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“Na crise temos que repensar os investimentos”, afirma presidente da Acrimat

A frase foi dita na abertura da 11ª edição do Acrimat em Ação.

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Foto: Divulgação/Acrimat

A Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) realizou na noite dessa quarta-feira (08), na cidade de Poconé, a abertura da 11ª edição do Acrimat em Ação, considerado o maior programa itinerante da pecuária de corte mato-grossense.

Uma centena de pecuaristas, profissionais do setor, representantes do Sindicato Rural e entidades do agronegócio estiveram presentes no evento, que vai percorrer, ao todo, 30 municípios de Mato Grosso, levando informações técnicas e de qualidade sobre a atividade pecuária.

Na abertura, o diretor-presidente da Acrimat, Oswaldo Pereira Ribeiro Júnior, destacou a importância que a cidade de Poconé tem para a pecuária do Estado e agradeceu o empenho de todos os pecuaristas que, sempre ativos, participam das ações da entidade e ajudam no fortalecimento da cadeia da carne.

“A gente tem muito carinho por Poconé e região. A Acrimat tem uma parceria muito grande com a região e defende os problemas do Pantanal, defende a as demandas daqui. E nós temos uma consideração muito grande. Por isso eu quero agradecer a presença de todos os pecuaristas aqui hoje”, afirmou. Segundo Oswaldo, o cenário que a pecuária vive hoje – com mudanças no governo federal, baixas na arroba e aumento do custo dos insumos, por exemplo – foi fator preponderante para que a escolha do tema desta edição do Acrimat em Ação. Neste ano, o circuito de palestras tratará sobre “O que realmente importa para ter lucro na pecuária”.

“Na crise, temos que repensar os investimentos, repensar os nossos custos, fazer mais contas e, para isso, trouxemos o palestrante hoje. Nós nos preocupamos muito com a gestão da comunidade, com a gestão da fazenda. Então, hoje a nossa preocupação maior foi trazer essa informação para vocês, sobre a gestão da propriedade e como ter um maior rendimento, principalmente numa época de crise”, afirmou.

A palestra foi realizada por Maurício Piona, graduado em medicina veterinária, mestre em produção animal e especialista em gestão agropecuária. Ele realiza treinamentos e palestras sobre produção animal e gerenciamento de processos e pessoas, voltados para o resultado produtivo e financeiro das fazendas.

Na palestra, Piona destacou a importância de o pecuarista seguir os pilares de um negócio lucrativo: planejamento, gestão, profissionais capacitados, boa comunicação e um projeto de produção que seja possível executar, além da capacidade de mensurar a evolução financeira da propriedade. “A gestão começa dentro de casa”, acrescentou Maurício Piona.

E claro que o assunto agradou os participantes. O pecuarista pantaneiro Alcides Caetano Martins, reforçou a importância de se discutir o assunto, especialmente para ele, que já está na atividade pecuária há mais de 40 anos.

“Excelente a iniciativa. Muito bom. É uma reunião em que nós podemos interagir com outros produtores e também com o palestrante. Inclusive, foi muito boa a palestra. Achei excelente. Essa iniciativa só tem a somar para nós, neste momento que estamos vivendo da pecuária, que é difícil. O Acrimat em Ação vem para nos dar um incentivo para continuar na atividade”, disse.

Rota 1

Além da cidade de Poconé, outros cinco municípios da região Oeste também receberão o circuito de palestras do Acrimat em Ação. São eles: Pontes e Lacerda, Vila Bela da Santíssima Trindade, Cáceres, Rio Branco e São José dos Quatro Marcos. Eles integram a Rota 1 do Acrimat em Ação, que acontecerá entre os dias 8 e 16 de fevereiro.

O Acrimat em Ação conta com patrocínio do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-MT), Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi), Instituto Mato-grossense da Carne (Imac), Fundo Mato-grossense de Apoio à Cultura da Semente (Fase-MT), Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso (Aprosmat) e FS Bioenergia.

Fonte: Assessoria Acrimat

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Alimentos no Brasil atingem nível recorde de conformidade em resíduos de agrotóxicos

Estudo feito pela Anvisa aponta ausência de risco crônico ao consumidor e redução do potencial risco agudo em produtos de origem vegetal analisados em todo o país.

