Notícias
No leite, pasto é base, meio e topo
Pasto é preponderante na diminuição da pegada de Carbono, na ampliação da produtividade e geração de maior margem líquida na produção leiteira em pequenas propriedades.
Em parceria inédita com a Epagri, transcorreu na última quarta-feira (08), durante o 12º SBSBL, o 1º Simpósio Catarinense de Produção de Leite à Base de Pasto. A primeira palestra foi com Sila Carneiro da Silva (Esalq/UPS) sobre otimização dessa modalidade de alimentação. Sila enfatizou que o pastejo é a ‘colheita’ da planta pelo animal e, para isso, é necessário entender o ciclo vegetativo das plantas, o que facilita conhecer o volume consumido por animal que, efetivamente, entra no trato digestivo e descobrir as perdas do processo.
Para o especialista, três etapas da produção são fundamentais: acúmulo, crescimento e senescência (saldo/palha morta), fator que acontece antes mesmo do pastejo. “Para ajustar, basta acertar o ponto de colheita”, sublinhou. Já a segunda perda física do pastejo tem a ver com a altura, pasto mais alto, ponto de colheita, entre outros fatores. Ou seja, a efetividade da produção a base de pastagens é realizar o manejo adequado das pastagens.
Interferem no crescimento da planta, conforme Sila, a Morfogênese, a dinâmica de perfilhos, as adaptações anatômicas e fisiológicas. “Isso tudo molda o ciclo, que determina a área foliar, a estrutura do pasto, que, por consequência, afeta os padrões de acúmulo de forragem e o comportamento ingestivo e de consumo; tudo isso decorre de uma estratégia de sobrevivência e perenização da planta”, acrescentou. Moral da história: “vale a produtividade do sistema, ou seja, a última linha do balanço, além das Emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE).
Luz é o centro
A luz, lembrou Sila, é a principal ‘peça’ dessa engrenagem, pois produz a fotossíntese. Sabendo-se disso, é possível “mexer” nos sistemas produtivos. A exemplo, introduzir modelo agropecuária x pecuária, irrigação, adubação e até árvores protetivas. “Tudo sai da estrutura do pasto e volta a ela”, insistiu, afinal, nem sempre, 100% do que é ofertado, é aproveitado pelo animal”.
O melhor e mais rentável, recomendou, é o pasto com melhor rotação de folhas, pois o consumo mais elevado pelo animal advém das folhas mais jovens. É dessa “fórmula” que se pode indicar alvos e metas, sem calendários, nem dias, nem anos. “A partir de um ponto o animal rejeita a comida; é o índice de área folhar crítico. Para cada espécie forrageira, há uma altura máxima de manejo que precisa ser respeita. Para o capim Tanzânia, por exemplo, o pasto acima de 0,70cm é inútil ao animal. E esse teto é determinado pela luz.
Outras constatações: quanto mais bocados pequenos, mais o animal precisa “trabalhar” para colher. Se o pasto está cheio de talos, a vaca passa rápido e cai muito a ingestão verde. Essa taxa de consumo geralmente começa a despencar a partir da redução de 50% da altura inicial da pastagem, independente do tipo de forrageira. Estudos com o Capim Elefante Cameron mostram que ampliaram no leite os sólidos, gorduras totais e outros itens entre 40 a 50%, além de diminuir em 34,5% da emissão de gases poluentes quando aplicado o manejo adequado da pastagem.
Para Sila, o segredo é sincronizar a velocidade de crescimento do pasto, com o que o gado consome. “Se o pasto cresce mais rápido, o gado não o come. E, se isso acontecer, é possível diminuir a taxa de suplementação (lanche); aumentar a taxa de lotação; conservar a forragem e diminuir Nitrogênio (N), bem como, pode acontecer ao contrário”.
Potencializando a produção de leite
A segunda palestra da quarta-feira (08) foi propalada por Henrique Mendonça Nunes Ribeiro Filho (UDESC/Lages), tendo como eixos a ampliação da segurança alimentar e a redução do impacto ambiental. Explanou que o uso da terra para produzir alimentos, no Sul, está distribuído em silagem de milho: 19.000 kg/MS/ha; pastos de verão: 11.250; grão de milho comercial: 9.700; pastos de inverno 9.600; e grãos de soja com 3.300 kg/MS/ha
Formatou Henrique que, à medida que aumenta a forragem consumida, cai um pouco a área de terra utilizada em relação à alimentação com maior concentração de ração. “Não é verdade que animal confinado ‘usa’ menos área e, no fundo, essa alimentação ocupa área maior para ser gerada, em relação ao sistema de pastejo”.
