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Décio Karam Opinião

Novo sistema de produção de milho – Antecipe: cultivo intercalar antecipado

Com o milho implantado e as plantas desenvolvendo chega o momento da colheita da oleaginosa e esta é realizada normalmente

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Artigo escrito por Décio Karam, membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), Ph.D, pesquisador de Manejo de Plantas Daninhas da Embrapa Milho e Sorgo

O Antecipe é um sistema inédito de produção de grãos, em que é possível semear mecanicamente a cultura do milho nas entrelinhas da soja antes da colheita desta leguminosa. Para que isso se tornasse possível, 13 anos de pesquisa  foram dedicados para geração de conhecimento para permitir que o produtor saiba como e o momento certo de utilizar a tecnologia, além do desenvolvimento  de uma semeadora-adubadora que possa trabalhar neste novo modelo sem provocar danos às plantas de soja, garantindo que a produtividade não seja comprometida por competição ou mesmo pelo corte durante a colheita e o amassamento das plantas de milho provocado pelos pneus da colhedora durante a colheita da soja, também não comprometendo a produtividade do milho.

O que ocorre no sistema Antecipe com a cultura da soja? A tecnologia foi desenvolvida para não dificultar as operações na fazenda. Se o produtor resolver adotar o Antecipe em parte de sua área, até mesmo porque não é preciso antecipar toda a lavoura, não será necessário ajuste no espaçamento entre linhas. Isso só foi possível porque a semeadora-adubadora para o Antecipe foi desenvolvida para trabalhar nos mesmos espaçamentos que qualquer semeadora existente no mercado. Assim, se a soja é semeada no espaçamento de 50 cm entrelinhas, por exemplo, no momento da entrada da máquina para o Antecipe, o espaçamento do milho também continuará com 50 cm. Porém, para isso, alguns cuidados devem ser considerados:

  1. O produtor deverá planejar antes de plantar a soja e em qual será (ão) o (s) talhão (ões) onde será trabalhado o Antecipe. Nesta (s) área (s), a condução da soja deverá levar em consideração que ele poderá antecipar a semeadura do milho em até 20 dias, se for necessário.
  2. O espaçamento da soja poderá permanecer igual ao que o produtor está acostumado a fazer porque a semeadora-adubadora desenvolvida apresenta a largura dos carrinhos de 38cm. Portanto, a soja de 50cm de espaçamento entre linhas se enquadra perfeitamente para este sistema.
  3. Pelo fato da semeadora-adubadora para o Antecipe apresentar uma barra porta ferramentas superior as plantadeiras tradicionais, o produtor poderá continuar usando a cultivar que está acostumado, entretanto, cultivares de porte mais ereto tendem a facilitar a operação de semeadura; assim, a soja não sofrerá danos quando o milho for semeado nas entrelinhas.
  4. A utilização de cultivares com a altura de inserção de vagens mais alta tende a reduzir a perda de folhas das plantas de milho no momento da colheita da soja.
  5. Para melhor aproveitamento do Antecipe e evitar perdas de produtividade da soja, as linhas de semeadura não deverão ter o acabamento (linhas cruzadas) ao final do talhão. Assim, as linhas semeadas deverão finalizar de forma que no Antecipe possa trabalhar nas entrelinhas sem acamar, destruir ou pisotear a soja.

Visto isso, é importante que os produtores possam entender que o sistema não visa a substituição tradicional do cultivo do milho safrinha. O Antecipe é uma tecnologia que objetiva reduzir o risco naquelas áreas da propriedade em que a semeadura tem sido realizada ao final da janela preconizada para cada região, definido pelo Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) publicado pelo MAPA. Por isso, o planejamento da cultura da soja para o uso do Antecipe passa a ser fundamental para o sucesso da tecnologia.

Com a soja implantada e planejada para a semeadura do milho nas entrelinhas, o agricultor realizará a operação da mesma forma como a semeadura “tradicional”. Na semeadura do milho o produtor deve levar em consideração o espaçamento das entrelinhas da soja, pois ajustes no trator devem ser levados em conta, como as medidas dos pneus dianteiros e traseiros que devem realizar deslocamento sem danos à soja.

É importante ressaltar que o fato da semeadura do milho ocorrer antecipadamente na entrelinha da soja não irá alterar o manejo dado às culturas em relação aos tratos culturais como a adubação. Todos os cuidados e recomendações são iguais ao milho semeado após a colheita da soja.

