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Nenhum dos frigoríficos da Amazônia Legal está em conformidade com as novas políticas de exportação da União Europeia
63% das empresas possuem controle sobre os fornecedores diretos, mas nenhum controle sobre fornecedores indiretos, mostra nova análise do Radar Verde.

A partir de dezembro de 2025, deve começar a valer a nova regulamentação para importações da União Europeia, o Regulamento de Desmatamento da União Europeia (EUDR), que visa promover o consumo de produtos livres de desmatamento. Os frigoríficos brasileiros devem ficar atentos à novidade, que pode impactar significativamente as exportações brasileiras de carne bovina para os países do bloco, uma vez que nenhuma das empresas localizadas na Amazônia Legal demonstra conformidade plena com as especificações da EUDR. A conclusão é de nova análise do Radar Verde, que utilizou os resultados da pesquisa anual de 2023 para avaliar as políticas de desmatamento zero de quem, atualmente, exporta para a Europa.

Foto: Larissa Melo
Em 2022, as exportações de carne bovina brasileira para os países europeus alcançaram 85 mil toneladas e geraram para o Brasil cerca de US$ 661 milhões, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC). A nova regulamentação, ao entrar em vigor, deve afetar significativamente esse mercado, pois o desempenho de todos os frigoríficos que operam na Amazônia Legal é insuficiente para as exigências da EUDR, que exige rastreamento de origem dos fornecedores indiretos, o que nenhum frigorífico analisado pelo Radar Verde faz.
A análise revela diferentes situações das empresas de carne bovina: algumas estão começando a adotar políticas de desmatamento zero, enquanto outras estão atrasadas nesse aspecto. Concentradas no estado do Mato Grosso, 63% das empresas habilitadas a exportar para a UE possuem controle sobre os fornecedores diretos e 25% apresentaram controle intermediário da cadeia de fornecedores. A eficácia da política contra o desmatamento das demais empresas foi baixa ou muito baixa.
“Para atender às exigências da EUDR, é necessário que o Brasil integre o controle de origem para fins sanitários (SISBOV) com controles socioambientais rigorosos, abrangendo toda a cadeia de fornecimento, incluindo fornecedores indiretos”, recomendam os pesquisadores do estudo. “A UE pode influenciar práticas sustentáveis na cadeia de produção de carne bovina brasileira, colaborando com instituições financeiras e agências governamentais para criar incentivos para práticas produtivas e ambientais melhores”, complementam.
O trabalho, que pode ser conferido na íntegra aqui, traz diversas outras recomendações do que as empresas e o governo podem fazer para evitar que o Brasil perca esses importantes compradores. Os frigoríficos podem começar participando da edição 2024 da pesquisa, que já está em andamento. Todos eles já receberam um convite para participar do indicador e têm até o dia 22 de novembro para responder ao questionário, que compõe a nota junto com os dados públicos disponibilizados em seus canais oficiais.
O Radar Verde

Foto: Divulgação/Arquivo OPR
Criado em 2022, o Radar Verde é um indicador público e independente de transparência e controle da cadeia de produção e comercialização de carne bovina no Brasil, que busca dar visibilidade às empresas compromissadas com a redução do desmatamento na Amazônia Legal. O indicador avalia iniciativas de frigoríficos e supermercados, em todas as etapas de sua cadeia de fornecedores, que indiquem o comprometimento com a garantia de que a carne bovina que compram e vendem não está relacionada ao desmatamento da Amazônia Legal. O índice classifica anualmente os frigoríficos e supermercados de acordo com o controle e transparência sobre sua cadeia da carne.
O objetivo do Radar Verde é oferecer informações relevantes aos financiadores e setor financeiro, responsáveis pela concessão de crédito a estas empresas; e aos consumidores de carne bovina, para que possam tomar decisões sobre o consumo livre de desmatamento no processo de produção. O Radar Verde é uma realização do Instituto O Mundo Que Queremos (IOMQQ) e do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

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Inadimplência rural sobe 7,9% e grandes produtores lideram endividamento
Restrição de crédito, juros livres mais caros e custos de produção em alta aprofundam o aperto financeiro no campo e elevam risco sistêmico para 2025/26.