Outra conclusão é a de que não há alteração na produção de metano, quando classificada a alimentação pastejada daquela que mistura ração industrial.
Do ponto de vista qualitativo, o pasto que sobra no verão tem menor qualidade (Matéria Seca), em relação ao produzido no inverno. Portanto, os pastos de verão exigem mais complementação enérgica via ração, além de gerarem queda no leite de 5% a 10%. Já o Metano não se altera entre as estações. “A introdução de leguminosas aumenta o consumo de pasto em até 20% pelo animal”, adicionou. “É importante ir corrigindo a quantidade e tipo de suplemento ao longo do ano, buscando menor dependência de insumos externos, com o mínimo de ingredientes proteicos.
Forragem: a poupança que salva
“Forragem conservada é para garantir a produção de leite ao longo do ano”. Assim Dr. João Luiz Pratti Daniel, da Universidade Estadual de Maringá – (UEM) abriu sua exposição no 12º SBSBL – 1º Simpósio Catarinense de Pecuária de Leite à Base de Pasto, promovido pelo Nucleovet nos dias 07, 08 e 09 de novembro em Chapecó. “Acontece que, em alguns momentos, não há como produzir forragem por condições incontroláveis”, esclareceu.
Quando conjugado à ração, essa oferta não pode passar de 3 a 3,5 kg de concentrado, fator que interfere na saúde do rumem, em que pese o fato de subir a eficiência alimentar, bem como a gordura e sólidos do leite. “Muito cuidado com as vacas recém-paridas, que apresentam maior dificuldade de colher pasto”, alertou.
É importante ter uma área específica para produzir volumoso e conservar o excedente gerado pelo pastejo, ou então, comprar, porém, geralmente o alto custo agride os resultados. “Quem produz dentro da fazenda, economiza, melhora a digestibilidade do amido e controla melhor os processos de produção”, defendeu João Luiz.
Principais erros
Só pesando tudo, para medir a perda de Matéria Seca (MS), quando se pode, então, tomar providências. No Brasil, números médios apontam para 10 a 50% de perdas de MS. No pré-secado, pode cair em 60%. Os maiores erros estão no planejamento; no manejo agronômico; na colheita e ensilagem (maturidade, colheita e processamento, aditivos, transporte, abastecimento, compactação, vedação, monitoramento e manejo pós-abertura). “Silagem é uma cadeia de vários elos. Falhando um, não tem como consertar; é um processo”.
Se colher muito tarde, melhora um pouco o amido, porém, afeta a degradabilidade ruminal e piora a estabilidade aeróbica do alimento. Com partículas de silagem mais longas (19ml), cai a produção de leite, piora a ruminação, assim como deterioram todos os demais itens. A mais indicada é a média (8-19 ml). A pequena (8ml), não é indicada. “Pode ser que, dependendo da máquina, o ponto de quebra possa estar em 11,1mm, noutras 12, ou em algumas 14mm. “Tem que testar. E, no momento da compactação, fazer camadas finas”, disse. Nenhum aditivo substitui um bom manejo. Por fim, a vedação deve ser totalmente sem oxigênio. Bem vedada, a silagem descartada cai de 7,4% para 2,9%. E, no pré-secado por bolas, não economizar na qualidade do plástico, bem como, armazená-las de pé, em vez de deitadas.
A voz de quem faz e prova!
Com a sala lotada foram apresentados os resultados do trabalho, por duas vozes: a do especialista Carlos Mader Fernandes (Epagri) e a de Gilmar Moraes, produtor de Herval do Oeste, que estava no Centro de Eventos com a família.
Carlos disse que a Epagri, há 20 anos, trabalha com foco na produção de leite à base de pasto e SC tem apenas 1,13% do país, 95,3 mil km2, 3,2 bilhões de litros de leite/ano, sendo 87% das propriedades menores que 50 ha. Porém, 75,4% está no Oeste e Meio-Oeste. Nesse quinhão, cerca de 80% das propriedades têm menos de 20 ha. De 2016 a 2021, estagnou a produção de leite no estado, enquanto a Irlanda, país menor que SC, cresceu 42% em leite de 2014 a 2019.