Com o milho implantado e as plantas desenvolvendo chega o momento da colheita da oleaginosa e esta é realizada normalmente. Essa operação cortará as plantas de milho, mas como o ponto de crescimento dessa planta ainda está abaixo do solo, o crescimento e o desenvolvimento não são comprometidos, levando o milho a produzir melhor do que o milho semeado tardiamente, ou seja, fora do período recomendado pelo ZARC.  A adubação nitrogenada de cobertura no milho deverá ser realizada o quanto antes, considerando as recomendações já consolidadas pela pesquisa, porém, podendo ser feita em época de maior aproveitamento pelas plantas.

Seguindo as recomendações já consolidadas para o cultivo da soja e do milho safrinha, o Antecipe poderá:

  1. Favorecer o estabelecimento precoce da cultura do milho, com redução de riscos de frustração por perda de produtividade de safrinha em função das condições climáticas adversas no final do verão e início de outono. Esta antecipação em até 20 dias permitirá maior produtividade de milho comparado à semeadura realizadas após o período definido pelo ZARC da região;
  2. Permitirá o cultivo do milho em regiões onde o ZARC limita a cultura na época de outono, possibilitando a semeadura de soja de ciclo médio e, ainda assim, possibilitar a semeadura do milho na janela ideal ocasionando maiores chances de boas produtividades do milho safrinha;
  3. Possibilitará a redução no custo com a operação de dessecação da soja utilizando um herbicida de contato, uma vez que a semeadura do milho safrinha é feita na entrelinha da soja quando esta se encontra a partir do estádio fenológico R5;
  4. Permitirá a redução no custo com a operação de dessecação das plantas daninhas pós-colheita da cultura da soja. Para a implantação da cultura de safrinha, a maioria dos produtores fazem uso da dessecação das plantas daninhas pós-colheita da soja. Neste sistema, áreas onde a infestação de plantas daninhas esteja em estádios não perenizados, o produtor poderá ter a opção da não aplicação dos dessecantes e fazer uso apenas dos herbicidas pós-emergentes no milho, não excedendo ao período de dez a 15 dias após a colheita da soja e o corte das plantas de milho.

Como o Antecipe é um sistema que depende de conhecimento técnico para sua implementação, a Embrapa desenvolveu um aplicativo que auxiliará o agricultor na tomada de decisão, orientando o momento mais adequado para se iniciar o planejamento para a semeadura do milho nas entrelinhas da soja. Desta maneira, o produtor poderá acompanhar, na área definida para a utilização do Antecipe, como está o desenvolvimento da soja, recebendo notificações no dispositivo. Além disso, com o aplicativo, o produtor também poderá armazenar informações sobre os tratos culturais da soja e do milho, mantendo o histórico das áreas de produção, o que facilitará o planejamento das safras posteriores, melhorando a gestão da propriedade e diminuindo os riscos que levam a reduções de produtividades.

Fonte: Assessoria

Décio Karam Grãos

Invasoras do milho safrinha no Centro-Oeste

Cuidados devem ser tomados quanto ao período de carência e a reentrada de pessoas na área onde ocorreu a aplicação dos herbicidas

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Décio Karam / Divulgação.

Artigo escrito por Décio Karam, membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), Ph.D, pesquisador de Manejo de Plantas Daninhas da Embrapa Milho e Sorgo

No fim da década de 70, agricultores do norte do Paraná iniciaram o plantio do milho após a colheita da soja em busca de melhorar a rentabilidade da propriedade, em função da descapitalização ocorrida após frustrações constantes com as lavouras de café, ocasionadas por condições climáticas adversas.

No entanto, a Conab iniciou o acompanhamento da safra do milho safrinha apenas no final da década de 80, quando o volume de produção começou a ser identificado no Brasil. Na região Centro-Oeste, os primeiros dados apresentados relativos ao milho safrinha datam da safra 1989/1990 no estado de Mato Grosso do Sul, com 6.500ha de área plantada e produtividade de 1.892 kg/ha, enquanto que nos estados do Mato Grosso e Goiás os primeiros dados são referentes à  safra 1991/1992 com áreas plantadas de 35.000 e 12.000 hectares, respectivamente, e produtividade média de 1.699 kg/ha, variando entre  1500 a 2780 kg/ha.

Nessa época, o problema de plantas daninhas já fazia parte das preocupações do produtor de soja, tornando-se importante também na cultura do milho safrinha, visto que os primeiros cultivos com esse cereal eram de baixo investimento e pouco uso de tecnologia. Com isso, plantas daninhas presentes na soja passam a estar também no milho, contribuindo para a disseminação e o aumento populacional no sistema produtivo soja-milho safrinha.

