Suínos Bem-estar
No calor ou no frio, saiba como evitar estresse térmico em cada fase na produção de suínos
Nas regiões em que o frio é mais agudo as condições climáticas também podem afetar negativamente os animais

O friozinho está chegando, mas o calor ainda pode atingir boa parte do país nos próximos meses. Nas regiões em que o frio é mais agudo, como no Sul, onde fica ampla parte da produção de suínos do país, as condições climáticas também podem afetar negativamente os animais.
Para orientar sobre os manejos ideais, destacar os riscos do estresse térmico na suinocultura, o jornal O Presente Rural entrevistou o PhD. em Medicina Veterinária, Filipe Antonio Dalla Costa, da Maneja Consultoria, e seu pai, o também PhD. Osmar Antonio Dalla Costa, pesquisador da Embrapa Suínos e Aves nas áreas de bem-estar animal e qualidade de carne.
O Presente Rural – O que é estresse térmico em suínos, em suas diferentes etapas de produção e quais suas consequências em cada uma delas?
Filipe Antonio Dalla Costa e Osmar Antonio Dalla Costa – Estresse térmico tem características semelhantes para todas as fases de produção, contudo, as condições ambientais que desencadeiam essa condição são distintas. O estresse térmico ocorre quando o desafio ambiental extrapola a capacidade do animal de manter a temperatura dentro da zona termo neutra, resultando em maior gasto fisiológico ao animal, uma vez que requer a ativação de mecanismos de controle térmico. O estresse térmico pode ocorrer tanto por condições ambientais de excesso quanto de falta de calor. Em ambos extremos haverá consequências negativas para o animal e índices produtivos.
No verão, caso as condições ambientais caracterizadas por altas radiações solares e temperaturas superam as capacidades de controle do animal, pode haver redução de consumo alimentar, maior gasto energético para perda de calor e, consequentemente, redução no ganho de peso, conversão alimentar, aumento de casos de diarreia e em alguns casos extremos aumento na mortalidade.
Já em períodos de inverno, onde as temperaturas são menores, pode haver um aumento na demanda energética do animal (maior consumo alimentar) que é direcionado para produção de calor através da maior atividade metabólica e muscular.
O Presente Rural – Suínos passarem por estresse térmico ainda é comum na suinocultura brasileira?
Filipe e Osmar Dalla Costa – A ocorrência de estresse térmico pode acontecer em casos de falhas no controle ambiental. Contudo, a suinocultura moderna evoluiu muito nos últimos anos, principalmente na parte de ambiência e o conforto ambiental. É notável a preocupação dos produtores em em fornecer condições adequadas aos animais, a fim de que possam manter uma boa adequação ao meio e assim ter boas condições para expressar seu máximo potencial genético em cada uma das fases produtivas. Tecnologias como pisos aquecidos, controle automatizado de cortinas, sensores de monitoramento e galpões com ambiência totalmente controlada e ventilação forçada são apenas algumas das melhorias que estão atualmente presentes no campo para reduzir a ocorrência de estresse térmico e manter uma boa ambiência.
O Presente Rural – Quais são as fontes geradoras de calor de uma granja?
Filipe e Osmar Dalla Costa – Maternidade: A manutenção do conforto térmico na maternidade é um dos maiores desafios da suinocultura, pois precisamos fornecer dois ambientes muito distintos: um para a matriz, que está produzindo muito calor devido ao metabolismo acelerado para produção de leite, e outros ao leitão que ainda está desenvolvendo seus mecanismos de homeostase e precisa receber calor. Assim, muitas das maternidades estão adotando os sistemas climatizados. Esses sistemas têm ventilação forçada/pressão negativa para manter uma boa ambiência as matrizes que precisam de uma faixa de temperatura baixa, e estratégias como pisos aquecidos para manutenção da ambiência dos leitões. Outras alternativas de aquecimentos para leitões são escamoteadores com resistências ou lâmpadas de aquecimento.
Creche: São estratégias para redução da temperatura apenas manejo de cortinas, ventilação forçada.
Terminação: São estratégias para redução da temperatura apenas manejo de cortinas, ventilação forçada e lamina d’água em alguns casos.
O Presente Rural – Quais as fases mais delicadas para o suíno em relação ao estresse térmico?
Filipe e Osmar Dalla Costa – O estresse térmico pode causar prejuízos em qualquer uma das fases de produção do suínos. Contudo, particularmente, os leitões recém-nascidos são os mais suscetíveis aos problemas de estresse térmico devido ao menor desenvolvimento dos mecanismos de controle da temperatura em relação as demais fases.
O Presente Rural – Como identificar suínos em situações de estresse térmico? Quais os sinais?
Filipe e Osmar Dalla Costa – A melhor forma de identificar um problema na suinocultura é através da observação do comportamento dos animais. Suínos em condições de estresse térmico por excesso de calor apresentam comportamento de ofegação – caracterizado pela respiração com a boca aberta, animais espalhados nas baias, deitados com a maior parte do corpo em contato com o chão ou buscando sombra e locais com água/molhados, aumento no consumo de água, redução no consumo alimentar.
Já em condições de estresse por falta de calor, os animais encontram-se sempre agrupados, buscando áreas de radiação solar ou luz, pode haver tremores musculares, piloereção e aumento de consumo alimentar. Esses são alguns reflexos clássicos observados no dia a dia.
O Presente Rural – Cite as temperaturas ideais de termoneutralidade para cada fase na produção de suínos.

