Suínos Baixo índice de mortalidade no Brasil
Mortes totais podem ser usadas a favor da suinocultura brasileira
Nutrição e manejo podem reduzir ainda mais os números, que estão entre os melhores da suinocultura mundial

Em princípio pode parecer loucura, mas as mortes totais podem ser usadas a favor da suinocultura brasileira. O Brasil é um dos países que tem os menores números de mortes totais entre os mais produtores de carne suína do mundo, o que confere à suinocultura nacional mais sustentabilidade. O índice no país gira em torno de 16,5%, contra 20% dos Estados Unidos e 22% na Dinamarca e no Canadá. Aproveitando mais leitões que nascem, a cadeia se torna mais sustentável. E isso pode servir até para o marketing da carne suína brasileira. A opinião é de Fabio Catunda, zootecnista, MBA em Agribusiness, que vai além: é possível reduzir ainda mais esses números usando apenas manejo e nutrição.
Catunda fez palestra durante a reunião anual do Congresso Brasileiro de Nutrição Animal (CBNA), em novembro, reunindo alguns dos mais renomados profissionais do setor do Brasil e do mundo. O profissional traçou um panorama sobre a sustentabilidade no uso de fêmeas de alta prolificidade, com enfoque em mortes totais e como reduzir essas mortes com nutrição e manejo. Por outro lado, falou que esse cenário é “uma oportunidade de promover a suinocultura brasileira através da sustentabilidade”.
“Os desafios da suinocultura moderna são em primeiro lugar produzir mais, aumentar a escala. Depois produzir melhor, com segurança alimentar, qualidade de carne, meio ambiente, uso racional de antibióticos, bem estar animal, sanidade e produzir com menos mão de obra, menos água e energia, considerando sustentabilidade”, pontuou.
Sobrevivência de leitões e perdas totais
Catunda destacou que as mortes totais envolvem mumificados, natimortos e a mortalidade na maternidade. E que no Brasil esses números são bem melhores que em alguns dos principais produtores do mundo. “As mortes até o período de desmama chegam a 22% em países produtores, como Dinamarca e Canadá. Nos Estados Unidos é superior a 20%. No Reino Unido, 18%”, revelou o palestrante. Destacou ainda um dado que chama a atenção, um em cada três leitões que nascem não chegam até os frigoríficos. “As perdas totais do nascimento à terminação chegam a 35% nos Estados Unidos”.
Catunda disse que os cientistas dos Estados Unidos sabem do problema e estão debruçados sobre o tema de sobrevivência dos leitões. “Querem reduzir 1% ao ano nos próximos 5 anos. Isso porque esse impacto gera perdas econômicas, mas também na imagem da indústria perante os consumidores”, lembrou.
Catunda destaca que essa questão precisa estar na pauta da indústria suinícola. “A gente tem que ser pró ativo e mostrar aos consumidores que temos preocupação com bem-estar animal. Para isso temos que estabelecer metas”, destacou. Entre as propostas, Catunda sugere “desmamar 85% do total de nascidos, ter bons índices de sobrevivência de leitões nas primeiras 24 horas e na primeira semana e abater 80% dos suínos nascidos”.
Realidade brasileira
A realidade brasileira representa oportunidade para a suinocultura. Dados de 2008 a 2021 apresentados pelo palestrante, envolvendo 1,4 milhão de matrizes, mostram que em 2008 esse índice de mortes totais era menor, de 14% em média, e 12% entre as 10 melhores granjas. Hoje, com a alta prolificidade, esse índice aumentou para 16,46% em média e 15,33% nas top 10. “No entanto, quando comparamos as médias de produtividade, vemos que teve um aumento em mortes totais em 36% em média e 53% nas top 10”, frisou, mostrando que há oportunidades de melhora. “Mesmo assim, somos melhores. A suinocultura brasileira não é só eficiente, é uma das suinoculturas mundiais mais sustentáveis. Isso tem que ser explorado, tem que ser comunicado”, reforçou.
Assistência ao parto
Na opinião do profissional, a assistência dos colaboradores na hora do parto é um dos diferenciais do Brasil em relação aos concorrentes, mas pode ser ainda mais eficiente. Ele destacou que as leitegadas maiores exigem mais atenção, pois “as fêmeas demoram mais para parir, entre outras situações. “Grandes leitegadas vão afetar o consumo de colostro, especialmente os que nascem mais tarde. Leitões que não mamam nas duas primeiras horas pós parto têm pouca chance de sobrevivência por conta da importância do colostro. Por isso a assistência de parto é indispensável para reduzir mortes totais”, destacou.
Catunda frisou ainda atenção especial aos mais leves. “Cerca de 40% das mortes são de leitões de baixo peso, é preciso fazer a equalização da leitegada. Os mais leves tem mais sensibilidade às baixas temperaturas, têm baixo nível de reserva energética e baixo consumo de colostro”, destacou, emendando: “leitões pequenos são mais suscetíveis a uma maior perda de temperatura, por isso precisa acesso ao aparelho mamário, pós secante, para reduzir essa perda de temperatura”. Ainda segundo ele, a meta é dar 200 gramas de colostro para cada quilo de leitão.
Alternativas nutricionais
Probióticos, vitaminas, energia pré parto, manejo integrado de nutrição e ambiente. São alternativas apontadas pelo profissional para dar à porca antes do parto que podem ajudar no número de desmamados. “Probióticos atuam nas funções metabólicas, como produção de vitaminas e síntese de aminoácidos, funções estruturais e histológicas, que ajudam na permeabilidade das junções oclusivas, na eficiência do sistema linfático, no fortalecimento de barreiras e melhora a imunidade, e em funções protetivas, como o desenvolvimento de células T e B, além de regulação inflamatória através de citocinas. Isso resulta em uma menor desuniformidade de leitegada pré desmame”, pontuou.
De acordo com o profissional, o ato do parto é uma das atividades que mais demandam energia e que a suplementação ajuda a deixar a matriz menos cansada nesse período. “Quando a gente suplementa energia pré parto, as quantidade de glicose podem facilitar contração e evitar a fadiga das porcas durante o parto”, mencionou. Ele destacou um estudo feito com porcas que receberam suplementação energética 18 horas antes do parto. “Houve redução de natimortos quando se deu a suplementação energética pre parto, menor duração do parto, menor assistência, diminuição no tempo de primeira mamada, aumento na produção de colostro, teve mais consumo de colostro, peso maior nas primeiras 24 horas, provavelmente pelo acesso mais rápido aos tetos”. Para ele, “a suplementação de energia é boa intervenção nutricional, melhora o comportamento da porca e desempenho dos leitões, no entanto, mais estudos são necessários nessa área”.
Ainda segundo o profissional, outro estudo demonstrou que a suplementação com vitamina D em porcas aumentou o número de nascidos, teve aumento no peso da leitegada, mais peso de leitegada ao desmame, maior ganho de peso diário, com tendência de aumento de produção de leite”.
Catunda orientou ainda os produtores a se preocuparem nos meses mais frios do ano, quando as porcas geralmente desmama menos. “O estresse calórico tem relação com as mortes totais. Nos meses de julho, agosto e setembro a porca desmama menos por causa do frio. Importante ter um programa integrado de estrese calórico para porcas lactantes, como as mudanças de estratégias nutricionais e uso de aditivos”, mencionou.
O tema é atual
Para o profissional, “o tema de mortes totais é um dos temas que mais está ganhando atenção na suinocultura moderna devido ao alto impacto econômico na indústria, impacto negativo da suinocultura perante o consumidor e está relacionado com a sustentabilidade”.
E reforça a oportunidade para o Brasil. “O tema de mortes totais representa uma oportunidade de posicionamento da suinocultura brasileira pelo fato do Brasil ter os melhores índices entre os países importantes em produção suína global”.
Para o profissional, mortes totais é um tema multifatorial, em que há oportunidades para serem exploradas nas áreas de manejo, nutrição e também sanidade.