O desafio, conforme Carlos, é conciliar o aumento da produção e da produtividade, com resiliência econômica, social e ambiental. “Precisamos refletir aquilo que deve ser feito nas propriedades e suas consequências das escolhas, afinal, tecnologia sem análise econômica, não é tecnologia”
De 2012 a 2022, em SC, o leite subiu 73,4%, ração + 66,2%, MS/silagem + 93,8% e MS/pasto, + 50%. “A ração é tão cara em nosso estado por termos déficit de milho crescente”, comparou Carlos. Quanto a relação de troca, em 2020 um produtor fazia 4,5 kg/MS/silagem com um litro de leite; em 2023, apenas 3,8 kg/MS/silagem para um litro, fator que, por si só, comprova margem líquida negativa. “Com ração, a atividade só se viabiliza se, com um litro de leite, se pode comprar um quilo de ração, o que não vem ocorrendo há tempos”.
Quase 1.000 % em 11 anos
O produtor Gilmar Moraes, de Herval do Oeste – SC, começou a propriedade referência/EPAGRI em 2012. Em 2011, disse ter produzido 105 mil litros/ano, com 28 vacas e severos problemas de mastite. “Este ano, descarte zero por mastite e produção que deverá passar de 1 milhão de litros”.
O leite vem para quem sabe produzir pasto, confirmou Gilmar, que usa cama de aviário como adubação, além de placas solares para amenizar custos com energia. Atualmente, são 130 vacas em lactação, chegando a um milhão de litros, ou seja, quase mil por cento de crescimento em 11 anos.
São mais de 10 mil litros por hectare nas terras de Gilmar em 2023. Na visão do orientador Carlos, o que importa é a margem líquida por hectare. A melhor referência é um produtor com 28 litros/vaca, com média de 4 quilos de ração, o qual une estratégia alimentar com genética, sendo que a segunda define a primeira. “A forrageira deve ser determinada pelo apetite da vaca, finalizou”.
Notícias
Feicorte: São Paulo impulsiona mudanças no manejo pecuário com opção de marcação sem fogo
Estado promove alternativa pioneira para o bem-estar animal e a sustentabilidade na pecuária. Assunto foi tema de painel durante a Feicorte 2024
No painel “Uma nova marca do agro de São Paulo”, realizado na Feira Internacional da Cadeia Produtiva da Carne – Feicorte, em Presidente Prudente (SP), que segue até o dia 23 de novembro, a especialista em bem-estar animal, Carmen Perez, ressaltou a importância de evitar a marcação a fogo em bovinos.
Segundo ela, a questão está diretamente ligada ao bem-estar animal, especialmente no que diz respeito ao local onde é realizada a marcação da brucelose, que ocorre na face do animal, uma região com maior concentração de terminações nervosas, um ponto mais sensível. Essa ação representa um grande desafio, pois, embora seja uma exigência legal nacional, os impactos para os animais precisam ser cuidadosamente avaliados.
“O estado de São Paulo tem se destacado de forma pioneira ao oferecer aos produtores rurais a opção de decidir se desejam ou não realizar a marcação a fogo. Isso é um grande avanço”, destacou Carmen. Ela também mencionou que os animais possuem uma excelente memória, lembrando-se tanto dos manejos bem executados quanto dos malfeitos, o que pode afetar sua condição e bem-estar a longo prazo.
Além disso, a imagem da pecuária é um ponto crucial, especialmente considerando o poder da comunicação atualmente. “Organizações de proteção animal frequentemente utilizam práticas como a marcação a fogo, castração sem anestesia e mochação para criticar a cadeia produtiva. Essas questões podem impactar negativamente a percepção do setor”, alertou. Para enfrentar esses desafios, Carmen enfatizou a importância de melhorar os manejos e de considerar os riscos de acidentes nas fazendas, que muitas vezes são subestimados quando as práticas de manejo não são adequadas.
“Nos próximos anos, imagino um setor mais consciente, em que as pessoas reconheçam que os animais são seres sencientes. As equipes serão cada vez mais participativas, e a capacitação constante será essencial”, afirmou. Ela finalizou dizendo que, para promover o bem-estar animal, é fundamental investir em treinamento contínuo das equipes. “Vejo a pecuária brasileira se tornando disruptiva, com o potencial de se tornar um modelo mundial de boas práticas”, concluiu.