A inadimplência no crédito rural atingiu um dos patamares mais altos já registrados pelo Banco Central, refletindo um ambiente de forte pressão financeira no campo. Segundo dados oficiais, a taxa de inadimplência entre produtores pessoa física chegou a 7,9%, enquanto entre grandes produtores o índice superou 10,7%, o maior nível desde o início da série histórica.

Advogado Leandro Marmo, especialista em Direito do Agronegócio: “O produtor já entra pressionado pelo preço dos insumos e pela insatisfação do mercado comprador”
Para o advogado Leandro Marmo, especialista em Direito do Agronegócio, o relatório do Banco Central confirma uma realidade há meses percebida no dia a dia do produtor rural: custos em disparada, crédito restrito e operações com taxas cada vez mais elevadas. “Com a disparada dos custos de produção e a retração do crédito rural via linhas oficiais, muitos produtores não conseguem mais acessar financiamento com taxas subsidiadas e acabam sendo obrigados a recorrer aos chamados juros livres, cujo custo é muito superior”, explica Marmo.
O advogado afirma que a diferença entre o crédito rural tradicional, amparado por subsídios e regras específicas, e o crédito de mercado está criando um abismo financeiro. “Essa escalada de encargos, somada às práticas abusivas de vendas casadas impostas por algumas instituições financeiras, cria um verdadeiro sufoco para quem vive do campo”, critica.
Alta dos insumos e queda da rentabilidade criam “efeito tesoura”
O movimento de inadimplência não ocorre isoladamente. A elevação expressiva dos preços de insumos, fertilizantes, combustíveis e defensivos, somada à queda ou instabilidade dos preços de commodities como soja e milho, formou o que especialistas chamam de ‘efeito tesoura’: os custos crescem mais rápido do que a receita do produtor.
De acordo como especialista, esse cenário corrói margens e impede que produtores consigam honrar dívidas contraídas em ciclos de custos mais baixos. “O produtor já entra pressionado pelo preço dos insumos e pela insatisfação do mercado comprador. Quando se vê obrigado a financiar a safra a juros altos, o resultado é o estrangulamento financeiro: as dívidas se acumulam e a margem desaparece”, afirma.
Queda no crédito subsidiado e aumento do risco bancário

Foto: Marcelo Casal Jr/Agência Brasil
Relatórios recentes do sistema financeiro mostram que o volume de crédito rural com taxas controladas não acompanhou a demanda. A redução das linhas do Plano Safra e a maior exigência de garantias levaram muitos produtores a migrarem para operações de mercado, mais caras e mais arriscadas.
Instituições financeiras têm elevado provisões e adotado critérios mais rígidos de concessão, o que dificulta ainda mais o acesso ao financiamento rural. Esse encarecimento do crédito, segundo Marmo, produz um ciclo de retroalimentação da inadimplência.
Diante do cenário de risco crescente, Marmo recomenda atenção redobrada às condições de crédito, às renegociações e aos contratos firmados com agentes financeiros. “Este é um momento que exige cautela. A renegociação precisa ser feita antes da inadimplência, com análise jurídica e financeira cuidadosa. Muitos produtores não sabem que podem contestar cláusulas abusivas e rever contratos que comprometem a continuidade da atividade”, orienta Marmo.
Perspectiva para 2025/2026
Para o advogado, a persistência desse ambiente pode gerar impacto estrutural no agronegócio. Grandes produtores, geralmente considerados mais resilientes, já lideram os índices de endividamento, e isso liga um sinal de alerta no setor financeiro. “Não estamos diante de um problema isolado ou circunstancial. É um risco sistêmico para o campo. Sem crédito acessível, o produtor reduz investimento, planta menos, produz menos, e toda a cadeia sente”, ressalta.
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JAA completa 20 anos transformando vidas e revelando talentos para o futuro do campo
Histórias de jovens que mudaram de rumo, descobriram a vocação rural e hoje atuam como produtores, instrutores e profissionais do agro reforçam o papel do programa do Sistema Faep na sucessão e na inovação das propriedades paranaenses.