Suínos
Preços do suíno vivo seguem estáveis e novembro registra avanço nas principais praças
Indicador Cepea/ESALQ mostra mercado firme com altas moderadas no mês e estabilidade diária em estados líderes da suinocultura.

Os preços do suíno vivo medidos pelo Indicador Cepea/Esalq registraram estabilidade na maioria das praças acompanhadas na terça-feira (18). Apesar do cenário de calmaria diária, o mês ainda apresenta variações positivas, refletindo um mercado que segue firme na demanda e no escoamento da produção.
Em Minas Gerais, o valor médio se manteve em R$ 8,44/kg, sem alteração no dia e com avanço mensal de 2,55%, o maior entre os estados analisados. No Paraná, o preço ficou em R$ 8,45/kg, registrando leve alta diária de 0,24% e acumulando 1,20% no mês.
No Rio Grande do Sul, o indicador permaneceu estável em R$ 8,37/kg, com crescimento mensal de 1,09%. Santa Catarina, tradicional referência na suinocultura, manteve o preço em R$ 8,25/kg, repetindo estabilidade diária e mensal.
Em São Paulo, o valor do suíno vivo ficou em R$ 8,81/kg, sem variação no dia e com leve alta de 0,46% no acumulado de novembro.
Os dados são do Cepea, que monitora diariamente o comportamento do mercado e evidencia, neste momento, um setor de suínos com preços firmes, porém com oscilações moderadas entre as principais regiões produtoras.
Suínos
Produção de suínos avança e exportações seguem perto de recorde
Mercado interno reage bem ao aumento da oferta, enquanto embarques permanecem em níveis históricos e sustentam margens da suinocultura.