Fica estabelecido o botton amarelo para a identificação dos animais vacinados com a vacina B19 e o botton azul passa a identificar as fêmeas vacinadas com a vacina RB 51. Anteriormente, a identificação era feita com marcação à fogo indicando o ano corrente ou a marca em “V”, a depender da vacina utilizada.
As medidas foram publicadas no Diário Oficial do Estado, por meio da Resolução SAA nº 78/24 e das Portarias 33/24 e 34/24.
Mudanças estabelecidas
Prazos
Agora, fica estabelecido que o calendário para a vacinação será dividido em dois períodos, sendo o primeiro do dia 1º de janeiro a 30 de junho do ano corrente, enquanto o segundo período tem início no dia 1º de julho e vai até o dia 31 de dezembro.
O produtor que não vacinar seu rebanho dentro do prazo estabelecido, terá a movimentação dos bovídeos da propriedade suspensa até que a regularização seja feita junto às unidades da Defesa Agropecuária.
Desburocratização da declaração
A declaração de vacinação pelo proprietário ou responsável pelos animais não é mais necessária. A partir de agora, o médico-veterinário responsável pela imunização, ao cadastrar o atestado de vacinação no sistema informatizado de gestão de defesa animal e vegetal (GEDAVE) em um prazo máximo de quatro dias a contar da data da vacinação e dentro do período correspondente à vacinação, validará a imunização dos animais.
A exceção acontecerá quando houver casos de divergências entre o número de animais vacinados e o saldo do rebanho declarado pelo produtor no sistema GEDAVE.
Notícias
Treinamento em emergência sanitária busca proteger produção suína do estado
Ação preventiva do IMA acontecerá entre os dias 26 e 28 de novembro em Patos de Minas, um dos polos da suinocultura mineira.
Com o objetivo de proteger a produção de suínos do estado contra possíveis ameaças sanitárias, o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) realizará, de 26 a 28 deste mês, em Patos de Minas, o Treinamento em Atendimento a Suspeitas de Síndrome Hemorrágica em Suínos. A iniciativa capacitará mais de 50 médicos veterinários do serviço veterinário oficial para identificar e responder prontamente a casos de doenças como a Peste Suína Clássica (PSC) e a Peste Suína Africana (PSA). A disseminação global da PSA tem preocupado autoridades devido ao impacto devastador na produção e na economia, como evidenciado na China que teve início em 2018 e se estendeu até 2023, quando o país perdeu milhões de suínos para a doença. Em 2021, surtos recentes no Haiti e na República Dominicana aumentaram o alerta no continente americano.
A escolha de Patos de Minas como sede para o treinamento presencial reforça sua importância como polo suinícola em Minas Gerais, com cerca de 280 mil animais produzidos, equivalente a 16,3% do plantel estadual, segundo dados de 2023 da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa). A Coordenadoria Regional do IMA, em Patos de Minas, que atende cerca de 17 municípios na região, tem mais de 650 propriedades cadastradas para a criação de suínos, cuja sanidade é essencial para evitar prejuízos econômicos que afetariam tanto o mercado interno quanto as exportações mineiras.
Para contemplar a complexidade do tema, o treinamento foi estruturado em dois módulos: remoto e presencial. Na fase on-line, realizada nos dias 11 e 18 de novembro, especialistas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), da Universidade de Castilla-La Mancha, da Espanha e de empresas parceiras abordaram aspectos clínicos e epidemiológicos das doenças hemorrágicas em suínos. Já na fase presencial, em Patos de Minas, os participantes terão acesso a oficinas práticas de biossegurança, desinfecção, estudos de casos, discussões sobre cenários epidemiológicos, coleta de amostras e visitas a campo, além de simulações de ações de emergência sanitária, onde aplicarão o conhecimento adquirido.
A iniciativa do IMA conta com o apoio de cooperativas, empresas do setor suinícola, instituições de ensino, sindicato rural e a Prefeitura Municipal de Patos de Minas, além do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A defesa agropecuária em Minas Gerais depende de ações como essa, fundamentais para evitar a entrada de patógenos e manter a competitividade da produção local. Esse treinamento é parte das ações para manutenção do status de Minas Gerais como livre de febre aftosa sem vacinação.