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Foto: Divulgação/CLB

A presença de resíduos de agrotóxicos nos alimentos está no centro do debate público sempre que se discute saúde, produção agrícola e confiança do consumidor. Em um país que figura entre os maiores produtores e exportadores de alimentos do mundo, o tema ganha contornos ainda mais sensíveis, ao envolver tanto a segurança da dieta da população quanto a credibilidade do sistema regulatório que autoriza, fiscaliza e monitora o uso desses insumos no campo.

É nesse contexto que o monitoramento oficial conduzido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária se consolida como um dos principais instrumentos de acompanhamento da qualidade dos alimentos que chegam às prateleiras dos supermercados.

Criado para avaliar se os agrotóxicos são utilizados dentro dos parâmetros estabelecidos pela legislação brasileira, o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) acompanha, há mais de uma década, produtos de origem vegetal amplamente consumidos no país.

As amostras são coletadas diretamente no varejo, em diferentes regiões, e submetidas a análises laboratoriais com métodos reconhecidos internacionalmente, o que permite à agência não apenas verificar o cumprimento dos limites legais, mas também estimar potenciais riscos à saúde humana, tanto de curto quanto de longo prazo.

Além de funcionar como termômetro da segurança alimentar, os dados do PARA subsidiam decisões regulatórias, orientam ações de fiscalização e servem de base para revisões de limites máximos de resíduos, restrições de uso e recomendações ao setor produtivo. Ao cruzar os resultados das análises laboratoriais com informações de consumo da população, o programa busca responder a uma pergunta central para o consumidor: os alimentos disponíveis no mercado brasileiro oferecem risco à saúde?

Foi a partir desse arcabouço que a Anvisa apresentou, na quarta-feira (17), os resultados do ciclo 2024 do PARA, detalhando um conjunto amplo de dados que aponta avanços inéditos nos indicadores de conformidade e segurança dos alimentos monitorados no país. No período, foram analisadas 3.084 amostras de 14 alimentos de origem vegetal, coletadas em 88 cidades brasileiras.

O levantamento mostra que 79,4% das amostras estavam em conformidade com os limites legais de resíduos de agrotóxicos, o maior percentual já registrado na série histórica do programa. Segundo a agência, os resultados indicam ausência de risco crônico ao consumidor e redução do potencial risco agudo, identificado em apenas 0,39% das amostras, abaixo dos 0,67% observados no ciclo anterior.

Fonte: Anvisa. Elaboração e Divulgação: CropLife Brasil

Para a Anvisa, os números refletem a consolidação das ações regulatórias adotadas ao longo dos últimos anos. “Os resultados 2024 indicam que a maioria das amostras se encontram em conformidade, com situações de risco agudo pontuais e ausência de risco crônico, reforçando a efetividade das ações regulatórias adotadas”, afirmou o diretor-presidente da agência, Leandro Safatle.

Segundo ele, a comparação com 2023 mostra evoluções discretas, porém consistentes, com redução das amostras insatisfatórias e diminuição do potencial risco agudo. “É um relatório robusto que oferece dados e subsídios qualificados para aperfeiçoamento da atuação regulatória. Os resultados reafirmam o compromisso da Anvisa com a segurança dos alimentos e a proteção da saúde da população”, pontuou.

Alimentos monitorados

O conjunto de alimentos analisados inclui cereais como trigo, milho e aveia; frutas como maçã, uva, banana, pera, laranja e mamão; hortaliças folhosas e não folhosas, como couve, pepino e abobrinha; além de cebola e soja. De acordo com a Anvisa, esses produtos respondem por 36,9% do consumo de alimentos vegetais no Brasil.

No laboratório, as amostras foram submetidas à busca de resíduos de 338 pesticidas diferentes, incluindo substâncias nunca autorizadas ou já banidas no país. As coletas são feitas diretamente nas prateleiras de supermercados, de forma aleatória, em todas as regiões, e analisadas por métodos científicos reconhecidos internacionalmente.

O foco principal é verificar se os resíduos encontrados ultrapassam o Limite Máximo de Resíduos (LMR), parâmetro legal que indica se o uso do agrotóxico seguiu as boas práticas agrícolas. A avaliação de risco à saúde é realizada separadamente, a partir da estimativa de ingestão do alimento em comparação com a dose de referência aguda, conhecida como ARfD.

Os resultados do relatório foram apresentados durante a 21ª reunião pública da Diretoria Colegiada da Anvisa de 2025, pela gerente de Monitoramento e Avaliação do Risco da agência, Adriana Torres.