Em 2005, uma jovem de 15 anos do município de Paula Freitas, na região Sul do Paraná, decidiu se inscrever no recém-criado Programa Jovem Agricultor Aprendiz (JAA) do Sistema Faep. Daniele Miroslava Kloc, filha de produtores rurais, sempre teve o campo como cenário de sua infância e adolescência. Enquanto colegas buscavam outras áreas, a jovem queria provar que a mulher podia ocupar qualquer espaço no agronegócio.
“Sempre me chamou atenção que todas as mulheres optavam por outras áreas. Tinha vontade de provar que a mulher poderia estar onde quisesse”, lembra Daniele, que desde cedo, se apaixonou pelo estudo dos solos e pela gestão da propriedade. A experiência no JAA só reforçou a vocação para cursar Agronomia.

Daniele (em pé, de jaqueta azul e verde) atualmente é uma das instrutoras do JAA no Paraná
Hoje, 20 anos depois, Daniele é instrutora do próprio programa que a inspirou. Durante as aulas, ela transmite aos jovens o mesmo entusiasmo pelo campo que sentiu ainda adolescente. Além disso, toca com o marido a propriedade da família, onde cria ovinos, caprinos, galinhas caipiras, gado de corte, e ensina ao filho a importância do trabalho rural.
“O que ajuda a inspirar esses jovens é o fato de eu estar na propriedade. Falo sobre a importância de acreditar e permanecer no campo. Eles não são apenas moradores, mas empresários rurais. É possível trabalhar com tecnologia, empreender e ainda ter uma vida conectada com a natureza”, afirma Daniele.
O JAA surgiu exatamente para isso: preparar adolescentes de 14 a 18 anos para atuar com segurança, eficiência e responsabilidade no meio rural. Lançado pelo Sistema Faep em 2005, o programa nasceu a partir de experiências-piloto em municípios como Astorga, Rolândia, Palmas e Tijucas do Sul, e, desde então, passou por constantes aprimoramentos. Hoje, oferece cursos de gestão, bovinocultura, fruticultura, mecanização, olericultura e piscicultura, além de oficinas práticas sobre agrofloresta, meliponicultura e trânsito rural, sempre com foco na aplicação prática e no desenvolvimento integral dos jovens.
“O JAA é uma das iniciativas mais transformadoras do Sistema Faep. Em 20 anos, vimos jovens que poderiam ter deixado o campo se tornarem profissionais, empreendedores e até instrutores que multiplicam esse conhecimento. Isso mostra a força da educação para o futuro do agronegócio e para a sucessão na propriedade”, afirma Ágide Eduardo Meneguette, presidente interino do Sistema Faep.
Ao longo de 20 anos, mais de 64 mil jovens já passaram pelo programa, com uma distribuição equilibrada entre os gêneros: 50,95% homens e 49,05% mulheres. Esses números mostram o pioneirismo do JAA, refletindo o compromisso em oferecer oportunidades iguais, mostrando que, no campo, mulheres e homens têm espaço para aprender, crescer e assumir papéis de liderança.
Retorno como instrutores
Entre os exemplos de jovens que enxergaram oportunidades de carreira dentro do agronegócio a partir do JAA, está Vinicius Romagnollo, de São Pedro do Ivaí, na região Norte do Paraná. Filho de produtores rurais, ele morou na propriedade até os 18 anos e iniciou no JAA aos 14, em 2013, no módulo “Preparando para gestão”. “Eu já mexia com lavoura de grãos, tinha vontade de ser produtor, mas não sabia se queria fazer faculdade. Foi uma baita experiência”, lembra.