Ameaças sanitárias e os impactos para a economia
No Brasil, a Peste Suína Clássica está sob controle nas zonas livres da doença. No entanto, nas áreas não reconhecidas como livres, a enfermidade ainda está presente, representando um risco significativo para a suinocultura brasileira. Esta enfermidade pode levar a alta mortalidade entre os animais, além de causar abortos em fêmeas gestantes. Por ser uma enfermidade sem tratamento, a prevenção constante e a vigilância da doença são fundamentais.
A situação é ainda mais crítica no caso da Peste Suína Africana, para a qual não há vacina eficiente e cuja propagação levaria a prejuízos imensos ao setor suinícola nacional, com risco de desabastecimento no mercado interno e aumento dos preços para o consumidor final. Os animais infectados apresentam sintomas como febre alta, perda de apetite, e manchas na pele.
Notícias
Faesp quer retratação do Carrefour sobre a decisão do grupo em não comprar carne de países do Mercosul
Uma das principais marcas de varejo, por meio do CEO do Carrefour França, anunciou que suspenderá vendas de carne do Mercosul: decisão gera críticas e debate sobre sustentabilidade.
O Carrefour França anunciou que suspenderá a venda de carne proveniente de países do Mercosul, incluindo o Brasil, alegando preocupações com sustentabilidade, desmatamento e respeito aos padrões ambientais europeus. A afirmação é do CEO do Carrefour na França, Alexandre Bompard, nas redes sociais do empresário, mas destinada ao presidente do sindicato nacional dos agricultores franceses, Arnaud Rousseau.
A decisão gerou repercussão negativa no Brasil, especialmente no setor agropecuário, que considera a medida protecionista e prejudicial à imagem da carne brasileira, amplamente exportada e reconhecida pela qualidade.
Essa decisão reflete tensões maiores entre a União Europeia e o Mercosul, com debates sobre padrões de produção e sustentabilidade como pontos centrais. Para a Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), essa decisão é prejudicial ao comércio entre França e Brasil, com impactos negativos também aos consumidores do Carrefour.
Os argumentos da pauta ambiental alegada pelo Carrefour e pelos produtores de carne na França não se sustentam, uma vez que a produção da pecuária brasileira está entre as mais sustentáveis do planeta. Esta posição, vinda de uma importante marca de varejo, é um indício de que os investimentos do grupo Carrefour no Brasil devem ser vistos com ressalva, segundo o presidente da Faesp, Tirso Meirelles.
“A declaração do CEO do Carrefour França, Alexandre Bompard, demonstra não apenas uma atitude protecionista dos produtores franceses, mas um total desconhecimento da sustentabilidade do setor pecuário brasileiro. A Faesp se solidariza com os produtores e espera que esse fato isolado seja rechaçado e não influencie as exportações do país. Vale lembrar que a carne bovina é um dos principais itens de comercialização do Brasil”, disse Tirso Meirelles.
O coordenador da Comissão Técnica de Bovinocultura de Corte da Faesp, Cyro Ferreira Penna Junior, reforça esta tese. “A carne brasileira é a mais sustentável e competitiva do planeta, que atende aos padrões mais elevados de qualidade e exigências do consumidor final. Tais retaliações contra o nosso produto aparentam ser uma ação comercial orquestrada de produtores e empresas da União Europeia que não conseguem competir conosco no ‘fair play’”, diz Cyro.
Para o presidente da Faesp, cabe ao Carrefour reavaliar sua posição e, eventualmente, se retratar publicamente, uma vez que esta decisão, tomada unilateralmente e sem critérios técnicos, revela uma falta de compromisso do grupo com o Brasil, um importante mercado consumidor.
Várias outras instituições se posicionaram contra a decisão do Carrefour, e o Ministério da Agricultura (Mapa). “No que diz respeito ao Brasil, o rigoroso sistema de Defesa Agropecuária do Mapa garante ao país o posto de maior exportador de carne bovina e de aves do mundo”, diz o Mapa em comunicado. “Vale reiterar que o Brasil possui uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo e atua com transparência no setor […] O Mapa não aceitará tentativas vãs de manchar ou desmerecer a reconhecida qualidade e segurança dos produtos brasileiros e dos compromissos ambientais brasileiros”, continua a nota.
Veja aqui o vídeo do presidente.