Risco agudo pontual

De acordo com o relatório, nenhuma situação de risco crônico foi identificada em 2024. Já o potencial risco agudo apareceu em 12 amostras, o equivalente a 0,39% do total analisado. Esse tipo de risco está associado ao consumo do alimento em uma única refeição ou em um intervalo de até 24 horas.

As ocorrências foram identificadas em amostras de uva (6), laranja (5) e abobrinha (1). Para a avaliação do risco crônico, a Anvisa considera não apenas os dados do ciclo atual, mas também informações acumuladas ao longo dos últimos dez anos do programa, cruzadas com dados de consumo alimentar do IBGE.

Do total de amostras analisadas em 2024, 2.448 foram classificadas como satisfatórias. Dentro desse grupo, 791 amostras, o equivalente a 25,6%, não apresentaram qualquer resíduo detectável, enquanto 1.657, ou 53,8%, continham resíduos em concentrações iguais ou inferiores ao LMR.

Outras 636 amostras, correspondentes a 20,6%, foram consideradas insatisfatórias em relação à conformidade com o limite legal. Segundo a Anvisa, esse é o menor índice desde 2017 e não significa, necessariamente, que haja risco à saúde do consumidor.

Avaliação do setor produtivo

Para representantes da indústria de defensivos agrícolas, os resultados refletem uma melhora gradual no cumprimento das regras. “Os resultados do ciclo 2024 apresentam visível melhoria com menor percentual de amostras insatisfatórias”, afirmou o especialista regulatório de defensivos químicos da CropLife Brasil, Rafael Cordioli.

De acordo com ele, o avanço decorre do empenho de diversos entes da cadeia de produção de alimentos, seja a indústria, agricultor e autoridade regulatória. “Do ponto de vista da saúde humana, as análises de risco dietético reforçam, mais uma vez, a segurança existente quanto aos alimentos produzidos e consumidos no Brasil”, salientou.

Série histórica sem risco crônico

A Anvisa monitora resíduos de agrotóxicos em alimentos vegetais há 11 anos. Inicialmente, as análises eram feitas por ciclos, mas passaram a ser anuais nos últimos três anos. Nesse período, segundo a agência, não houve identificação de extrapolação da Ingestão Diária Aceitável (IDA), parâmetro utilizado para avaliar o risco crônico.

Entre 2013 e 2024, foram avaliados 345 ingredientes ativos em 28.113 amostras de 36 alimentos. Esses produtos correspondem, em sua maioria, aos que mais contribuem para a exposição alimentar de origem vegetal no país, cerca de 80% do consumo desses alimentos.

“Os dados reforçam uma trajetória positiva e consistente”, avaliou a gerente regulatória de defensivos químicos da CropLife Brasil, Ana Cândido, destacando que o programa passou por um processo contínuo de evolução, incorporando aprimoramentos técnicos, metodológicos e ações mitigatórias.

Por sua vez, a diretora da Anvisa Daniela Marreco destacou o papel do PARA na formulação de políticas públicas. “Os resultados têm um papel fundamental na nossa regulação, porque essas análises orientam a revisão de limites máximos de resíduos, restrições ou proibições de uso e podem apoiar também ações de fiscalização conduzidas de forma integrada entre saúde, agricultura e vigilância sanitária”, frisou.

Segundo ela, o relatório também gera recomendações a produtores, empresas e órgãos de assistência técnica, com foco em boas práticas agrícolas, rastreabilidade e comunicação adequada à população.

Fonte: Assessoria CropLife Brasil
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Alta de 28,6% nas exportações para a China compensa tarifaço americano

Vendas para os Estados Unidos caíram 25% desde agosto, mostra FGV.

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Fotos: Claudio Neves/Portos do Paraná

O avanço das exportações brasileiras para a China compensou a queda causada pelo tarifaço americano, iniciado em agosto, com sobretaxa de até 50% sobre as vendas brasileiras para os Estados Unidos.

De agosto a novembro, o valor das exportações para a China cresceu 28,6% em relação ao mesmo período de 2024, ao passo que o das destinadas aos Estados Unidos recuou 25,1%.

Comportamento parecido é observado em relação ao volume das vendas externas. Quando o destino são os portos e aeroportos chineses, a expansão chega a 30%. Já para os Estados Unidos, queda de 23,5%.  O que diferencia o comportamento dos valores e dos volumes é o preço dos produtos exportados.