Romagnollo (à frente) é instrutor do JAA desde 2022
O contato com a dinâmica do agronegócio, aliado ao estímulo da instrutora, despertou em Romagnollo o interesse por uma graduação. Em 2015, aproveitou a chance de cursar o módulo específico de mecanização agrícola. “Ali decidi seguir uma faculdade em que pudesse trabalhar na área. O JAA deu visão profissional e confirmou minha escolha”, conta.
Após se formar em Engenharia Agrícola na Universidade Federal do Paraná (UFPR), em 2022, Romagnollo retornou ao JAA como instrutor, conduzindo turmas dos módulos “Gestão rural” – antigo “Preparando para gestão” – e “Mecanização agrícola”, além de outros cursos do Sistema Faep. Hoje, ele concilia a atividade de instrutoria com o trabalho na propriedade dos pais, cultivando soja e milho.
“O JAA abriu minha visão para o mundo, pois foi a primeira oportunidade de sair da propriedade. Mesmo quem não vai seguir no agro leva aprendizados para a vida”, destaca Romagnollo.
Já em Prudentópolis, na região Centro-Sul do Paraná, Gian Ricardo Grechinski tinha planos de deixar o campo e fazer curso técnico em informática. Mas, no último ano do Ensino Médio, o JAA mudou o rumo de sua trajetória. Os módulos de gestão e olericultura abriram sua visão para as oportunidades do meio rural e despertaram o interesse pela Agronomia.
A experiência foi tão marcante que Grechinski ingressou na faculdade já com a meta de se tornar instrutor do Sistema Faep. “Sempre gostei de ensinar e pensei em usar esse conhecimento para transformar a realidade das propriedades rurais”, lembra. Formou-se em 2018 e, dois anos depois, voltou às salas de aula como instrutor. “É especial poder dizer aos alunos que já estive no lugar deles, com as mesmas dificuldades. Isso aproxima e mostra que o jovem pode trilhar esse caminho, basta acreditar e se dedicar”, afirma.
Hoje, além do JAA, ele atua em cursos voltados para o cultivo de morango, sua área de especialização, e se dedica à suinocultura, atividade da família há 30 anos. “O JAA também ajudou na questão da sucessão e da gestão para a viabilidade do negócio rural”, complementa.
Para Grechinski, o programa foi determinante na escolha profissional e também na forma de enxergar a propriedade rural como um negócio viável e lucrativo. “Hoje, sei que é possível viver bem no campo, empreender em pequenas áreas e transformar a realidade local. Resumindo, o JAA prepara a nova geração para o futuro do campo”, conclui.
Mudança de rota
Para outros jovens, o programa serviu de ponto de virada. Paola Cristine Arboit, de Mangueirinha, no Sudoeste do Estado, entrou no JAA em 2018, planejando cursar Medicina. Apesar de ter crescido na propriedade da família, não pensava em trabalhar na área.