A produção de suínos mantém trajetória de crescimento, impulsionada por abates maiores, carcaças mais pesadas e margens favoráveis, de acordo com dados do Itaú BBA Agro. Embora o volume disponibilizado ao mercado interno esteja maior, a demanda doméstica tem respondido positivamente, garantindo firmeza nos preços mesmo diante da ampliação da oferta.
Em outubro, o preço do suíno vivo registrou leve retração, com queda de 4% na média ponderada da Região Sul e de Minas Gerais. Apesar disso, o spread da suinocultura sofreu apenas uma redução marginal e segue em patamar sólido.

Foto: Shutterstock
Dados do IBGE apontam que os abates cresceram 6,1% no terceiro trimestre de 2025 frente ao mesmo período de 2024, após altas de 2,3% e 2,6% nos trimestres anteriores. Com carcaças mais pesadas neste ano, a produção de carne suína avançou ainda mais, chegando a 8,1%, reflexo direto das boas margens, favorecidas por custos de produção controlados.
Do lado da demanda, o mercado externo tem sido um importante aliado na absorção do aumento da oferta. Em outubro, as exportações somaram 125,7 mil toneladas in natura, o segundo maior volume da história, atrás apenas do mês anterior, e 8% acima de outubro de 2024. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, o crescimento chega a 13,5%.
O preço médio em dólares recuou 1,2%, mas o impacto sobre o spread de exportação foi mínimo. O indicador segue próximo de 43%, acima da média histórica de dez anos (40%), impulsionado pela desvalorização cambial, que atenuou a queda em reais.
Mesmo com as exportações caminhando para superar o recorde histórico de 2024, a oferta interna de carne suína está maior em 2025 em função do aumento da produção. Ainda assim, o mercado doméstico tem absorvido bem esse volume adicional, mantendo os preços firmes e reforçando o bom momento do setor.
Colunistas
Comunicação e Marketing como mola propulsora do consumo de carne suína no Brasil
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas.

Artigo escrito por Felipe Ceolin, médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias, com especialização em Qualidade de Alimentos, em Gestão Comercial e em Marketing, e atual diretor comercial da Agência Comunica Agro.
O mercado da carne suína vive no Brasil um momento transição. A proteína, antes limitada por barreiras culturais e mitos relacionados à saúde, vem conquistando espaço na mesa do consumidor.
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas. Estudos recentes revelam que o brasileiro passou a reconhecer características como sabor, valor nutricional e versatilidade da carne suína, demonstrando uma mudança clara no comportamento de compra e consumo. É nesse cenário que o marketing se transforma em importante aliado da cadeia produtiva.

Foto: Shutterstock
Reposicionar para crescer
Para aumentar a participação na mesa das famílias é preciso comunicar aquilo que o consumidor precisava ouvir:
— que é uma carne segura,
— rica em nutrientes,
— competitiva em preço,
— e extremamente versátil na culinária.
Campanhas educativas, conteúdos informativos e a presença mais forte nas mídias sociais têm ajudado a construir essa nova imagem. Quando o consumidor entende o produto, ele compra com mais confiança – e essa confiança só existe quando existe uma comunicação clara e alinhada as suas expectativas.
O marketing não apenas divulga, ele conecta. Ao simplificar informações técnicas, aproximar o produtor do consumidor e mostrar maneiras práticas de preparo, a comunicação se torna um instrumento de transformação cultural.
Apresentar novos cortes, propor receitas, explicar processos de qualidade, destacar certificações e reforçar a rastreabilidade são estratégias que aumentam a percepção de valor e, consequentemente, estimulam o consumo.
Digital: o novo campo do agro
As redes sociais se tornaram o “supermercado digital” do consumidor moderno. Ali ele busca receitas, tira dúvidas, avalia produtos e

Foto: Divulgação/Pexels
compartilha experiências.
Indústrias, cooperativas e associações que investem em presença digital tornam-se mais competitivas e ampliam sua capacidade de influenciar preferências.
Vídeos curtos, reels com receitas simples, influenciadores culinários e campanhas segmentadas têm desempenhado papel fundamental na aproximação com o consumidor urbano, historicamente mais distante da realidade da cadeia produtiva e do campo.
Promoções e estratégias de varejo
Além do ambiente digital, o ponto de venda continua sendo o território decisivo da conversão. Embalagens mais atrativas, materiais explicativos, promoções e ações conjuntas com o varejo aumentam a visibilidade e reduzem a insegurança de quem tomando decisão na frente da gondola.
Marketing como elo da cadeia produtiva
A cadeia de carne suína brasileira é altamente tecnificada, sustentável e reconhecida, mas essa excelência precisa ser comunicada. O marketing tem o papel de unir elos – do campo ao consumidor – e transformar conhecimento técnico em mensagens simples e que engajam.