Foto: Claudio Neves/Portos do Paraná

Os dados fazem parte do Indicador de Comércio Exterior (Icomex), divulgado nesta quinta-feira (18) pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV). O estudo é uma análise dos dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic).

A China é o principal parceiro comercial do Brasil, à frente dos Estados Unidos. De acordo com o Icomex, a participação da China, que recebe cerca de 30% das exportações brasileiras, contribuiu para compensar a queda das vendas para os Estados Unidos. “[O presidente americano Donald] Trump superestimou a capacidade dos Estados Unidos em provocar danos gerais às exportações brasileiras”, afirma o relatório.

Setores impactados

Os setores que tiveram os maiores tombos na exportação para os Estados Unidos no período de agosto a novembro foram:

  • Extração de minerais não-metálicos: -72,9%
  • Fabricação de bebidas: -65,7%
  • Fabricação de produtos do fumo: -65,7%
  • Extração de minerais metálicos: -65,3%
  • Produção florestal: -60,2%
  • Fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos: -51,2%
  • Fabricação de produtos de madeira: -49,4%

Comportamento anual

A pesquisa da FGV nota que o volume de vendas para os Estados Unidos cresceu seguidamente de abril a julho, sempre que a comparação é com o mesmo mês de 2024. No entanto, com a entrada em vigor do tarifaço, se seguiram quatro meses de retração.

Variação no volume de exportação para os Estados Unidos em 2025, na comparação com o mesmo mês de 2024:

  • Abril: +13,3%
  • Maio: +9%
  • Junho: +8,5%
  • Julho: +6,7%
  • Agosto: -12,7%
  • Setembro: -16,6%
  • Outubro: -35,3%
  • Novembro: -28%

Já as exportações para a China apresentaram um salto depois que o tarifaço começou:

  • Abril: +6,4%
  • Maio: +8,1%
  • Junho: +10,3%
  • Julho: −0,3%
  • Agosto: +32,7%
  • Setembro: +15,2%
  • Outubro: +32,7%
  • Novembro: +42,8%

A pesquisadora associada do Ibre/FGV Lia Valls aponta que um dos fatores que levaram ao avanço das exportações chinesas foi o embarque de soja, que ficou concentrado neste segundo semestre. “Na hora que está caindo a exportação para os Estados Unidos, foi o momento que começou a aumentar mais a exportação para a China e teve um impacto na exportação global do país”, explicou à Agência Brasil.

No acumulado até novembro, o aumento das exportações totais do Brasil foi de 4,3% em relação aos mesmos 11 meses de 2024.

Argentina

O Icomex mostra também o desempenho das exportações para o nosso terceiro principal parceiro comercial, a Argentina. De agosto a novembro, as vendas para o país cresceram 5% em valor e 7,8% em volume, em relação ao mesmo período do ano passado.

Lia Valls pontua que esse aumento não é determinante para compensar efeitos dos tarifaços. “A participação da Argentina na pauta brasileira é muito pequena. A Argentina é muito focada na exportação de automóveis, e a gente praticamente não exporta automóveis para os Estados Unidos”, assinala.

Entenda o tarifaço

O tarifaço do presidente americano, Donald Trump, entrou em vigor em agosto de 2025. Ao elevar taxas sobre produtos importados, o governo dos Estados Unidos afirma que pretende proteger a economia americana, já que, com taxação, os americanos tendem a fabricar produtos localmente em vez de adquiri-los no exterior.

No caso Brasil, que sofreu com uma das maiores taxas, o presidente americano chegou a alegar também que se tratava de retaliação ao tratamento dado pelo Brasil ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que Trump considerava ser perseguido, antes de ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em setembro de 2025, por tentativa de golpe de Estado.

Desde então, os governos brasileiro e americano negociam formas de buscar acordos para a parceria comercial, inclusive com conversas diretas entre Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

No último dia 20, Trump retirou taxação adicional de 40% em cima de 269 produtos, sendo 249 do setor da agropecuária, como carnes e café. “Os efeitos dessa remoção só ficarão visíveis a partir de dezembro e janeiro”, aponta o Icomex.

O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, calcula que 22% das exportações para os Estados Unidos permanecem sujeitas às sobretaxas.

Fonte: Agência Brasil
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Decisão do STF sobre marco temporal pode travar investimentos no campo e acirrar conflitos

Advogada especialista em Direito Agrário e Agronegócio alerta que instabilidade sobre posse de terras prejudica investimentos, contratos e planejamento de longo prazo no agronegócio.