Paola desistiu de cursar Medicina para seguir no agronegócio
“Eu via o agro como algo comum da rotina da família, mas não entendia a dimensão e a importância que tem para o Brasil e para o mundo. Com o JAA, compreendi melhor esse universo e passei a valorizar ainda mais estar presente e trabalhar no campo”, conta. “Eu estava decidida a cursar Medicina, mas percebi que não me identificava com essa profissão. No JAA, conheci a função do engenheiro agrônomo e todas as áreas em que pode atuar. Então percebi que, escolhendo essa profissão, estaria fazendo algo que realmente gosto e ainda daria continuidade à nossa propriedade”, complementa.
Hoje, prestes a se formar em Agronomia, Paola atua ao lado do pai na propriedade, onde a família cria bovinos de leite e cultiva soja, milho, feijão e trigo. Ela reconhece que o programa ampliou sua visão sobre planejamento e organização dentro da propriedade, além de despertar sua verdadeira vocação.
“O JAA aproxima teoria e prática, traz aos jovens uma visão técnica daquilo que muitos já vivenciam no dia a dia, estimula a permanência nas propriedades e abre espaço para inovação. É uma forma de preparar as novas gerações para enfrentar os desafios do agro e aproveitar as oportunidades que o setor oferece”, afirma.
Outra história inspiradora é a de Ellen Elaine Wojcik, de Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), que participou dos módulos de gestão do JAA em 2012 e de pecuária leiteira em 2013. Na época, Ellen acreditava que seguiria carreira na fotografia e até fez um curso na área. Apesar de ajudar a família nas atividades rurais, não se via no agro. Mas tudo mudou com a experiência no programa. “O JAA mostrou que essa área tinha mais a oferecer do que eu imaginava. Abriu minha mente para novas possibilidades. Foi aí que deixei a fotografia de lado e decidi buscar uma carreira ligada ao campo e aos animais”, conta Ellen.
Durante o programa, atividades práticas envolvendo gestão, liderança e contato direto com a agropecuária despertaram sua vocação pela Medicina Veterinária. Ela lembra do aprendizado sobre planejamento da propriedade e cuidados com os animais, como castração e manejo de bezerros, ensinamentos aplicados na propriedade da família. “Nunca esqueço o dia em que pude colocar esse aprendizado em prática em casa: castrei meu primeiro porquinho, ajudando meu avô, que já não tinha mais condições de fazer isso por questões de saúde. Me senti realizada, porque realmente tinha habilidade e paixão para seguir nessa área”, recorda, emocionada.
Hoje, Ellen é médica veterinária, pós-graduada em clínica médica de pequenos animais, e administra uma clínica em Araucária. Recentemente, o espaço passou por uma ampliação, com mais estrutura e serviços, tornando-se referência no município e já recebendo prêmios.
Do JAA, ela guarda aprendizados que aplica até hoje, como controle financeiro, gestão da equipe e comunicação. “Esses aprendizados foram essenciais para transformar a clínica em referência”, resume. “O JAA foi a porta de entrada que transformou minhas dúvidas em propósito”, define.
Da sucessão à inovação
Entre os casos de transformação promovidos pelo JAA, também estão jovens que assumiram a sucessão das propriedades com visão profissional e inovação. Em Santana do Itararé, no Norte Pioneiro, os irmãos Thiago e Iago Alves transformaram a produção de leite da família em um negócio estruturado e lucrativo.

Os irmãos Thiago e Iago decidiram seguir no campo após formação no JAA
“Logo após comprarmos o sítio, meu pai sofreu um acidente, e eu e meu irmão tivemos que assumir a propriedade junto com nossa mãe. A produção era pequena, o trabalho pesado, e eu não via perspectiva. Eu imaginava que, quando crescesse, teria que buscar outra forma de renda, porque era complicado se sustentar com o sítio”, lembra Thiago. Na época, a família tirava leite manualmente de cinco vacas e produzia queijo para vender na cidade.
A participação no JAA, entre 2005 e 2006, foi decisiva para abrir a visão dos irmãos, que aprenderam técnicas de manejo, fluxo de caixa e gestão. “Ali eu enxerguei que poderia ter um futuro dentro da nossa propriedade como uma empresa, não apenas como um lugar para trabalhar”, afirma Thiago.
Incentivado pela instrutora do JAA, Thiago ingressou no colégio agrícola de Cambará, onde se formou técnico agrícola em 2009. Já com outro olhar sobre o futuro e sem pensar em trabalhar fora, ele decidiu aplicar o conhecimento adquirido na propriedade da família, dando continuidade ao sonho do pai.
Com estudo, dedicação e outros cursos do Sistema FAEP, os irmãos ampliaram e modernizaram a produção leiteira da família. Hoje, a propriedade conta com 75 animais, sendo 35 em lactação, sala de ordenha canalizada e barracão free stall, com capacidade para 50 animais. A produção média é de 30 litros de leite por vaca por dia. Atualmente, Thiago também participa do programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) do Sistema Faep. “O JAA foi essencial para mudar nossa mentalidade, mostrando que, com conhecimento e trabalho em família, podemos transformar um sonho antigo em realidade. É um programa que pode mudar a vida”, conclui Thiago.
Descobrindo a vocação no campo
Nos Campos Gerais, a vida de Gean Augusto Vesselovitz mudou radicalmente aos 12 anos, quando seus pais deixaram Guarapuava para iniciar a produção de leite em um sítio em Campina do Simão, em meados de 2012. Além da adaptação à rotina no campo, a família não tinha experiência na área. Até que, no primeiro ano do Ensino Médio, Vesselovitz recebeu o convite para participar do JAA do Sistema Faep.