O Presente Rural – Existem vários tipos de granjas, com diferentes tecnologias. Há diferença no manejo sob altas temperaturas?
Filipe e Osmar Dalla Costa – Sim. Em dias com altas temperaturas, recomenda-se que os produtores mantenham as cortinas abertas ou, em sistemas de pressão negativa, seja mantida a ventilação forçada para manutenção de uma boa ambiência na granja. Esses sistemas podem ser manuais ou automatizados de acordo com cada tecnologia.
O Presente Rural – Quais os equipamentos mais modernos que o produtor pode instalar nessas diferentes granjas para controlar a temperatura?
Filipe e Osmar Dalla Costa – Atualmente o sistema mais moderno para controle de ambiência consiste na utilização do sistema de pressão negativa que trabalha com placas evaporativas e ventilação forçada.
O Presente Rural – Como a nutrição pode ser aliada na manutenção de temperaturas ideais?
Filipe e Osmar Dalla Costa – O fornecimento de água em quantidade e qualidade adequada é fundamental para o manutenção da homeostase, bons níveis de bem-estar animal e obtenção de bons resultados. Isso implica em monitorarmos e adequarmos as instalações para que haja bebedouros e quantidade adequada nas baias e que a vazão esteja dentro do recomendado para cada fase. Bebedouros mal regulados, com vazão muito baixa, podem fazer com que os animais gastem muito tentando obter o recurso e até mesmo reduzir o seu consumo. Por outro lado, altas vazões podem jogar um jato de água nos animais e dificultar a obtenção do recurso. Outro ponto extremamente importante é mantermos caixas d’água em locais protegidos da ação do tempo para evitar que a radiação solar aqueça demais a temperatura da água, evitando que ela chegue aos animais em temperaturas inadequadas e reduza o consumo.
O Presente Rural – A nutrição dos suínos muda do inverno para o verão?
Filipe e Osmar Dalla Costa – Há algumas estratégias nutricionais que podem ser utilizadas para reduzir estresse térmico. Contudo, de forma geral, monitoramento e ajustes no ambiente são mais efetivos e oferecem maiores vantagens aos animais e produtores.
O Presente Rural – Durante o transporte para o frigorífico no verão e no inverno, o que muda?
Filipe e Osmar Dalla Costa – Cada estação tem sua particularidade. Durante o inverno podemos aumentar a densidade dentro das carrocerias e precisamos nos atentar a fechar parcialmente as laterais a fim de manter a temperatura interna estável e dentro do recomendado.
Já no verão, geralmente recomenda-se trabalhar com densidades mais baixas, e manter as laterais abertas para aumentar a circulação de ar no interior das carrocerias e favorecer a perda de calor. Além disso, deve-se atentar para cobertura do caminhão que deve estar fechada para evitar a incidência direta de raios solares sobre os animais. Pode-se também optar por transportar suínos em horários de temperaturas mais amenas e com menor incidência solar.
O Presente Rural – Quais as perdas mais comuns por estresse térmico durante o transporte e na chegada ao frigorífico?
Filipe e Osmar Dalla Costa – Perdas com estresse térmico no transporte incluem a maior ocorrência de animais cansados e taxa de mortalidade ao chegar no frigorífico ou granja. Além disso, pode haver também prejuízos a qualidade de carne, com maior incidência de carne classificada como PSE (pálida, mole e exsudativa).
O Presente Rural – Qual o tempo máximo que o suíno deve esperar nos caminhões?
Filipe e Osmar Dalla Costa – Os caminhões devem permanecer parados o menor tempo possível. Quando parado, há uma redução na circulação interna de ar dentro da carroceria, podendo levar ao aumento da temperatura ambiental e, consequentemente, desconforto térmico. Contudo, sabemos que muitas vezes os caminhões precisam esperar para desembarcar ou para checar o estar dos animais. Assim, sempre que seja necessário parar, deve-se optar por locais protegidos do sol e com boa circulação de ar.
O Presente Rural – Quais os últimos estudos para a questão do estrese térmico? Há novas tecnologias a vista?
Filipe e Osmar Dalla Costa – Há muitos estudos sendo realizados sobre como a ambiência pode afetar os animais e a produção. Hoje o que há de mais moderno são instalações com pressão negativa, onde há uma ventilação forçada sobre placas evaporativas para manutenção de uma boa ambiência nas instalações. Isso tudo monitorado e controlado eletronicamente. Esse monitoramento tem gerado um banco de dados enorme (big data) que ainda vem sendo explorado e deve gerar muitos resultados positivos para melhorarmos o manejo dos animais num futuro breve.
Outras notícias você encontra na edição de Suínos e Peixes de maio/junho de 2021 ou online.

