os pontos considerados estratégicos para ampliar o fluxo comercial e aprimorar mecanismos de parceria.
Os representantes japoneses compartilharam seus interesses e expectativas, demonstrando disposição para intensificar o diálogo técnico e buscar convergência nas agendas de interesse mútuo.
Notícias
Bioinsumos colocam agro brasileiro na liderança da transição sustentável
Soluções biológicas reposicionam o agronegócio como força estratégica na agenda climática global.

A sustentabilidade como a conhecemos já não é suficiente. A nova fronteira da produção agrícola tem nome e propósito: agricultura sustentável, um modelo que revitaliza o solo, amplia a biodiversidade e aumenta a captura de carbono. Em destaque nas discussões da COP30, o tema reposiciona o agronegócio como parte da solução, consolidando-se como uma das estratégias mais promissoras para recuperação de agro-ecossistemas, captura de carbono e mitigação das mudanças climáticas.

Thiago Castro, Gerente de P&D da Koppert Brasil participa de painel na AgriZone, durante a COP30: “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida”
Atualmente, a agricultura e o uso da terra correspondem a 23% das emissões globais de gases do efeito, aproximadamente. Ao migrar para práticas sustentáveis, lavouras deixam de ser fontes de emissão e tornam-se sumidouros de carbono, “reservatórios” naturais que filtram o dióxido de carbono da atmosfera. “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida. E não tem como falar em vida no solo sem falar em controle biológico”, afirma o PhD em Entomologia com ênfase em Controle Biológico, Thiago Castro.
Segudo ele, ao introduzir um inimigo natural para combater uma praga, devolvemos ao ecossistema uma peça que faltava. “Isso fortalece a teia biológica, melhora a estrutura do solo, aumenta a disponibilidade de nutrientes e reduz a necessidade de intervenções agressivas. É a própria natureza trabalhando a nosso favor”, ressalta.
As soluções biológicas para a agricultura incluem produtos à base de micro e macroorganismos e extratos vegetais, sendo biodefensivos (para controle de pragas e doenças), bioativadores (que auxiliam na nutrição e saúde das plantas) e bioestimulantes (que melhoram a disponibilidade de nutrientes no solo).
Maior mercado mundial de bioinsumos
O Brasil é protagonista nesse campo: cerca de 61% dos produtores fazem uso regular de insumos biológicos agrícolas, uma taxa quatro vezes maior que a média global. Para a safra de 2025/26, o setor projeta um crescimento de 13% na adoção dessas tecnologias.
A vespa Trichogramma galloi e o fungo Beauveria bassiana (Cepa Esalq PL 63) são exemplos de macro e microrganismos amplamente utilizados nas culturas de cana-de-açúcar, soja, milho e algodão, para o controle de lagartas e mosca-branca, respectivamente. Esses agentes atuam nas pragas sem afetar polinizadores e organismos benéficos para o ecossistema.
Os impactos do manejo biológico são mensuráveis: maior porosidade do solo, retenção de água e nutrientes, menor erosão; menor dependência de fertilizantes e inseticidas sintéticos, diminuição na resistência de pragas; equilíbrio ecológico e estabilidade produtiva.
Entre as práticas sustentáveis que já fazem parte da rotina do agro brasileiro estão o uso de inoculantes e fungos benéficos, a rotação de culturas, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e o manejo biológico de pragas e doenças. Práticas que estimulam a vida no solo e o equilíbrio natural no campo. “Os produtores que adotam manejo biológico investem em seu maior ativo que é a terra”, salienta Castro, acrescentando: “O manejo biológico não é uma tendência, é uma necessidade do planeta, e a agricultura pode e deve ser o caminho para a regeneração ambiental, para esse equilíbrio que buscamos e precisamos”.