Vesselovitz atualmente trabalha com melhoramento genético de culturas, como soja e milho
“O JAA foi a introdução à agronomia para mim”, recorda. Durante o curso, ele começou a aplicar na propriedade os primeiros aprendizados do programa, como rotação de pastagens em piquete e indicadores de melhoria da qualidade do leite. “Eram coisas básicas, mas, como não éramos daquele meio, foram extremamente importantes”, acrescenta.
Ao concluir o JAA, Vesselovitz já tinha certeza sobre sua vocação. Cursou Agronomia na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), onde se formou em 2020. Em 2019, iniciou um estágio na GDM Seeds, multinacional especializada em melhoramento genético de sementes, e, antes mesmo de receber o diploma, passou em um processo seletivo para o cargo de supervisor de desenvolvimento de produtos.
Nos primeiros anos de carreira, ele trabalhou com o desenvolvimento de novas variedades de soja para o Sudoeste do Paraná e Oeste de Santa Catarina, conduzindo ensaios a campo com dezenas de cultivares, gerenciando equipes e tomando decisões estratégicas baseadas em produtividade, sanidade e ciclo das plantas.
Essa experiência prática e a constante busca por aprendizado, inclusive no inglês, abriram portas para oportunidades internacionais. Em 2022, ele participou de um intercâmbio nos Estados Unidos pela empresa, onde visitou propriedades em 12 Estados ao longo de 50 mil quilômetros. “Foi um período incrível, que permitiu conhecer métodos de trabalho diferentes, aprimorar meu inglês e ampliar a visão sobre produção agrícola em larga escala”, comenta.
Hoje, Vesselovitz é especialista agronômico no setor de estratégia da GDM, trabalhando com melhoramento genético de soja, milho, trigo e girassol, com atuação em localidades como Argentina, Estados Unidos, Europa, África do Sul e China. “Participar do JAA foi o ponto de partida para tudo que construí. O programa não ensina apenas técnica, mas também responsabilidade, visão estratégica e capacidade de colocar a teoria em prática. É uma experiência que molda caráter e abre portas”, conclui Vesselovitz.
Programa do Sistema Faep fomenta inovação entre as novas gerações
Nos últimos anos, novas turmas do JAA continuam a transformar vidas e consolidar histórias de sucesso no agronegócio. No Oeste do Paraná, Marcus Vinicius Batista da Silva, egresso de 2017, em São João do Ivaí, e Carlos Eduardo Silva Ramos, de 2019, em Jussara, têm trajetórias distintas, mas compartilham um ponto em comum: ambos já tinham contato com o meio rural, mas ainda sem a certeza do caminho profissional.