Suínos
Swine Day 2025 reforça integração entre ciência e indústria na suinocultura
Com 180 participantes, painéis técnicos, pré-evento sanitário e palestras internacionais, encontro promoveu troca qualificada e aproximação entre universidade e setor produtivo.

Realizado nos dias 12 e 13 de novembro, na Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Swine Day chegou à sua 9ª edição reunindo 180 participantes, 23 empresas apoiadoras, quatro painéis, 29 apresentações orais e oito espaços de discussão. O encontro reafirmou sua vocação de aproximar pesquisa científica e indústria suinícola, promovendo ambiente de troca técnica e atualização profissional.
O evento também contou com um pré-evento dedicado exclusivamente aos desafios sanitários causados por Mycoplasma hyopneumoniae na suinocultura mundial, com quatro apresentações orais, uma mesa-redonda e 2 espaços de debate direcionados ao tema.
As pesquisas apresentadas foram organizadas em quatro painéis temáticos: UFRGS–ISU, Sanidade, Nutrição e Saúde e Produção e Reprodução. Cada sessão contou com momentos de discussão, reforçando a proposta do Swine Day de estimular o diálogo técnico entre academia, empresas e profissionais da cadeia produtiva.
Entre os destaques da programação estiveram as palestras âncoras. A primeira, ministrada pelo Daniel Linhares, apresentou “Estratégias epidemiológicas para monitoria sanitária em rebanhos suínos: metodologias utilizadas nos EUA que poderiam ser aplicadas no Brasil”. Já o Gustavo Silva abordou “Ferramentas de análise de dados aplicadas à tomada de decisão na indústria de suínos”.
Durante o encerramento, a comissão organizadora agradeceu a participação dos presentes e anunciou que a próxima edição do Swine Day será realizada nos dias 11 e 12 de novembro de 2026.
Com elevado nível técnico, forte participação institucional e apoio do setor privado, o Swine Day 2025 foi considerado pela organização um sucesso, consolidando sua importância como espaço de conexão entre ciência e indústria dentro da suinocultura brasileira.
Suínos
Preços do suíno vivo seguem estáveis e novembro registra avanço nas principais praças
Indicador Cepea/ESALQ mostra mercado firme com altas moderadas no mês e estabilidade diária em estados líderes da suinocultura.