Na safra 2010/11, o milho safrinha passou a ser mais cultivado, em maior área, no Brasil do que o milho plantado no verão. Com esse crescimento, o produtor tem a necessidade de fazer uso de melhor tecnologia para o manejo de plantas daninhas, principalmente o controle químico, induzindo mudanças na dinâmica da população infestante, colocando espécies antes importantes como Casia tora (fedegoso), Desmodium pupureum (pega-pega), Sida rhombifolia (guanxuma) e Acanthospermum australe (carrapicho rasteiro), como secundárias, embora, ainda com relevância em algumas propriedades.

Atualmente, no centro-oeste, espécies como Digitaria insularis (capim amargoso), Eleusine indica (capim pé-de-galinha), Conyza spp. (buva), Spermacoce verticillata (vassourinha-de-botão), Commelina spp. (trapoeraba), Cenchrus echinatus (capim-carrapicho), Bidens pilosa (picão preto), Amaranthus spp, (caruru),  Euphorbia heterophylla (leiteiro), Digitaria horizontalis (capim colchão) e em algumas regiões o Pennisetum setosum (capim custódio) e o Andropogon spp. (andropogon) e Euphorbia hirta (erva de santa luzia) têm causado preocupação para os agricultores, sejam elas pela resistência a herbicidas ou mesmo por deficiência de eficácia (tolerância) aos herbicidas disponíveis no mercado brasileiro.

O centro-oeste brasileiro atualmente é a principal região produtora de milho, com aproximadamente 49,8% da área plantada, o que representa 55,3% da produção do cereal no país, sendo o seu cultivo realizado majoritariamente durante o período da safrinha pós-colheita de soja. Este fato indica que, nessa região, o manejo de plantas daninhas na cultura é realizado, em maior escala, nos locais com regimes hídricos mais restritos e temperaturas mais altas. Com isso, a presença de plantas daninhas nas condições de inverno seco tende a ser menor e apresentar menor diversidade do que nas áreas de produção de verão que apresenta precipitação e temperatura diurna – noturna mais elevadas e ambiente mais úmido.

A baixa precipitação e as altas temperaturas são aliadas no manejo das plantas daninhas quando associadas aos demais métodos de controle conhecidos. O químico ainda é o mais utilizado pelos agricultores, por razões de custo e principalmente rendimento operacional. No entanto, muitas vezes, a aplicação do herbicida é realizada em condições desfavoráveis à melhor eficácia do produto, como aplicações fora do estádio de crescimento recomendado das plantas daninhas.

Esse fato, aliado a aplicações em condições climáticas de estresse hídrico, contribuem para reduzir a eficácia dos herbicidas. As plantas apresentam desbalanço entre a absorção de água pelas raízes e a transpiração através das folhas, causando o fechamento dos estômatos, consequentemente, levando a planta a paralisação do crescimento, através da interrupção dos processos fisiológicos e bioquímicos, o que prejudica a penetração, absorção e translocação dos herbicidas. Altas temperaturas e baixa umidade relativa do ar também podem também contribuir para a perda da eficácia dos herbicidas em função do aumento da volatilização e evaporação das gotas de pulverização. Contudo, os agricultores têm disponível no mercado adjuvantes e pontas de pulverização que amenizam esses efeitos, melhorando a resposta de controle das plantas daninhas.

Para usar o controle químico, o agricultor deve ter em mente que existe uma legislação vigente que precisa ser respeitada, com a exigência de receita agronômica emitida por um profissional habilitado para a prescrição de quaisquer herbicidas. Na compra de qualquer produto fitossanitário, nesse caso o herbicida, no receituário agronômico deverá ter a indicação os EPIs necessários, bem como, as recomendações técnicas para o correto uso.

Cuidados devem ser tomados quanto ao período de carência e a reentrada de pessoas na área onde ocorreu a aplicação dos herbicidas. Na cultura do milho, estão registradas 320 marcas comerciais de herbicidas, referente a 33 ingredientes ativos. Do montante registrado, 240 referem-se a apenas quatro ingredientes ativos: glyphosate, atrazine, nicosulfuron e 2,4D. Contudo, nem todos estão registrados para o uso em pós-emergência. Portanto, antes de usar qualquer marca comercial, o produtor deverá ter a certeza de que aquele produto está registrado para a modalidade de aplicação escolhida.

Fonte: Ass. de Imprensa.
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