Marcus Vinícius desistiu de ingressar na carreira de engenheiro civil e optou pela Agronomia
Marcus Vinicius cresceu em uma família produtora de soja e milho e, inicialmente, pensava em cursar Engenharia Civil. Já Carlos Eduardo ajudava a mãe e o padrasto nos aviários de frangos de corte, ainda sem planos futuros. Para ambos, o JAA foi um divisor de águas.
“O programa permitiu conhecer equipamentos, culturas da região e a importância da agricultura para o Brasil e o mundo”, lembra Marcus Vinicius. Além do conhecimento técnico, o JAA também desenvolveu habilidades como comunicação, liderança e trabalho em equipe. Hoje, ele cursa Agronomia, e, graças à indicação do instrutor no JAA, trabalha como consultor na Cooperativa Cocari, onde aplica diariamente os aprendizados do programa.
Carlos Eduardo, por sua vez, viu no JAA um caminho para descobrir sua paixão pelo agro. “O programa mostrou que o campo poderia ser meu futuro, com a valorização do jovem no meio rural”, recorda. Após o JAA, ele cursou Zootecnia, que concluiu este ano, e atualmente trabalha na Cooperativa C.Vale. Além disso, é vice-presidente da Associação Brasileira de Zootecnistas Jovens. “No meu dia a dia profissional, levo do JAA lições de liderança, disciplina e a importância de ouvir os produtores”, afirma.
Ambos destacam momentos marcantes do JAA que reforçaram o aprendizado prático. Marcus Vinicius lembra das gincanas finais, que uniam teoria e prática de forma divertida e colaborativa, enquanto Carlos Eduardo recorda atividades de manejo e sanidade, que, mais tarde, puderam ser aplicadas durante a graduação.
O legado do JAA é claro para os dois: transformar o contato com o campo em propósito e futuro. “A experiência mais marcante que pude ter na carreira”, resume Marcus Vinicius. “O JAA me mostrou que o campo não é apenas um lugar de trabalho, mas um espaço de realização e futuro”, complementa Carlos Eduardo.
JAA forma jovens para o futuro do campo paranaense
O Programa Jovem Agricultor Aprendiz (JAA) foi criado pelo Sistema FAEP para atender à demanda por capacitação profissional de jovens inseridos no meio rural paranaense. Inicialmente voltado para filhos de agricultores, o programa oferece formação prática e teórica, preparando-os para desempenhar atividades agrossilvipastoris de forma qualificada e consciente.
As primeiras turmas-piloto, realizadas em 2004, permitiram identificar desafios, como evasão escolar e dificuldade de contratação, além de apontar soluções eficazes, como parcerias com universidades e a melhoria da infraestrutura. Desde então, o JAA passou por constantes atualizações, ampliando conteúdo, carga horária e módulos especializados, sempre alinhado às necessidades da juventude rural e à realidade das propriedades familiares.
O programa combina formação em gestão rural com módulos específicos, preparando os jovens para o mercado de trabalho. No JAA, os participantes adquirem não apenas conhecimento técnico, mas também habilidades de liderança e empreendedorismo, podendo escolher áreas de atuação compatíveis com seus interesses e com a cadeia produtiva regional.
Em 2023, o programa ampliou suas ações com oficinas educativas, fortalecendo habilidades práticas e desenvolvimento pessoal. Com isso, o programa busca desenvolver conhecimentos e atitudes que contribuem para a qualidade de vida, a participação social e o crescimento sustentável das comunidades rurais. “O JAA prioriza metodologias ativas, estimulando a participação, a construção coletiva do conhecimento e a aplicação prática do aprendizado. As aulas criam um ambiente de confiança e acolhimento, propício ao desenvolvimento de cada participante”, resume Márcia Pereira Salles, técnica do Sistema Faep responsável pelo programa. “Com mais de 20 anos de história, o JAA consolidou-se como referência nacional na formação de jovens rurais, promovendo inovação, sustentabilidade, valorização cultural e desenvolvimento profissional no meio rural paranaense”, conclui.
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Exportações brasileiras para a Palestina avançam e acumulam alta de 67,9% em 2025
Impulsionadas pela carne bovina e pelo frango, vendas somam US$ 41 milhões no ano, enquanto importações palestinas recuam quase 50% e ampliam o superávit do Brasil.

As exportações do Brasil para a Palestina registram alta de 67,9%, para US$ 41 milhões entre janeiro e outubro deste ano. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), organizados pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira. No sentido contrário, as importações brasileiras de produtos palestinos estão em queda de 48,5% e somam US$ 156 mil.
Os principais produtos exportados pelo Brasil no ano são carne bovina congelada, que acumula expansão de 56% e soma US$ 34,5 milhões, e de frango. Neste caso, foram exportados US$ 4,58 milhões de um produto que o Brasil não enviou à Palestina no ano passado. Já no sentido contrário, o Brasil importou principalmente frutas congeladas ou adoçadas, no total de US$ 120 mil e com queda de 2,15% em comparação com 2024. Bombas de ar foram o outro grupo de produtos vendido pelos palestinos ao Brasil.
O saldo da balança comercial entre os dois países é positivo em US$ 40,8 milhões ao Brasil, em alta de 69,3% em relação a 2024. A corrente comercial soma US$ 41,1 milhões, em alta de 66,5%.