Os preços do suíno vivo medidos pelo Indicador Cepea/Esalq registraram estabilidade na maioria das praças acompanhadas na terça-feira (18). Apesar do cenário de calmaria diária, o mês ainda apresenta variações positivas, refletindo um mercado que segue firme na demanda e no escoamento da produção.
Em Minas Gerais, o valor médio se manteve em R$ 8,44/kg, sem alteração no dia e com avanço mensal de 2,55%, o maior entre os estados analisados. No Paraná, o preço ficou em R$ 8,45/kg, registrando leve alta diária de 0,24% e acumulando 1,20% no mês.
No Rio Grande do Sul, o indicador permaneceu estável em R$ 8,37/kg, com crescimento mensal de 1,09%. Santa Catarina, tradicional referência na suinocultura, manteve o preço em R$ 8,25/kg, repetindo estabilidade diária e mensal.
Em São Paulo, o valor do suíno vivo ficou em R$ 8,81/kg, sem variação no dia e com leve alta de 0,46% no acumulado de novembro.
Os dados são do Cepea, que monitora diariamente o comportamento do mercado e evidencia, neste momento, um setor de suínos com preços firmes, porém com oscilações moderadas entre as principais regiões produtoras.
Suínos
Produção de suínos avança e exportações seguem perto de recorde
Mercado interno reage bem ao aumento da oferta, enquanto embarques permanecem em níveis históricos e sustentam margens da suinocultura.

A produção de suínos mantém trajetória de crescimento, impulsionada por abates maiores, carcaças mais pesadas e margens favoráveis, de acordo com dados do Itaú BBA Agro. Embora o volume disponibilizado ao mercado interno esteja maior, a demanda doméstica tem respondido positivamente, garantindo firmeza nos preços mesmo diante da ampliação da oferta.
Em outubro, o preço do suíno vivo registrou leve retração, com queda de 4% na média ponderada da Região Sul e de Minas Gerais. Apesar disso, o spread da suinocultura sofreu apenas uma redução marginal e segue em patamar sólido.

Foto: Shutterstock
Dados do IBGE apontam que os abates cresceram 6,1% no terceiro trimestre de 2025 frente ao mesmo período de 2024, após altas de 2,3% e 2,6% nos trimestres anteriores. Com carcaças mais pesadas neste ano, a produção de carne suína avançou ainda mais, chegando a 8,1%, reflexo direto das boas margens, favorecidas por custos de produção controlados.
Do lado da demanda, o mercado externo tem sido um importante aliado na absorção do aumento da oferta. Em outubro, as exportações somaram 125,7 mil toneladas in natura, o segundo maior volume da história, atrás apenas do mês anterior, e 8% acima de outubro de 2024. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, o crescimento chega a 13,5%.
O preço médio em dólares recuou 1,2%, mas o impacto sobre o spread de exportação foi mínimo. O indicador segue próximo de 43%, acima da média histórica de dez anos (40%), impulsionado pela desvalorização cambial, que atenuou a queda em reais.
Mesmo com as exportações caminhando para superar o recorde histórico de 2024, a oferta interna de carne suína está maior em 2025 em função do aumento da produção. Ainda assim, o mercado doméstico tem absorvido bem esse volume adicional, mantendo os preços firmes e reforçando o bom momento do setor.