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Foto: Freepik

A consolidação do entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) contra a tese do marco temporal traz efeitos que alcançam diretamente a dinâmica econômica e social do campo. Na avaliação da advogada Márcia de Alcântara, especialista em Direito Agrário e Agronegócio, o principal resultado da decisão é a ampliação da insegurança jurídica sobre a posse e o uso da terra no Brasil. “Do ponto de vista do direito agrário, o afastamento do marco temporal provoca uma instabilidade possessória sistêmica. Abre-se a possibilidade de revisão de títulos de propriedades antigos, regularmente registrados e transmitidos de boa-fé, o que compromete a previsibilidade necessária para quem produz e investe no meio rural”, afirma.

Na última quarta-feira (17), o STF formou maioria para derrubar a tese defendida por setores ruralistas, segundo a qual terras indígenas só poderiam ser demarcadas se estivessem ocupadas por povos originários em até 05 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição Federal. O entendimento contrário foi consolidado com os votos dos ministros Gilmar Mendes, Flávio Dino, Cristiano Zanin, Luiz Fux, Dias Toffoli e Alexandre de Moraes, em julgamento que segue aberto até às 23h59 desta quinta-feira (18).

Para Márcia, o impacto constitucional da decisão também merece atenção. “Há um tensionamento direto com o direito de propriedade e com o princípio do ato jurídico perfeito. Quando o título deixa de oferecer segurança plena, há desvalorização imediata das terras em áreas de conflito e paralisação de investimentos, porque o produtor passa a conviver com um risco jurídico permanente”, analisa.

Advogada Marcia Alcantara: “Do ponto de vista do direito agrário, o afastamento do marco temporal provoca uma instabilidade possessória sistêmica” – Foto: Divulgação

O voto do ministro Gilmar Mendes prevê a possibilidade de permanência do ocupante não indígena até o pagamento de indenização e reconhece a validade de atividades econômicas e contratos firmados nessas áreas. Segundo a advogada, a medida busca reduzir danos, mas não elimina as incertezas. “Enquanto a indenização não ocorre, o imóvel perde liquidez, deixa de ser aceito como garantia para crédito rural e enfrenta entraves para licenciamento ambiental. Na prática, o produtor fica imobilizado”, diz.

Ela destaca ainda que contratos de arrendamento, parceria ou investimento em áreas sob disputa passam a exigir cautela redobrada. “São situações de alto risco jurídico. A recomendação é reforçar cláusulas resolutivas e realizar auditorias fundiárias profundas antes de qualquer operação”, afirma.

Outro ponto criticado é o prazo de dez anos estabelecido pelo STF para a conclusão das demarcações pendentes. Na avaliação da advogada, o horizonte é pouco factível. “O processo demarcatório envolve estudos antropológicos, etapas administrativas e uma série de contestações judiciais. A União não dispõe de orçamento nem estrutura para indenizar milhares de propriedades nesse período, o que pode resultar em decisões apressadas e judicializações intermináveis”, avalia.

Mesmo com o entendimento do Supremo, o tema segue no centro da disputa institucional, com o Congresso Nacional avançando na discussão de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) sobre o marco temporal. Para Márcia de Alcântara, o Legislativo ainda tem espaço para atuar. “O Parlamento pode buscar uma regulamentação que dê previsibilidade e reduza conflitos, desde que não esvazie o núcleo essencial dos direitos indígenas. Se houver aprovação da PEC, o embate tende a se deslocar novamente para o Judiciário”, diz.

Na visão da advogada, a falta de uma solução equilibrada tende a acirrar conflitos agrários nos próximos anos. “A expectativa de novas demarcações estimula disputas possessórias, enquanto produtores recorrem cada vez mais a medidas judiciais defensivas. Esse ambiente afasta investidores, encarece o crédito e dificulta o planejamento de longo prazo”, afirma.

Ela ressalta ainda possíveis reflexos sobre a segurança alimentar e a economia. “A instabilidade territorial compromete cadeias produtivas inteiras, reduz a oferta e pressiona preços. O desafio é conciliar a proteção dos direitos indígenas com a segurança jurídica do setor produtivo e o direito à alimentação. Sem esse equilíbrio, todos perdem”, ressalta.

Fonte: Assessoria Celso Cândido de Souza Advogados
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